Cientistas têm nos alertado
de que estamos
devastando nosso planeta.
Ouvimos que nosso solo
está sendo degradado
e que nossas reservas de água doce
estão sendo poluídas.
Ouvimos sobre esses problemas
e como vão nos impactar.
Não só as calotas polares vão derreter,
mas isso vai afetar
nossas cidades costeiras.
Ouvimos sobre tudo isso,
mas não nos são dadas muitas opções
sobre o que podemos fazer a respeito.
Ouvimos que devemos reciclar, usar carros
com baixo consumo de combustível,
apagar as luzes ao sair de um ambiente.
Sentimo-nos impotentes
diante dessa situação.
E também parece
que é responsabilidade
do governo cuidar disso.
No entanto, sabemos que o governo
está em um impasse.
E agora, o que nos resta fazer?
E se eu dissesse que nós, na verdade,
temos o poder em nossas mãos?
Esse poder é o que vestimos
todo dia: nossas roupas.
Porque o que não nos disseram,
o que passou despercebido,
é que a indústria da moda se tornou
a segunda mais poluente do mundo.
Hoje, eu gostaria de falar
sobre como chegamos até aqui
e como podemos retomar
o controle e usar nosso poder
para dar uma resposta à pergunta:
"O que vou usar hoje?"
e aos problemas mais urgentes do mundo.
A direção da Ikea disse recentemente
que atingimos o pico do consumismo.
Isso certamente é verdade
no que diz respeito às nossas roupas.
Vemos aqui, na década de 1960,
o norte-americano médio investia
em 25 novas peças de roupa a cada ano.
Uma geração mais tarde,
e hoje compramos 3 vezes mais
roupas do que nos anos 60.
Como isso aconteceu?
Simplesmente decidimos um dia:
"Quero comprar muito mais
roupas de pior qualidade,
vou aderir a isso"?
Não foi assim.
Tudo começou quando
as barreiras comerciais caíram,
o que criou incentivos financeiros
para que marcas transferissem
a produção para o exterior.
E isso criou uma tendência
para roupas cada vez mais baratas,
usando materiais e mão de obra baratos.
Enquanto isso, empresas de "fast fashion",
"moda rápida", em português,
nome dado a essa indústria,
tinham orçamentos imensos
de marketing para tentar nos convencer
de que suas roupas baratas
eram desejáveis.
Então, compramos mais e mais.
Porém, mais nem sempre é melhor.
Nos anos de 1960, quando
investíamos em 25 peças de roupa,
e isso realmente era um investimento,
porque naquela época,
gastávamos mais de 10% do nosso salário
em roupas a cada ano,
95% das roupas usadas por norte-americanos
eram fabricadas nos EUA.
Hoje, são menos de 2%.
E isso representa uma queda de 80%
no número de empregos
na confecção de roupas nesse país.
Estou certa de que todos
temos nossas experiências
em lidar e vivenciar a fast fashion.
Eu tenho as minhas.
Sou de Minnesota e me lembro de ir
a Nova York quando abriram a loja H&M.
Confesso que fiquei muito entusiasmada!
Eu amei o tamanho da loja, as luzes,
o cheiro era meio maluco,
o som alto da música, e simplesmente
devorei tudo aquilo.
E comprei muitas sacolas de roupas.
Acho que eu nem sabia o que queria,
mas isso não parecia importar,
porque era tudo tão barato.
Tipo, um macacão por menos de US$20!
Mas acabei descobrindo
que toda essa roupa barata
tem consequências enormes,
tanto para o meio ambiente,
quanto para quem que as fabrica.
Vamos analisar por que isso ocorre.
Acontece que a indústria de fast fashion
é alimentada por um novo tipo
de fibra: o poliéster.
Podemos ver aquela linha,
a H&M abriu em Nova York em 2001,
quando visitei a loja,
e vemos que, naquela época,
o algodão já não reinava mais.
Vejam a ascensão do poliéster
conforme a fast fashion surgia.
Para quem não sabe, o poliéster
é um plástico poluente feito
a partir de combustíveis fósseis.
E agora está presente em mais
de metade das nossas roupas.
Vamos falar sobre por que
isso pode ser um problema.
Há quatro coisas principais
que precisamos considerar
quando pensamos na ascensão do poliéster.
Primeiramente, ele não é biodegradável.
Pensem nisso: cada pedaço
de poliéster que já foi produzido
está no planeta até hoje.
Quando consideramos o fato
de que há 150 bilhões
de novas peças de roupa
sendo produzidas no planeta todo ano,
isso é muito plástico que não vai
simplesmente desaparecer.
Em segundo lugar, quando tecidos
de poliéster são lavados,
milhares de microplásticos são liberados
nos sistemas de água
e, por final, nos oceanos.
Os peixes consomem esses microplásticos
e nós consumimos os peixes.
Há um estudo recente feito na Califórnia,
no qual visitaram peixarias.
E descobriram que um em cada quatro
peixes vendidos nos mercados
contém microplásticos.
Os pesquisadores dizem que,
embora possamos ver os plásticos maiores,
a maior poluição é a causada
por essas microfibras.
