Hoje vou falar de energia e clima.
Isso pode parecer um pouco surpreendente
já que o meu trabalho
a tempo inteiro na fundação
é sobretudo sobre vacinas e sementes,
sobre as coisas que temos
de inventar e distribuir
para ajudar os dois mil milhões
mais pobres
a viver vidas melhores.
Mas energia e clima são extremamente
importantes para estas pessoas,
mais importantes do que para quaisquer
outras pessoas no planeta.
O facto de o clima
estar a piorar significa
que, em muitos dos anos,
as suas plantações não irão crescer.
Haverá demasiada chuva,
chuva insuficiente.
As coisas vão mudar de uma maneira
que o seu frágil ambiente
não vai conseguir suportar.
E isso leva à fome. Leva à incerteza.
Leva à instabilidade.
A alteração climática
será terrível para eles.
O preço da energia é igualmente
importante para eles.
Se eu pudesse escolher apenas uma coisa
para baixar o preço
para reduzir a pobreza,
escolheria a energia.
O preço da energia
tem diminuído ao longo do tempo.
Uma civilização desenvolvida
baseia-se na evolução da energia.
A revolução do carvão
alimentou a revolução industrial,
e, mesmo nos anos 1900 assistimos
a uma rápida queda
no preço da eletricidade,
e é por esse motivo que temos
frigoríficos, ar condicionado,
que podemos fazer novos materiais
e fazer tantas outras coisas.
Assim, estamos numa situação maravilhosa
com eletricidade no mundo rico.
Mas, à medida que a fazemos mais barata
— e vamos assumir duas vezes mais barata —
precisamos de impor uma nova restrição.
Essa restrição tem a ver com CO2.
O CO2 está a aquecer o planeta,
e a equação do CO2 é muito simples.
Se somarmos o CO2 que é emitido,
isso leva a um aumento da temperatura,
e esse aumento de temperatura
tem efeitos muito negativos.
Tem efeitos no clima e, pior, tem efeitos
indiretos nos ecossistemas naturais
que, não conseguindo adaptar-se
a estas rápidas alterações,
acabam por colapsar.
Ora, o valor exato da correspondência
entre um certo aumento de CO2
e a consequente temperatura
e onde os efeitos positivos estão,
é uma coisa incerta, mas não muito.
Há certamente incertezas acerca
de quão prejudiciais serão esses efeitos,
mas eles serão extremamente prejudiciais.
Eu consultei os melhores cientistas
acerca disto, diversas vezes.
Temos mesmo de diminuir
para próximo de zero?
Não podemos diminuir só
para metade ou para um quarto?
A resposta é que,
até chegarmos perto de zero,
a temperatura irá continuar a aumentar.
Então isto é um grande desafio.
É como dizer: "O camião de 3,6m de altura
quer passar por baixo da ponte de 3 m,
"talvez possamos
encolhermo-nos para passar".
Isto tem de chegar a zero.
Nós produzimos muito dióxido
de carbono todos os anos,
mais de 26 mil milhões de toneladas.
Por cada americano,
é cerca de 20 toneladas.
Para pessoas nos países pobres,
é menos de uma tonelada.
É uma média de cerca de cinco toneladas
para todas as pessoas no planeta.
E, de alguma maneira,
temos de fazer mudanças
que tragam isso para zero.
Tem vindo a crescer constantemente.
Algumas alterações económicas só têm
conseguido manter isto ao mesmo nível,
por isso. temos de passar
de um rápido crescimento
para uma queda
que nos leve até ao zero.
Esta equação tem quatro fatores.
Um pouco de multiplicação.
Temos à esquerda, o CO2,
que queremos que chegue a zero,
e isso irá basear-se no número de pessoas,
nos serviços que cada pessoa
utiliza em média,
na energia em média por cada serviço,
e no CO2 que é emitido
por cada unidade de energia.
Vamos olhar para cada um deles
e ver como podemos fazer
com que isto diminua para zero.
