Estava dirigindo pela paisagem e percebia imensidão no Texas. Não há quase nada. É deserto e apenas há um pouco de mata rasteira aqui e ali. De repente, em meio a todo esse vazio estavam essas montanhas cor de rosa que o cercavam. Por todas as direções haviam esses morros. Espalhados por essa paisagem vazia estavam essas pequenas estruturas feitas com tubos e telhados ondulados. Porque no deserto, sombra é o bem mais precioso, sombra e água. Levei em média uma hora para entender que aquilo era uma pista de corrida. E então esses telhados ondulados eram abrigo para os cavalos Havia uma torre para o juiz. Também haviam dois abrigos para espectadores. Eu estava fascinado por essas adoráveis estruturas arejadas assentadas tão levemente nesta terra. E acabei fazendo 5 desenhos que realmente me interessaram. Um deles eu nunca pintei, mas eu fiz quatro pinturas em conjunto. Todas da mesma altura. Passei dois invernos fazendo essas pinturas. Estava interessado em escassez e clareza extrema. Cada detalhe era diferente. As montanhas eram rosa e as estruturas prateadas. O chão do deserto era de areia amarelada. Na verdade eu comprei novos tubos de tinta A principio eu vim a Marfa por causa das montanhas. Eu estive pintando por muitos anos em Nova Jersey, onde é plano. E na costa do Texas, perto de Galveston, High Island e Beaumont, Todos de paisagem completamente planas. Eu estive em Utah, estive e vi aquelas montanhas magníficas. E essas aqui não eram magníficas, e eu gostava disso nelas. Enquanto isso claro que eu vim e pintei os edifícios de Judd, ao invés das montanhas. Aqueles dois edifícios ali, erguidos em meio a pradaria, sem os outros dez, Essas instalações eram um pouco como ruínas e edificações ao mesmo tempo. Pois eram instalações abandonadas. Eu estava fascinados por elas. Elas não tinham as formas que professores nos ensinam que edifícios devem ter. Então eu fui a Presidio e logo encontrei essas montanhas de areia. Elas definitivamente não são como montanhas clássicas, mas muito esquisitas. Você percebe altura e profundidade, olhar para cima e baixo são ideias reais na pintura. E são muito diferentes quando se pinta uma paisagem plana ou a nível do solo. Eu fiquei admirado com a forma dramática com que a luz iluminava as formas. Com as sombras que estavam de um lado, e depois do outro lado no fim de tarde. Totalmente diferente. Esse não é meu drama, é o drama do sol que afeta aquela montanha. Quero manter minhas emoções fora da pintura. Minha emoção deve ser de respeito pelas formas. Quase que de reverência. Eu repinto cada pequena sombra várias vezes até conseguir o formato. Até que tenha personalidade. Algum detalhe aonde aonde essa pedra ressalta. E você precisa desse detalhe e não estará satisfeito até consegui-lo. Existe uma relação entre a minha pintura e a figura real que se vê. Elas se correspondem. Sou muito possessivo com minhas paisagens e não quero nenhum outro artista vindo aqui explorar e pintando minhas paisagens. Até mesmo fotógrafos ou qualquer outro tipo de artista visual. Quero apenas para mim. Quanto mais se fica lá, mais se descobre, Você está em constante aprendizado com o lugar que escolhe. E muitas vezes sinto que posso trabalhar em uma pintura por tempo quase indefinido. Já no fim da pintura você começa a olhar ao redor e se pergunta: "Por que eu escolhi esse local ao invés de aquele?" (Risos) E você pensa: "também daria uma pintura fantástica olhando daqui" "Mas acho que para mim chega. Já acabei, quero seguir em frente." Foi uma emoção semelhante a essa que me fez sair de Maine. Estava pintando uma sequencia de morros quando minha mão me disse: "Saia daqui." "Pare com isso. Já pintou esses morros muitas vezes, precisa ir para outro lugar. E então esse dia botei minha casa à venda. Um dos meus autores favoritos disse que, pintores de paisagem precisam estar em movimento para se reinventarem. Acho que ele tem razão. Eu não me vejo como um pintor de paisagem Na visão popular dessa expressão, uma paisagem consiste de um campo, um lago, uma árvore, uma montanha distante e assim por diante. É quase como uma receita. Espero muito que minhas pinturas não pareçam parte de uma receita, que eu tenha ido a outros lugares e visto coisas diferentes. Costumo dizer que eu pinto o meu meio, o que está ao meu entorno. Passa a ideia de que é uma coisa física que está ao seu redor, e está. Nos tira imediatamente daquela imagem achatada do mundo. O entorno implica que a paisagem realmente se curva ao seu redor. Como eu sigo essa curva, consigo percebê-la exposta na tela. E se você está em cima de um morro e olha para a estrada reta, aqui embaixo, e para o primeiro plano da tela, lá embaixo, ela irá se curvar para cima e o horizonte se curvará ara baixo dessa forma. Assim obtém-se essa composição em formato de amêndoa que se repete ao longo das minhas pinturas. Toda essa ideia do "olho incerto" veio à minha mente. Que você não percebe a pintur a inteira de imediato, você a percebe aos poucos. Ela se revela. A primeira que eu fiz dessa forma foi do Museu de História Natural, antes de construírem a cúpula enorme. Eu pensei: "Se eu ficar aqui e pintar esse edifício maravilhoso, contra a luz, realmente não dá para ver que ele é vermelho. É apenas escuro, não se sabe o que é." Então eu olho para minha esquerda em direção a rua, acho que é a Rua 81, e em direção a avenida, que deve ser a Colombus. Estou