WEBVTT 00:00:12.140 --> 00:00:14.894 De que elementos necessita um jornalista 00:00:14.918 --> 00:00:17.628 para sair às ruas e realizar seu trabalho? 00:00:18.176 --> 00:00:20.606 Um bloco de notas, uma lapiseira, 00:00:20.955 --> 00:00:23.620 uma máquina fotográfica, um gravador, 00:00:23.644 --> 00:00:27.902 um telefone celular e não muito mais que isso. 00:00:27.926 --> 00:00:30.711 Mas se a estes elementos somamos 00:00:30.735 --> 00:00:35.058 um par de guardas armados, vigiando tudo, 00:00:35.058 --> 00:00:39.948 um carro blindado, para se movimentar com certa segurança pela cidade, 00:00:39.948 --> 00:00:41.696 ou um colete à prova de balas 00:00:41.696 --> 00:00:45.486 para, quem sabe, sair com vida caso hajam tiros. 00:00:45.486 --> 00:00:48.150 Estamos falando que há algo 00:00:48.174 --> 00:00:50.880 que não está funcionando como deveria. 00:00:50.904 --> 00:00:54.455 Que por trás do trabalho informativo, há interesses tão obscuros, 00:00:54.479 --> 00:00:57.585 que existem pessoas dispostas a assassinar um jornalista 00:00:57.609 --> 00:01:00.623 de forma que determinada informação 00:01:00.647 --> 00:01:03.477 não seja publicada, não seja difundida. 00:01:03.501 --> 00:01:06.251 Esta situação está ocorrendo nesse momento 00:01:06.275 --> 00:01:08.797 em alguns países do nosso continente, 00:01:08.821 --> 00:01:13.377 com jornalistas que saem para trabalhar, para realizar seu serviço 00:01:13.401 --> 00:01:18.457 e saem para passear e comprar o pão que levam na volta para casa, 00:01:18.481 --> 00:01:21.860 protegidos por certas medidas de segurança para evitar que sejam mortos. 00:01:23.060 --> 00:01:26.226 Durante este ano conheci alguns desses jornalistas, 00:01:26.250 --> 00:01:28.006 no México e na Colômbia, 00:01:28.030 --> 00:01:30.216 os dois países latino-americanos 00:01:30.240 --> 00:01:32.596 com mais jornalistas assassinados, 00:01:32.620 --> 00:01:34.410 nos últimos 15 anos. 00:01:35.015 --> 00:01:38.031 E em uma série de entrevistas, 00:01:38.055 --> 00:01:40.231 pude conseguir vários testemunhos 00:01:40.255 --> 00:01:43.942 sobre o que é exercer o jornalismo sob pressão; 00:01:44.546 --> 00:01:46.363 com narcotraficantes, 00:01:46.387 --> 00:01:49.353 guerrilheiros, paramilitares 00:01:49.353 --> 00:01:52.206 e, principalmente, com funcionários públicos corruptos 00:01:52.206 --> 00:01:55.083 por um lado, e com uma incrível vontade 00:01:55.107 --> 00:01:57.687 para seguir exercendo o jornalismo, por outro. 00:01:58.737 --> 00:02:02.761 O caminho desse trabalho me levou para estes dois países, 00:02:02.785 --> 00:02:06.912 o primeiro desses dois países que visitei, foi a Colômbia. 00:02:06.936 --> 00:02:10.455 Ali cheguei no mês de fevereiro 00:02:10.479 --> 00:02:15.734 e já na chegada encontrei as primeiras histórias incríveis, 00:02:15.758 --> 00:02:21.621 histórias pessoais de jornalistas que poderiam ser tiradas de uma novela 00:02:21.645 --> 00:02:23.575 ou de um filme policial. 00:02:24.248 --> 00:02:27.244 Rodrigo Callejas foi um dos primeiros jornalistas 00:02:27.268 --> 00:02:28.684 que entrevistei. 00:02:28.708 --> 00:02:32.215 Um jornalista de Tolima. 00:02:32.239 --> 00:02:35.828 Em 2008, foi declarado alvo militar pelas FARC 00:02:35.852 --> 00:02:40.364 e alguns anos mais tarde, foi ameaçado por paramilitares. 