[Movimento Internacional de Imigrantes]
Aliza Nisenbaum, artista:
Era mesmo divertido pintar aqui.
Eu estava sempre a pintar
que havia uma aula de zumba
ou uma aula da orquestra infantil.
Havia sempre quatro ou cinco miúdos
em volta da minha paleta,
metendo os dedos nas tintas
e perguntando-me como fazer
determinadas cores
e a ver a forma como eu
fazia deslisar o pincel pela tela.
Sou mexicana
e foi aqui que entrei
um pouco mais no mundo da arte
por isso tem sido como
um verdadeiro lar para mim.
Sim, claro, Vero e Marisa estão aqui.
Aliza: Comos vais, Vero?
Há muito tempo que não te via!
Vero: Pois. Também tive saudades tuas.
Aliza: Eu também
Olá Marisa! Como vais, querida?
Marisa: Bem.
Aliza: Estão prontas para a festa?
Vero: Sim, sim. Mais que prontas!
Aliza: Pintei Vero duas vezes.
Foi ela o meu primeiro modelo
e é a pessoa mais inspiradora
que encontrei nas minhas classes.
Vero: Sinto-me muito orgulhosa
porque, imaginem, estou numa pintura
eu, o meu marido e a minha filha!
Na minha ideia, julgava
que uma pintura se fazia numa hora,
mas não, são muitas horas de trabalho.
Conheci-a aqui porque fui às aulas dela
para aprender inglês através da arte.
Aliza: Falávamos muito
sobre ideias do feminismo.
Mas elas não usam a palavra "feminista"
ou pelo menos evitavam-na um bocado.
Por isso, começámos a apresentar ideias
do que podia significar para diferentes pessoas.
A ideia de nos sentarmos cara a cara,
é uma experiência muito intimista
ter um modelo e pintá-lo.
Isso faz com que as pessoas
se abram sempre.
Estamos a pintar cada pedacinho
da sua carne e da sua pele
e o cair e as pregas das suas roupas.
Isso é imediatamente
uma espécie de experiência íntima.
Vero: No México, aprendi uma dança azteca.
A minha família e eu costumávamos
vestir trajes típicos do nosso país.
A verdade é que naquela altura
eu tinha uma blusa com flores
muito bonita, com cores vivas,
e agora estou sempre a vê-la,
tenho a pintura lá em casa
na minha sala de estar.
Antes do mais, quero agradecer a Aliza.
Aliza: Muitas destas mulheres
são pessoas que, de certo moso,
se escondem do olhar do público
não querem dar nas vistas,
porque muitas delas são
imigrantes sem documentos.
Por isso, eu tentei dar uma sensação
de ação às mulheres que aqui estão
em termos de encontrarem a sua voz,
em termos de arte
e em termos também
de conhecimentos básicos de inglês.
Há uma história muito rica
de pintura social no México.
Recuando à época dos muralistas,
penso que a arte
tornou-se cada vez mais
uma prática espácio-social.
É muito importante para todos
conhecer a poética deste espaço.
Tania Bruguera: As pessoas
do Movimento de Imigrantes
estão a usar a arte
para adquirirem autonomia
Assim, também têm feito parte
da arte contemporânea
e compreendem agora, muito melhor,
como funciona a arte contemporânea
e tudo aquilo que podem obter dela.
As pessoas também podem crescer
e compreender como fugir dos seus medos
com as imitações que lhes põem
logo que entram neste país.
Ana Ramierez: Porque estamos numa cidade
que, por vezes, é um bocado difícil.
De vez em quando, passamos todas
por momentos difíceis
na nossa vida, não é?
Para mim, estar numa cerimónia,
dá-me a força para avançar no dia a dia.
Estar aqui, para mim, enche-me de força
— força, alegria, muita energia
e agrada-me trabalhar em conjunto
com a minha família
do gruo Tletlpapalotzin.
[Dia de Comemoração da Comunidade IMI]
TB: O Movimento de Imigrantes
ainda não é um produto acabado.
Todo o tempo que temos gasto até aqui
com o Movimento de Imigrantes,
é para preparar as condições
para o projeto se concretizar.
Se me perguntarem quem eu sou,
penso que sou uma idealista
porque estou morta por iniciar
um partido político,
porque é isso que eu quero fazer,
criar um poder político
para os imigrantes, pelos imigrantes.
Sei qual o risco de fazer isso
nos Estados Unidos.
É que vai ser visto, provavelmente,
como mais um gesto do que
uma coisa que acontece.
Mas veremos.
Tradução de Margarida Ferreira