Meu nome é Leonardo Aguiar
e eu sou cirurgião plástico.
Eu vou contar pra vocês
a história da Laura.
A Laura
estava infeliz e descontente
com a sua aparência,
e ela me procurou porque queria
muito fazer uma cirurgia plástica,
ela queria fazer uma abdominoplastia,
que é uma cirurgia que tem como objetivo
melhorar o contorno corporal das pessoas
através da retirada do excesso de pele
e de gordura da região abdominal.
E, como cirurgião plástico,
o que vocês acham que eu disse pra ela?
Óbvio.
Eu disse que não.
Como assim não?
Na verdade, a maior parte das pessoas
acredita que o bisturi traz a felicidade,
mas isso não é verdade.
As distorções no corpo de uma pessoa
são reflexos de um desequilíbrio interno
que se manifesta externamente.
E naquele dia, em vez do bisturi,
eu propus uma nova técnica:
a cocriação.
Mas antes de falarmos de cocriação,
eu quero contar uma história pra vocês
que fez eu pensar
e buscar novos conceitos de saúde.
A história de vida e de morte do meu pai.
Meu pai era diabético, fumante
e nunca havia se preocupado
com a sua saúde,
até o exato momento
em que ele teve um ataque cardíaco,
até o exato momento
em que ele quase morreu.
E, a partir daquele dia,
ele decidiu cuidar da sua vida,
mas, na verdade, ele estava cuidando
dos sintomas de sua doença.
E isto é assustador pra mim:
como a maior parte das pessoas
quer controlar
a sua doença pra viver mais,
mas não se preocupa em cuidar
da própria vida pra evitar essas doenças.
Infelizmente, meu pai veio a falecer,
ele faleceu precocemente,
com 60 anos de idade,
por uma doença facilmente evitável.
E isso mexeu muito comigo,
me deixou muito confuso,
eu fiquei com muita raiva.
Fiquei angustiado.
Eu não sabia o que fazer naquele momento,
eu sentia que eu precisava encontrar
o culpado pra acalmar o meu coração.
Eu refleti muito
e descobri, sim, o culpado.
Na verdade, não foram as pessoas
que trataram o meu pai
e a culpa também não era
minha, que era médico.
Na verdade, a culpa era
de uma mentalidade antiga,
uma mentalidade na qual nós temos a ideia
de terceirizar os nossos problemas,
uma mentalidade onde as pessoas
não participam ativamente
no processo de se manter saudável.
E depois de ter vivido essa experiência,
eu não podia mais praticar
medicina como antigamente.
Eu tive que buscar
novos conceitos de saúde,
eu precisava reinventar a minha profissão.
E foi nesse exato momento
que eu encontrei a cocriação.
"Cocriar" foi um termo
que surgiu no mundo dos negócios,
que significa a participação ativa
do cliente na fabricação do processo
de um produto ou de um serviço.
E na área da saúde, o que isso significa?
Significa trazer o paciente
pra dentro do seu processo de saúde.
Significa fazer com que o paciente
se comprometa com o que ele está pensando.
Mas como isso funciona na prática?
Lembram da Laura?
Então...
Agora eu vou contar pra vocês
como a Laura ficou assim,
depois de sete meses sem o uso do bisturi.
Afinal, cocriar é fazer juntos,
e, juntos, nós iniciamos uma conversa.
Ela me disse que gostaria
de fazer uma cirurgia,
e eu, como médico, naquele momento,
tive que me posicionar.
Eu falei: "Laura, fazer
uma cirurgia neste momento
é uma solução de curtíssimo prazo.
É a mesma coisa que tratar o sintoma,
em vez da origem do problema".
E quando eu disse isso,
eu fiz ela pensar.
E, pensando, ela chegou na compreensão
do que estava acontecendo na vida dela
e ela teve uma constatação:
ela havia se abandonado.
Ela havia se tornado a origem
do seu próprio problema.
E no momento em que ela percebeu isso,
a sua postura mudou.
É impressionante
como a tomada de consciência
promove mudanças instantâneas.
Naquele exato momento,
a Laura chegou pra mim: "Doutor,
o que nós dois podemos fazer juntos
pra reverter o que aconteceu
e criar uma solução efetiva e duradoura?"
Então, reiniciamos a nossa conversa.
Porque é assim:
na cocriação, é nessa troca
que a gente vai construindo o tratamento.
E a Laura começou a falar dos seus medos,
suas angústias, suas motivações.
E, baseado em tudo
o que ela havia me contado
e todo o conhecimento que eu tinha,
nós começamos a construir
um tratamento pra Laura.
Eu fiz uma série de sugestões,
sugestões de algumas mudanças de vida
que ela mesma deveria promover.
