Esta é uma foto minha
de quando eu tinha 14 anos.
Eu sei o que vocês estão pensando.
"Caro Dylan,
tem certeza que não é o Ryan Gosling?"
(Risos)
Mas, infelizmente não,
sou eu na foto.
Por muito tempo, tentei apagar
essa foto da minha memória,
e, para ser honesto, vocês me culpam?
Primeiramente, que diabos
está acontecendo com o meu cabelo ali?
Minha mãe era cabeleireira.
Eu costumava sentar no carro
com um tubo de gel e uma escova de cabelo,
e a caminho da escola, todo dia,
eu sentava lá pensando:
"Dylan, você arrasou!"
(Risos)
Ainda não entendo
por que ela me deixou sair do carro.
Em segundo lugar,
cadê minhas sobrancelhas?
(Risos)
Agora,
para o meu azar,
não tive sobrancelhas até os 17 anos.
Hoje eu entendo que não tinha
controle nenhum sobre aquilo,
mas, como vocês podem imaginar,
isso não me ajudava em nada, não é?
Eu também usava aparelho.
E minha cama era na despensa,
e eu estava acima do peso.
Essa foi a primeira vez na minha vida,
que eu estava realmente lutando
com minha deficiência.
Até essa idade, nunca me importei
com o fato de estar numa cadeira de rodas.
Todos eram jovens,
e ninguém notou isso de verdade,
e as coisas aconteceram muito suavemente.
Mas, nessa época,
as coisas começaram a mudar.
O pessoal começou a ir a festas.
Os garotos começaram a beijar
as garotas, e elas os garotos.
Garotas começaram a beijar garotas,
e, ocasionalmente,
garotos começaram a beijar garotos.
Mas, absolutamente ninguém
estava beijando o Dylan,
isso eu posso garantir.
E também foi a primeira vez
que me achei estranho
por ter uma deficiência.
E, para ser honesto, foi uma droga,
e teve um efeito muito grande
em absolutamente tudo que eu fazia.
Comecei a ter uma fase horrível na escola.
Isso começou a afetar
minha carreira esportiva também.
Pela primeira vez na vida,
eu estava desapontado de verdade.
E então, no nono ano, algo aconteceu.
Um amigo meu ia dar uma festa.
Ele era, de verdade, muito meu amigo.
E antes, eu nunca tinha sido
convidado para muitas festas,
e pensei: "Que oportunidade perfeita
para ir à sua primeira festa.
Vou arrasar, com certeza,
e todo mundo vai me convidar
para todas as festas que virão".
Os convites da festa foram enviados
e o que vocês acham que aconteceu?
Eu não recebi.
Não recebi o convite.
E eu me lembro de dizer a mim mesmo:
"Quanta besteira.
Eu sou muito amigo desse cara,
como eu poderia não ser
convidado para sua festa?"
Eu estava em casa no dia da festa,
e pensei: "Eu quero muito ir".
Antigamente, quando você tinha
15, 16, pegava super mal
mandar uma mensagem para alguém
pedindo para ir à festa.
A coisa mais descolada possível a fazer
era simplesmente ir lá e pular a cerca.
(Risos)
Agora, como vocês podem imaginar,
pular não é exatamente o meu forte.
E a não ser que eu tivesse algum tipo
de guindaste ou um trampolim...
(Risos)
não tinha nenhum jeito
de eu pular aquela cerca.
A única maneira era bater na porta
e entrar pela frente.
Eu estava em casa e disse: "Que se dane,
eu vou lá ver o que acontece".
Eu fui à casas dele, bati
e meu amigo atendeu.
E ele tinha um olhar estranho
e chocado porque eu estava lá!
Eu me me lembro
de ter pensado: "O que eu fiz?
Por que não fiquei em casa jogando
videogame como eu sempre fiz?".
Ele olhou para mim e disse: "Dyl,
parceiro, estou tão feliz que você veio.
Eu não sabia se você poderia entrar
na minha casa por causa das escadas,
então não te convidei".
Eu disse a mim mesmo: "Foi só por isso?
Essa foi o real motivo
de eu não ter sido convidado?"
Enfim, entrei na festa,
botei pra quebrar, foi maravilhoso.
