A coisa toda é tão escatológica. Quando você pinta, é tudo tão físico. É muito físico. Você espreme a tinta do tubo, o que é divertido. Você mistura a tinta. É criar algo com um tipo de material fluido que está, de certa forma, constantemente fora de controle e, de algum jeito, dominá-lo, dominar a energia da tinta. Eu acho que esse é o ponto principal da pintura. Por alguns alguns, eu tenho trabalhado cortando formas e colando-as todas juntas. Sabe, meio que basicamente fazendo um zig-zag e um tipo de forma retangular e uma forma redonda, circular de nuvem e só colocando tudo junto e meio que deixando tudo se encaixar onde deve. Eu sei que as formas sempre são chamadas de cartunescas. E que elas são cartunescas e irregulares e redondas e infladas e meio malucas. Todas essas formas se prendem umas às outras de alguma forma. Como uma tipo de cerca estranha ou treliça estranha. Outra parte disso, para mim, é usar cores bem intensas. Com as cores e as formas e o desenho dentro das formas, é bem simples tentar fazer tudo funcionar. Existem tantas combinações diferentes de coisas. É como se você fosse um arrombador de cofres ouvindo o- Esses filmes quando o personagem está com a orelha colada no cofre esperando ouvir o clique para os cilindros certos destravarem. Às vezes é exatamente assim, eu pinto e pinto até a coisa certa acontecer. Eu quero que tenha conflito e eu quero que tenha tensão. E ainda assim, de alguma forma, eu quero que todas essas coisas conflitantes convivam. Não é só estarem perto umas das outras, mas realmente conviverem. Eu faço desenhos (dentro do livro?) E eles são um aquecimento para fazer minha mente entrar no clima. Sabe, para me dar um ponto de partida, é para isso que eles servem mesmo. Tudo começa com o desenho. Acho que o que eu mais me lembro é, quando eu era pequena, da alegria de poder desenhar alguma coisa. Eu amava desenhar e eu desenhava obsessivamente. Acho que percebi que era uma habilidade que fazia eu me sentir bem comigo mesma. O Instituto de Artes de Chicago mudou a minha vida completamente. As pessoas que estavam lá eram de um tipo que eu nunca tinha visto antes na pequena Bloomington, em Illinois. Eu me apaixonei completamente por aquele mundo. Mas acho que tanto quanto ser artista, eu também queria ser diferente do mesmo jeito que eles eram diferentes. Porque parecia ser libertador. Em vez de ficar limitada a saias rodadas, meias delicadas e sapatos bicolores, você poderia usar botas pretas e pesadas e usar maquiagem azul e só, sabe, falar o que você pensa. Você não tinha mais que ser uma boa garota. Mas parecia que os professores estavam lá para te ensinar que não havia esperança nem perspectiva e que ser artista era a coisa mais impossível do mundo. E era melhor você perceber que essa era uma vida de sofrimento, dificuldades e que você não ia ser bom mesmo. Eu realmente tive que dar um jeito de acreditar em mim mesma. Sabe, acho que eu consegui vendo as pinturas nas galerias de Chicago.