O mundo de hoje tem muitos problemas.
E todos eles são muito complicados,
estão interligados e são difíceis.
Mas há algo que podemos fazer.
Eu acredito
que a educação das raparigas é o que
temos de mais similar a uma varinha mágica
para ajudar a resolver alguns
dos problemas mais difíceis do mundo.
Mas vocês não precisam
de acreditar em mim.
O Banco Mundial diz
que o ensino das raparigas
é um dos melhores investimentos
que um país pode fazer.
Ajuda a ter um impacto positivo
em 9 das 17 Metas
de Desenvolvimento Sustentável.
Tudo, desde os setores da saúde,
à nutrição e ao emprego
— todos eles são positivamente afetados
quando as raparigas são educadas.
Além disso, os climatólogos
colocaram a educação das raparigas
como a sexta de 80 ações
para inverter o aquecimento global.
Nesta 6.ª posição,
a sua prioridade é maior
do que os painéis solares
e os carros elétricos.
Isso porque, quando
as raparigas são educadas,
elas terão famílias mais pequenas,
o que resulta na redução da população
e numa redução significativa
das emissões de gás carbónico.
Mais do que isso, é um problema
que só precisamos de resolver uma vez,
porque uma mãe educada
tem uma probabilidade duas vezes maior
de educar as suas filhas.
Significa que, educando uma vez,
nós podemos eliminar as diferenças
de género e de alfabetização para sempre.
Eu trabalho na Índia,
que fez um progresso incrível
ao instituir a educação básica para todos.
Porém, ainda temos quatro milhões
de raparigas fora das escolas,
uma das taxas mais altas do mundo.
Elas estão fora da escola
por causa da pobreza, obviamente,
e por fatores sociais e culturais.
Mas também há uma mentalidade
estrutural subjacente.
Eu conheci uma rapariga
chamada Naraaz Nath.
Naraaz significa "irritado".
Quando lhe perguntei: "Porque é
que o teu nome significa 'irritado'?"
ela respondeu: "Porque todos ficaram
irritados quando nasceu uma rapariga."
Outra rapariga chamava-se Antim Bala,
que significa a "última menina"
porque todos tinham esperança
que ela fosse a última rapariga a nascer.
Uma rapariga chamada Aachuki,
que significa "alguém que chegou",
não que era desejada, mas que chegou.
E é essa mentalidade
que mantém as raparigas fora da escola
ou as impede de completar a sua educação.
É essa crença que coloca
uma cabra como um bem valioso
e que trata uma rapariga como um fardo.
A minha organização, Educate Girls,
trabalha para mudar isso.
Trabalhamos nalgumas das aldeias
mais difíceis, mais rurais,
mais remotas e mais tribais.
Como é que fazemos isso?
Antes de tudo, procuramos
jovens educados e apaixonados
nessas mesmas aldeias,
tanto rapazes como raparigas.
Chamamos-lhes Equipa Balika.
Balika significa "rapariguinha".
Assim, essa é a equipa que estamos
a criar para as rapariguinhas.
Depois de recrutarmos
os voluntários da comunidade,
damos-lhes formação,
orientamo-los e apoiamo-los.
É aí que o nosso trabalho começa.
A primeira parte do nosso trabalho
é identificar cada rapariga
que não está a frequentar a escola.
Mas fazemos isso de modo diferente,
com alta tecnologia,
a meu ver, pelo menos.
Cada uma das nossas equipas
tem um "smartphone"
que tem a aplicação
do Educate Girls.
Esta aplicação possui tudo
aquilo de que as equipas precisam.
Tem mapas digitais que indicam
onde vão realizar o inquérito,
também contém o questionário,
todas as perguntas,
pequenas orientações sobre
como realizar melhor o questionário.
para que os dados cheguem até nós
em tempo real e com boa qualidade.
Equipadas com isso,
as nossas equipas e os voluntários
vão de porta em porta,
a cada família, para encontrar
todas as raparigas
que nunca se matricularam
ou que deixaram de ir à escola.
Como temos essa tecnologia e esses dados,
podemos descobrir rapidamente
quem essas raparigas são e onde estão.
Porque cada aldeia
é marcada geograficamente
e podemos construir essas informações
muito rapidamente.
Depois de sabermos
onde essas raparigas estão,
podemos iniciar o procedimento
para fazê-las voltar à escola.
Isto é apenas o nosso
processo de mobilização comunitária,
que começa com reuniões nas aldeias,
reuniões nos bairros.
Como veem, aconselhamento
individual a pais e famílias
para as meninas poderem voltar à escola.
Este processo pode durar
umas semanas ou até uns meses.
