Há uns anos, fundaste uma empresa
que fabrica hambúrgueres sem carne
Os teus produtos são hoje vendidos
em lojas do mundo inteiro.
Mas recebeste há pouco
notícias terríveis:
Morreram três pessoas numa cidade
depois de comerem os teus hambúrgueres.
A polícia concluiu que um criminoso
atacou a tua marca
injetando veneno nos teus produtos
pelo menos em duas mercearias.
O culpado usou um instrumento ultrafino
que não deixou vestígios na embalagem,
tornando impossível determinar
que produtos estão contaminados.
Os teus hambúrgueres foram removidos
imediatamente das duas lojas
onde as vítimas os tinham adquirido.
As mortes são notícias de primeira página,
o homicida continua à solta
e as vendas caíram a pique.
Tens de desenvolver rapidamente
uma estratégia para lidar com a crise.
A tua equipa apresenta três opções:
1. Não fazer nada.
2. Recolher os produtos das lojas
em toda a cidade e destruí-los.
3. Recolher e destruir
o produto no mundo inteiro.
Qual delas escolhes?
A advogada da tua empresa explica
que a lei não exige a recolha
porque o único responsável é o criminoso.
Recomenda a primeira opção:
não fazer nada
— porque recolher o produto
pode parecer o reconhecimento de culpa.
Mas será essa a estratégia mais ética?
Para medir o grau de ética de cada opção,
podes realizar uma "análise
das partes interessadas".
Isso permitir-te-á avaliar os interesses
de algumas das partes interessadas
— investidores, empregados, e clientes —
em confronto uns com os outros.
Com a primeira opção,
os teus consultores preveem que a crise
acabará por se esfumar.
As vendas vão melhorar mas, provavelmente,
ficarão abaixo dos níveis anteriores,
dado o prejuízo causado à marca.
Em resultado disso, terás
de dispensar alguns empregados
e os investidores sofrerão algumas perdas.
Mas podem morrer mais clientes
se o homicida tiver envenenado
outras embalagens noutros locais.
A segunda opção é dispendiosa
a curto prazo
e exigirá a dispensa
de maior número de empregados
e uma perda financeira
adicional para os investidores.
Mas esta opção é mais segura
para os clientes da cidade
e pode criar confiança suficiente
para o negócio voltar a florescer.
A terceira opção é a mais dispendiosa
a curto prazo
e exigirá uma grande
redução de empregados
e maiores perdas para os investidores.
Embora não haja provas de estes crimes
serem uma ameaça internacional,
esta opção proporciona
a maior proteção dos clientes.
Dado o conflito entre os interesses
dos teus clientes
em relação aos dos teus investidores
e empregados,
que estratégia é a mais ética?
Para tomar esta decisão,
podes considerar estes testes:
O primeiro é o Teste Utilitarista:
O Utilitarismo é uma filosofia
preocupada em maximizar
a maior quantidade do bem
para o maior número de pessoas.
Qual seria o impacto
de cada opção nestas condições?
O segundo é o Teste de Amigos e Família:
Como te sentirias
a explicar a tua decisão à tua família?
O terceiro é o Teste do Jornal:
Como te sentirias se o lesses
na primeira página do jornal local?
E, por fim, podes usar
o Teste do Mentor:
Se alguém que admiras tivesse
de escolher uma opção, qual escolheria?
James Burke, diretor da Johnson & Johnson
enfrentou um problema semelhante em 1982
quando um criminoso juntou cianeto
a garrafas de Tylenol em Chicago.
Morreram sete pessoas
e as vendas caíram a pique.
Os analistas industriais disseram
que a companhia estava acabada.
Em resposta, Burke
decidiu retirar o Tylenol
de todas as lojas a nível mundial,
citando a segurança dos clientes
como a primeira prioridade da empresa.
Johnson & Johnson recolheram e destruíram
cerca de 32 milhões
de garrafas de Tylenol,
avaliadas em 250 milhões
de dólares, atuais.
Foram testadas um milhão e meio
das garrafas recolhidas
e três delas — todas da área de Chicago —
mostraram conter cianeto.
A decisão de Burke ajudou a empresa
a reconquistar a confiança dos clientes
e as vendas voltaram ao normal,
ao fim de um ano.
Pressionados pelas mortes do Tylenol,
a Johnson & Johnson tornou-se líder
no desenvolvimento
de embalagens invioláveis
e o governo instituiu
regulamentos mais apertados.
Entretanto, o assassino
nunca foi apanhado.
A decisão de Bunker impediu
mais mortes do envenenamento inicial,
mas o governo federal investigou
centenas de incidentes de manipulação
envolvendo outros produtos
nas semanas seguintes.
Podiam estes ter sido evitados
com uma reação diferente?
Estaria Burke a agir no interesse
do público ou da sua empresa?
Seria isso uma boa ética
ou um bom "marketing"?
Como com todos os dilemas éticos,
não há uma resposta nítida,
certa ou errada.
E quanto ao teu império
de hambúrgueres sem carne,
a escolha continua a ser tua.