Agradeço muito,
e olá, TED, onde quer que esteja!
Diferentemente de meus antecessores,
não tenho fotos bonitas,
então vocês terão que olhar só para mim.
E perdão por não estar usando uma gravata,
pois caí e quebrei meu braço
em dois lugares,
e é praticamente impossível amarrar
uma gravata com um braço quebrado.
Bem difícil mesmo.
O motivo real de eu estar aqui
não é apenas porque fui
professor na Trinity por 30 anos
e sou senador também há 30 anos,
mas por ser uma bicha grisalha de 73 anos.
Então durante a vida,
presenciei a extraordinária transição
entre ser um criminoso
e poder casar com outro homem.
E sobre o aspecto criminoso,
sim, durante minha vida,
vi muitos homens condenados à prisão
por nada além de sua preferência sexual.
Também vi pessoas que foram forçadas
a fazer a terapia eletroconvulsiva,
o que não melhorou a vida delas,
podem ter certeza.
Por outro lado,
com o casamento
entre pessoas do mesmo sexo,
como eu disse a alguém outro dia,
passei tanto tempo empurrando o barco,
que esqueci de embarcar nele,
e, quando fui ver,
ele estava do outro lado do porto,
e os passageiros acenavam para mim,
e eu estava sozinho no hotel The Strand.
Na Irlanda,
a situação da homossexualidade
foi estabelecida pela Lei Brehon.
Foi apenas no reinado de Henry VIII
que esse assunto virou crime,
porque Henry se apossou
das cortes eclesiásticas,
que punia a homossexualidade como pecado,
e assim fez com que esse pecado
virasse crime na Inglaterra.
Não na Irlanda, por razões técnicas.
Existia um bispo em Waterford,
chamado bispo John Atherton.
Atherton se deu conta disso
e viu a oportunidade de criar
a assim chamada campanha
para "salvar a Irlanda da sodomia".
Ele fez campanhas para estender
essa lei para a Irlanda.
Ele teve sucesso,
mas fico feliz de informá-los
que ele mesmo era gay e foi pego.
Ele foi a primeira vítima,
e no início dos anos 1640,
foi enforcado até a morte.
Então fica o aviso
para qualquer eclesiástico
homofóbico militante por aí.
Em 1969, uma propaganda apareceu
na página de trás do jornal The Observer
dizendo: "Homossexual? Curioso?
Mande 10 xelins e um envelope com selo
para a Rua Kennedy, 28A, Manchester".
E eu mandei.
Foi quando entrei, quase 50 anos atrás,
para a Libertação Gay.
A maioria das notícias
era sobre a Inglaterra,
então não me importavam tanto assim,
mas mesmo assim, foi uma mudança.
Em 1970, estabeleceu-se
a Associação dos Direitos Civis
da Irlanda do Sul,
formada para se solidarizar
com católicos romanos
e nacionalistas da Irlanda do Norte
que estavam sendo discriminados.
No primeiro encontro,
senti que a plataforma política
era incrivelmente arrogante:
não havia discriminação no Sul
como havia no Norte;
não havia corrupção nem dificuldades.
Aquilo começou a me irritar.
E aí, tive um motivo mais humano.
Do outro lado do corredor,
vi um rapaz holandês muito bonito
e pensei: "Opa, olá!
Como posso fazer com que me note?"
(Risos)
Eu levantei e disse:
"Você acha que não discrimina?
Claro que discrimina. Sou homossexual!"
Naquela época falávamos assim,
como se fossemos
um tipo raro de borboleta.
Não existia "gay" nem nada disso,
era "homossexual".
Bem, discutimos bastante,
e consegui convencê-los
a aceitar a reforma do código penal
como parte da plataforma.
Também conheci o rapaz holandês.
Ele era um católico romano devoto,
totalmente heterossexual,
e ainda somos amigos,
então foi algo muito bom
que aconteceu, um bônus.
Em 1973, aqui na Trinity College,
houve uma grande conferência
organizada pelos assistentes sociais
do Grêmio Estudantil,
e o tema era sexualidade,
mas voltado para a homossexualidade.
Assim nasceu a Union for Sexual
Freedoms na Irlanda,
que é uma organização de 32 condados,
e o Movimento de Liberação Sexual.
Éramos um grupo de 11,
nos encontramos
em uma garagem na Front Square,
colocamos seis centavos na lata para café
e escrevemos para o The Irish Times
em busca de camisinhas,
o que era bem quixotesco
para os dias pré-AIDS.