Provavelmente, um destes números
terá de chegar bem perto de zero.
Isto faz parte de álgebra
da escola secundária, mas vamos ver.
Primeiro temos população.
Há 6,8 mil milhões de pessoas,
no mundo, atualmente,
e está a encaminhar-se
para nove mil milhões.
Se fizermos um ótimo trabalho
em novas vacinas,
no sistema de saúde,
serviços de planeamento familiar,
poderíamos diminuir isso,
talvez, em 10 a 15 %,
mas ali vemos um aumento
de cerca de 1,3 %.
O segundo fator
são os serviços que utilizamos.
Isso inclui tudo,
desde a comida que consumimos,
roupas, TV, aquecimento.
Estas são coisas muito boas,
e acabar com a pobreza significa
providenciar estes serviços
a quase toda a gente no planeta.
Será ótimo que este número aumente.
No mundo rico,
talvez o mil milhão do topo,
pudesse provavelmente reduzir
e usar menos,
mas todos os anos, este número,
em média, irá subir.
Portanto, no geral,
isso irá mais que duplicar
os serviços fornecidos por pessoa.
Aqui temos um serviço muito básico.
Temos luz em casa
para podermos ler os trabalhos,
mas estes miúdos não têm
por isso vão para a rua
para ler os trabalhos escolares
por baixo dos candeeiros da rua.
A eficiência.
O E é a energia por serviço.
Aqui, temos finalmente boas notícias.
temos uma coisa que não está a aumentar.
Através de novas invenções
e novos métodos de iluminação,
através de diferentes tipos de carros,
diferentes modos de construir edifícios,
há muitos serviços onde é possível
fazer com que a energia desse serviço
diminua consideravelmente.
Em alguns serviços específicos,
pode diminuir cerca de 90 %.
Há outros serviços, como por exemplo,
o modo como produzimos fertilizantes,
como fazemos o transporte aéreo,
em que o espaço para melhoria
é muito, muito menor.
Aqui, no geral, se formos otimistas,
podemos conseguir uma redução
de um terço para até talvez um sexto.
Mas, para estes três fatores agora,
passámos de 26 mil milhões para
— na melhor das hipóteses —
talvez 13 mil milhões de toneladas,
e só isso não será suficiente.
Então vamos olhar para o quarto fator
— este será um factor-chave —
É a quantidade de CO2 produzida
por cada unidade de energia.
A questão é: Podemos mesmo
levar isso até zero?
Se queimarmos carvão, não.
Se queimarmos gás natural, não.
Quase todas as maneiras
como produzimos energia hoje,
com exceção das renováveis
e da nuclear, emitem CO2.
Portanto, o que teremos
de fazer à escala global,
é criar um novo sistema.
Precisamos de milagres de energia.
Quando uso o termo milagre,
não quero dizer que é uma coisa impossível.
O microprocessador é um milagre.
O computador pessoal é um milagre.
A Internet e os seus serviços
são um milagre.
As pessoas aqui presentes participaram
na criação de muitos milagres.
Geralmente, não temos um prazo,
em que temos de atingir o milagre
até uma determinada data.
Normalmente, apenas ficamos lá perto,
alguns acontecem, outros não.
Este é um caso em que temos
de conduzir a toda a velocidade
e atingir o milagre
num prazo bastante curto.
Eu pensei: Como é que posso captar isto?
Haverá algum tipo de ilustração natural,
alguma demonstração que possa
prender a imaginação das pessoas aqui?
Lembrei-me do ano passado
quando trouxe mosquitos.
De certa forma, as pessoas gostaram disso.
(Risos)
Isso envolveu-as na ideia de que
há pessoas que vivem com mosquitos.
Para a energia, só me ocorreu isto.
Eu decidi que libertar pirilampos
seria a minha contribuição
para o ambiente, aqui este ano.
Temos aqui pirilampos verdadeiros.
Disseram-me que eles não mordem,
podem até nem sair do frasco.