00:02:40.388 --> 00:02:42.927 Desde então, tem sido protegido pelo Estado: 00:02:42.951 --> 00:02:45.668 colete à prova de balas, guardas protegidos, 00:02:45.692 --> 00:02:48.902 um carro blindado, guardas armados... 00:02:49.901 --> 00:02:53.826 Mas quando o entrevistei, na Praça dos Jornalistas de Bogotá, 00:02:53.850 --> 00:02:56.658 usava somente um colete à prova de balas 00:02:56.682 --> 00:02:59.318 porque a Unidade Nacional de Proteção da Colômbia, 00:02:59.342 --> 00:03:01.920 estava atravessando um momento de crise 00:03:01.944 --> 00:03:04.857 e não tinha orçamento suficiente 00:03:04.881 --> 00:03:08.981 para o carro e os guardas. 00:03:09.551 --> 00:03:11.346 Em Barrancabermeja, 00:03:11.370 --> 00:03:13.786 entrevistei Ademir Luna. 00:03:13.810 --> 00:03:18.301 Barrancabermeja é um povoado situado em uma área repleta de paramilitares, 00:03:18.311 --> 00:03:21.571 que já foram buscá-lo três vezes em sua casa, para matá-lo 00:03:21.595 --> 00:03:25.251 e como não o encontraram, acabaram ameaçando sua esposa 00:03:25.275 --> 00:03:27.022 quando ela estava grávida. 00:03:27.046 --> 00:03:28.878 E que em outra oportunidade 00:03:28.902 --> 00:03:32.357 estiveram a ponto de atirar em um empregado de seu pai 00:03:32.381 --> 00:03:35.837 porque o confundiram e pensaram que era Ademir. 00:03:35.837 --> 00:03:37.939 Nesse caso, a resposta do Estado 00:03:37.963 --> 00:03:40.350 foi um botão de pânico 00:03:40.374 --> 00:03:43.114 e um colete à prova de balas, que era pequeno para ele. 00:03:44.487 --> 00:03:46.283 Mari Luz Avendaño 00:03:46.307 --> 00:03:50.048 é outra das jornalistas que entrevistei e que faz parte desse trabalho. 00:03:50.531 --> 00:03:53.801 Mari Luz é uma jornalista de Medellin, 00:03:54.219 --> 00:03:58.128 que num dado momento, ficou sequestrada pela guerrilha durante uma semana 00:03:58.152 --> 00:04:01.984 e tempos depois, teve que sair da Colômbia, fugir do país, 00:04:02.008 --> 00:04:03.274 porque era procurada 00:04:03.298 --> 00:04:06.374 pelos narcotraficantes da facção de López de Jesús Londoño, 00:04:06.374 --> 00:04:08.595 mais conhecido como "Meu Sangue", 00:04:08.619 --> 00:04:12.755 e considerado por muitos como o narcotraficante colombiano 00:04:12.779 --> 00:04:15.761 mais perigoso, depois de Pablo Escobar. 00:04:17.241 --> 00:04:20.600 Bom, de onde vem tudo isso? 00:04:20.624 --> 00:04:24.494 Como é que eu, um jornalista de Mar Del Plata, 00:04:25.207 --> 00:04:28.078 deixei meu trabalho de produtor de rádio, 00:04:28.102 --> 00:04:30.612 vendi meu carro, meu caiaque 00:04:30.940 --> 00:04:35.420 e fui com minha mochila no ombro, de viagem durante um ano e meio 00:04:35.444 --> 00:04:39.964 e acabei indo a estes países, entrevistando estas pessoas? 00:04:40.762 --> 00:04:44.732 A história disso tudo, começou no sul do Equador. 00:04:45.755 --> 00:04:49.019 Ali estava eu em setembro de 2014, 00:04:49.043 --> 00:04:53.206 morando em uma comunidade agroecológica, 00:04:53.230 --> 00:04:56.643 acordando cedo para dar comida às galinhas 00:04:56.667 --> 00:04:58.957 e trabalhar numa horta orgânica. 00:05:00.262 --> 00:05:03.608 Na mesma época então, a organização Repórteres Sem Fronteiras, 00:05:03.632 --> 00:05:06.775 publicava, em curto relatório, uma série de gráficos, 00:05:06.799 --> 00:05:10.706 na qual estabelecia um ranking com os países latino-americanos 00:05:10.730 --> 00:05:13.507 mais mortais para se exercer o jornalismo, 00:05:13.507 --> 00:05:14.848 pegando como referência, 00:05:14.872 --> 00:05:19.330 a quantidade de jornalistas assassinados no exercício da profissão 00:05:19.330 --> 00:05:23.044 entre janeiro de 2000 e setembro de 2014. 