Começamos a conversar sobre a adoção
de hábitos alimentares saudáveis,
a prática de atividades físicas,
conversamos sobre cuidar
das suas questões emocionais,
porque ela tinha que estar
muito preparada pra uma série de mudanças
que iriam acontecer.
Ela tinha que aprender
a assimilar toda essa novidade,
mas, o principal, ela tinha que usar isso
pra potencializar a sua vida.
E de acordo com todas essas sugestões,
nós começamos a decidir o tratamento.
Escolhemos uma série de profissionais
de especialidades que se complementam
porque nós precisávamos ter a certeza,
que todos os procedimentos seriam
feitos de uma forma precisa e correta.
Chamamos uma nutricionista,
um educador físico, uma esteticista,
uma fisioterapeuta, um enfermeiro;
montamos um time sob medida
para as reais necessidades da Laura.
E nesse momento,
a Laura não estava mais sozinha,
ela tinha uma equipe por trás,
uma equipe engajada e comprometida,
torcendo e vibrando muito
pelo sucesso da Laura.
E aí a Laura se sentiu a protagonista
e a comandante desse processo.
E dia após dia, a Laura se reinventou.
Começou a praticar
atividade física regular,
começou a ter hábitos
alimentares saudáveis,
e a sua felicidade era tão grande,
que ela começou a impactar
a vida de outras pessoas
estimulando essas pessoas
a também se cuidarem.
E quando ela começou efetivamente tratar
das suas questões emocionais,
ela se transformou numa nova mulher.
E essa transformação
logo começou a ser fisicamente evidente.
E quando essa transformação
física apareceu,
foi um combustível a mais pra Laura
continuar no seu processo,
e agora o céu era o limite pra Laura.
E hoje,
esta é a Laura,
e hoje, ela é a Laura.
(Aplausos)
Obrigado.
Então...
Eu quero que vocês prestem
atenção nestas duas fotos.
A mudança é muito mais profunda
do que simplesmente
a parte física e a parte estética.
Quando ela me procurou,
em fevereiro do ano passado,
ela tinha 50 anos de idade, era obesa,
hipertensa, pré-diabética,
trabalhava excessivamente,
era adepta de dietas milagrosas,
mas ela achava que sabia tudo
sobre alimentação saudável.
E ela teve uma brilhante ideia:
"Vou fazer uma abdominoplastia
e vou resolver todos os meus problemas".
E hoje,
depois de eliminar mais de 25kg,
esta é a Laura...
Não é mais hipertensa, nem pré-diabética,
seus dados clínicos melhoraram,
sua vida se transformou.
Mas, apesar de toda essa revolução,
ainda assim foi necessário a cirurgia,
uma cirurgia necessária
pra retirar o excesso de pele,
que o seu emagrecimento havia provocado.
Uma cirurgia necessária sim,
mas com um propósito
completamente diferente
daquele que ela imaginava, quando havia
me procurado pela primeira vez.
Todos nós aqui somos a Laura,
inclusive eu.
E o exemplo dela mostra, claramente,
como alguém pode reinventar o seu papel
no processo de se manter saudável,
simplesmente assumindo a responsabilidade
das decisões da nossa vida.
É esse lindo e poderoso processo
que nós chamamos carinhosamente
de "cocriação de saúde".
Mas a história não acaba aqui não.
Um belo dia, durante as nossas consultas,
a Laura me disse: "Estou
praticando corrida de rua".
E eu, com aquela vontade
de estimular a Laura,
empolgado com o seu treinamento, disse:
"Laura, vamos juntos.
Até o final do ano eu quero completar
uma corrida de 10km com você.
Eu duvido que você faça isso comigo".
E ela aceitou o desafio!
Ela estava tão motivada, tão comprometida
com o seu próprio processo,
que até criou uma página no Facebook,
o "Cocriando Laura".
Só que um belo dia, eu vi uma publicação
na página do Facebook da Laura.
"Hoje eu estou muito feliz,
acabei de correr 7km.
E logo vou fazer uma prova
de 10km com o meu médico".
Quando eu olhei aquele post,
eu não sabia se ria ou se chorava.
(Risos)
Eu pensei: "Meu Deus!"
O máximo que eu havia corrido
em toda a minha vida era 6km.
E a Laura já estava nos sete.
Literalmente, eu tive
que correr atrás da Laura.
Foi um tremendo exercício,
só que dessa vez foi diferente.
Foi um exercício de humildade.
Eu tive que aprender com a minha paciente;
aprender a cocriar a minha própria saúde;
aprender a cuidar de mim.
E cinco meses depois dessa nossa conversa,
eu e a Laura completamos
a nossa primeira prova de 10km juntos.
E hoje, eu acredito,
com todas as minhas forças,
que a cocriação, potencializando e focando
o potencial transformador das pessoas,
sinceramente pode mudar esse mundo.
E essa, é uma ideia
que merece ser compartilhada.
Obrigado.
(Aplausos) (Vivas)