Em quase todos os aspetos da nossa vida temos informações perfeitas disponíveis instantaneamente. O meu telemóvel pode dizer-me tudo sobre as minhas finanças onde precisamente me situo num mapa e o melhor caminho para o meu destino, tudo isso com o clique de um botão. Porém esta facilidade de acesso a informações e esta transparência praticamente desaparece quando falamos de produtos de consumo. Se formos ao balcão de uma peixaria no supermercado, provavelmente podemos escolher entre vários tipos de peixes. Mas provavelmente, eles não poderão dizer-nos quem pescou o peixe, onde ele foi apanhado, se era sustentável pescá-lo ali e como foi transportado. Isso é verdade para quase tudo que compramos. Todas as latas de sopa, todos os pedaços de carne, todas as "T-shirts". Nós, enquanto seres humanos, neste momento, estamos a destruir a única coisa de que precisamos para sobreviver: o nosso planeta. Quase todos os problemas terríveis que temos hoje, como a alteração climática, a escravidão moderna nas cadeias de produção devem-se a decisões, decisões humanas para produzir algo de uma maneira e não de outra. E é assim que nós, consumidores tomamos decisões que prejudicam o planeta ou os nossos semelhantes, ao escolher os produtos errados. Mas eu recuso-me a acreditar que alguém nesta sala ou, francamente, alguém neste planeta, queira comprar um produto que prejudique o planeta ou os nossos semelhantes se puderem escolher. Mas escolha é uma palavra significativa. Escolha significa que há outra opção. Escolha significa que podemos usar essa outra opção. Mas escolha também significa que temos informações suficientes para tomar uma decisão acertada. Essas informações hoje não existem. Ou, pelo menos, é difícil ter-lhes acesso. Mas eu penso que isso está para mudar. Porque podemos usar a tecnologia para resolver este problema de informação. Muitas das tecnologias específicas de que precisamos para fazer isso tornaram-se melhores e mais baratas nos últimos anos e estão disponíveis para serem usadas em grande escala. Nos últimos dois anos, a minha equipa e eu estivemos a trabalhar com uma das maiores organizações de conservação do mundo, a WWF, e criámos uma empresa, a OpenSC, em que o SC significa cadeia de produção. Acreditamos que, usando tecnologia, podemos ajudar a criar a transparência e a identificação nas cadeias de produções e, através disso, ajudar a revolucionar totalmente a maneira como compramos e produzimos produtos enquanto seres humanos. Algumas destas coisas vão parecer um pouco como ficção científica, mas já estão a acontecer. Passo a explicar. Para resolver este problema da informação, precisamos de três coisas: verificar, rastrear e partilhar. Verificar a sustentabilidade específica e declarações éticas de produção de forma automatizada a partir de uma base de dados. Depois rastrear estes produtos físicos individuais pelas suas cadeias de produção, e finalmente, partilhar essa informação com os consumidores de uma maneira que lhes permita escolher e os deixe tomarem decisões de consumo que estejam mais alinhadas com os seus valores. Eu vou usar um produto real e uma cadeia de produção em que já conseguimos fazer tudo isso: uma merluza-negra da Patagónia, ou seja, um robalo chileno, como se chama nos EUA. Primeiro, verificar. Verificar como uma coisa é produzida. Mas não dizendo apenas, "Confiem em mim, isto é bom", "Acreditem, fizemos todas as coisas certas". É apresentando provas para aquele produto individualmente, e a maneira como foi produzido, através de provas para uma afirmação de sustentabilidade ou de produção ética. Por exemplo, no caso do peixe, esse peixe foi pescado num local onde há peixes suficientes para uma pesca nesse local ser sustentável e não numa área marinha protegida. Então, o que estamos a fazer é obter os dados de GPS do navio quase em tempo real — o navio que está a pescar. Isso diz-nos onde o navio está e para onde se dirige e a que velocidade. Depois, podemos combinar isso com outro tipo de dados, como, por exemplo, quão profundo é o leito marinho. Combinando todas estas informações, os nossos algoritmos de aprendizagem de máquina podem verificar, de automaticamente, se o navio está a pescar apenas onde devia ou não. Como os sensores estão cada vez mais baratos, podemos colocá-los em mais locais. Isso significa que podemos obter mais dados e combinar os dados com o progresso na ciência dos dados, o que significa que agora podemos verificar afirmações de sustentabilidade especifica e de produção ética de forma automática, em tempo real e contínuo. Isso produz a base para esta revolução de informações. Depois, número dois, rastrear. Rastrear esses produtos físicos individuais, para podermos dizer que as declarações que verificámos sobre um certo produto pertencem, de facto, a esse produto que nós, consumidores, temos na nossa frente. Porque sem esse nível de rastreamento, tudo o que verificávamos é que alguém, algures, e nalgum momento, ou apanhara um peixe de maneira sustentável, ou não maltratara o funcionário quando lhes pedimos para produzir uma "T-shirt", ou não usara pesticidas ao plantar um vegetal que não precisava disso. Só se eu der uma identidade um produto, logo de início, e depois o rastrear, ao longo de todo o processo de produção, pode ser confirmada essa declaração e o valor que foram criados ao produzi-lo da maneira certa. Já falei dos sensores mais baratos. Há muitos outros desenvolvimentos tecnológicos que possibilitam tudo isto, muito mais hoje do que antes. Por exemplo, a diminuição dos custos das etiquetas. Dá-se um nome a um produto, um número de série, uma identidade. A etiqueta é o seu passaporte. O que vemos aqui é a pesca do robalo. Isto é o que se chama pesca com aparelho, os peixes estão a chegar ao barco em anzóis individuais. E assim que os peixes estão a bordo, são mortos, e depois disso, colocamos uma pequena etiqueta no corpo do peixe. Nessa