00:05:23.874 --> 00:05:27.104 De acordo com o relatório, em primeiro lugar, fica o México, 00:05:27.104 --> 00:05:29.448 com 80 jornalistas assassinados. 00:05:29.903 --> 00:05:34.173 Em segundo lugar, Colômbia, com 56 jornalistas assassinados. 00:05:34.903 --> 00:05:39.997 Equivale dizer que, somente nesses dois países e nesse período de tempo, 00:05:40.021 --> 00:05:46.482 136 jornalistas, 136 pessoas foram assassinadas 00:05:46.506 --> 00:05:51.426 por exercer seu trabalho de jornalismo, por informar. 00:05:52.697 --> 00:05:55.728 O terceiro colocado, de acordo com o relatório, era o Brasil 00:05:55.752 --> 00:05:57.947 e o quarto colocado, Honduras, 00:05:57.947 --> 00:06:02.293 onde o jornalismo começou a viver seu período mais obscuro, 00:06:02.317 --> 00:06:04.261 depois do golpe de Estado de 2009. 00:06:04.848 --> 00:06:07.484 E se tomamos como referência a quantidade de jornalistas 00:06:07.508 --> 00:06:10.644 assassinados por exercer a sua profissão na região, 00:06:10.668 --> 00:06:15.341 também teríamos que prestar atenção a casos como da Guatemala, 00:06:15.365 --> 00:06:20.286 El Salvador ou Paraguai, onde, no último ano e meio, 00:06:20.310 --> 00:06:23.380 foram assassinados pelo menos cinco jornalistas. 00:06:25.325 --> 00:06:31.660 Tendo como base este relatório, decidi fazer um documentário 00:06:31.660 --> 00:06:33.690 que se chama "Periodismo bajo presión" 00:06:33.714 --> 00:06:37.644 e que atualmente se encontra em processo de edição. 00:06:38.414 --> 00:06:40.227 Assim que obtive esse relatório, 00:06:40.251 --> 00:06:44.721 saí da comunidade agroecológica, onde estava morando, 00:06:44.745 --> 00:06:49.777 fiz a barba, cortei um pouco o cabelo, comprei uma câmera de segunda mão 00:06:49.801 --> 00:06:53.267 e fui até a costa do Equador para trabalhar, para ganhar dinheiro, 00:06:53.267 --> 00:06:58.867 para finalmente começar a realizar este documentário. 00:07:00.150 --> 00:07:04.838 Através dos testemunhos que tomei, tanto na Colômbia, como no México, 00:07:04.862 --> 00:07:08.191 se armou uma espécie de "rascunho" de histórias de vida 00:07:08.215 --> 00:07:13.038 que não apenas falam sobre a situação do jornalismo 00:07:13.038 --> 00:07:15.627 nesses dois países, México e Colômbia, 00:07:15.651 --> 00:07:19.151 mas também uma espécie de advertência 00:07:19.927 --> 00:07:24.280 em torno das consequências da impunidade, 00:07:24.759 --> 00:07:28.999 das consequências da corrupção 00:07:29.489 --> 00:07:34.999 e em torno das consequências do avanço do narcotráfico. 00:07:35.743 --> 00:07:39.169 Mas claro, também é um "rascunho" de histórias 00:07:39.193 --> 00:07:41.933 de homens e de mulheres jornalistas 00:07:41.957 --> 00:07:46.523 que, apesar de não lhes serem dadas 00:07:46.547 --> 00:07:49.951 condições para exercer a profissão, em seus territórios, 00:07:49.975 --> 00:07:54.286 eles continuam informando, denunciando, investigando e publicando. 00:07:54.310 --> 00:08:00.262 E, claro, muitíssimas vezes recorrem à autocensura. 