Depois de levarmos as raparigas
para o sistema escolar
também trabalhamos com as escolas
para assegurar que os centros escolares
tenham toda a infraestrutura básica
para elas lá permanecerem.
Isso inclui uma casa de banho
separada para as raparigas,
água potável,
coisas que irão ajudar na sua permanência.
Mas tudo isso seria inútil se as nossas
crianças não estivessem a aprender.
Na verdade, nós organizamos
um programa de aprendizagem
que é um programa
de aprendizagem complementar
muito, muito importante,
pois a maioria das nossas crianças
são alunas da primeira geração.
Ou seja, não têm ninguém em casa
que as ajude nos trabalhos de casa,
que as ajude na aprendizagem.
Os pais não sabem ler nem escrever.
Por isso, é de suma importância
ajudá-las na aprendizagem
nas salas de aula.
Este é basicamente o nosso modelo,
encontrá-las, levá-las para a escola,
assegurando que elas
compareçam e aprendam.
Sabemos que o nosso modelo funciona.
E sabemos isso porque
uma avaliação recente,
padronizada e controlada,
confirma a sua eficácia.
O nosso avaliador constatou
que, num período de três anos,
o Educate Girls conseguiu
fazer regressar à escola
92% de todas as raparigas
que não a frequentavam.
(Aplausos)
Em termos de aprendizagem,
a aprendizagem das crianças
subiu significativamente
em comparação
com as escolas de referência,
a uma escala tão grande, que funcionou
como um ano adicional de ensino
para os alunos em geral.
Isso é considerável
quando pensamos numa criança tribal
que entra no sistema escolar
pela primeira vez.
Temos um modelo que funciona,
sabemos que pode ser alargado,
porque nós já funcionamos
em 13 000 aldeias.
Sabemos que é um modelo inteligente,
por causa do uso
da tecnologia e dos dados.
Estamos cientes de que ele
é sustentável e sistémico
porque trabalhamos
em parceria com a comunidade.
Na verdade, ele é liderado
pela própria comunidade.
Nós trabalhamos
em parceria com o governo,
portanto, não há a criação
de um sistema paralelo.
Como temos essa parceria inovadora
com a comunidade, com o governo
e temos este modelo inteligente,
temos hoje um grande sonho audacioso.
Ou seja, resolver cerca de 40% do problema
das raparigas que estão fora das escolas,
na Índia, nos próximos cinco anos.
(Aplausos)
Vocês devem pensar:
"isso é um pouco..."
Como é que eu estou a pensar fazer isso?
A Índia não é um lugar pequeno,
é um país gigantesco.
É um país com mais
de mil milhões de pessoas.
Temos cerca de 650 000 aldeias.
Como é que eu posso estar aqui a dizer
que uma pequena organização
vai resolver 40% do problema?
Isso é porque temos
um conhecimento importante.
Ou seja,
por causa da nossa abordagem
com tecnologia e dados,
sabemos que 5% das aldeias da Índia
possuem 40% das raparigas
que não vão à escola.
Isso é uma importante peça
do quebra-cabeças.
O que significa que eu não
preciso de trabalhar no país inteiro,
mas sim nesses 5%
— cerca de 35 000 aldeias —
para conseguir resolver
uma grande parte do problema.
E isso é crucial,
porque essas aldeias
não só carregam o fardo
da ausência escolar das raparigas,
mas também muitos outros
indicadores relacionados,
como a desnutrição,
o atraso no crescimento,
a pobreza, a mortalidade infantil
e o casamento infantil.
Trabalhando e concentrado-nos aqui,
podemos criar um enorme
efeito multiplicador
em todos esses indicadores.
Isso significará
que conseguiremos fazer regressar
à escola 1,6 milhão de raparigas.
(Aplausos)
Eu tenho feito este trabalho
durante mais de 10 anos
e nunca encontrei
uma rapariga que me dissesse:
"Eu quero ficar em casa,
"Quero apascentar o gado,
"Quero cuidar dos meus irmãos,
"Quero ser uma jovem esposa."
Todas as raparigas que encontro
querem ir à escola.
E é isso que queremos fazer.
Queremos conseguir realizar
aqueles milhões de sonhos.
E não é necessário muito.
Encontrar e matricular uma rapariga
com o nosso modelo custa 20 dólares.
Garantir que ela está a aprender
e dar-lhe um programa de aprendizagem
são mais 40 dólares.
Mas hoje é altura de agir.
Porque ela é, de verdade,
o melhor bem que temos.
Chamo-me Safeena Husain
e ensino raparigas.
Muito obrigada.
(Aplausos)