Liderei a primeira divisão do movimento.
Eu disse: "Besteira!
Somos 10 gays e um indefinido, dos 11.
Devíamos estar fazendo algo a mais.
Somos irlandeses, somos gays,
queremos nossos direitos,
somos um movimento!"
Assim começou o Irish Gay Rights Movement,
e foi um desenvolvimento
fantástico na Irlanda.
Sempre me interessei
por política e reformas legislativas,
mas muitas pessoas
só se interessavam
em atividades sociais...
conhecer outras pessoas
para ter relacionamentos, etc.
Então outra divisão foi formada.
E, apesar de eu ter liderado
a eleição para presidente,
perdi todos os meus membros do gabinete,
então tive que sair do movimento.
Fundei outro.
Sempre fazia isso,
parecia uma ameba, me dividindo,
e eu estava sempre no centro das divisões.
Fundei a Campaign
for Homosexual Law Reform,
que consistia de meia gaveta
do meu armário de arquivos
no meu escritório na Trinity
e alguns papéis timbrados
onde tentei convencer
o famoso dramaturgo
Hugh Leonard a me apoiar,
assim como o reitor
da St. Patrick, Victor Griffin,
e o ex-ministro da Saúde, Dr. Noel Browne.
Foi maravilhoso,
porque imediatamente fomos
denunciados pela direita católica
como "uma conspiração internacional
fundada com dinheiro judeu de Nova York".
Que triunfo!
Éramos "uma conspiração internacional".
Foi fantástico!
(Risos)
Continuei com o processo legal.
No Irish Gay Rights Movement
tínhamos um departamento jurídico
que defendia aqueles com problemas legais.
Queríamos que um deles
assumisse uma posição constitucional
e defendesse seu caso.
Ninguém queria,
então tivemos que nos basear
na minha experiência.
Eu havia desmaiado
em um restaurante em Dublin
e levado para o Baggot Street Hospital,
com suspeita de infarto.
Descobriram que era
um ataque de ansiedade,
e fui para um psiquiatra.
Ele descobriu que eu era gay,
me disse que eu nunca seria feliz,
minha saúde nunca seria boa,
a não ser que fosse
morar no sul da França.
Fiquei extremamente bravo!
Nós existimos desde antes
dos Tuatha Dé Danann e dos Firbolgs,
e eu não ia ser expulso
só porque era bicha.
Fiquei furioso, mas significava
que eu tinha locus standi:
eu estava em uma posição
onde podia apresentar o caso.
Sobre o caso, primeiramente recebemos
um parecer de Donal Barrington,
um advogado muito notável.
Ele se tornou juiz do Tribunal
Superior e teve que sair.
Tivemos Mary Robinson, tivemos...
nosso advogado principal foi
um homem chamado Garrett Cooney,
um advogado encantador,
charmoso, cortês e brilhante.
Ele também era católico conservador.
E quando ele abriu o processo...
é assim que me lembro,
espero estar certo, ele disse:
"Vossa Excelência, meu cliente
é um homossexual congênito, irreversível".
Era novidade para mim.
Eu tinha passado por uma fase
heterossexual imatura, mas aí eu disse:
"Se tem que ser assim, então que seja".
O jornal soube disso
e no dia seguinte escreveu:
"Ao se levantar, no Tribunal Superior,
Garrett Cooney SC disse à corte
que era um homossexual
congênito, irreversível".
Claro, ele ficou louco
e exigiu uma retratação.
No dia seguinte, a manchete dizia:
"'Não sou homossexual', diz Cooney".
E todo mundo que estava tomando
café da manhã pensou: "O quê?"
Muitas coisas engraçadas assim
aconteceram no processo.
Sei que alguns de vocês
se envolveram nas partes técnicas,
mas me perguntaram, por exemplo,
se eu não sabia que esse preconceito
vem de uma longa tradição
de leis decretadas
pelo Imperador Justiniano.
E eu disse: "Claro!
No contexto histórico,
ele estava certíssimo,
pois seus profetas haviam lhe dito
que havia correlação
entre atos de sodomia e terremotos.
Então, para proteger seu povo,
ele baniu tais atos
para impedir os terremotos.
Mas nosso entendimento
de convulsões climáticas
aumentou bastante desde os tempos
do Imperador Justiniano".
Voltando ao que interessa,
tivemos um encontro em Coventry,
no final dos anos 70,
em que fundamos um grupo chamado
The International Gay Association.
