A Multiplicação do Dinheiro Agora que já sabemos como definir a moeda, vejamos como os bancos podem influir na oferta monetária, pelo sistema de reservas fracionárias. Imagine que você se formou na faculdade e sua avó lhe dá $1000 em dinheiro, que ela vem guardando debaixo do colchão desde os anos 1970. Você deposita esse dinheiro na sua conta corrente. O que é que o banco faz com o seu dinheiro? Será que ele guarda no cofre, com o seu nome numa etiqueta? Não. Os bancos emprestam a maioria do dinheiro para quem deseja tomar emprestado. E só mantêm em reserva uma fração do seu dinheiro, disponível nos caixas automáticos, ou para sacar na boca do caixa. Por isso é que se chama de "sistema de reservas fracionárias". Assim, que fração eles mantêm em reserva? Bem, os bancos grandes nos Estados Unidos precisam manter pelo menos $1 para cada $10 depositados. Ou, como dizemos, os bancos grandes precisam ter uma reserva de pelo menos 10%. Mas os bancos normalmente têm reservas maiores, dependendo da liquidez que desejem ter. Se um banco teme que seus clientes possam sacar muito dinheiro amanhã, ou se os empréstimos deixaram de ser muito lucrativos, vão manter uma reserva maior. Por isso, a fração pode ser maior que 10% e pode mudar com o tempo. Por causa da reserva fracionária, o sistema bancário exerce um efeito importante na oferta monetária. Vejamos como. Imagine que o seu banco guarde 10% do seu depósito de $1000, ou $100, como reserva. E digamos que ele empreste os outros 90%, ou $900, para o Tyler, que quer abrir uma empresa. O empréstimo de $900 é creditado na conta corrente de Tyler. Agora são $1.900 em depósitos novos. E como as contas correntes integram a oferta monetária, ela cresceu. Mas não para por aí. Digamos que o banco mantenha 10% do depósito de Tyler na reserva e empreste 90%, ou $810, agora para a Janet. Agora os depósitos já somam $2.710. E suponhamos também que 10% do dinheiro da Janet seja mantido na reserva e o resto seja emprestado, num processo que sempre continua. À medida que os bancos fazem mais empréstimos, isso aumenta o número de depósitos, que aumenta a quantidade de empréstimos, que volta a aumentar o número de depósitos. No fim, de quanto dinheiro estamos falando? É possível descobrir isso pelo chamado "multiplicador de dinheiro". Ele revela quantos novos dólares de depósito são criados para cada dólar a mais nas reservas. E o multiplicador de dinheiro é bem simples. Basta dividir 1 pela taxa de reserva. Portanto, se a taxa de reserva é de 10%, o multiplicador de dinheiro é igual a 1 dividido por 0,1 -- ou seja, 10. E isso significa que $1 em novas reservas vai acabar gerando, pelo processo de multiplicação, $10 em moeda adicional, medida por M1 ou M2. Agora, vamos esclarecer o exemplo anterior e por que era imprescindível a Vovó tirar o dinheiro de debaixo do colchão. Se a Vovó simplesmente tivesse lhe dado um cheque de $1000, simplesmente teria transferido dinheiro da conta dela para a sua, o que não geraria novas reservas -- e portanto não haveria o efeito multiplicador. E, na verdade, o personagem mais importante aqui não é a Vovó. É o Tio Sam. O Banco Central pode, apertando um botão, criar dinheiro novo, que pode ser usado para comprar ativos financeiros, injetando assim novas reservas no sistema bancário. Mas o controle do BC no processo de oferta monetária é indireto. Se os bancos mantiverem o mínimo exigido para as reservas -- que, como vimos, é de 10% -- o multiplicador de dinheiro vai ficar próximo de 10. E, se for assim, o BC vai ter muito poder na hora de mexer em M1 e M2 com uma pequena mudança nas reservas. Mas, em circunstâncias normais, o multiplicador mesmo fica em torno de 3. Estranho, né? Mas lembre-se de que os bancos não podem ter uma reserva menor que 10%. E sempre podem ter mais. E quanto mais tiverem em reserva, menor será o multiplicador de dinheiro. Por isso é importante compreender que o multiplicador de dinheiro não é um número fixo. E que o processo de multiplicação não é uma relação mecânica. Mais um fator. Se o Tyler tivesse guardado parte de seu empréstimo debaixo do colchão, em vez de depositado no banco, então o banco do Tyler não teria esse dinheiro para emprestar e o multiplicador de dinheiro seria menor. Numa recessão, essas duas coisas podem acontecer ao mesmo tempo. Os bancos podem se refrear na hora de emprestar e talvez guardem mais dinheiro em suas reservas. As pessoas também preferem ter mais dinheiro em mãos do que depositar tudo num banco, durante uma recessão. Esses dois fatores fazem com que o multiplicador de dinheiro caia. Então talvez o BC tenha que se esforçar mais para aumentar a oferta monetária durante uma recessão do que num período de crescimento. Vamos ver mais a fundo como o BC controla a oferta monetária e como isso mudou desde a Grande Recessão no próximo vídeo. Você está a caminho de dominar a Economia. Fixe o conteúdo desse vídeo respondendo a algumas perguntas práticas. Ou, se já estiver pronto para mais lições, clique no próximo vídeo. Ainda está aí? Confira outros vídeos da Marginal Revolution University. Tradução Gabriel Zide Neto