Em 3 de abril de 2011, Ai Weiwei
foi levado em custódia
pelas autoridades chinesas no aeroporto
de Beijing enquanto ia para Hong Kong.
Maio de 2011.
Ainda sob custódia, Ai Weiwei
não conseguiu participar
da inauguração da obra
"O círculo dos Animais/
Cabeças Zodiacais" em Nova Iorque.
O som está bom aí atrás?
[PREFEITO BLOOMBERG]
É uma honra recebê-los aqui hoje
para inaugurar uma grande
obra de arte pública
feita por um dos cidadãos públicos
mais criativos e corajosos do mundo.
Ai Weiwei.
Ai Weiwei não pode estar na
inauguração de seu trabalho,
"O círculo dos Animais/
Cabeças Zodiacais"
Mesmo que ele não esteja aqui fisicamente
ele continua a falar conosco,
a nos encantar,
a nos desafiar por meio de sua arte.
Na sua escala e acessibilidade,
"O Círculo dos Animais/Cabeças Zodiacais"
mantém a rica tradição nova-iorquina
de exibir obras artísticas inesquecíveis
para que todos possam apreciar.
Ai Weiwei acredita que a arte
deva ser para todos
e concordamos totalmente com ele.
Depois da coletiva de imprensa
com o prefeito Bloomberg,
os assistentes de Ai Weiwei E-Shyn Wong
e Inserk Yang se encontraram com o Art21.
Nós o chamamos em chinês...
[fala em chinês]
que é "Professor Ai"
E ele sempre teve consciência de que
se estamos aprendendo algo novo
Em todo projeto ele quer ter a certeza
de que estamos aprendendo
algo além do trabalho braçal.
Ele nos dá muita liberdade, sabe?
Ele não é um artista que impõe
suas decisões criativas
aos seus assistentes e colegas.
Com cada proposta que recebemos,
o que Weiwei considera importante
é o espaço e como ele pode ser usado.
Ele tem muitos artesãos
e muitas pessoas trabalhando com ele.
E ele trabalha diretamente com todos nós.
O estúdio sempre foi
um estado de fluxo constante.
Sempre com muitas pessoas,
principalmente nos últimos anos
que chamamos de voluntários.
Eles vêm com um certo tipo de interesse,
são quase todos jovens e chineses.
E normalmente não estão
envolvidos com arte.
Então temos até donas de casa vindo aqui
e dizendo ao Weiwei
que o seu trabalho as impactou,
e que elas querem participar disso.
E, geralmente, se ele sente que
tem uma paixão ali, ele aceita a pessoa.
Todo os dias pessoas chegam até nós
e nos oferecem propostas de algo
que podem fazer para ajudar Weiwei.
De primeira, pensamos,
"Ok, talvez seja melhor ficarmos quietos,
porque não queremos
irritar o governo chinês."
Mas depois pensamos,
"O que o Weiwei faria?"
E ele provavelmente faria muito barulho.
Então eu acho que ainda somos,
ele ainda é muito cuidadoso com o que faz.
Ele não faz barulho por fazer.
Então acho que estamos pensando,
estamos tentando pensar
bem na melhor abordagem,
mas eu não acho que
nos calarmos seja a solução.
É verdade, não se cale.
É triste não poder vê-lo
porque ele é uma figura
muito agradável e carismática.
É ótimo tê-lo por perto.
Obviamente, é estranho
fazer um show sem o artista.
Isso é um pré-requisito
e você anseia pela vinda do artista.
Óbvio que temos nossas ideias
de como usar a galeria
e do que queremos,
mas há sempre alterações.
Decidimos colocar pôsteres
porque normalmente o artista está aqui
com estrevistas marcadas,
então esperaríamos que ele pudesse falar.
Então percebemos
que seria importante dar voz a ele.
E escolhemos uma pequena seleção
de citações pertinentes e atemporais
Como se sabe, Ai Weiwei é filho
de um poeta muito famoso, Ai Qing.
Ele cresceu sabendo que a arte
era poderosa, mas também controversa.
Ele tentou fugir disso
e fugiu da China no final dos anos 80
e foi para Nova Iorque.
Ele teve um período
de reflexão e absorção
Ele criava, mas não buscava
uma carreira sólida como artista.
E acho que essas influências,
quando ele volta para a China
no meio dos anos 90,
o fizeram se posicionar
e entrar no cenário cultural chinês
e no cenário mundial
com uma voz muito ativa.
Há alguns trabalhos na exibição
que, para mim, são muito
importantes e tocantes.
Tem uma câmera de segurança
feita em mármore
e posta num pedestal.
As câmeras de segurança são predominantes
nas nossas vidas.