Escrevi um dos três documentos-base
e argumentei fortemente
que se a base de operações
desse novo grupo internacional
fosse para Amsterdam,
ninguém iria prestar a mínima atenção,
mas se viesse do que na época ainda era
a Igreja Católica da Irlanda,
as pessoas iriam ficar alertas
e prestariam atenção.
Assim, conseguimos que a Fownes Street
abrigasse a base de operações
da The International Gay Association.
O Irish Gay Rights Movement
quebrou na Fownes Street:
a discoteca havia falido,
os escritórios fecharam,
e as pessoas falavam para mim:
"Precisamos achar algum lugar".
Então bati perna
e descobri um galpão abandonado
na Fownes Street,
e foi assim que o bairro
Temple Bar começou.
Não havia nada lá
até nossa discoteca aparecer.
E eu me lembro...
não conhecia nada de música,
mas eu fazia de tudo,
inclusive ser segurança.
Lembro-me de uma noite
quando parei o Elton John
e pedi para ver seu cartão de sócio
e outra noite, quando parei
o Freddie Mercury
e pedi seu autógrafo.
Então posso dizer que conheci os dois
apesar de não saber quem diabos eles eram.
(Risos)
No Tribunal Superior,
minha contribuição eram testemunhas,
pois eu estava determinado
de que a conspiração do silêncio
que escondia esse assunto
deveria ser destruída
por testemunhas internacionais
ao redor do mundo.
E assim foi.
E o juiz, no julgamento,
nos deu o equivalente
ao manifesto dos direitos dos gays,
e mesmo assim, no final,
ele deu meia-volta e disse:
"Contudo, por causa da natureza cristã
e democrática do Estado,
devo decidir contra o autor".
Fomos então para a Suprema Corte
e tivemos um julgamento lamentável
do chefe de Justiça,
totalmente errado constitucionalmente.
Como na Suprema Corte
você só consegue tratar com as questões
que surgiram no caso passado,
ele desviou do assunto.
Apesar de tudo, vencemos
dois julgamentos brilhantes
que nos deram a oportunidade
de ir para a Europa,
onde ganhamos por um voto,
com o juiz irlandês votando contra nós.
Houve, então, um atraso.
Albert Reynolds, o primeiro-ministro
terrivelmente decente da Irlanda,
apesar de não ser
o mais avançado socialmente,
disse em uma entrevista para o jornal
que a reforma das leis para homossexuais
não era uma prioridade.
Graças a Deus não era,
porque o ministro da Justiça
na época era o Raphael Burke,
que não era um político
dos mais idealistas.
Depois disso Maire Geoghegan Quinn entrou.
Nesse estágio, arrumamos
um encontro entre ela e Phil Moore,
uma experiente conselheira política
do partido Fine Gael
cujo filho era gay.
Elas conversaram de mãe para mãe,
e o fato de Maire Geoghegan Quinn
ser mulher foi crucial.
Algumas pessoas queriam aditamentos
horríveis e discriminatórios,
e ela lidou com isso de forma sublime.
Ela disse: "Como ministra
do governo irlandês,
exijo razões claras,
convincentes e concretas
para introduzir noções de discriminação.
Como nenhuma foi fornecida,
não vou aceitar isso".
Essa era a regra de ouro:
nada a ver com sexualidade,
mas tudo a ver com o núcleo
de uma boa legislação.
Então, fui eleito para o Senado
e acho que fui a primeira pessoa
abertamente gay
a ser eleita para o parlamento nacional.
Mas nunca me gabei disso
porque não queria que fosse visto
como uma peculiaridade.
E, claro, nem todo mundo gostava de nós.
Uma vez, colocaram uma bomba
no Hirschfeld Centre.
Eu estava trabalhando...
telhado de asfalto plano,
cúpulas de acrílico...
vi as faíscas, subi,
os latões de leite cheios de dinamite
e barris de petróleo,
o telhado todo em chamas
por causa do petróleo.
A ideia era explodir o telhado e mandar
o petróleo queimando para baixo.
Consegui apagar tudo
com dois extintores de incêndio.
Nada heroico,
só fui no piloto automático,
não pensei no que estava fazendo.
Mas aí houve um incêndio
uns dez anos depois,
e me ligaram às três da manhã...
um incêndio em Hirschfield Centre.
Desci.
Quando descobri que tinha seguro,
ninguém havia se machucado
e os arquivos estavam a salvo,
sentei e até aproveitei o incêndio.
