Vou falar sobre o sucesso no meu "campus",
a Universidade de Maryland,
condado de Baltimore, UMBC,
a educar estudantes de todos os tipos,
desde as Artes e Humanidades
até às Ciências às Engenharias.
O que dá importância à nossa história
é que aprendemos tanto
a partir de um grupo de alunos
que normalmente não ocupam
o topo da escada académica
— estudantes de cor, sub-representados
nas áreas seleccionadas.
O que torna a história especialmente única
é que aprendemos a ajudar estudantes
afro-americanos, latinos,
estudantes de classes
de rendimentos baixos,
a tornar-se dos melhores do mundo
em Ciência e Engenharia.
Começo com uma história da minha infância.
Somos todos produto das nossas infâncias.
É-me difícil acreditar que passaram
50 anos
desde a minha experiência como um miúdo
do 9.º ano em Birmingham, Alabama,
um miúdo que adorava tirar Excelentes,
um miúdo que adorava matemática,
adorava ler,
um miúdo que dizia ao professor,
quando o professor dizia à turma:
"Estão aqui 10 problemas",
este rapaz gorducho dizia:
"Dê-nos mais 10!"
Toda a turma dizia: "Cala-te, Freeman."
(Risos)
E todos os dias escolhiam um
para me dar pontapés.
Eu fazia sempre a mesma pergunta:
"Como podemos levar mais miúdos
a gostar de aprender?"
E surpreendentemente,
uma semana na igreja,
quando não queria nada lá estar
e estava sempre ao fundo da sala sossegado
a resolver problemas de matemática,
ouvi um homem dizer:
"Se levarmos as crianças
"a participar na demonstração pacífica
aqui em Birmingham,
"mostraremos aos EUA que até as crianças
sabem a diferença entre certo e errado
"e que as crianças querem mesmo
receber a melhor educação possível."
Olhei para cima e perguntei:
"Quem é aquele homem?"
Disseram que se chamava
Dr. Martin Luther King.
E eu disse aos meus pais: "Tenho de ir.
"Quero ir. Quero fazer parte disto."
Eles responderam: "Claro que não vais."
(Risos)
Tivemos uma grande discussão.
Naquele tempo,
não respondíamos aos nossos pais.
De qualquer modo, disse-lhes:
"Sabem, vocês são hipócritas.
"Fazem-me vir aqui. Fazem-me ouvir.
"O homem quer que eu vá,
e vocês dizem que não."
Eles pensaram nisso toda a noite.
De manhã, vieram ao meu quarto.
Não tinham dormido.
Estiveram literalmente a chorar.
a rezar e a pensar:
"Vamos deixar o nosso filhos de 12 anos
"participar nesta marcha
e provavelmente ser preso?"
E decidiram fazê-lo.
Quando vieram dizer-mo,
primeiro, fiquei exultante.
Depois, de repente, comecei a pensar
nos cães e nas mangueiras de incêndio,
e fiquei com muito medo, fiquei mesmo.
Uma das coisas que digo sempre às pessoas
é que, por vezes, quando as pessoas
fazem algo corajoso,
não significa que são assim tão corajosas.
Significa apenas que acreditam
ser importante fazê-lo.
Eu queria uma educação melhor.
Não queria ter livros usados.
Queria saber que a escola que frequentava
não tinha apenas bons professores,
mas os recursos de que precisávamos.
Como resultado daquela experiência,
a meio da semana,
quando estava na cadeia,
o Dr. King veio e disse
com os nossos pais:
"O que vocês, crianças, fazem hoje
"terá um impacto nas crianças
ainda por nascer."
Percebi recentemente que
dois terços dos norte-americanos atuais
não tinham nascido em 1963.
Para eles, quando ouvem falar
da Cruzada Infantil em Birmingham,
de muitas formas, se o vêem na TV,
é como nós olharmos
para o filme "Lincoln", de 1863:
É história.
A verdadeira questão é:
"Que lição aprendemos?"
Surpreendentemente, para mim
o mais importante foi isto:
as crianças podem ser empossadas
da propriedade da sua educação.
Podem ser ensinadas a ser apaixonadas.
a querer aprender e adorar
a ideia de questionar.