(Risos)
Há toda uma variedade
de soluções engenhosas como esta,
mas não adiantam muito.
Precisamos de soluções
— uma só ou várias —
que tenham uma dimensão incrível
e que transmitam uma incrível confiança.
Apesar de as pessoas estarem a procurar
em diversas direções,
eu só vejo cinco que podem
atingir os números elevados.
Pus de parte a hidroelétrica, a geotérmica,
a fusão, os biocombustíveis.
Estes podem contribuir de certa forma.
Se puderem fazer melhor
do que eu espero, tanto melhor.
Mas a minha ideia-chave aqui
é que vamos ter de trabalhar
em cada um destes cinco.
Não podemos desistir de nenhum deles
por parecerem demasiado assustadores,
porque todos eles
têm desafios significativos.
Vejamos primeiro a queima
de combustíveis fósseis,
quer seja o carvão ou o gás natural.
O que precisamos de fazer aqui
pode parecer simples, mas não é.
É pegar em todo o CO2 que sai da chaminé
depois de o termos queimado,
pressurizá-lo, criar um líquido,
colocá-lo nalgum sítio,
e esperar que fique lá.
Já temos coisas piloto a testar isto
a um nível de 60 a 80 %,
mas atingir aquela percentagem total,
vai ser muito complicado.
E vai ser difícil chegar a acordo
quanto ao local onde esse CO2
deve ser colocado.
Mas o mais complicado aqui
é a questão do longo prazo.
Quem é que irá ter a certeza?
Quem vai garantir uma coisa
que é milhares de milhões de vezes maior
do que qualquer tipo de resíduo
em que possamos pensar,
em termos de nuclear
ou de qualquer outras coisas?
É um volume enorme.
Portanto, esta é difícil.
A seguinte seria a nuclear.
Também tem três grandes problemas.
O custo é elevado, especialmente
em países altamente regulamentados.
A questão da segurança, sentir-se bem
quanto à certeza de que nada correrá mal,
que, embora tenhamos operadores humanos,
o combustível não será utilizado como arma.
E depois o que fazem com os resíduos?
Mesmo que não sejam em grande quantidade
há muita inquietação quanto a isso.
As pessoas precisam de se sentir bem
em relação a isto.
Três problemas muito complicados
que podem ter solução
e que, portanto, têm de ser trabalhados.
Agrupei os últimos três dos cinco.
São aqueles a que geralmente
nos referimos como energias renováveis.
No entanto — apesar de ser ótimo
que não requeiram combustível —
têm algumas desvantagens.
Uma é que a densidade de energia
reunida nestas tecnologias
é imensamente menor
do que a de uma central nuclear.
É "cultura" de energia, portanto falamos
de muitos quilómetros quadrados,
milhares de vezes mais superfície
do que para uma central nuclear vulgar.
Para além disso,
são fontes intermitentes.
O sol não brilha todo o dia,
não brilha todos os dias,
e o vento não sopra sempre.
Portanto, se dependermos destas fontes,
temos de ter algum modo de obter energia
durante esses períodos
em que não estão disponíveis.
Também temos grandes desafios
relativamente a custos.
Temos problemas de transmissão.
Suponhamos que esta fonte de energia
está fora do nosso país,
Precisaremos não só da tecnologia,
mas também de lidar com o risco
de a energia vir de outro sítio.
Finalmente, há o problema
do armazenamento.
Para dimensionar isto, investiguei
e vi todos os tipos de baterias feitas
para carros, computadores,
telefones, lanternas, para tudo,
e comparei isso com a quantidade
de energia elétrica que o mundo utiliza.
Descobri que todas as baterias
que produzimos agora
só podem armazenar
menos de 10 minutos de toda a energia.
De facto, precisamos
de um grande avanço aqui,
algo que venha a ser cem vezes melhor
que as soluções que temos de momento.
Não é impossível, mas não é muito fácil.
Isto surge quando tentamos
que a energia intermitente
esteja acima de, digamos,
20 a 30 % do que estamos a utilizar.