etiqueta, há um "chip" RFID com um único número de série. Essa etiqueta acompanha o peixe por toda a linha de produção e torna muito fácil observar a sua presença em qualquer porto, ou camião ou em qualquer local de processamento. Mas os consumidores não podem ler etiquetas RFID. Então, quando chega a altura de cortar e empacotar o peixe, lemos a etiqueta RFID e retiramo-la e adicionamos um código QR único na embalagem do peixe. Esse código QR contém as mesmas informações que verificámos inicialmente nesse peixe. Assim, consoante o tipo de produto com que estamos a trabalhar, podemos usar códigos QR, de barras, etiquetas RFID ou outras tecnologias de etiquetagem. Mas também há tecnologias que irão revolucionar em grande escala e tornarão obsoletas as etiquetas. Como, por exemplo, analisar um produto de acordo com os elementos rastreados o que nos poderá dizer corretamente de onde ele veio. E temos o protocolo de confiança, uma tecnologia descentralizada que funciona como catalisador para esta revolução, porque pode ajudar a minimizar alguns problemas de confiança que são inerentes ao dar informações a pessoas e depois pedir-lhes que mudem de hábitos de consumo por causa dessas informações. Então, podemos usar o protocolo de confiança para adicionar credibilidade ao que fazemos. Mas também, e muito importante, não permitimos que as limitações, que esta tecnologia ainda tem — por exemplo, em termos de escala de produção — não permitimos que isso nos atrapalhe. Isso leva-nos ao terceiro ponto. Partilha. Como partilhar as informações que verificámos e rastreámos sobre da onde vem um produto, e como foi produzido e como ele chegou onde está? A forma de partilhar essas informações é muito diferente de produto para produto. E é diferente consoante o local onde o compramos. Temos comportamentos diferentes nessas situações. Estamos cansados e sem tempo no supermercado. Ou com pouca atenção durante o jantar, porque a nossa parceira é muito simpática. Ou estamos críticos e duvidosos quando pesquisamos "online" uma compra maior. Então para o nosso peixe, criámos uma experiência digital que funciona quando compramos peixe congelado numa peixaria especializada e nos dá todas as informações sobre o peixe e o seu percurso. Mas também trabalhámos com um restaurante e desenvolvemos uma experiência digital diferente que só resume os factos fundamentais do peixe e do seu percurso, funciona melhor no contexto de um jantar e, segundo espero, não aborrecerá muito a vossa parceira. Agora, isso conclui o nosso círculo. Verificámos que o peixe foi pescado numa área onde essa pesca é sustentável. Depois rastreámos o peixe por todo o processo de produção para manter a sua identidade e as informações anexas. E depois partilhámos essas informações com os consumidores de forma a dar-lhes possibilidade de escolha e permitir-lhes tomar decisões de consumo mais alinhadas com os seus valores. Quanto a este exemplo do peixe, isto já está em vigor. Esta estação, toda a frota da Austral Fisheries, a maior empresa mundial de pesca de robalos está a etiquetar todos os peixes que pescam o que leva ao seu produto de excelência com a marca "Glacier 51". Já podemos comprar este peixe. Com ele, podemos ter todas as informações de que falei e muito mais, em cada peixe comprado ou em cada pedaço de peixe comprado. Mas isto não é só para peixes ou para mariscos. Estamos a trabalhar em muitos artigos e produtos diferentes e nas suas cadeias de produção por todo o mundo. Desde laticínios a frutas e vegetais, a produtos não comestíveis feitos de madeira. Como consumidores, tudo isto pode parecer um grande peso, porque vocês não têm tempo para verificar todas as informações sempre que compram algo. Mas não espero que façam isso, pois terão ajuda nisso. No futuro, serão as máquinas, cada vez mais, a tomar todas as decisões sobre qual o produto a comprar. Um algoritmo conhecer-vos-á o suficiente para tomar essas decisões por vocês, por isso não precisarão de o fazer. E talvez até faça um trabalho ainda melhor. Num estudo recente, 85% dos que compraram um produto, por intermédio de um assistente digital disseram que, nessa ocasião, escolheram a recomendação do produto de topo desse assistente virtual, em vez do produto ou marca específica que tencionavam comprar de início. Basta dizermos que precisamos de papel higiénico, e o algoritmo decide qual a marca, qual o preço ou se queremos reciclado ou não. Hoje isso baseia-se normalmente no que comprámos no passado, ou em quem paga mais à empresa por detrás do assistente virtual. Mas porque não poderá também ser baseado nos nossos valores? Sabendo que queremos comprar produtos amigos do planeta e sabendo se queremos e quanto estamos dispostos a pagar por isso, isso tornará as coisas fáceis e perfeitas, mas continuam a ser baseadas em dados para a escolha dos produtos certos. Porém não será necessariamente feito por vocês mesmos mas através de um algoritmo que sabe o quanto vocês se preocupam com este planeta. Não será necessariamente feito por vocês mesmos mas através de um algoritmo que nuca tem falta de tempo nem está distraído, nem está com pouca atenção por causa de um encontro simpático e que sabe quanto vocês gostam deste planeta e das pessoas que vivem nele, através de um algoritmo que analise todas essas informações e decida em vosso lugar. Se tiverem informações fiáveis e corretas e os sistemas adequados que façam uso delas, os consumidores apoiarão quem tomar as decisões corretas criando produtos de maneira sustentável e ética. Eles apoiá-los-ão sempre escolhendo os seus produtos em vez de outros. Isso significa que os produtos, os produtores, os processadores e os vendedores serão premiados. E os que agirem erradamente serão forçados a ajustar as suas práticas ou a fechar a porta. Precisamos disso. Se quisermos continuar a viver juntos no nosso lindo planeta, precisamos disso. Obrigado. (Aplausos)