Eu fotografo dinheiro. É dinheiro que subtraímos aos nossos netos e gastamos connosco. Todos os produtos, tudo o que compramos, tudo aquilo em que gastamos dinheiro, tem custos invisíveis. Esses custos são custos ocultos que habitualmente resultam numa degradação do ambiente. Até o Jesus de plástico. Um rolo de papel higiénico, por mais banal que seja, é um exemplo perfeito. Pensa-se: "Quem se preocupa com o papel higiénico?" Esse rolo de papel higiénico é a causa da desflorestação que, claro, significa alteração climática, e é causa de poluição enorme. Mas não tem de ser assim. Com os mesmos euros, podemos comprar um rolo de papel higiénico diferente e apoiar outra linha de produtos. Podemos apoiar produtos de reciclagem, reutilizáveis. O alumínio é o que mais contribui para a degradação do ambiente, utiliza muitíssima eletricidade — penso que é o utilizador número um da eletricidade industrial — e é outro produto. Se reciclarmos uma lata de alumínio, poupamos eletricidade suficiente para alimentar o computador durante três horas. Vemos aqui o desperdício do fabrico de alumínio. Talvez se lembrem que, no ano passado, foram derramados no Danúbio um milhão de metros cúbicos de desperdício tóxico numa fábrica de alumínio na Hungria. O que eu faço exige uma série de parceiros. Geralmente, vou observar estas coisas e tenho pilotos que me levam lá, e tenho grupos ambientalistas que me fornecem informações de que preciso para perceber o que estou a ver. Depois, eles usam as fotos que eu faço na esperança de provocarem uma mudança. Na minha opinião, vivemos numa pequena rocha, que partilhamos com uma série de plantas e animais num sistema muito complexo que está cuidadosamente equilibrado. Claro, enquanto seres humanos, temos grande inteligência que nos permite iludir o sistema. Permite-nos arrebanhar mais do que o nosso quinhão. Ao fazer isso, desequilibramos esses sistemas, por isso, esses sistemas que nos fornecem essencialmente, serviços gratuitos — ar puro, água potável — quando levamos esses sistemas à ruína, acabamos por ter de pagar — ou os nossos filhos terão de pagar — para substituir esses serviços. Na realidade, estamos a transferir uma quantidade enorme de riquezas entre as pessoas que lucram com esses processos de extração e os nossos netos. Como estamos a falar de energia, vou falar de alguns dos projetos que tenho feito, especificamente, os relacionados com energia. Vamos começar nos EUA, na Virgínia Ocidental. Esta é uma das regiões de maior biodiversidade do mundo. Chama-se Planalto Cumberland, e é também a fonte de água potável para milhões de norte-americanos. Vemos aqui o local onde a montanha foi removida — a montanha que estava a barrar o carvão. Fizemos explodir a montanha para apanhar o carvão. Infelizmente, só recolhemos 6% do carvão, mas quem se preocupa com isso? Os nossos netos é que vão pagar. Tenho muitas fotos para mostrar, por isso desculpem, vou andar depressa. Este é um ribeiro que foi envenenado com a drenagem ácida de uma mina. E aqui vemos o desperdício da lavagem do carvão. Depois de tudo acabado, depois de destruída a montanha e recolhido o carvão, a única compensação exigida é que as empresas nivelem o solo e espalhem sementes de ervas invasivas misturadas com fertilizantes. Uma das coisas interessantes nestes processos de extração é que nunca enriquecem as comunidades onde ocorrem, só as empobrecem. Aqui é Twilight, na Virgínia Ocidental, um nome muito apropriado. Esta é a estação dos correios, se conseguem imaginar, em Twilight, na Virgínia Ocidental. Já ninguém ali vive e, certamente, ninguém usa a estação dos correios. Iniciei este projeto, fotografando coisas industriais. Tinha a intenção de fazer arte que emocionasse as pessoas, porque eu via que havia um problema. Acho que hoje muitos de nós veem que há um problema, exceto os 50% dos norte-americanos que ainda não acreditam na alteração climática. Peço desculpa por isso. Embora eu ainda hoje goste muito destas fotos — isto é uma fábrica de cimento no Senegal — elas não transmitiram a mensagem que eu queria e não abalaram as pessoas. Fui detido e expulso muitas vezes, até tinha o hábito de levar um rolo de filme extra na algibeira, e, quando a polícia chegava, eu mudava rapidamente o rolo na câmara e dizia: "Ok, eu deixo isto aqui, tomem lá o filme, eu vou-me embora, "mas, por favor, não me prendam!" Normalmente, funcionava. Mesmo assim, as fotos não funcionavam como eu queria. Esta foto que veem é muito importante, é a desflorestação para o fabrico de papel, mas não vos comove, não altera o vosso comportamento, e é isso o que eu quero, uma alteração de comportamento. Aqui estou eu num avião num voo comercial. Olhei lá para baixo e vi aquela central de energia que estava rodeada por um rio enevoado e, de repente, ocorreu-me que era aquela a resposta: fotografar lá do alto. Tornou-se uma questão de logística de contratar um avião e sobrevoar aquelas coisas. Comecei pelo Rio Mississippi, que tem um lugar especial no património americano. Vemos aqui uma fábrica onde fazem fluorocarbonos que foram a causa do buraco na camada do ozono, os combustíveis para as lacas e muitas outras coisas. Este é o desperdício do fabrico de toalhas de papel. Talvez nunca tenham ouvido falar dos donos desta fábrica — são os irmãos Koch — mas certamente já ouviram falar de um dos seus projetos preferidos. São eles o dinheiro por detrás do Tea Party. Assim, eu percebi que, se comprar esta marca de toalhas de papel, estou a apoiar o Tea Party, e, depois de perceber isso, comecei a mudar o meu comportamento. Vou deixar de comprar toalhas de papel. Só compro papel higiénico. (Risos) Comecei a pensar noutras formas em que podia efetuar uma mudança. Depois desta ideia de fazer arte, de fazer estas fotos, passei para as cinzas do carvão. Provavelmente, vocês não passam muito tempo a pensar nas cinzas do carvão. Nos EUA, só pensamos nisso porque tivemos um grande derrame industrial no Tennessee. Mas as cinzas do carvão são muito tóxicas e, na Alemanha, fazemos 46% da nossa eletricidade, queimando carvão. É praticamente o mesmo nos EUA e as cinzas do carvão contêm inúmeras coisas muito tóxicas: mercúrio, a que chamamos "quicksilver", chumbo, arsénico, urânio, crómio que é muito tóxico. Vemos aqui um reservatório de cinzas de carvão que está a ameaçar estas casas. Se este reservatório ceder — o que acontece, de dois em dois meses há uma nova fuga — estas casas serão arrastadas dado o volume das cinzas de carvão. Nos EUA, queimamos mil milhões de toneladas de carvão, por ano e produzimos cerca de 130 milhões de toneladas de cinzas. É quase inconcebível imaginar este volume. Estas são diversas cinzas de carvão em diversas fábricas, nos EUA. Esta fica na região de Lausitz. Temos este problema aqui na Alemanha, embora eu não oiça falar muito disso. Provavelmente, acabarão por falar. Porque o que acontece é que, quando as cinzas de carvão entram em contacto com a água, essas toxinas lixiviam para a água no solo e, claro, o arsénico, que é solúvel na água, é um verdadeiro problema com as cinzas de carvão, e é uma coisa que não queremos beber. Estas são cinzas de carvão em Garzweiler. Vemos um trabalhador a regar as cinzas quentes com água. Agora, vamos voltar ao continente norte-americano. Estas são as areias betuminosas, talvez nunca tenham ouvido falar nelas, mas são a segunda maior reserva de petróleo do mundo, depois da Arábia Saudita. Todas as companhias petrolíferas internacionais estão envolvidas na extração das areias betuminosas. Acontece que também são uma das zonas húmidas mais valiosas do mundo, e é o armazém duma quantidade enorme de carbono que é libertado no processo de extração. É um processo de extração muito banal e típico exceto quanto à dimensão, que é enorme. Vemos aqui as máquinas a raspar o carbono para camiões que depois o levam para a refinaria. Curiosamente, as máquinas são alimentadas a eletricidade. Esta é uma das refinarias, é um processo de refinação muito poluente. Um dos principais subprodutos é o enxofre, que