Corey Hajim: Hoje, nosso convidado
é Dan Schulman, CEO do PayPal.
Quando a maioria de nós pensa no PayPal,
consideramos comprar algo on-line
ou pagar um amigo
por uma bebida usando Venmo.
Mas o PayPal também é um importante
interveniente de serviços financeiros,
muitas vezes atuando como uma alternativa
a um banco tradicional.
Durante esta pandemia,
o PayPal apoiou pequenas empresas
no mundo todo, concedendo empréstimos,
dispensando taxas
e aumentando os programas
de devolução de dinheiro.
Também trabalhou com o governo dos EUA
no "Paycheck Protection Program",
bem como distribuindo
verificações de estímulo.
Também permitiu uma onda
de generosidade on-line.
A tendência para pagamentos digitais,
ou o que agora consideramos
"pagamentos sem contato",
acelerou massivamente
e está mudando para sempre a forma
como pensamos sobre o comércio.
Estou muito empolgada
por ter Dan aqui conosco.
Muito obrigada, Dan.
Dan Schulman: Obrigado por me receber,
Corey. É um prazer estar aqui.
CH: Fico feliz em vê-lo.
Então, vamos começar.
Alguns meses após a chegada da pandemia,
mais de 30 milhões de pessoas
pediram o seguro-desemprego
somente nos Estados Unidos.
Certamente são circunstâncias incomuns,
mas parece claro que estávamos no limite
e agora muitas empresas e funcionários
enfrentam enormes desafios financeiros.
Você está preocupado?
DS: Acho que a crise expôs três aspectos.
Obviamente, é uma crise de saúde
para tantas pessoas.
Segundo, a crise da saúde ricocheteou
e o mundo está agora em crise econômica.
E a terceira crise
da qual não falamos tanto,
mas acho que está impactando o jeito
que vamos viver daqui para frente,
é a crise psicológica.
As pessoas estão reexaminando
seu lugar no mundo,
o que está acontecendo nele,
como viverão a vida delas
tanto na pandemia quanto depois dela.
E então acho que isso é algo
que em cada uma dessas fases
precisará ser tratado.
Mas você disse isso e concordo plenamente:
havia uma crise econômica acontecendo
bem antes da pandemia expor isso.
É como se o nível da água baixasse
e expusesse o que já estava lá.
Tínhamos, por exemplo, nos EUA,
185 milhões de adultos
com dificuldades para se manter
até o final do mês.
Temos mais de 70 milhões de adultos
que estão fora do sistema financeiro,
gastando mais de US$ 140 bilhões
em altas taxas de juros,
custos desnecessários
e lutando igualmente.
Acho que o que realmente aconteceu...
porque não dá para ignorar
20, 25% das taxas de desemprego,
foi ter esta crise exposta
e forçar muitas pessoas a atitudes
que talvez não fossem tomar
se essa crise não tivesse ocorrido.
CH: Sim, acho que está certo.
Existem muitos desafios e oportunidades.
Acho que você falou dessa oportunidade
de transações digitais
serem úteis para as pessoas,
e obviamente a tendência, como disse,
acelerou massivamente e nos empurrou
para este mundo ainda mais.
Então, eu estou curiosa.
Como é o mundo sem ou com menos dinheiro?
Quais as vantagens e desafios
de fazer essa transição?
DS: Algumas das tendências que estão
se revelando nessa pandemia
ou surgindo nela,
claramente, têm sido uma mudança
descontínua da linha de tendência
conforme mudamos do físico para o digital.
Aceleramos muitas formas
de recursos digitais
de três a cinco anos.
E isso pode ser de pagamentos digitais
à telemedicina,
para realmente mudar a cara do varejo
e como pensamos sobre ele,
mudar a cara do entretenimento,
mudar até o jeito dos governos pensarem
em administrar e movimentar dinheiro
e pensarem em moedas digitais
daqui para frente.
Há um tremendo número
de mudanças que acontecerão
durante esta pandemia e depois dela.
Pagamentos digitais são obviamente
uma das grandes que acontecerão.
O dinheiro existe há milhares de anos.
Eu não seria tão ousado a ponto
de prever seu desaparecimento total.
Muitas pessoas estão erradas fazendo isso.