virando minha cabeça a 180 graus. Então é longe de um ponto a outro. Passa pelo prédio e chega nessa vista, e então chega na vista oposta, do outro lado da pintura. Perspectiva não é o que me interessa, com certeza. Eu adentrei mais à paisagem e comecei a trabalhar. Boom! Logo que acreditei ser um pintor abstrato. E eu não comecei com aquela ideia de que, ora sabe-se que o ponto de fuga está aqui e essas árvores descascando também. Eu não construí dessa forma. Comecei a achar coisas que a perspectiva me dizia não serem verdadeiras ao meu ver. E ao meu ver eu não sei o que é verdade, não sei se é algo que posso confirmar ou escrever, mas sei que tudo muda com qualquer pequeno movimento da cabeça, e mais ainda se mover os seus ombros. Não há solução para a representação do mundo. Logo que se fala de um mundo tridimensional, onde se tem movimento e o coloca numa superfície bidimensional, se chega num mundo metafórico, inevitavelmente. E a perspectiva é uma tentativa de unificar a metáfora da visão espacial. Esses problemas são a razão de você querer ir lá e fazer novamente. Sempre está vivo. E eu não quero soluções, elas não são interessantes para mim O processo em si é um problema a ser resolvido e sempre será. (risos) Na minha primeira vinda eu passei por um grupo de colmeias. E eu gostei de como elas estavam agrupadas nessa grande paisagem vazia. Esqueci as colmeias por um momento e estava em Rio Grande, desenhando um reservatório de água, quando um homem surgiu em pé atrás de mim e me assistiu desenhar um pouco. Me virei e perguntei se por acaso ele saberia quem era o dono daquelas colmeias na estrada de Casa Piedra. Ele falou que sabia. Quando a neve começa a ficar forte em Colorado, ela traz as abelhas para o Rio Grande, e as separa em pequenos grupos. Eu havia feito uns 6 desenhos de colmeias. Fiz todos em um dia. E eu olhei para eles e pensei: "Até que estão bons, realmente estão." Então comecei a voltar em Novembro para que pudesse ter mais tempo com as colmeias ainda lá. Ele chegou atraso este ano. Botou as colmeias nesses terrenos enormes. Um em frente a uma pequena montanha ao lado do Rio Grande, e outro mais para o meio, em direção a Candelária. Então pensei: "certo, vou trabalhar com esses dois lados e com esses milhares de colmeias." E comecei a pintá-las, já com minhas molduras montadas e tudo mais, quando pensei: "nunca vou acabar antes de moverem as colmeias de lugar" Então decidi fazer esses rascunhos a óleo, para a tela grande, e terminá-los como uma pintura bem acabada. Acabei com essas duas pinturas pequenas e com muitas, muitas, muitas colmeias. Pintei essa estação de energia no meio da pradaria e me deparei com um enorme vão, em meio a essa paisagem plana onde nada acontecia. Eram milhas e milhas de absolutamente nada. (Risos) E eu achei incrível. Era uma junção estrutural de duas coisas contrárias, e daria uma ótima pintura. Enquanto pintava, surgiam muitos detalhes da estação elétrica, das cercas, ruas, esgotos e estradas na pintura, detalhes sutis. O mais impactante dessa pintura é esse enorme pedaço vazio em meio ao grande espaço de pradaria. Conforme pintamos, começamos a explorar. "O que é essa estrutura? Por que importa?" Você chega num ponto e se atrai pela razão "X", mas conforme começa a pintar, essa razão desaparece. Alguns trabalhadores aparecem se divertindo a tarde jogando bola. Hoje é a vez do time feminino. Então você pensa: "Que legal. Que bom que estão ao ar livre e se divertindo." Essa é a razão que se começa. Depois todo o resto se torna importante. Qual deve ser o tamanho das sombras desta árvore no final da tarde? Como deixar esses prédios proporcionais à escala do desenho e das outras figuras? Blá, blá, blá. Todas estas outras considerações entram em cena, a ideia inicial se perde e é completamente esquecida. Você se envolve em outras coisas. Você se envolve na suavidade da luz refletindo a grama alta e como ela muda quando chega na parte aparada da grama. Por que ela faz isso e como o expressar com os movimentos do pincel? Todas essas outras coisas se tornam importante. E aquele tema antigo, que literalmente te atraiu primeiro acabou. Se foi. Eu me interesso por grandes espaços ao ar livre que são vazios. Vazio, como o vazio das pistas de corrida com aqueles edifícios dispersos. E como as maravilhosas marcas no chão da arena que Judd descobriu. Elas são como as marcas de pneu da pista de corrida. A primeira vez que eu me interessei por essas marcas foi no World Trade Center. Quando eu pintei, aquele piso havia sido arrancado pois eram espaços vazios. Nesse chão você percebe todos aqueles arranhados incríveis e marcas e manchas. A história desse chão está escrita detalhadamente ali. E eu gosto dessa história. Foi isso que eu quis dizer com fazer reverência por coisas do tipo. Algo tão pequeno e desconhecido num sentido inconsequente como um arranhão, ainda é algo. É algo real. É como eu e você, uma personalidade. (Risos) Parece vazio, mas na verdade eu vejo plenitude ali. Sim. E eu gostaria que vocês vissem essa plenitude nas minhas pinturas. Para saber mais sobre "A Arte no Século XXI" e os seus recursos educativos, por favor visite-nos online em: PBS.org/Art21 "Arte no Século XXI" está disponível em DVD. O livro que o acompanha também está disponível. Para encomendar, visite-nos online em: shopPBS.org ou contacte a PBS Home Video em: 1-800-PLAY-PBS