Oi. Plateia: Oi. Dando de Antares: Não, não, gente. Eu vou contar 1, 2, 3 e vocês vêm: 1, 2, 3... Plateia: Oi! DA: Isso é energia! É isso que eu faço. Isso é energia. Vou contar um pouco, em pinceladas, assim. Primeiro: eu não sou jogador de futebol. (Risos) Segundo: eu não sou pagodeiro. (Risos) Aí chego no aeroporto, alguém pega minha mala: "Então, você é de qual banda?" "Não, sou pesquisador." "Ahn?" (Risos) Bate de cima a baixo, olha, reolha, meio que não acredita: "Não, mas fala sério". "Não, sou pesquisador. Sou pesquisador de desenvolvimento social." Antares fica bastante longe, então por que eu pedi esse "oi" tão caloroso? Porque é pra valer a pena. Eu estou o dia todo trocando ideia com todo mundo. O pessoal fala: "Cara! Você não para de falar!" "Você acha que eu vim de longe pra caramba pra ficar calado?" (Risos) Você acha mesmo que eu vim pra fazer isso? Então faço isso bem na prática. E aí surgiu o Dando de Antares, com uma coisa muito louca que foi a internet. Eu catei uma porrada de sucata, e fiz um provedor digital no Antares, não me pergunte como. Só sei que está funcionando. E aí como surgiu isso? Num lava a jato. É. (Risos) A gente abriu um lava a jato... (Risos) É bem assim, né? "Não, mas como assim, Dando? Um lava a jato, um provedor digital?" A gente abriu um lava a jato e tinha tudo pra lavar, menos carro. (Risos) Tinha tênis, caixa d'água... Até banho em mendigo eu já dei... E aí o governo tinha aberto as inscrições pra agente comunitário. Formou-se uma fila em frente ao lava a jato, e as pessoas começaram a falar: "Poxa, não tem Xerox". Falei: "Caraca, é verdade, não tem Xerox". "Ah, poxa, não tem onde fazer o currículo." E a fila toda falando sobre aquilo. E, passou aqui nesse palco, o meu irmão há mais de 28 anos, o Jessé Andarilho, que hoje é escritor, e foi com uma história que surgiu com a gente. Foi meu sócio, e hoje irmão, a gente está andando pelo mundo, eu pra um lado ele para o outro. A gente fala: "Faz quase um mês que a gente não se vê; pra quem ficava o dia todo junto. E nessa criação do lava a jato a gente pensou: "Vamos abrir uma 'lan-house'". E aí abrimos uma lan-house. Cada um comprou um computador no nome de alguém. (Risos) A gente chama o famoso "bucha". Pegamos os buchas e tiramos computadores para o povo. E aí, como conectar essas pessoas? Como elas vão usar a internet? Eu tenho certeza que todo mundo pegou a época da internet discada. (Som de conexão discada) (Risos) É... Conectar à meia-noite e ter que desligar às 6:00 senão o pulso do telefone... Alguém falou aí: "Eu sei bem o que é isso!" E aí vem outra parte que vocês vão se amarrar. A gente conseguiu mandar um dos parceiros, que era o Marcelo dos Santos, pra Londres, ele jogava capoeira lá, a gente falou: "Você vai fazer uma capoeira diferente, vai mostrar..." E ele teve uma oportunidade, e foi. Começamos a fazer um contato e pra fazer uma ligação de lá pra cá era muito difícil. Aí ele me ligou às 11:00, e como se conectava da meia-noite até as 06:00, ele me liga às 11:00 e fala: "Cara, faz um e-mail, a gente precisa se falar". Aí eu falei: "Caraca, mas onde eu vou fazer isso agora, às 11 da manhã?" Ele: "Faz um ICQ". Quem lembra do ICQ? (Risos) ICQ... Liguei pra um outro cara, que trabalhava num colégio público, e falei: "Irmão, faz um ICQ aí pra mim, rapidinho? Tenho que falar com o Marcelo em Londres. Ele quer conversar com a gente". "Estou na hora do almoço." "Cara, faz agora, tenho que falar agora, o cara está lá!" Aí ele cria meu e-mail, que está válido, que é: dandoDemais@hotmail.com (Risos) Aí eu falei: "Você está de sacanagem comigo, né? Olha o tamanho do negão, você faz um e-mail desses, mano?" (Risos) "Você quer acabar com a minha raça!" "E a senha é dandoMole." (Risos) "Que é isso? Como é que você faz isso comigo?" Trocamos a senha, surgiu isso tudo, e estourou o boom da internet e das lan-houses no Rio de Janeiro. Eu participei do Marco Civil da Internet, na Fundação Getúlio Vargas, e eles falavam: "Dando, quero me comunicar com você, pra falar mais sobre isso". "Vou colocar meu email no quadro..." (Risos) E os caras: "Está de sacanagem!" "Não, é isso aí." E aí as pessoas do Google me perguntavam: "Dando, qual é o futuro da lan-house, o que você espera?" Eu falei: "Ela é a nova esquina, no momento, cara. Ela vai mudar". E é o que está acontecendo hoje, está todo mundo no celular, todo mundo em outras