Mas não há dúvida agora
de que veremos uma aceleração
do fim do dinheiro.
No ano passado, tivemos mais
de US$ 18 trilhões em dinheiro
gastos no varejo.
Hoje, 85% das transações mundiais
ainda são feitas em dinheiro.
Mas a grande mudança agora
em direção aos pagamentos digitais,
ou seja, o advento e a aceleração
do comércio que estão acontecendo,
bem como a mudança para
pagamentos on-line, como você disse,
tem a saúde como verdadeiro incentivo.
As pessoas não querem manusear dinheiro.
Elas não querem tocar em telas.
Não querem pegar uma caneta
e assinar no ponto de venda.
E então há uma demanda
para pagamentos sem contato e digitais
para manter os requisitos
de distanciamento social,
para proteger a saúde dos caixas
e dos consumidores.
E acho que nós já vemos
em nossos negócios
um aumento nos pagamentos
digitais em todo o mundo.
CH: Parece uma ótima oportunidade,
mas como garantir
que essa transição seja inclusiva?
Você falou nas pessoas mal atendidas
pelo setor bancário tradicional.
Como podemos garantir que elas
tenham essa oportunidade?
E parece que um smartphone
torna-se um item essencial.
Como lidamos com isso?
DS: Acho mesmo que um celular
é a chave para destravar isso.
Sempre disse que uma das grandes sacadas
para o setor de serviços financeiros
é a ideia não só da inclusão financeira.
A maioria das pessoas a define
como ter acesso a uma conta bancária,
mas apenas isso não é suficiente.
Acho que precisamos visar
como pensamos em saúde financeira.
Como podemos garantir que as pessoas
tenham alguns meios
para criar economias e suportar algum tipo
de choque financeiro no sistema?
Eu acho que os telefones celulares
serão a maneira disso ocorrer
e será muito inclusivo daqui para frente.
Haverá algo como 6 bilhões
de smartphones no mundo
nos próximos anos.
O custo de um smartphone está despencando.
Acho que na Índia dá para comprar
um smartphone por menos de US$ 25.
Então você terá onipresença
de smartphones no mundo todo,
e é muito interessante que,
em populações de baixa renda,
há uma maior penetração de smartphones
do que nas de renda mais alta,
porque é o único dispositivo que possuem.
Indivíduos de alta renda
podem ter computadores ou iPads,
esse tipo de coisa, mas os de renda baixa
podem comprar só um dispositivo
e eles escolhem um smartphone,
porque podem viver com esse dispositivo.
E se pensarmos nele,
temos todo o poder
de uma agência bancária
na palma da mão.
E quando conseguimos começar a criar
a distribuição de serviços financeiros
através de um smartphone,
somos capazes de gerenciar
e movimentar dinheiro
de formas que não podíamos
fazer tradicionalmente.
No mundo físico, quem recebe um cheque
precisa ir a um local de verificação
de dinheiro para trocá-lo.
Fica na fila por 30 minutos.
Eles cobram entre 2 e 5%
só pra mudar o formato da moeda
de um cheque para dinheiro.
E então você deseja pagar uma conta.
Precisa ficar na fila novamente num caixa,
e tem que pagar talvez US$ 10
de taxa para uma conta individual.
Usando um smartphone,
acredito que economizamos muito tempo.
Fora do sistema financeiro,
gerenciar e movimentar dinheiro
é praticamente um trabalho de meio período
para fazer tudo isso.
Assim, não só economizamos tempo
e o devolvemos às pessoas,
mas dá para reduzir o custo das transações
entre 50 e 75%.
E lembra-se do número
de US$ 140 bilhões que dei?
Apenas nos EUA.
Imagine se pudesse cortar isso pela metade
e devolver às populações
mais vulneráveis que tanto precisam.
Então, acho que há uma tremenda
promessa no uso da tecnologia
para ajudar a fornecer tanto a inclusão,
garantindo que não haja discriminação,
mas também para começar
essa jornada rumo à saúde financeira.
CH: Acho que muitas pessoas não percebem
que não precisa de conta bancária
ou cartão de crédito
para abrir uma conta do PayPal,
o que é superinteressante.