É então especialmente significativo
que a universidade que agora lidero,
a Universidade de Maryland,
condado de Baltimore, UMBC,
tenha sido fundada no mesmo ano
em que fui para a cadeia
com o Dr. King, em 1963.
O que tornou aquela instituição
especialmente importante
é que Maryland é no Sul, como sabem,
e, francamente, foi a primeira
universidade do nosso Estado
fundada num tempo em que estudantes
de todas as raças a podiam frequentar.
Tínhamos então negros e brancos
e outros que começaram a frequentá-la.
Foi uma experiência ao longo de 50 anos.
A experiência é esta:
Será possível ter instituições
no nosso país,
universidades, em que pessoas
de todos os meios podem entrar e aprender,
aprender a trabalhar juntas e
aprender a tornar-se líderes
e a apoiar-se mutuamente
nessa experiência?
Para mim, o que é especialmente
importante nesta experiência é isto:
Descobrimos que podíamos fazer muito
pelas Artes e Humanidades
e Ciências Sociais.
Começámos a trabalhar nisso
durante anos, na década de 60
e formámos várias personalidades
desde o Direito às Ciências Humanas.
Formámos grandes artistas.
Beckett é a nossa musa.
Muitos dos nossos alunos
vão para Teatro.
É um bom trabalho.
O problema que enfrentámos foi o mesmo
que a América continua a enfrentar:
os estudantes nas Ciências e Engenharias,
estudantes negros não estavam a vingar.
Mas quando olhei para a informação,
o que descobri foi que
os estudantes em geral,
em grande número
não estavam a conseguir vingar.
Em resposta a isto,
decidimos fazer algo
que ajudaria, primeiramente,
o grupo de baixo,
os estudantes afro-americanos,
e depois os estudantes hispânicos.
Robert e Jane Meyerhoff, filantropos,
disseram: "Queremos ajudar."
Robert Meyerhoff perguntou:
"Porque é que tudo o que vejo na TV
sobre rapazes negros
"se não é sobre basquetebol,
não é positivo?
"Eu queria fazer a diferença,
fazer algo de positivo".
Conjugámos essas ideias e criámos
o programa de Bolsas Meyerhoff.
O significativo deste programa
é que aprendemos uma série de coisas.
E a questão é esta:
Como lideramos agora o país
na formação de afro-americanos
que completam doutoramentos em Ciências,
em Engenharia e em Medicina?
É importante.
Uma salva de palmas para isto.
É importante. É mesmo importante.
(Aplausos)
O que a maioria das pessoas desconhece
é que não são apenas as minorias
que não vingam em Ciências e Engenharias.
Francamente,
falamos dos norte-americanos.
Se não sabem, enquanto
só 20% dos negros e hispânicos,
que iniciam um curso
em Ciências e Engenharia,
se licenciam em Ciências e Engenharias,
apenas 32% dos brancos,
que iniciam cursos nestas áreas,
vingam e se licenciam nestas áreas,
e apenas 42% de asiático-americanos.
Então, a questão central é:
"Qual é o desafio?"
Uma parte dele, claro, é o ensino básico.
Temos de melhorar o ensino básico.
Mas a outra parte tem a ver
com a cultura de ciências e engenharias
nos nossos espaços universitários.
Saibam ou não, grande parte dos estudantes
com altas médias de exame
e bons currículos pré-universitários,
que vão para as mais prestigiadas
universidades nacionais,
começam em pré-medicina ou pré-engenharia
e engenharia, e acabam por mudar de curso.
Achamos que a principal razão
é que não vingaram no primeiro ano
dos seus cursos científicos.
Chamamos ao primeiro ano em
Ciência e Engenharia, em toda a América,
provas de eliminação
ou provas de obstáculos.
Quem, nesta plateia, conhece alguém
que começou em Medicina ou Engenharia
e mudou de curso nos primeiros anos?
É um problema americano. Metade de vocês.
Eu sei. Eu sei. Eu sei.
O que é interessante nisto
é que muitos estudantes
são inteligentes e conseguem-no.
Temos de encontrar formas
de fazer isto acontecer.
Fizemos quatro coisas para ajudar
as minorias estudantis,
que agora ajudam
os estudantes em geral.