Terceiro, vocês perceberam
que ultimamente estamos suando mais?
(Risos)
Isso não é coincidência,
é porque o poliéster é não-respirável,
diferentemente das fibras naturais.
Ou seja, o calor fica preso
ao corpo e suamos mais.
Por último, a produção do poliéster
demanda alta intensidade energética.
Muito alta? Vejam este gráfico.
Ele mostra a intensidade
energética relativa
para fabricar cada tipo de material.
Este suéter de linho que estou usando
demanda um oitavo da energia
usada para fabricar poliéster.
Então, triplicamos a quantidade
de roupas que compramos,
essa roupa não é mais feita
de materiais naturais,
e sim de poliéster, que requer
alta intensidade energética,
e agora temos de pensar sobre
o lugar onde essa roupa é feita.
Vejam este gráfico.
Ele mostra o volume total de importação
de vestuário nos EUA.
Vemos que a China é nosso principal
parceiro comercial nisso;
pouco mais de 40%
das nossas roupas vêm da China.
Guardem este gráfico, e enquanto
mostro este, observem o mapa.
Este é o mapa da intensidade
energética da rede elétrica
de onde vem nossa roupa.
Considerem isso:
na China, três quartos
da energia vêm do carvão.
Então, quando produzimos toda essa roupa,
ela está vindo da forma mais suja
de energia, o carvão.
Até nos EUA, onde a matriz energética
não é das mais limpas,
o carvão representa 33%,
e não 77%, como na China.
Agora sabemos que estamos
fabricando roupas demais,
que são feitas com material
de alta intensidade energética
em um lugar que consome muita energia.
E isso soma-se ao fato
de que a indústria da moda
é responsável por 10% do carbono total
produzido no mundo inteiro.
Para colocar em perspectiva,
isso é cinco vezes mais carbono
do que o emitido por todas
as viagens aéreas juntas.
Mas isso é só o impacto ambiental.
Agora temos de considerar
quem produz nossa roupa
e o que se passa com essas pessoas.
Se vocês se lembram
de onde vem nossa roupa,
vamos observar
o Departamento de Trabalho
e onde estão encontrando
trabalho forçado e infantil.
Veremos que correspondem
quase que perfeitamente.
Acredita-se que uma em cada seis pessoas
no mundo trabalha na indústria da moda.
Ela emprega muitas pessoas.
Cerca de 80% são mulheres
e 98% não recebem um salário suficiente.
Isso significa que estão presas
a uma situação de pobreza.
Esse é o lado ruim.
Parece que em tudo isso,
ninguém sai ganhando.
Ninguém na cadeia logística,
na cadeia de valor está ganhando,
exceto alguns CEOs
das empresas de fast fashion.
E talvez ninguém esteja ganhando,
nem mesmo nós, consumidores.
Porque se considerarmos
o interesse em organização
e o best-seller "A Mágica da Arrumação",
de Marie Kondo,
vemos um crescimento explosivo
no interesse em limpar tudo isso.
Eu compartilho desse interesse.
Após viver o vício em fast fashion
por mais de uma década,
fiquei muito cansada de comprar roupa
o tempo todo e nunca ter o que usar.
Meu armário lotado de roupa em Nova York,
e eu lutando para escolher
o que vestir todo dia.
Um dia, resolvi que bastava.
Eu quis entender o quê, exatamente,
em meu armário, eu gostava de usar
e por que eu gostava de usar aquilo?
Estava vasculhando minhas coisas
e olhando as etiquetas,
e comecei a pesquisar no Google.
Bem agressivamente.
Descobri que, na verdade,
não estou sozinha nessa busca.
Se digitarmos "linho é" no Google,
ele autocompleta para "linho é algodão?".
Eu também fiz essa mesma pergunta.
E agora sei que linho não é algodão.
O linho, como o suéter
que estou usando hoje,
vem da planta linho, mostrada à esquerda,
e algodão é essa fibra à direita.
Então, eu estava pesquisando no Google,
e para mim, tudo começou como
um desejo pessoal de comprar melhor.
Comecei a pesquisar por moda ética
e roupas sustentáveis.
Mas depois de pesquisar mais,
acabei descobrindo
que essas palavras não são regulamentadas.
Empresas podem dizer que são "éticas"
e mostrar uma foto de sua fábrica,
mas a foto pode esconder
um monte de coisas.
Primeiro, a foto não diz nada
sobre transparência.
Transparência é quando uma marca
está disposta a indicar
as fábricas com as quais trabalha,
permitindo que terceiros,
os clientes, a mídia,
pesquisem se o que a empresa
afirma está realmente sendo feito.
Segundo, fotos não mostram salários
ou assistência médica.
Se pensarmos em como 98%
dos trabalhadores da moda
não recebem salário digno,
essa é uma estatística muito importante
se queremos comprar de forma ética.
Fotos também não mostram
as "fábricas sombra",
que são um fenômeno da indústria da moda
surgido nesse cenário de precarização,
no qual uma marca se utiliza
de uma "fábrica cinco estrelas"
tira fotos, faz auditorias dessa fábrica,
mas, na realidade, para conseguir
os preços exigidos pela marca
ou a velocidade de produção necessária,
a fábrica terceiriza a produção.