Se fizermos as contas para os 100 %,,
precisamos de uma incrível
bateria milagrosa.
Como é que vamos prosseguir com isto,
qual é o caminho correto?
Isto é um Projecto Manhattan?
O que é que nos pode levar ao objetivo?
Precisamos de imensas empresas
a trabalhar nisto, centenas.
Em cada um destes cinco caminhos,
precisamos de, pelo menos, cem pessoas.
As pessoas irão olhar para elas
e dizer que são doidas. Isso é bom.
Eu penso que, aqui no grupo TED,
temos muitas pessoas
que já estão envolvidas nisto.
Bill Gross tem várias empresas,
incluindo uma chamada eSolar
que tem tecnologias
de energia solar termal formidáveis.
Vinod Khosla está a investor
em dúzias de empresas
que estão a fazer coisas fantásticas
e têm possibilidades interessantes.
E eu estou a apoiar isso.
Nathan Myhrvold e eu estamos
a apoiar uma empresa
que, talvez surpreendentemente,
está a seguir o caminho da nuclear.
Há inovações na nuclear: modular, líquida.
A inovação parou nesta indústria
há algum tempo,
portanto não admira
que haja boas ideias à solta.
A ideia da TerraPower é que,
em vez de queimar uma parte de urânio,
o um por cento, que é o U235,
decidimos que vamos queimar
os 99 %, o U238.
É uma ideia um pouco louca.
Houve pessoas que falaram nisso
durante muito tempo,
mas nunca puderam simular
corretamente se funcionaria ou não.
Por isso, é através do advento
dos modernos supercomputadores
que agora podemos simular e ver que, sim,
com a abordagem correta dos materiais,
parece que isto poderá funcionar.
Como estamos a queimar
aqueles 99 %,
melhorámos bastante o perfil de custo.
Estamos a queimar os resíduos
e podemos usar todas as sobras de resíduos
dos reatores atuais como combustível.
Em vez de nos preocuparmos com eles,
aproveitamo-los. É formidável.
Vai respirando este urânio
à medida que funciona. É como uma vela.
Podem ver, é um toro ali, denominado
reator de onda em movimento.
Em termos de combustível,
isto resolve o problema.
Tenho aqui uma fotografia
de um local em Kentucky.
Isto são os resíduos, os 99 %,
de onde eles retiraram a parte
que estão agora a queimar.
Chama-se o urânio empobrecido.
Aquilo pode fornecer energia aos EUA
durante centenas de anos.
Apenas filtrando água do mar
através de um processo económico,
teríamos combustível suficiente
para toda a vida do resto do planeta.
Como veem, há imensos
desafios pela frente,
mas é um exemplo
das muitas centenas de ideias
que precisamos para avançar.
Então vamos pensar: Como devemos
avaliar-nos a nós mesmos?
Como é que deverá ser
o nosso boletim de notas?
Vamos olhar para
o que precisamos de atingir,
e depois olhar para o intermédio.
Já ouviram muitas gente falar
da redução de 80 % para 2050.
É de facto muito importante
que atinjamos isso.
Os 20 % serão utilizados para coisas
que ocorrem nos países pobres,
ainda alguma agricultura.
Esperemos que tenhamos limpo
as florestas, o cimento.
Então, para atingir esses 80 %,
os países desenvolvidos,
incluindo países como a China,
terão de alterar totalmente
a produção de eletricidade.
O outro nível é: Estaremos a implementar
esta tecnologia de zero-emissões?
Implementámo-la
em todos os países desenvolvidos?
Estamos a fazê-la chegar
a outros lugares?
Isto é super importante.
Isso é um elemento chave
no tal boletim de notas.
Retrocedendo a partir daí,
como será o boletim de notas de 2020?
Novamente, deverá ter dois elementos.
Temos de passar por estas medidas
de eficácia para começar a ter reduções:
Quanto menos emitirmos,
menor será o somatório de CO2,
e, portanto, menor será a temperatura.