formas, e a lan-hose não passou, ela ficou como um ponto de referência. Muitos perguntaram: "E aí, Dando, o que você vai fazer?" "Cara, eu sou um mutante." E agradeço a todos vocês, por acreditarem em uma porrada de louco que passa aqui, como eu. E a gente cria as ideias e o pessoal fala: "E agora, o que você vai criar?" Eu falei: "Eu não sei, tenho que ver o que a favela tem, né?" E aí criamos a Orquestra de Jazz. Os caras perguntaram: "Dando, você saca de jazz?" Falei: "Eu não. Mas vamos reunir todo mundo, junta todo mundo, vamos tirar um som, vamos ver o que a gente faz". Aí os caras: "Charlie Parker". Eu falei: "Já vi de longe, alguma coisa". (Risos) E fui para o centro do Rio, a galera começou a ensaiar e eu fui parar na Fundição Progresso, que é uma casa muito importante do Rio de Janeiro. Aí os caras falaram assim: "E aí? Você está aqui pra trazer a banda?" Eu falei: "Estou, cara. Estou trazendo a melhor banda de jazz do Rio de Janeiro, você nunca viu". Ele falou: "Verdade, nunca vi". "É, porque ainda vai nascer." (Risos) E aí rolou um show com a Elza Soares. Foi muito massa, está no YouTube. A Elza sentou do nosso lado, eu falei: "Cara, vocês sabem quem está aqui? A Elza Soares". E ela assim: "Como faz pra tirar o tom?" "Está maluco, como eu vou tirar o tom dessa mulher?" Eu mal toco meu cavaquinho. E aí rolou um show com a Elza Soares, Luiz Melodia, tudo no improviso. E é como estou fazendo aqui pra vocês, é como eu faço, é na prática. Eu não desenho muito, não consigo, nem quero, também, planejar muito. (Risos) Eu sou esse cara do tato, vou desenrolando aqui. O Ryo, o Miguel, a gente estava trocando uma ideia, eu falei: "Estão surgindo várias coisas aqui". (Risos) E o TED proporciona isso. E aí surgiu a Antares Jazz Big Band, fazendo orquestra com a galera, tocou com a Elza, com todo mundo, eu falei: "Agora vocês estão prontos, tocam vocês, e eu vou pra uma outra ideia, participar de alguma coisa, não sei muito bem". Os caras: "Você é maluco". "Mas é assim mesmo que vou tocando minha vida." E aí estava aqui o Daniel falando e eu fiquei muito impressionado em encontrar o Daniel e a mãe dele, a Ivonete; ele é meu amigaço. Eu faço uma produção em parceria com a CUFA. Faço a Taça das Favelas, que é uma coordenação minha, são 240 mil jovens de favela. Cada favela com seu time, disputando dois meses e meio de campeonato, oito jogos por dia. E aquela garotada toda com o sonho de ser jogador de futebol. Eu falo: "Eu só consigo prometer uma coisa. Jogue sua bola, mostre sua arte, faça o que eu faço. Vai para o mundo. Aí é com você". Mas tem outras histórias muito impressionantes nessa carreira entre tecnologia e música, produzindo. Eu tenho umas histórias, e a Fernanda estava me lembrando, já faz exatamente sete anos que ela passou por lá. E ela me lembrou do Bill, que era um porteiro. E o Bill falou assim: "E aí, Dando?" Aquele sotaque bem nordestino. "Vamos montar uma máquina?" Falei: "Vamos!" "Tem umas sucatas lá dentro do prédio." Falei: "Vai, traz aí. É o que tem". Montamos uma máquina pra ele. Quem saca mais a fundo de montagem de computador, era um K6286, 512 de memória, gravador de CD de 52x... Meu Deus do céu. Eu sou da época do pen drive azulzinho de soltar a tampinha, sabe qual é? Mas é isso aí. É melanina, tá gente? Eu sou quase o Mun'Ra. (Risos) E o Bill começou a mexer com a máquina dele, começou a gravar seu CD em casa, começou a pesquisar coisas comigo, ele foi fazendo o serviço, o Bill saiu da portaria, pediu as contas. E eu ontem falando com a Fernanda: "Você lembra do Bill?" "Lembro, aquele porteiro?" "Então, o Bill hoje é uma empresa com mais de 50 funcionários." (Aplausos) Aí tinha a dona Lia, ela pegava baldes de massa corrida de parede, e me mostrava os artesanatos. Falei: "Esse baldinho é muito massa, com esses acabamentos". Quem surgiu nesse meio tempo, quem está bombando? Mercado Livre. Falei: "Bota lá no Mercado Livre, cara, tira foto". Ela: "Ah, Dando, não dá certo, não tenho paciência". Falei: "Cara, vamos lá, eu paro com você, a gente desenha, vamos fazer juntos". E ela está até hoje, vendendo, acho que não cabe mais estrelas no link dela no Mercado Livre. Quem entrega, positiva, e tal. Então tem gente que vende sonhos, né? Eu compro o sonho dos outros. (Risos) (Aplausos) E aí, quando você pensa que vai ficar perdido no caminho, porque todo mundo tem esse momento, várias pessoas aqui falaram