Uma testa alta coberta por um cabelo preto despenteado, uma palidez doentia e um olhar de inteligência intensa e exaustão ainda mais profunda em seus olhos escuros e fundos. A imagem de Edgar Allan Poe não é apenas instantaneamente reconhecível; é perfeitamente adequada à reputação dele. Do prisioneiro amarrado sob uma lâmina pendular descendente, a um corvo que se recusa a deixar os aposentos do narrador, as histórias macabras e inovadoras de horror gótico de Poe deixaram uma marca intemporal na literatura. Mas o que faz de Edgar Allan Poe um dos maiores autores americanos? Afinal de contas, o horror era um gênero popular do período, com muitos praticantes. No entanto, Poe se destacou graças a sua cuidadosa atenção à forma e estilo. Como crítico literário ele identificou duas regras cardeais para o formato de contos curtos: deve ser curto o bastante para ser lido de uma só vez e cada palavra deve contribuir para o seu propósito. Ao dominar essas regras, Poe comanda a atenção do leitor e o recompensa com uma experiência intensa e singular, o que Poe chamava de unidade de efeito. Embora por vezes assustador, esse efeito vai muito além do medo. As histórias dele usam violência e horror para explorar os paradoxos e mistérios do amor, sofrimento e culpa, enquanto resistem a interpretações simples ou claras mensagens morais. E enquanto costumam insinuar elementos sobrenaturais, elas exploram a verdadeira escuridão que é a mente humana e sua propensão à autodestruição. Em "O Coração Revelador", um assassinato medonho é justaposto com a empatia terna do assassino pela vítima, uma conexão que logo volta para assombrá-lo. A personagem do livro "Ligeia" retorna do além através do cadáver da segunda esposa do seu marido, ou pelo menos o narrador viciado em ópio acha que ela retorna. E quando o protagonista de "William Wilson" confronta violentamente um homem que ele acredita estar seguindo-o, ele pode estar apenas vendo sua própria imagem num espelho. Com seu uso pioneiro de narradores não confiáveis, Poe transforma leitores em participantes ativos, que devem decidir quando um narrador pode estar interpretando mal ou mesmo mentindo sobre os eventos que ele está relatando. Embora seja mais conhecido por seus contos de horror curtos, Poe foi, na verdade, um dos escritores mais versáteis e experimentais do século 19. Inventou a história de detetive como a conhecemos hoje, com "Os Assassinatos na Rua Morgue", seguida por "O Mistério de Marie Roget" e "A Carta Roubada". Todas as três apresentam o original detetive de poltrona, C. Auguste Dupin, que usa sua genialidade e poderes incomuns de observação e dedução para resolver crimes que confundem a polícia. Poe também escreveu sátiras de tendências sociais e literárias, e farsas que, em alguns casos, precederam a ficção científica. Elas incluíram um conto de uma viagem de balão para a Lua e um relato de um paciente moribundo induzido num transe hipnótico para que pudesse falar do além. Poe até escreveu um conto de aventura sobre uma viagem ao Polo Sul e um tratado sobre astrofísica, tudo enquanto trabalhava como editor, produzindo centenas de páginas de resenhas de livros e teoria literária. Uma apreciação da carreira de Poe não estaria completa sem sua poesia: assombrosa e hipnótica. Seus poemas mais conhecidos são canções de sofrimento ou, em suas palavras, "lembranças pesarosas e infinitas". "O Corvo", no qual o orador projeta seu sofrimento em um pássaro que meramente repete um único som, tornou Poe famoso. Mas apesar de seu sucesso literário, Poe viveu na pobreza por toda a sua carreira e sua vida pessoal foi muitas vezes tão obscura quanto a sua escrita. Ele vivia assombrado pela perda da mãe e da esposa dele, que morreram de tuberculose aos 24 anos. Poe lutou contra o alcoolismo e frequentemente antagonizava outros escritores populares. Muito da fama dele veio de adaptações póstumas e bem livres de seu trabalho. E, no entanto, se tivesse sabido quanto prazer e inspiração a escrita dele traria a gerações de leitores e escritores, talvez isso poderia ter trazido um sorriso àquele famoso rosto sombrio.