Gostaria de falar hoje sobre
como fazer crianças.
Não é o que vocês devem estar pensando,
esse é um programa para todas as idades.
Gostaria de falar sobre essas
características incríveis, adoráveis,
e as vezes incrivelmente irritantes
que chamamos de 'temperamento'
ou 'personalidade'.
Algumas crianças se sentem ansiosas
ou bravas rapidamente,
enquanto outras parecem que não se abalam.
Algumas crianças adoram se cercar
de barulho, de pessoas e de atividades;
enquanto outras preferem quietude,
talvez até solidão.
Algumas crianças têm as emoções
à flor da pele,
enquanto outras você, as vezes, não sabe
o que estão sentindo.
De onde vêm essas características
de temperamento?
E o que, se é que alguma coisa,
devemos fazer sobre isso?
Baseados em estudos de gêmeos, sabemos
que cerca de 50-60%
do temperamento da criança vêm dos genes.
Parece bastante. É bastante.
Contudo, ainda deixa bastante espaço para
outras influências.
Como o ambiente.
Por muito tempo, houve um longo debate
sobre se o comportamento
era inato ou adquirido.
Agora, para grande parte,
o debate está praticamente encerrado.
E eu posso dizer que a resposta
para a pergunta
se é inato ou adquirido é "Sim".
(Risos)
A historia não acaba ai.
Quando você fala com os pais,
muitos se admiram
como seus filhos são
incrivelmente diferentes.
Eles dizem: "Não entendo.
Tiveram a mesma mãe, o mesmo pai,
foram criados na mesma casa,
e fizeram as mesmas coisas,
e meus filhos não são nada iguais."
Muitas vezes é verdade.
A questão se nós realmente criamos
nossos filhos do mesmo jeito
é interessante.
Se você perguntar a maioria dos pais dirá:
"Sim, nós fizemos as mesmas coisas."
Se você perguntar para as crianças,
por outro lado, elas vão geralmente dizer
que foram criadas completamente diferente.
Se você fizer estudo observacionais
de pais e crianças juntas,
você geralmente descobre
que é algo no meio termo.
Mas as coisas ficam ainda mais complicadas
Existe um termo que os geneticistas chamam
"correlação evocativa gene-ambiente"
é uma palavra de boca cheia.
Significa que quando se fala do
desenvolvimento infantil
que é o ambiente onde a criança está,
e que não é aleatório
e simplesmente cai sobre ela,
mas está associado ou correlacionado com
comportamento geneticamente influenciado.
Ainda soa meio técnico, eu sei.
Gostaria de argumentar que esse
é um conceito muito importante e prático.
Para essa plateia de Vermont, pensei em
uma metáfora que pode funcionar.
Crianças, assim como grandes montanhas,
tem a habilidade de criar
seu próprio clima.
Pensem em uma criança que tinha
um temperamento feliz,
expansivo e carinhoso.
E pense como o universo tende a responder
a essas características. Certo?
Essas são crianças que fazem os pais
parecerem celebridades.
E a criança que é um pouco mais ansiosa?
Ou um pouco mais irritada?
Como o mundo normalmente responde a isso?
Geralmente com mais ansiedade,
ou mais irritabilidade.
E essas características podem crescer.
E a bola de neve começa a crescer,
e começa a ir montanha abaixo
e o que começa como pequenas diferenças
temperamentais podem crescer
e virar, as vezes, distúrbios reais.
O que fazemos sobre isso?
Podemos culpar os pais, certo?
A Psiquiatria fez isso por um tempo,
e não foi uma boa ideia, na minha opinião.
Podemos culpar as crianças,
e podemos focar todas nossas energias
arrumando esses comportamentos 'ruins'.
Ou podemos usar esse conhecimento
para tentar achar estratégias
que podem virar a bola de neve,
e movê-la em uma direção diferente.
Quando falo com pais,
a palavra que gosto de usar,
especialmente quando falo sobre
lidar com um temperamento mais difícil
é "anular".
"Anular".
Quando a sua pequena montanha está
te provocando a ter uma tempestade,
essa resposta pode ser completamente
normal, completamente compreensível,
mas como todos sabemos,
geralmente piora as coisas.
Nesses momentos,
o que pode realmente ajudar,
é reconhecer que você está
num desses momentos de ''anular'.
E dar o que pode ser um passo pequeno,
mas deliberado
em uma direção diferente.
Mais fácil falar do que fazer, certo?
Eu sei. Já estive lá. Ainda estou lá.
Com prática, como qualquer coisa,
nos aprimoramos.
Também sei que quando falo isso,
pode parecer contrário ao que os pais
têm ouvido por anos e anos.
Um dos maiores princípios do Dr. Spock
era que deveríamos criar os filhos
de maneira instintual,
que seja natural para a gente.
Eu acho que é um bom conselho.
Não quero contrariá-lo.
Eu diria que as vezes,
há momentos,
em que a melhor resposta
pode ser a menos natural pra gente,
se quisermos mudar a direção das coisas.
Dois pesquisadores de temperamento,
Stella Chess and Alexander Thomas,
propuseram quase 50 anos atrás
que características de temperamento
não são boas nem ruins.
O que faz elas funcionarem,
em outras palavras,
o que as fazem "adaptativas",
é o grau de compatibilidade entre essa
característica e o ambiente.
Essa teoria, "Goodness of Fit"
é ainda ensinada hoje em dia.
Se você pensar em todas as nossas
maneiras, nossos esforços
para tentar melhorar essa compatibilidade,
eu acho que você pode
resumi-las a duas coisas.
Isso é verdade se estamos falando
da criação pelos pais,
ou sobre intervenções pela escola,
ou talvez sobre terapia individual.
Você pode tentar mudar a criança
para se encaixar no ambiente,
e/ou você pode tentar mudar o ambiente
para se encaixar na criança.
Mas devo dizer que ultimamente
tenho ficado impressionado
com uma terceira estratégia.
Que, às vezes, você pode recuar,
confiar no que fez até agora,
e deixar o temperamento da criança
interagir com o mundo do seu jeito.
Devo confessar que essa terceira
opção é um desafio para mim.
Como minha esposa diz,
causou alguns momentos de "anular"
em mim mesmo.
(Risos)
Falo disso porque acho que
quando falamos de criação,
especialmente como
um profissional de saúde mental,
devemos olhar para o assunto
com um grande grau de humildade.
Já fui para várias conferências, escutei
excelentes palestras sobre criação.
Saí de algumas pensando que, como pai,
a melhor coisa que poderia
fazer pelos meus filhos
era achar um jeito de fazer
o palestrante adotá-los.
(Risos)
Mas não é uma opção, não é?
Estamos presos aos nossos filhos,
e nossos filhos estão presos a nós.
Crianças não vêm com manual de instrução.
Eu acho que não tem problema
porque não são como um brinquedo de natal
que tem que ser montado
de uma forma bem precisa,
quando se trata de crianças, não há um só
produto final que deve ser montado.
Gosto de metáforas e quando tento explicar
o que é temperamento para meus alunos,
uma metáfora que gosto é a música.
Particularmente, o tom, a clave da música.
Porque o tom está com você,
você pode ouvi-lo,
mas as possibilidades de como a música
vai soar continuam infinitas.
Obrigado.
(Aplausos)