a mesma coisa, que você acha que vai dar certo, ou não, com os números. Eu falei com a Fernanda, com a Paulinha, com a Ana: "No Brasil demora 50 anos pra você ver o resultado de um bem que alguém está fazendo". Como a minha fala muda muito, conforme as informações, eu digo pra vocês, essa informação mudou. Ela muda pra três anos. Está aqui o resultado disso tudo. Quanta gente está fazendo tanta coisa boa em tão pouco tempo. De fazer isso acontecer. Eu fui agradecer ao Eder, professor do Weslei, porque eu falei: "Weslei, você é uma prova viva do que eu faço, cara. Porque eu acho que a pessoa do clássico, que foi criada no clássico, tocando piano, tocando Bach, Beethoven, vai ter uma dificuldade muito grande pra fazer um som da favela. Mas você é da favela e está fazendo clássico, você consegue andar pelos dois mundos". Eu ando pelos dois mundos e preferi tentar conectar a favela com o asfalto, mas sem essa agressividade toda, sem falar que você é lá e eu sou aqui. Não, não, não é isso. É que eu sei que na favela tem um senso criativo muito grande, as empresas estão precisando de senso criativo muito grande. Eu não quero te falar do meu sofrimento, da minha favela. Eu sofri pra caramba, é o sorriso que eu trago pra vocês. A gente tem que ir com um senso criativo. Se você tem uma campanha dentro da sua empresa cara, sua cabeça está focada, você não está conseguindo enxergar, procura um favelado. Escuta a história. Ele vai te dar uma linha que você não viu e aí você vai criar. Hoje eu faço algumas campanhas de design da Nike. Os caras me falam: "Dando, vamos fazer assim". "Está tudo errado." (Risos) Os caras: "Como?" "Então, deixa eu te contar uma coisa. Cara pálida, você é brasileiro. Esse padrão funciona lá em Nova York. Vai botar pipoca para os caras? Não funciona." Aí ele: "É..." Então, quando você se permite abrir, ouvir, deixar rolar, tirar essa sistemática toda do desenho tecnológico, das planilhas, e fala assim: "Deixa teu sentimento entrar, que sua promoção vai ser melhor". Ajudar o próximo, que é isso que a gente faz o tempo todo. E criar um grande desenho disso e não só achar que aquele cara vai te derrubar, mas achar que vai ser uma empresa e vai ser um grande parceiro, como eu faço hoje. Eu fui essa semana no Bangu I. Na verdade eu fui quase intimado a ir lá, fazer uma visita. E aí o cara passou na galeria falou: "Dando!" Falei: "E aí?" "Você lembra de mim, cara?" Aí eu falei: "Cara, muita gente". "Cara, dei mole." Aí eu falei: "Mas tem chance, cara. Vamos cair pra dentro". "Ah, você me ajuda?" "Claro, é pra isso que estou aqui." É pra isso que a Carmela está fazendo o trabalho no presídio de Porto Alegre. Não tem dimensão. Então, vocês estão aqui justamente pra isso. Pra ouvir falas como a minha, como as dos amigos, mas, comece a ver ao seu redor e da sua casa. É o primeiro passo. Sair de casa, parar no seu portão e ter um olhar do seu portão. Olhe e pense assim: "Aquele lixo está no lugar errado". Não te custa, cara. "Mas não fui eu." Tá bom, cara, põe ali. É um bom começo. Já é um bom começo. Relaxar, respirar, pra entender o que está acontecendo contigo, porque tudo é tanto dinheiro que tem que ser feito. "Cara, o dinheiro tem que voltar." É claro, tem contas a pagar. Mas a gratificação de fazer algo tão grande que passam dez anos, você não lembra da pessoa e ela te encontra e fala: "Obrigado". Falei: "Pelo quê? Eu não lembro". "Você ajudou meu filho, e tal." A gente tem hoje o Alan, que é um atleta de judô, ele estava no tráfico e eu falei: "Estou indo aí agora, de madrugada". Fomos eu e o Jessé: "E aí, o que está pegando?" "Ah, não, vou ficar por aqui." "Por quê? Se você pensa que eu vim massagear seu ego, você é otário, porque eu não vim massagear seu ego. Quer assumir?" "Quero." "Então você vai estudar, depois você vai trocar tiro, vai fazer o que você quiser. Mas não vem com essa coisinha: 'Ah, eu sou coitado, sou da favela, não me deram oportunidade'. Estão aqui dois exemplos: Jessé Andarilho, escritor, que lançou um livro pela maior editora do Brasil, a Objetiva; e eu, que faço campanha pelo mundo. E aí? É isto que você quer? Não? Então cola com a gente e vamos embora, firma o bonde. Vamos tocar." E foi pra Miami fazer judô. Está lá, acontecendo, fazendo isso. Então, gente, pra finalizar, a minha fala e uma frase minha que eu deixo pra vocês: "Com informação, somos todos iguais". Obrigado. (Aplausos)