Mas, de certa forma,
a nota que obtemos ali,
fazendo coisas que não nos levam
exatamente às grandes reduções,
é igual, ou talvez até um pouco
menos importante que a outra,
que é a parte da inovação nestes avanços.
Precisamos destes avanços
à máxima velocidade,
e podemos medir isso
em termos de empresas,
projetos-piloto, aspetos de regulamentação
que tenham sido alterados.
Há imensos livros excelentes sobre isto.
O livro de Al Gore, "A Nossa Escolha"
e o livro de David McKay,
"Sustainable Energy Without the Hot Air."
Eles exploram o tema e criam uma estrutura
que permite que isto
seja discutido amplamente,
porque precisamos
de um amplo apoio para isto.
Há muitos elementos
que têm de ser reunidos.
Então isto é um desejo.
É um desejo muito concreto
de que inventemos esta tecnologia.
Se me fosse concedido apenas um desejo
para os próximos 50 anos,
eu podia escolher quem seria o presidente,
podia escolher uma vacina
— uma coisa que eu adoro —
ou podia escolher que fosse inventada
esta coisa que é metade do custo
e sem CO2.
Seria este o desejo que eu escolhia.
Este é o que tem um maior impacto.
Se não obtivermos este desejo,
será terrível a divisão entre as pessoas
que pensam a curto prazo
e as que pensam a longo prazo,
entre os EUA e a China,
entre países pobres e ricos,
e a maior parte das vidas
daqueles dois mil milhões será bem pior.
Então, o que temos de fazer?
Porque é que vos estou a apelar
que se adiantem e que liderem?
Precisamos de mais financiamento
para a investigação.
Quando os países se juntam
em locais como Copenhaga,
não deviam apenas discutir o CO2.
Deviam discutir esta agenda de inovação.
Vocês ficariam abismados perante
os níveis de custos ridiculamente baixos
destas abordagens inovadoras.
Precisamos dos incentivos do mercado
— impostos de CO2, "cap and trade" —
algo que tenha esse sinal de preço.
Precisamos de passar a mensagem.
Precisamos que este diálogo
seja mais racional, mais compreensível,
incluindo as medidas que o governo toma.
Este é um desejo importante,
mas acredito que podemos atingi-lo.
Obrigado.
(Aplausos)
Obrigado. Obrigado.
(Aplausos)
Chris Anderson: Obrigado.
Só para eu compreender melhor o Terrapower.
Em primeiro lugar, pode dar uma ideia
da dimensão do investimento que é?
Bil Gates: Para fazer o software,
comprar o super computador,
contratar excelentes cientistas,
tal como fizemos,
são apenas dezenas de milhões.
Mesmo depois de testarmos
os nossos materiais num reator russo
para termos a certeza de que
estão a funcionar adequadamente,
então estaremos apenas
nas centenas de milhões.
O mais difícil é construir o reator-piloto,
financiar os vários milhares de milhões,
encontrar o regulador,
o local onde se irá construir o primeiro.
Depois de construído o primeiro,
se funcionar como anunciado,
tudo será mais simples, porque a economia,
a densidade da energia
são tão diferentes da nuclear,
tal como a conhecemos.
CA: Para perceber corretamente, isto envolve
uma construção enterrada no solo,
quase como que uma coluna vertical
de combustível nuclear,
deste tipo de urânio empobrecido,
e depois o processo começa no topo
e continua para baixo?
BG: Exato. No presente, estamos
sempre a abastecer o reator.
Por isso, temos muitas pessoas
e muitos controlos que podem falhar,
quando se pode abrir uma coisa
e mover coisas para dentro e para fora.
Isso não é bom.
Mas, se tivermos
um combustível muito barato
que possamos introduzir
o correspondente a 60 anos
— pense nisso como um tronco —
introduzimo-lo e não temos
essas complexidades.