00:08:00.286 --> 00:08:02.986 Mas não é um tipo de autocensura 00:08:03.010 --> 00:08:06.454 que se possa entender a partir da ética jornalística, 00:08:06.478 --> 00:08:09.975 mas sim, um tipo de autocensura 00:08:09.999 --> 00:08:11.825 que pode ser compreendida 00:08:11.849 --> 00:08:15.799 a partir da própria sobrevivência do trabalhador de imprensa. 00:08:17.820 --> 00:08:21.577 Claro, quando eu me juntava com estas pessoas, 00:08:21.577 --> 00:08:23.778 quando nos reuníamos para conversar 00:08:23.802 --> 00:08:28.241 e logo segurava a câmera e começávamos a fazer estas entrevistas, 00:08:28.265 --> 00:08:33.417 a pergunta que estava clara para mim, durante toda a reunião era: "Por quê?" 00:08:33.441 --> 00:08:37.452 Por que seguir exercendo o jornalismo, quando não são dadas condições, 00:08:37.452 --> 00:08:40.813 quando ano após ano prescrevem na justiça 00:08:40.813 --> 00:08:43.374 causas de jornalistas assassinados 00:08:43.398 --> 00:08:46.724 porque não tem havido avanço nas investigações; 00:08:46.748 --> 00:08:51.504 quando o nível de impunidade em torno das ameaças e dos assassinatos 00:08:51.528 --> 00:08:55.858 nos dois casos, está muito acima de 90%; 00:08:55.882 --> 00:08:58.510 quando tanto no México, como na Colômbia, 00:08:58.534 --> 00:09:02.896 os principais agressores da imprensa são os próprios funcionários públicos; 00:09:02.920 --> 00:09:07.548 ou quando ocorrem casos de violência tão institucionalizada, 00:09:07.572 --> 00:09:10.766 que no México, por exemplo, existem empresas que não vendem 00:09:10.790 --> 00:09:13.280 seguro de vida aos jornalistas? 00:09:13.902 --> 00:09:17.588 Então, claro, a pergunta obrigatória para mim, era: 00:09:17.612 --> 00:09:20.423 "Por que seguir exercendo o jornalismo?" 00:09:20.447 --> 00:09:25.087 E em torno dessa pergunta, obtive muitas e variadas respostas, 00:09:26.029 --> 00:09:29.960 na maioria das quais, com tom idealista, 00:09:30.660 --> 00:09:33.935 no sentido de que eles seguiam exercendo o jornalismo, 00:09:33.959 --> 00:09:37.724 porque, basicamente, era o que eles gostavam de fazer, 00:09:37.748 --> 00:09:39.853 porque haviam se preparado para isso, 00:09:39.877 --> 00:09:42.995 porque com a publicação de alguns relatórios que haviam feito, 00:09:43.019 --> 00:09:45.213 vidas haviam sido salvas 00:09:45.237 --> 00:09:49.209 ou, simplesmente, porque deixar de exercer o jornalismo 00:09:49.233 --> 00:09:52.201 iria significar um triunfo da delinquência, 00:09:52.225 --> 00:09:53.931 do crime organizado, 00:09:53.955 --> 00:09:56.780 dos funcionários públicos corruptos. 00:09:56.780 --> 00:09:59.443 Mas também tive outro tipo respostas, 00:09:59.467 --> 00:10:02.041 talvez um pouco mais práticas, 00:10:02.065 --> 00:10:05.272 no sentido de que se deixassem de exercer o jornalismo, 00:10:05.296 --> 00:10:08.548 o Estado iria considerá-los como fora de perigo, 00:10:08.572 --> 00:10:10.988 e se os considerassem fora de perigo, 00:10:11.012 --> 00:10:14.421 iriam lhes tirar as medidas de proteção pessoal 00:10:14.445 --> 00:10:19.075 e se lhes retirassem as medidas de proteção, eles seriam assassinados. 00:10:19.992 --> 00:10:23.798 Um caso como este aconteceu no ano passado, na Colômbia, 00:10:23.822 --> 00:10:26.129 com o jornalista Luis Cervantes, 00:10:26.153 --> 00:10:28.991 para quem a Unidade Nacional de Proteção, 00:10:28.991 --> 00:10:31.932 avaliou o risco como muito baixo, 00:10:31.956 --> 00:10:36.252 de forma que foram retiradas as medidas de proteção no mês de julho 00:10:36.276 --> 00:10:39.756 e, em agosto, ele foi assassinado por bandidos. 