é extraído porque não é permitido ter enxofre na gasolina. Curiosamente, muito do que eu faço é investigação. Levei muito tempo até perceber o que era o vermelho. É especial, parece o sangue da Terra. O vermelho é enxofre derretido. O enxofre é, segundo creio, o único mineral que muda de viscosidade quando aquece. O outro subproduto do processo das areias betuminosas são grandes lagos de líquido poluído, a que chamam as bacias de decantação. Tantas aves aquáticas migratórias poisavam nestas bacias e morriam que as empresas petrolíferas começaram a pôr canhões de ar na esperança de impedir as aves aquáticas de poisarem. Estas são populações das Primeiras Nações que vivem no topo deste rio — chama-se o Rio Athabasca — e, obviamente, estão a sofrer de numerosos tipos de cancro, muito raros, na sua população. Vamos mudar agora para o sul dos EUA. Talvez se lembrem do derrame no Golfo do ano passado — nos EUA, quase nos esquecemos disso — e vemos aqui um dos aviões a lançar dispersantes sobre o derrame do Golfo. O nome verdadeiro é o derrame Macondo, embora seja mais conhecido por derrame Deepwater, o nome do equipamento de perfuração que se espatifou e ardeu. A fotografar... Primeiro, quando aquilo aconteceu, pensei, enquanto artista: "Posso fazer alguma coisa? Valerá a pena lá ir? "Posso fazer algo que ainda não tenha sido feito?" Porque, claro, havia uma enorme cobertura. Decidi experimentar, por isso contactei com um piloto de lá — Tom Hutchings, um dos meus heróis — e sobrevoámos sete vezes o derrame. Era como estar numa zona de guerra. Voltava para Nova Iorque e as pessoas perguntavam: "Como era?" E não conseguíamos descrever. Tive uma perceção de como será ser um jornalista de guerra porque aquele horror — e era, de facto, horrível — sentia-se nas entranhas e nem conseguíamos falar disso. Quando voltei para Nova Iorque, tinha de telefonar a Tom todos os dias para saber o que é que ele via naquele dia, quais eram as notícias, e quando é que eu devia voltar. Claro, talvez não saibam, mas está a haver fugas, de novo. Não aparece muito nas notícias. Há diversos óleos na água que vemos ali, muitos óleos de diferentes densidades a sair daquele local. Uma das coisas que, para mim, são importantes, é que todos fazemos parte destes processos. Fiquei fascinado com a palestra anterior sobre o homem que tentava reduzir a sua pegada de carbono para... já esqueci o número. Eu alterei o meu estilo de vida para tentar reduzir a minha pegada de todas as formas possíveis. Esta é uma das plataformas de perfuração que está a perfurar o poço de segurança. Mais uma vez, o poço está a ter fugas, enquanto falamos. Embora a British Petroleum tenha dito que vão tapá-lo e abandoná-lo, suspeito que vão extrair aquele petróleo. É importante? Não sei se é importante. O petróleo atingiu primeiro o lado ocidental do delta do Rio Mississippi no local que se chama Baía Barataria que, claro, é um refúgio de vida selvagem muito valioso. Nascem ali muitos pelicanos — eu gosto muito de pelicanos. Isto é na borda de uma colónia de pelicanos. Fiquei muito triste e magoado por ver estas coisas, quase temos de reprimir as nossas emoções. Agora, voltamos à Alemanha porque, claro, vocês tomaram recentemente a decisão de abandonar a energia nuclear e penso que foi uma boa decisão, mas isso força-nos a depender mais do carvão. Portanto, o número de 46% deve aumentar, a não ser que a Alemanha decida comprar a energia aos franceses que estão a construir centrais nucleares ali na fronteira. Abençoados sejam. Provavelmente conhecem os processos. Estas escavadoras, primeiro removem a terra sobre o carvão, depois retiram o carvão e colocam-no em transportadores para o "kraftwerk" — desculpem-me, mas não falo alemão — e estes são os dentes do Bagger. Eu considero estas máquinas fascinantes. De certo modo, são o pináculo da nossa capacidade enquanto humanos, de fabricar estas máquinas gigantescas. São muito especiais, tal como as plataformas de perfuração que vimos há bocado. Fico maravilhado com