(Risos)
No outro dia, eu acordei
e estava muito bravo comigo mesmo.
Eu estava furioso
porque deixei minhas inseguranças
e minha vergonha sobre minha deficiência
ditarem os anos anteriores da minha vida.
Eu estava realmente bravo
porque eu acreditava
nesse estigma de que ter uma deficiência
faz de você estranho ou diferente,
e essa é a única razão pela qual
as pessoas não querem sair com você.
Bravo comigo mesmo
por não ter tido coragem
e confiança para conversar com meus amigos
e ensiná-los sobre a minha deficiência.
A única razão de eu não
ter sido convidado aquela noite
não era porque eles não gostavam de mim,
mas porque eu não disse nada
a eles sobre minha deficiência.
Não disse que subo escadas,
e tudo estaria bem.
Fiquei em casa um ano inteiro
pensando que eles não gostavam de mim.
A única razão de terem feito isso era
porque não sabiam sobre deficiência
e eu não fiz nada
para ensiná-los sobre isso.
Depois daquela noite,
as coisas mudaram de fato para mim.
Eu comecei a ser mais sociável,
emagreci bastante,
comecei a sair mais,
e até comecei a beijar
uma ou duas garotas excêntricas.
(Risos)
Depois daquela noite, fiz um pacto.
Um pacto comigo mesmo,
para nunca deixar minha deficiência
atrapalhar o que eu queria fazer.
Um pacto de não ter medo
da minha deficiência,
mas sim de abraçá-la em tudo que fizesse.
Por causa disso, tenho sido capaz de viver
uma vida incrivelmente maravilhosa.
Em 2008, tive a sorte
de ganhar uma medalha de ouro
nos Jogos Paraolímpicos,
jogando basquete em cadeira de rodas
pela Austrália, acreditem.
Isso foi incrível para mim.
Desde criança, eu sempre quis
ir para os Jogos Paraolímpicos.
Esse evento, para quem não sabe,
é o ápice do esporte de elite
para pessoas com deficiência.
Mas muitas pessoas
não sabem o verdadeiro significado
da palavra "Paraolímpico".
Ela tem duas partes, na verdade:
"olímpico", que representa as Olimpíadas,
o topo do esporte
e "para".
Há um equívoco comum de que "para"
significa paraplégico ou paralisado,
mas não é o caso.
"Para", na verdade, representa "paralelo",
ou seja, os Jogos Paraolímpicos
ocorrem em paralelos às Olimpíadas.
Mesmas medalhas, mesmos locais,
mesmos atletas de elite, mesmo tempo.
A única diferença é obviamente que todos
nos Jogos Paraolímpicos têm deficiência.
Foi maravilhoso em Pequim para mim.
Eu tinha 17 anos na época,
então eu ainda estava fazendo as provas
finais do ensino médio enquanto estava lá.
Ter 17 anos e estar no topo do pódio
com 12 dos seus melhores amigos,
caras que tinham perdido
membros do corpo para o câncer,
outros que sofreram acidentes
em seus locais de trabalho
e ficaram em cadeiras de rodas.
Outros que sofreram acidente de carro
e nunca andarão de novo
e perderam pessoas amadas no processo.
Estar no topo daquele pódio
tão orgulhosos do que fizemos,
cantando o hino nacional
com lágrimas em nossos olhos,
foi a melhor coisa que já me aconteceu.
Foi realmente incrível
e é algo que vou guardar para sempre.
Eu também ganhei a reputação
do cara que é carregado pela multidão
em sua cadeira de rodas.
(Risos)
Tenho tido muita sorte
de viajar pelo mundo
participando de festivais de música.
Todos me conhecem como:
"É o cara que é carregado pela multidão
na cadeira de rodas!"
Para ser honesto, a primeira vez
que fiz isso foi por pura necessidade,
porque eu estava cansado
de ficar sentado na roda-punk
olhando pros seus traseiros o dia todo.
(Risos)
Vocês não têm ideia do quanto
isso irrita depois de um tempo.
Mas, depois da primeira vez,
fiquei completamente viciado.
É uma sensação incrível,
estar no topo da multidão
no que eu gosto de chamar
de o melhor lugar da casa.