00:10:40.274 --> 00:10:44.464 Ou seja, para alguns, o jornalismo é um caminho de ida, 00:10:44.781 --> 00:10:49.480 e quem sabe, uma das formas para poder seguir vivendo, 00:10:49.504 --> 00:10:54.695 é seguir exercendo o jornalismo, é seguir publicando, informando 00:10:54.719 --> 00:10:59.979 e fazendo o jornalismo com muito compromisso. 00:11:00.662 --> 00:11:03.487 Depois que terminei de tomar os primeiros testemunhos 00:11:03.511 --> 00:11:06.253 no primeiro país, a Colômbia, 00:11:06.277 --> 00:11:11.048 e levando em conta algumas recomendações que me deram, 00:11:11.048 --> 00:11:14.692 saí da Colômbia, fui embora do país sem terminar de gravar, 00:11:14.692 --> 00:11:17.472 peguei um barco e cruzei rumo ao Panamá. 00:11:17.496 --> 00:11:20.238 Tinha US$ 30 no bolso, 00:11:21.267 --> 00:11:24.797 então, tinha que ganhar dinheiro novamente. 00:11:25.481 --> 00:11:29.741 Fiquei fazendo alguns trabalhos jornalísticos e improvisando coisas, 00:11:30.480 --> 00:11:32.408 trabalhando de qualquer coisa 00:11:32.408 --> 00:11:36.498 para poder, finalmente, juntar dinheiro e chegar ao México, 00:11:36.837 --> 00:11:41.232 o país latino-americano mais mortal para exercer o jornalismo 00:11:41.256 --> 00:11:46.016 e um dos mais perigosos do mundo para exercer a profissão. 00:11:46.734 --> 00:11:49.630 Lá também, claro, encontrei 00:11:49.654 --> 00:11:52.234 várias histórias impactantes, 00:11:52.961 --> 00:11:57.718 como as de Hiran Moreno e Gonzalo Monroy em Salina Cruz. 00:11:57.742 --> 00:12:01.428 Esses dois jornalistas, durante o último ano, 00:12:01.428 --> 00:12:03.102 por publicar uma série de matérias 00:12:03.102 --> 00:12:06.462 que ligavam funcionários públicos a atos de corrupção, 00:12:06.929 --> 00:12:10.065 foram perseguidos, ameaçados, 00:12:10.089 --> 00:12:13.619 espancados e um deles foi sequestrado. 00:12:15.049 --> 00:12:20.899 E até o dia de hoje, eles têm de conviver em suas casas, em suas vidas diárias, 00:12:21.228 --> 00:12:24.258 com guardas armados da polícia federal. 00:12:25.304 --> 00:12:28.204 Na capital mexicana, o DF, 00:12:28.840 --> 00:12:31.577 entrevistei Maria Durán de Huerta, 00:12:31.601 --> 00:12:36.987 uma jornalista que vive com certas medidas de segurança 00:12:37.011 --> 00:12:39.737 e que, na sala de sua casa, 00:12:40.312 --> 00:12:44.762 pendurado um uma parede, tem um pequeno quadro 00:12:44.786 --> 00:12:48.206 que ela colocou na parede, para esconder a marca de uma bala 00:12:48.230 --> 00:12:52.760 disparada por um bandido, que veio do teto do vizinho da frente. 00:12:55.135 --> 00:13:00.794 Estas histórias, estes testemunhos desta gente, desses jornalistas, 00:13:00.818 --> 00:13:02.523 são... 00:13:02.547 --> 00:13:07.001 histórias de gente comum que desenvolve sua profissão, 00:13:07.025 --> 00:13:11.766 mas ao mesmo tempo são jornalistas de uma raça um pouco estranha, 00:13:11.790 --> 00:13:14.070 gente de outro planeta, 00:13:14.491 --> 00:13:16.813 que são cheios de ideais, 00:13:16.837 --> 00:13:20.157 que desenvolvem a profissão de uma maneira romântica. 