Fica ali, simplesmente, a queimar
durante 60 anos, e depois acaba.
CA: É uma central nuclear com uma solução
para eliminação de resíduos.
BG: Sim o que acontece com o desperdício,
podemos deixá-lo ficar ali
— há muito menos resíduos nesta abordagem —
e depois podemos retirá-los,
e colocá-los dentro de outro
e queimar isso.
Começamos por retirar os resíduos
que existem hoje,
que estão nas piscinas de arrefecimento
ou em barris junto dos reatores.
Esse é o nosso combustível no início.
O que tem sido um problema
nesses reatores
é o que irá alimentar o nosso.
Estaremos a reduzir drasticamente
o volume de resíduos
à medida que o processo decorre.
CA: Ao falar para diferentes pessoas
em todo o mundo
nestas possibilidades,
onde é que existe mais interesse
em fazer uma coisa destas?
BG: Ainda não escolhemos
um local específico,
Há todas estas regras interessantes
de divulgação sobre qualquer coisa
que tenha o nome de nuclear,
portanto temos muito interesse
em que pessoas da empresa
tenham estado na Rússia, Índia, China.
Tenho-me encontrado aqui
com o Secretário da Energia,
e falado sobre como isto
se enquadra na agenda da energia.
Estou otimista. Os franceses e os japoneses
têm feito algum trabalho.
Isto é uma variante
numa coisa que já foi feita.
É um importante avanço,
mas é como um reator rápido,
e muitos países construíram-nos.
Qualquer um que já tenha feito
um reator rápido,
é um candidato a ser o local
onde será construído o primeiro.
CA: Na sua opinião,
qual o calendário e probabilidade
de uma coisa destas vir a acontecer?
BG: Para uma coisa destas em grande escala
e de produção elétrica que é muito barata,
precisamos de 20 anos para inventar
e depois 20 anos para implementar.
Isso é aproximadamente o prazo
que os modelos ambientais
nos mostraram que temos de atingir.
Como sabe, se tudo correr bem,
— o que é pedir muito —
o Terrapower poderá facilmente
ir ao encontro desse prazo.
Felizmente, há agora dúzias de empresas.
Precisamos que sejam centenas,
que, de igual modo,
se a sua ciência correr bem,
se o financiamento
das suas centrais-piloto correr bem,
podem competir por isto.
E é melhor se várias tiverem êxito,
porque então poderemos utilizar
uma mistura destas coisas.
Precisamos que uma tenha êxito.
CA: Em termos de eventuais mudanças
em grande escala
esta é a maior de que tem conhecimento?
BG: O mais importante
é uma descoberta energética.
Sê-lo-ia mesmo sem a restrição ambiental,
mas a restrição ambiental torna-a
muito mais importante.
Na área nuclear, há outros inovadores.
Nós não conhecemos o trabalho deles
tão bem como conhecemos este,
mas há pessoas a trabalhar com a modular,
é uma abordagem diferente.
Há um reator de tipo líquido,
que parece um pouco complicado,
mas provavelmente
eles dizem o mesmo de nós.
Portanto há diferentes abordagens,
mas a beleza disto
é que uma molécula de urânio
tem um milhão de vezes mais energia
do que uma molécula de carvão.
Portanto, se conseguirmos lidar
com os aspetos negativos,
que são essencialmente a radiação,
a pegada e o custo, o potencial,
em termos de efeito na terra
e em várias coisas,
está quase numa categoria separada.
CA: E se isto não funcionar?
Temos de começar a tomar
medidas de emergência
para tentar manter estável
a temperatura da Terra?
BG: Se chegarmos a essa situação,
é como se comêssemos demais
e estivéssemos à beira de um ataque cardíaco.
Que fazer? Podemos precisar de uma cirurgia
ao coração ou coisa semelhante.
Há uma corrente de investigação
no que se chama geo-engenharia,
que consta de várias técnicas
que atrasariam o aquecimento
para ganharmos uns 20 ou 30 anos
até nos organizarmos na nossa ação.