estas coisas. Esta máquina está a espalhar o excesso de terra que cobre o carvão, têm de a retirar do caminho para chegar ao carvão, por isso está a espalhá-la num padrão muito bonito, no lado esgotado da mina. É isto que eu procuro, procuro padrões. Como é que posso fazer uma foto bonita de uma coisa horrível? Porque a dissonância que eu crio com este trabalho faz-nos parar e pensar nisso. Se não fosse uma foto bonita duma coisa horrível, penso que não seria eficaz, ninguém pararia e ninguém pensaria: "Qual é a minha relação com isto?" Vamos voltar a saltar para outro tópico. Eu sei que, na Alemanha, preocupam-se muito com o gás natural, da Rússia, o gás natural de que a Alemanha depende, proveniente da Rússia e em breve vos dirão que devem perfurar para obter o gás natural que está preso nas camadas de xisto no subsolo da Alemanha. Fica a dois quilómetros da superfície. Estamos a travar essa batalha nos EUA, especificamente em volta de Nova Iorque, onde as companhias de gás querem perfurar nas áreas da bacia hidrográfica. Isto é Catskills, e é a fonte da água que abastece a cidade de Nova Iorque. As companhias de gás andam a dizer: "Podemos perfurar ali, com segurança, não se preocupem". A forma como isso funciona — podem ver nesta foto — é que ocupa-se uma área natural e transforma-se essa área numa área industrial. Dizem-nos que não faz mal, ela repara-se a si mesma, mas estas áreas nunca se reparam a si mesmas. A forma como funciona este processo é que perfura-se até à camada de xisto, depois perfura-se horizontalmente na camada de xisto e depois bomba-se milhões de litros de água para fraturar essa camada de xisto e libertar o gás que lá está preso. A água mistura-se com muitos químicos, muitos dos quais são tóxicos. Graças a Halliburton e ao governo anterior a este, essa receita tóxica mantém-se secreta e não é só isso, há isenção de regulamentações da água potável. Temos muitas coisas a agradecer à administração Bush. Vemos aqui o desperdício da perfuração. Estes são os cortes e, a propósito, estas camadas de xisto são radioativas portanto, estes cortes — para não falar das lamas de perfuração com metais pesados — são muito tóxicos e radioativos. Depois de perfurarem, têm de fraturar a camada de rocha e esta foto dá-vos uma ideia do volume de água necessária para cada fratura hidráulica, milhões de litros de água, ou melhor, milhões e milhões de litros de água por poço. Vemos aqui os camiões, são camiões de compressão. que se colocam em volta do poço para fazer a fratura hidráulica. Voltando atrás, vocês vão ser pressionados aqui na Alemanha para se envolverem neste processo. Aconselho-vos a pensarem muito cuidadosamente nisso porque não é um procedimento seguro. A indústria do gás tem muito dinheiro e controla os "media" por isso, os acidentes que ocorrem quase duas vezes por mês, ou uma vez por mês não são muito bem noticiados. Mas isso não significa que não aconteçam, e isso não significa que não haja consequências. Podem ver aqui que esta operação de fratura hidráulica é feita perto duma zona húmida, portanto, eu diria que, dados os milhões de bars de pressão aplicados àquele líquido tóxico, não é possível que ele não migre — a lógica diz-nos que vai migrar para aquelas massas de água. Aqui vemos uma chama Quando vemos uma chama sabemos que houve um problema. Este era um local onde houve uma explosão. Mas, claro, nunca ouvimos falar disso. Em conclusão, eu diria que rejeito... Muitas pessoas dizem: "O que é que eu posso fazer? "Eu sou só uma pessoa, não posso fazer nada que faça diferença. "Porque é que devo mudar de comportamento?" Mas eu rejeito essa noção, porque penso que as ações de uma pessoa, para além de fazerem uma diferença quantitativa, o exemplo que uma pessoa pode dar pode afetar muitos à nossa volta. Por isso, aconselho-vos a pensar muito cuidadosamente nas coisas que fazemos todos os dias. na esperança de podermos reduzir a nossa pegada e reduzir esses custos que estamos a passar para os nossos netos. Obrigado. (Aplausos)