Elas são como o pano de fundo
de nossas vidas e subestimamos isso.
Para ele, elas eram muito presentes,
e não panos de fundo,
mas ele também esteve sob vigilância
por muitos anos.
E ele levou isso de uma forma leve.
Ele conversava com os guardas
à paisana que vinham
e ficavam perto da casa dele.
Ele apertava suas mãos.
E ele não se importava
quando a gente perguntava
se isso era incômodo.
Mas é claro que é incômodo,
e o que aconteceu foi horrível.
Outra curiosidade é que enquanto ele fazia
a câmera de segurança em mármore,
ele adotou outra estratégia
que foi de deixar sua vida
o mais pública possível.
Quando eu o visitei no estúdio,
ele tuitou umas 20 vezes
durante a nossa reunião de uma hora.
E eu penso que, se tudo estiver à mostra,
não há nada para espionar.
Então ele não tinha nada a esconder.
Ele trabalha de diversas formas,
mas em cada uma
ele faz nos seus próprios termos e,
do jeito mais simples, claro
e potente possível para dar
ao mundo o seu testemunho.
Junho de 2011. Em liberdade condicional
e à espera de seu julgamento
por evasão fiscal em Beijing,
Ai Weiwei está proibido
de falar sobre os termos de soltura
ou do seu período sob custódia.
[conversa abafada]
[gato miando]
Setembro de 2011. O Art21 consegue
permissão para entrevistar Ai Weiwei
sob a condição de perguntar
apenas sobre a sua arte.
[ENTREVISTADOR]
Como você decidiu se tornar artista?
[AI WEIWEI] Como?
Essa decisão não foi feita
muito seriamente.
Digo, eu não tive muita escolha
quando comecei a fazer arte.
Ou você é um "não-artista",
um operário, um fazendeiro ou um soldado.
Ou você se torna alguém que
que à época eu chamaria
de operário da arte.
Então como eu tenho familiaridade
com a arte, por causa do meu pai,
eu só escolhi isso. E sem muito sucesso.
Eu passei anos
Me chamando de artista,
mas não era de fato.
Eu não tinha muitos trabalhos,
nem nada que as pessoas valorizassem.
Até muito tarde, em 2004,
que eu comecei a ter exibições.
O que também me surpreendeu.
Você é sempre alguém
que você é capaz de ser.
Quando dizem que você pode fazer lustres,
você é alguém que faz lustres.
E isso é muito convincente.
Mais convincente do que qualquer coisa.
Talvez seja por isso que
eles me chamem de ativista político.
Na verdade eu nunca repensei
o meu trabalho. Está no passado.
É um caixão torto.
Eu acho que
podemos usar como uma mesa também,
para cochilar ou algo assim.
A mídia é a mensagem.
Em muitos casos é verdade,
e não no sentido clássico.
Ela carrega toda intenção e o significado.
Uma vez que você a altera,
é muito perturbador.
Aqueles são objetos inúteis.
Eu tenho muito interesse
nesses objetos "inúteis".
É preciso um trabalho artesanal perfeito,
um belo material cuidadosamente
medido e acabado.
Mas, ao mesmo tempo, é inútil.
Precisamos de algo que
as pessoas percebam que é arte,
do contrário, eles vão pensar
que você é muito politizado
Que "o que você faz não é arte".
Ou que "você nunca vai entender"
Então às vezes você precisa dizer,
"Eu sou um artista",
"Eu sei fazer isso", sabe?
[risadas]
Eu acho que tenho interesse
nessas atividades
ditas "arte" porque
é sobre lidar com novas possibilidades.
O componente de áudio com
a instalação de mochilas em Harvard
é a leitura dos 5.000 nomes
dos estudantes mortos num terremoto.
Meus carpinteiros sempre
precisam de trabalho.
Eles perguntam,
"Weiwei, o que podemos fazer agora?"
Então, eu não tenho ideias...
Eu não tenho muitas ideias.
Eu disse de talvez tentar esse pote.
Era de um brinquedo
de plástico para gatos.
E eles disseram, "isso é muito difícil".
Então eu disse,
"o objetivo é esse".
Eles precisaram de mais ou menos um ano,
para entenderem como criar
uma estrutura sem pregos.
Aos poucos se tornou um jogo para eles.
Eles adoraram.
Mesmo que não tenha sentido,
eles aceitaram por ser muito difícil.
A vigilância tem um objetivo muito claro.
É o de monitorar,
ou secretamente monitar...
o comportamento das pessoas...
Mas uma vez que se torna mármore,
a vigilância é observada.
Ela não funciona mais.
[ruídos de sirenes. trânsito]
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