Número um: altas expectativas.
É necessário compreender
a preparação académica de estudantes
— as suas notas,
o rigor do seu trabalho de curso,
as suas competências
em testes, a sua atitude,
o fogo no seu âmago,
a paixão pelo trabalho, para consegui-lo.
Fazer coisas para ajudar os estudantes
a preparar-se para estarem
nessa posição é muito importante.
Mas igualmente importante
é compreender que é o trabalho árduo
que faz a diferença.
Não interessa se és inteligente
ou se pensas que és inteligente.
Inteligência significa apenas
que estás pronto para aprender.
Estás entusiasmado por aprender
e colocar boas questões.
I. I. Rabi, um Nobel, disse que,
enquanto crescia em Nova Iorque,
todos os pais dos seus amigos
lhes perguntavam:
"O que aprendeste na escola?"
no fim do dia.
Ele disse que a sua mãe judia,
pelo contrário, lhe perguntava:
"Izzy, colocaste hoje alguma boa questão?"
Então, altas expectativas
têm a ver com curiosidade
e encorajar os jovens a ser curiosos.
Como resultado
destas altas expectativas,
começámos a procurar estudantes
com quem queríamos trabalhar
para ver como os poderíamos ajudar,
não apenas a sobreviver
em Ciência e Engenharia,
mas a tornar-se os melhores,
a serem excelentes.
Curiosamente, um exemplo:
A um jovem que teve Satisfaz
na sua primeira cadeira
e queria ir para Medicina, dissemos:
"É preciso que repitas a cadeira,
"porque precisas de alicerces fortes
se vais passar ao nível superior.
"Cada alicerce faz a diferença
no nível superior".
Ele repetiu a cadeira.
Esse jovem licenciou-se na UMBC.
Foi o primeiro negro
a conseguir licenciar-se
em Medicina pela
Universidade da Pensilvânia.
Trabalha agora em Harvard.
Bela história.
Uma salva de palmas para ele.
(Aplausos)
Segundo, não é apenas
acerca das classificações.
As notas são importantes,
mas não o mais importante.
Uma jovem teve altas classificações,
mas nos testes não tinha notas tão altas.
Mas tinha um factor muito importante.
Nunca faltou a um dia de aulas
no ensino básico.
Havia fogo no seu âmago.
Essa jovem continuou e hoje
é licenciada em Medicina pela Hopkins.
Está na faculdade,
com cargo provisório em psiquiatria
e doutoramento em neurociência.
Ela e o seu orientador
detêm uma patente.
num uso secundário do Viagra
para doentes diabéticos.
Um grande aplauso para ela.
Palmas para ela.
(Aplausos)
Altas expectativas, é muito importante.
Segundo, a ideia de construir
uma comunidade entre os alunos.
Todos sabem que, geralmente,
em ciência e engenharia
tendemos para o pensamento competitivo.
Os estudantes não são ensinados
a trabalhar em grupo.
E é isso que trabalhamos
com cada grupo
para os fazer compreender-se
mutuamente,
para construir confiança
entre eles, apoiando-se,
aprendendo a colocar boas questões,
mas também aprendendo
como explicar conceitos com clareza.
Como sabem, uma coisa
é alguém merecer Excelente,
outra coisa é ajudar alguém
a conseguir bons resultados.
Sentir essa responsabilidade
faz toda a diferença do mundo.
Então, construir comunidade entre
esses estudantes, é muito importante.
Terceiro, a ideia de que são necessários
investigadores para formar investigadores.
Fala-se de artistas que formam artistas
ou de pessoas a enveredar pelas ciências
sociais, qualquer que seja a disciplina
— especialmente na ciência e engenharia,
como nas artes, por exemplo —
são necessários cientistas
para colocar estudantes a trabalhar.
Pelo que os nossos estudantes trabalham
regularmente nos laboratórios.
E um grande exemplo que irão apreciar:
Durante uma tempestade de neve
em Baltimore, há alguns anos,
um rapaz no nosso "campus" com uma
bolsa do Instituto Médico Howard Hughes
voltou para trabalhar
no laboratório após vários dias.
Todos os estudantes tinham-se recusado
a deixar o laboratório.
Tinham comida que haviam embalado.