Uma garçonete da discoteca me perguntou:
"Como você pode ficar aí parado
com um sorriso no rosto
quando nossa bela discoteca
está pegando fogo?"
Eu respondi: "Vou me referir ao falecido
e incrível Dr. Samuel Johnson.
Quando sua casa pegou fogo,
ele pediu ao seu criado
que pegasse uma mesa, uma cadeira,
uma garrafa de vinho e um copo.
Boswell veio e o repreendeu, e ele disse:
'Senhor, um homem não pode
aquecer as mãos no próprio fogo?'"
E essa foi minha atitude
perante a situação.
Durante a epidemia da AIDS,
publicamos 250 mil folhetos
sobre sexo seguro.
Isso era ilegal de acordo com a Lei
de Anúncios Indecentes da era vitoriana.
Escrevi para Barry Desmond,
anexando um folheto,
alertando sobre o fato
de termos infringido a lei
e recebi uma carta de volta que dizia:
"Muito bem! Estou feliz que alguém
está fazendo algo sobre isso".
Você infringe a lei,
escreve para um ministro do gabinete,
e ele lhe dá os parabéns!
Uma situação bem irlandesa.
E aí veio o assunto do casamento.
Lembro-me de um debate
aqui na Trinity, muitos anos atrás.
Uma senhora chamada
Mina Bean Ui Chribin me disse:
"Sabemos o que você quer!
Não é apenas a alteração do código penal,
você tem uma pauta homossexual!
A próxima coisa que vai querer
é o casamento homossexual!"
Eu disse: "Que ótima ideia, madame.
Muito obrigado!
E, se tiver mais sugestões,
poderia me mandar para este endereço?"
Fiz o primeiro projeto de lei
de união civil em 2003.
Isso gerou uma certa atividade
entre os partidos políticos.
A primeira união civil
do governo foi impossível.
Havia 169 diferenças
entre essa lei e o casamento.
Eu a descrevi como licença pra cães.
não me arrependo.
É dever dos independentes
fazer com que o governo
mantenha um padrão de excelência.
Por fim, conseguimos
a igualdade no casamento.
Gostaria de fazer uma homenagem pública
para Brian Sheehan, Gráinne Healy,
e, em termos políticos,
para Eamon Gilmore,
pois sem eles, isso nunca teria
entrado na pauta política.
O que falta ser feito?
Atualmente, estamos ajeitando
as coisas no Senado,
pois um professor aqui
do departamento francês, David Parris,
foi pego em uma situação
um pouco desagradável
que destaquei na época do primeiro
projeto de lei de união civil,
que dizia que pessoas que não haviam
se casado antes dos 60 anos
tinham as pensões
de seus parceiros recusadas.
Você não podia se casar se fosse gay,
e ele conseguiu união civil na Inglaterra.
Mas essa anomalia civil se manteve.
Isso está sendo tratado nesse momento
pelo Seanad Éireann
por meio de um projeto de lei
da minha colega Ivana Bacik.
E, claro, ainda existe o resto do mundo.
Somos tão privilegiados e sortudos,
e sou tão grato às pessoas da Irlanda
pela igualdade no casamento.
Conseguimos isso por meio de pessoas
contando a história de sua família.
Um filho ou filha gay, uma mãe ou tio gay,
conversando entre si,
contando suas histórias.
Ganhamos assim.
Mas ao redor do mundo,
há muitos lugares conservadores,
como a Rússia de Putin,
Uganda, os países árabes,
onde é incrivelmente perigoso ser gay.
E digo que não importa
o quanto ganhamos neste país,
o quão igualitários somos,
não devemos dar as costas
para o resto do mundo.
Temos que nos impor.
Finalmente, quero dizer,
que a recompensa, para mim,
não é ser lembrado.
Não dou a mínima se lembrarem
ou se esquecerem de mim,
isso não me incomoda,
mas sim andar pela O'Connell Street,
como fiz semana passada,
e dar de cara, na O'Connell Bridge,
com dois adoráveis e belos rapazes
atravessando a ponte de mãos dadas.
Eu achei encantador.
Estou tão feliz que os jovens estão livres
da pressão, vergonha, miséria, neurose
que a minha geração de 73 anos passava,
e podem ser eles mesmos.
Eles podem ser felizes agora
e ter relacionamentos.
O que posso dizer a vocês é:
Deus abençoe vocês, gays e héteros!
Aproveitem sua juventude,
ela não dura tanto assim!
(Aplausos)