00:13:20.624 --> 00:13:23.959 Poderia dizer que são uma espécie de "Quixote" do jornalismo, 00:13:23.983 --> 00:13:26.223 que talvez, sem saber, 00:13:26.853 --> 00:13:29.068 com o que fazem e com o que amam fazer, 00:13:29.092 --> 00:13:31.479 que é o jornalismo, 00:13:31.479 --> 00:13:33.939 estão contribuindo com seu pequeno grão de areia 00:13:33.963 --> 00:13:35.246 para mudar as coisas 00:13:35.246 --> 00:13:37.412 porque quando eles denunciam, 00:13:37.436 --> 00:13:40.516 quando estão à frente de um funcionário público, 00:13:40.886 --> 00:13:43.282 o mundo, essa pequena porção de mundo, 00:13:43.306 --> 00:13:47.701 é um lugar mais bonito e mais digno para se viver. 00:13:47.725 --> 00:13:49.888 É como dizia Eduardo Galeano: 00:13:49.912 --> 00:13:53.130 "Pequenas pessoas, em pequenos lugares, fazendo pequenas coisas, 00:13:53.154 --> 00:13:54.621 podem melhorar o mundo". 00:13:54.645 --> 00:13:57.275 E estas pessoas estão fazendo isso. 00:13:57.941 --> 00:13:59.578 E não, claro, 00:13:59.602 --> 00:14:02.300 no mundo todo, geograficamente falando, 00:14:02.324 --> 00:14:03.980 mas o seu pequeno mundo: 00:14:04.004 --> 00:14:06.228 o da sua comunidade, do seu estado, 00:14:06.252 --> 00:14:07.797 o da sua própria realidade 00:14:07.821 --> 00:14:10.511 e é por aí por onde se começa. 00:14:11.438 --> 00:14:14.578 E não porque o jornalismo seja uma profissão messiânica, 00:14:14.578 --> 00:14:18.368 que vá resolver os problemas da humanidade. 00:14:18.776 --> 00:14:24.502 O jornalista tem de investigar, informar, divulgar, 00:14:24.526 --> 00:14:28.740 tem de focar problemas concretos da cidadania 00:14:28.740 --> 00:14:32.088 para poder incluir estes temas na agenda da mídia 00:14:32.088 --> 00:14:36.469 e, quem sabe, daí se possa chegar a incluir na agenda política 00:14:36.493 --> 00:14:38.883 e finalmente se preste atenção 00:14:38.883 --> 00:14:41.513 a estes problemas concretos. 00:14:41.850 --> 00:14:44.450 É dizer que essa gente, 00:14:44.474 --> 00:14:46.974 através do trabalho que desenvolvem 00:14:46.998 --> 00:14:49.454 e da forma e do compromisso, 00:14:49.478 --> 00:14:52.258 através do qual exercem o jornalismo, 00:14:52.845 --> 00:14:56.570 têm reivindicado o exercício da profissão 00:14:56.594 --> 00:14:59.105 como uma ferramenta para a mudança social, 00:14:59.129 --> 00:15:02.835 como uma contribuição para melhorar as coisas, 00:15:02.859 --> 00:15:05.069 para melhorar a própria realidade. 00:15:06.260 --> 00:15:08.329 E é bom que se saiba 00:15:08.353 --> 00:15:12.773 que há pessoas que entendem a profissão desta maneira. 00:15:13.383 --> 00:15:17.197 E é bom que se saiba, que apesar das ameaças, 00:15:17.221 --> 00:15:20.311 dos sequestros e dos assassinatos, 00:15:20.335 --> 00:15:22.861 há pessoas que, apesar de tudo isso, 00:15:22.885 --> 00:15:26.395 seguem denunciando, divulgando e informando. 00:15:27.331 --> 00:15:30.156 E é bom que se saiba que colocar alguém armado 00:15:30.180 --> 00:15:32.626 e dar um colete à prova de balas a um jornalista, 00:15:32.650 --> 00:15:36.232 pode até garantir a vida desse jornalista, 00:15:36.256 --> 00:15:38.326 mas de maneira nenhuma se pode falar 00:15:38.326 --> 00:15:41.786 que se está defendendo a liberdade de expressão. 00:15:42.276 --> 00:15:45.823 E acima de tudo, é bom que se saiba 00:15:45.847 --> 00:15:49.177 que não se mata a verdade, matando jornalistas. 00:15:49.718 --> 00:15:52.758 (Aplausos)