Isso é apenas uma medida de segurança.
Esperemos que não venhamos
a precisar disso.
Há quem diga que não se deve
investir em medidas de segurança
porque podem tornar-nos preguiçosos,
continuamos a comer porque sabemos
que a cirurgia ao coração nos pode salvar.
Não tenho a certeza se isso é sensato,
dada a importância do problema,
mas há agora a discussão
em geo-engenharia,
se essas medidas devem
ser só como prevenção,
para o caso de as coisas ocorrerem
mais rapidamente,
ou se esta inovação demorar
mais tempo do que esperamos.
CA: Céticos do clima: se tivesse
uma ou duas frases para lhes dizer,
como é que poderia convencê-los
de que estão errados?
BG: infelizmente, os céticos
vêm de diferentes áreas.
Os que têm argumentos científicos
são muito poucos.
Dizem que há efeitos de feedback negativos
que têm a ver com nuvens
que contrabalançam as coisas.
Há muito poucas coisas
que eles podem dizer.
Há uma probabilidade num milhão
dessas coisas.
O maior problema que temos aqui
é semelhante ao que temos com a SIDA.
Fazemos um erro agora
e pagamos por ele mais tarde.
Portanto, quando temos
uma variedade de problemas urgentes,
a ideia de sofrer agora
em prol de um benefício futuro
é uma dor um pouco incerta.
De facto, o relatório do IPCC,
que não é necessariamente o pior caso,
— há pessoas no mundo rico
que olham para o IPCC e dizem:
"Ok, aquilo não é assim tão grave".
A verdade é que é essa parte de incerteza
que nos devia fazer avançar.
Mas o meu sonho é que,
se conseguirmos fazer isto economicamente,
e ir ao encontro das restrições de CO2,
os céticos digam: "Ok, não me importo
que não emita CO2,
"eu até desejava que emitisse CO2,
"mas acho que vou aceitar isto
porque é mais barato
do que o que havia antes".
(Aplausos)
CA: Portanto, essa seria a sua resposta
ao argumento de Bjorn Lomborg,
de que, se gastar toda esta energia
para resolver o problema do CO2,
isso irá destruir
todos os seus outros objetivos
de tentar livrar o mundo da pobreza
e da malária, etc,
que investir dinheiro nisso
é um gasto estúpido dos recursos da Terra
quando há coisas melhores
que podemos fazer.
BG: O gasto atual com a parte
da investigação e desenvolvimento
— os EUA deviam gastar mais 10 mil milhões
por ano do que gastam agora —
não é tão dramático.
Não devia ir buscar a outras coisas.
Investe-se muito dinheiro
— e pessoas de bom senso podem discordar —
quando se está a tentar financiar
uma coisa não-económica.
Para mim, isso é que é um desperdício.
A menos que se esteja muito perto
e só a financiar a curva de aprendizagem
e que se vá tornar muito barato.
Eu acredito que devíamos tentar
mais coisas com potencial
para se tornarem muito menos dispendiosas.
Se a contrapartida disso
é tornar a energia super dispendiosa,
então os ricos que assumam isso.
Todos nós aqui podemos pagar
cinco vezes mais pela nossa energia
sem alterar o nosso estilo de vida.
O desastre é para aqueles
dois mil milhões.
Até Lomborg mudou.
A posição dele agora é: Porque
é que não há mais discussão sobre I & D.
Devido aos seus assuntos anteriores,
ele ainda está ao lado dos céticos,
mas já percebeu
que é um campo muito solitário.
Por isso, está agora a discutir o assunto
da investigação e desenvolvimento.
Tem uma linha de pensamento sobre uma coisa
que eu julgo ser apropriado.
A questão da I & D — é incrível como
só é financiada uma parte tão pequena.
CA: Bill, julgo que falo pela maioria
das pessoas aqui presentes.
Espero que o seu desejo
se torne realidade. Muito obrigado.
Obrigado.
(Aplausos)