É realmente incrível.
É uma metáfora legal
para pessoas com deficiência, também,
do que eles de fato podem fazer,
ir lá, quebrar paradigmas
e fazer o inesperado.
E para registrar, só caí uma vez.
E não fiquei mais deficiente com a queda,
está tudo bem.
(Risos)
Agora,
quando eu reflito sobre minha vida,
penso em quando...
Estou muito feliz
de poder estar aqui agora
e pensar que tudo isso
quase não aconteceu comigo.
Eu me recordo do Dylan de 14 anos e penso
que tinha todas aquelas inseguranças
do que podia alcançar.
E deixei aquilo ditar
o que eu fazia todos os dias.
Eu penso no Dylan de 14 anos
que pensou que sua deficiência
era um péssimo fardo
que era realmente difícil de superar.
Penso no Dylan de 14 anos,
e vejo que tenho muita sorte
por fazer o que tenho feito.
Fico muito feliz por ter podido desafiar
minha própria percepção sobre deficiência.
E hoje posso sentar aqui,
na frente de todos vocês,
e lhes contar com 100% de honestidade:
se eu tivesse a chance de voltar no tempo
ou tomar algum tipo de pílula mágica
e andar novamente,
não existe dinheiro no mundo
que me levaria a fazer isso.
Porque eu amo tudo em minha vida,
com cadeiras de rodas ou não.
Eu não mudaria isso por nada.
Mas, infelizmente, existem muitas crianças
no mundo todo, e na Austrália
que estão sofrendo socialmente
por causa das suas deficiências.
A deficiência continua sendo essa coisa
sobre a qual ninguém quer falar.
Ainda existe esse estigma negativo
de que ter deficiência
é uma coisa estranha, ruim e feia.
E, para crianças com deficiência
que não têm confiança,
é muito difícil superar isso
sair para o mundo
e fazer o que elas querem fazer.
E isso restringe tudo
o que querem conquistar.
Existe uma multidão de problemas no mundo:
pobreza, refugiados,
casamento gay, igualdade de gênero.
Todas são coisas muito importantes.
Mas quando em sua vida
você ouviu algo sobre a deficiência?
Você alguma vez já ligou a televisão
e viu uma matéria importante
sobre alguém com deficiência?
Você já ligou a TV e viu um apresentador
de cadeira de rodas...
perdão, um apresentador cadeirante?
Ou alguém com paralisia cerebral
em nossos parlamentos?
Ou um ator realmente cego
interpretando um ator cego,
em vez de um cara
que só está de olhos fechados?
(Risos)
Eu me lembro de quando eu era criança,
ainda em conflito aos 14 anos,
tudo o que queria era
ter ligado minha televisão
e visto um cadeirante vencendo.
Porque isso teria feito eu perceber que:
"Quer saber? Eu posso fazer aquilo também!
Este, um dia, pode ser eu".
Queria ter tido um modelo positivo na tevê
onde pudesse ter visto alguém arrasando,
e isso teria injetado confiança em mim
para ir lá fora e fazer tudo que quisesse.
Eu acho muito importante para nós,
como sociedade, avançarmos;
mudarmos nossa visão de deficiência
para longe dessa ideia
de que é uma coisa muito ruim,
infeliz e estranha,
e não termos medo de falar sobre isso.
Precisamos entender que faz parte
ter alguma deficiência,
e aumentarmos nossas expectativas
do que os deficientes podem fazer.
Para que possamos avançar,
precisamos colocar
a deficiência nos holofotes.
Ter pessoas com deficiência
na mídia de massa,
e isso vai aumentar a visibilidade
com uma luz positiva.
Precisamos fazer da deficiência
um lugar comum.
Temos de começar a conversar sobre isso,
conversa essa que vai longe
para normalizar isso.
E aí, quem sabe?
Talvez um dia, se fizermos isso,
estas crianças, como eu costumava ser,
não passarão por tempos tão difíceis.
Elas nunca mais terão
vergonha de sua deficiência.
Terão a confiança de fazer o que quiserem.
Porém, com a esperança de escolherem
um penteado melhor que aquele.
Obrigado.
(Aplausos) (Vivas)