Essa massa de células do tamanho de uma borracha para lápis é algo chamado cérebro organóide. É um conjunto de neurônios cultivados em laboratório e outros tecidos cerebrais que cientistas podem usar para aprender sobre cérebros humanos adultos. E ele pode ser cultivado a partir de uma amostra de células da sua pele. Por que precisamos de uma coisa dessas? Neurocientistas encaram um desafio: protegido por um crânio espesso e envolvido por camadas de tecido protetor, o cérebro humano é extremamente difícil de observar em ação. Durante séculos, cientistas tentaram entendê-lo através de autópsias, modelos animais e, recentemente, métodos de imagem. Aprendemos muito através de todos esses modelos, mas eles têm limitações. Distúrbios como Alzheimer e esquizofrenia, e o efeito de doenças como o Zika no cérebro humano, continuam escondidos fora do alcance da nossa visão e do nosso entendimento. Entram em cena os cérebros organóides, que funcionam como cérebros humanos mas não fazem parte do organismo. Cada um provém de uma célula-tronco indiferenciada, que é uma célula que pode se transformar em quaisquer dos tecidos do corpo, desde o osso até o cérebro. Cientistas podem fazer células-tronco indiferenciadas a partir de células da pele. Isso significa que podem pegar uma amostra da pele de uma pessoa com uma doença em particular e gerar organóides cerebrais a partir dessa pessoa. A parte mais difícil do cultivo de um cérebro organóide, que emperrou cientistas por anos, era encontrar a combinação perfeita de açúcar, proteínas, vitaminas e minerais que poderia induzir as células-tronco a desenvolver uma identidade neuronal. Isso só foi descoberto recentemente, em 2013. O resto do processo é surpreendentemente fácil. Uma célula-tronco basicamente cresce sozinha, como uma semente que cresce até tornar-se uma planta, tudo o que precisa são os equivalentes do cérebro para o solo, a água e a luz. Um gel especial para simular o tecido embrionário, uma incubadora aquecida na temperatura corporal, e um pouco de movimento para imitar o fluxo sanguíneo. As células-tronco desenvolvem-se numa pequena versão de um cérebro humano semi-desenvolvido, completo com neurônios que podem conectar-se uns com os outros e fazer redes neurais simples. À medida em que os mini-cérebros crescem, eles seguem todos os passos de desenvolvimento do cérebro fetal. Através da observação desse processo, é possível aprender como os neurônios se desenvolvem, e também como acabamos com muito mais deles no nosso córtex, a parte responsável pelo pensamento superior como a lógica e o raciocínio, do que outras espécies. Ser capaz de cultivar cérebros em laboratório, até mesmo minúsculos, levanta questões éticas como: "Eles podem pensar por si mesmo ou desenvolver uma consciência?" E a resposta para isso é não, por diversas razões. Um cérebro organóide possui o mesmo tipo de tecidos que um cérebro adulto, mas não é organizado da mesma maneira. O organóide é parecido com um avião que foi desmontado e remontado aleatoriamente; é possível estudar as asas, o motor e outras partes, mas o avião nunca poderá voar. Da mesma forma, um cérebro organóide nos permite estudar diversos tipos de tecidos cerebrais, mas não pode pensar. E mesmo se um mini-cérebro fosse organizado como um cérebro real, ainda não seriam capazes de raciocinar e desenvolver uma consciência. Uma grande parte do que faz o nosso cérebro tão inteligente é o seu tamanho, e mini-cérebros possuem apenas 100 mil neurônios comparados com os 86 bilhões de um cérebro adulto. Cientistas não pretendem cultivar cérebros maiores tão cedo. Sem vasos sanguíneos para alimentá-los, o seu tamanho é limitado a um centímetro, no máximo. Por fim, mini-cérebros não são capazes de interagir com o mundo exterior. Aprendemos ao interagir com nosso ambiente: recebendo informações através dos nossos olhos, ouvidos e outros órgãos sensoriais e reagindo por sua vez. A complexa rede de neurônios que fundamenta pensamentos conscientes e ações desenvolve-se a partir da reação a esse ciclo de informações. Sem isso, os organóides nunca poderão formar uma rede funcional. Não há nada que se compare ao cérebro humano atual, mas mini-cérebros são uma ferramenta sem precedentes para estudar tudo, desde o desenvolvimento até a doença. Com sorte, esses modestos organóides podem nos ajudar a descobrir o que faz o cérebro humano ser único, e talvez nos aproximem da resposta a uma velha questão: o que faz de nós humanos?