Estavam no laboratório a trabalhar,
e viam o trabalho, não como tarefa
escolar, mas como as suas vidas.
Eles sabiam que estavam a trabalhar
na pesquisa da SIDA.
Observavam a espantosa configuração
de uma proteína.
O interessante é como cada um
se focava nesse trabalho.
Disse ele:
"Não se consegue melhor do que isto."
E finalmente, se conseguem a comunidade
e têm altas expectativas e têm
investigadores a formar investigadores,
têm de ter pessoas dispostas,
enquanto faculdade,
a envolver-se com esses alunos,
mesmo na sala de aula.
Nunca esquecerei um membro da faculdade
que foi ter com funcionários, e disse:
"Tenho um jovem na aula, um jovem negro,
"que não parece entusiasmado
com o trabalho.
"Não tira notas. Temos de falar com ele."
O significativo foi que o membro da
faculdade observava cada estudante
para compreender quem estava mesmo
envolvido e quem não estava e dizia:
"Vejamos como posso trabalhar com eles.
"Deixem-me conseguir a ajuda
dos funcionários." Era assim a ligação.
Esse jovem é hoje membro de
Neuroengenharia
na faculdade de Medicina em Duke.
Um grande aplauso para ele por isso.
(Aplausos)
O significado é que
desenvolvemos este modelo
que nos está a ajudar não só na avaliação,
mas a perceber o que funciona.
O que aprendemos foi que tínhamos
de pensar em reestruturar as cadeiras.
Reestruturámos a Química,
reestruturámos a Física.
Mas agora estamos a pensar reestruturar
as Ciências Sociais e Humanas.
Porque muitos alunos
estão aborrecidos na aula.
Sabiam isso?
Muitos alunos, no ensino básico
e nas universidades,
não querem sentar-se ali
e ouvir alguém falar.
Têm de ser envolvidos.
Então fizemos — se visitarem no nosso
"site" o Centro de Descoberta de Química,
verão pessoas vindas de todo o país
para observarem como
reestruturámos as cadeiras,
dando ênfase à colaboração,
ao uso de tecnologia,
usando problemas de fora
das nossas empresas de biotecnologia
no nosso "campus",
não fornecendo teoria aos alunos,
antes fazendo-os
debater-se com essa teoria.
Tem resultado tão bem que em todo
o nosso sistema universitário em Maryland,
estão a ser reestruturadas
cada vez mais cadeiras.
É a chamada inovação académica.
Qual é o significado de tudo isto?
Significa que agora, não apenas
em Ciência e Engenharia,
temos hoje programas nas Artes,
nas Ciências Sociais e Humanas,
na formação de professores,
particularmente para mulheres,
em Informação e Tecnologia.
Caso não saibam, houve uma queda de 79%
no número de mulheres licenciadas em
Ciência dos Computadores só desde 2000.
E digo apenas que faremos a diferença
construindo comunidade entre os alunos,
dizendo às jovens, aos jovens estudantes
das minorias e aos estudantes em geral
que eles são capazes.
E mais importante, dando-lhes
a oportunidade
de construir essa comunidade com
a faculdade a atraí-los para o trabalho
e tentando nós perceber
o que resulta e o que não resulta.
Mais importante,
se um estudante tem autoconfiança,
é espantoso como os sonhos e os valores
podem fazer toda a diferença do mundo.
Quando era um rapaz de 12 anos
na cadeia em Birmingham, pensava:
"Pergunto-me como será o meu futuro."
Não tinha ideia que era possível
para este rapaz negro em Birmingham
ser um dia presidente de uma universidade
com estudantes de 150 países,
onde os estudantes não sobrevivem apenas,
mas onde adoram aprender,
onde apreciam ser os melhores,
onde um dia mudarão o mundo.
Disse Aristóteles:
"A excelência nunca é acidental.
"É o resultado de uma intenção firme,
de esforço sincero e execução inteligente.
"Representa a opção mais sábia
entre muitas alternativas."
E disse depois algo
que me põe arrepiado. Disse:
"A escolha, não a sorte,
determina o nosso destino."
A escolha, não a sorte, determina
o nosso destino, sonhos e valores.
Muito obrigado a todos.
(Aplausos)