Chamamos isso de "fábrica sombra",
que é onde a produção realmente acontece.
Muitas vezes, as fábricas sombra possuem
condições de trabalho muito piores.
E, finalmente, uma foto não mostra
a sustentabilidade do material.
Não mostra se o algodão é orgânico,
o que é muito importante,
porque a produção de algodão é a quarta
maior consumidora de agrotóxicos.
É por isso que enfrentamos uma situação
difícil quanto à nutrição do solo.
E fotos não mostram se os corantes
estão sendo utilizados corretamente.
A indústria da moda não é apenas
responsável por 10% da emissão de carbono,
mas é também a segunda maior
poluidora de água no planeta.
Isso porque das tinturarias
nos países em desenvolvimento,
90% delas tingem seus produtos
e liberam os efluentes,
os resíduos das tintas diretamente
nas reservas de água doce locais.
Enquanto fazia a pesquisa,
encontrei um documento do Google
e fiquei muito frustrada com tudo aquilo.
Porque vi que, ao mesmo tempo
em que temos interesse em relação à comida
e agora temos opções
de alimentos orgânicos
e restaurantes estilo
"da fazenda para a mesa",
não havia uma fonte
juntando aquela informação.
E enquanto juntava essas peças,
vi a imensidão do problema.
Essa frustração se tornou
o ímpeto para criar a Zady.
Eu queria um lugar que condensasse
aquela informação
e fornecesse uma alternativa.
Junto com um pesquisador,
traduzimos a informação discrepante
do documento do Google
para um plano sobre como poderíamos
criar roupas sustentáveis.
Porque não há um padrão orgânico
na indústria de vestuário.
Não há o equivalente
à certificação LEED para fábricas,
então tivemos que fazer tudo do zero.
Isso é o que criamos.
É chamado de "novo padrão".
Antes de tudo, pensamos
em design centrado no usuário.
Um tema comum na fast fashion é que tudo
se resume ao que pode nos ser vendido
e à publicidade para nos convencer,
mas diferentemente da tecnologia,
a fast fashion não é
desenhada para nós.
Isto é o mais importante: estamos pensando
sobre o que as pessoas fazem de dia,
aonde vão e que tipo de corte
e material seriam ideais.
Usamos materiais naturais e trabalhamos
diretamente com nossos fornecedores
desde o campo e ao longo
de toda a cadeia produtiva.
Isso é importante, porque 90% das marcas
não sabem de onde vêm seus materiais.
Por último, temos uma política
de portas abertas com nossos fabricantes,
e toda a produção é feita no país.
Dessa forma, podemos ver se nossa produção
está mesmo sendo feita
no local que contratamos.
Nossa ideia ao criar o novo padrão
e a coleção Zady
era apresentar uma alternativa,
mostrar que podemos voltar
a amar nossas roupas.
E isso me traz de volta a nós,
os cidadãos-consumidores.
Com tudo isso, percebi
que nós detemos o poder.
Se nos virmos como cidadãos-consumidores,
e se votarmos com nossos dólares,
poderemos mudar a indústria,
porque ela apenas segue o que fazemos.
Assim, como cidadãos-consumidores,
estas são algumas das coisas
que podemos fazer.
Primeiro, verifiquem as etiquetas;
foi assim que comecei.
Descubram de onde vem sua roupa
e de que ela é feita.
Isso já adianta muito as coisas.
Segundo, verifiquem as costuras da roupa.
Em muitas marcas de fast fashion,
se virarmos a roupa do avesso,
mesmo no provador, antes de sair da loja,
as costuras já estão se desfazendo.
Dá para ver se a roupa vai durar
muito tempo ou não.
Terceiro e mais importante,
amem o que vocês compram.
Há tanto dinheiro sendo investido
em marketing para nos convencer
de que gostamos de algo, que acabamos
não concentrando no nosso estilo,
no que gostamos e apreciamos de verdade.
Se nos concentrarmos
em gostar do que compramos,
vamos comprar menos
e aproveitar melhor o que temos.
E, finalmente, como cidadãos-consumidores,
vocês têm o poder e o direito
de fazer perguntas.
Perguntem se o material é orgânico,
o nome da fábrica,
se a tecelagem é certificada,
se lidam com os corantes
e a água da maneira correta.
E pensem em suas compras
em termos de custo por uso,
assim como um contador pensaria.
Assim, não ficam presos
apenas ao valor na etiqueta,
mas passam a ver sua roupa
com um investimento de longo prazo.
Porque o controle desse sistema
caótico, poluente e injusto
está totalmente ao alcance de nossas mãos.
O que nós, cidadãos-consumidores,
escolhemos comprar dita a direção
que a indústria irá seguir.
Se usarmos nosso dinheiro
para apoiar essa iniciativa,
a "slow fashion", ou "moda lenta",
poderemos nos sentir melhor
com o que vestimos
e estaremos usando nosso poder
para limpar o planeta.
Obrigada.
(Aplausos)