Você vê uma época em que bancos
tradicionais não existem,
ou ao menos desempenham um papel bem menor
no setor de serviços financeiros?
DS: Todo o setor de serviços financeiros
está evoluindo agora,
e acho que bancos sempre terão um papel,
pelo menos no futuro que consigo imaginar,
mas vão evoluir.
Pense em cartões de crédito básicos.
Hoje, pensamos em um cartão de crédito
predominantemente como algo físico,
que você tira do bolso.
Às vezes, há um status associado a isso,
dependendo da cor do cartão de crédito.
Mas acho que esses formatos
físicos começam a desaparecer
e a tornar-se embutidos
em carteiras digitais.
Portanto, o crédito sempre
será um elemento importante.
Para a maioria das pessoas no mundo,
as despesas delas não excedem as receitas.
Só que não são distribuídas uniformemente.
Há momentos em que as saídas
excedem as entradas,
e aí você precisa de algum tipo de crédito
para compensar essa diferença.
Portanto, acho que as formas de crédito
sempre serão um elemento importante.
Mas a forma de concedê-lo
mudará daqui para frente,
o método que classifica as pessoas
em termos de quem tem direito ao crédito.
Tradicionalmente,
em países mais desenvolvidos,
usamos o que chamamos
de pontuações "FICO" ou "bureau scores",
mas elas ignoram muitas
das transações financeiras
que estão fora desse sistema,
como pagar aluguel ou as contas em dia.
Com os dados, informações
e o aprendizado de máquina
precisamos ter cuidado
pra que não haja preconceitos
incorporados nesses algoritmos.
Podemos começar a fazer
coisas que nunca fizemos.
Vou apenas dar um exemplo rápido.
Somos um dos maiores fornecedores
de capital de giro para pequenas empresas
no mundo.
Provavelmente somos um dos cinco
primeiros nos Estados Unidos.
Demos mais de US$ 14 ou US$ 15 bilhões
em empréstimo de capital de giro
para pequenas empresas.
Disso, 70% vai para os 30% dos municípios
onde 10 ou mais bancos
têm fechado algumas agências.
E onde os bancos fecham agências?
Nos bairros onde a renda média está abaixo
da estabelecida pelo governo nacional,
o que faz sentido, pois,
para uma agência ser rentável
ela precisa de uma certa
quantidade de depósitos
para que valha a pena.
E assim, em bairros de baixa renda,
as agências estão começando a fechar.
Por que 70% de nossos empréstimos
estão nesses bairros de baixa renda?
Porque usamos aprendizado de máquina.
Não observamos as pontuações
FICO ou das agências.
Analisamos vários elementos
de dados diferentes.
E assim podemos emprestar
para os bairros de baixa renda
onde mais ninguém pode,
e quando fazemos isso,
a venda média de uma pequena
empresa aumenta 22%.
Imagine o impacto em comunidades e bairros
onde podem obter o capital de giro
para expandir essas pequenas empresas.
É um exemplo perfeito da promessa
do que a tecnologia juntamente
com os serviços financeiros podem fazer.
CH: Acho muito interessante
e estou curiosa.
A indústria de tecnologia é criticada
por acumular poder sobre a sociedade,
não que o setor bancário
não seja criticado,
mas o que você diz sobre pessoas
que possam estar preocupadas
com empresas de tecnologia assumindo
ainda mais influência e controle
sobre o que acontece na vida delas?
DS: É muito importante
para qualquer empresa,
e para as de tecnologia
respeitar os limites
em termos do que os consumidores
esperam de uma empresa que os atende.
O atributo de marca mais importante
de uma empresa é a confiança,
que vem da compreensão
de que deve haver respeito
pela privacidade das pessoas
e de que ela não venderá
os dados ou informações delas,
realizará transações de forma segura
e que elas serão protegidas.
São coisas fundamentais
e qualquer empresa precisa respeitar isso.
Precisam garantir que os consumidores
tenham a privacidade que eles desejam
e a segurança necessária
para servi-los da maneira certa.
CH: Obviamente, você ganhou muita
confiança com o governo dos EUA.
Talvez possamos conversar um pouco
sobre como tem trabalhado com eles
para distribuir dinheiro através
do Paycheck Protection Program.
E eu estava curiosa,
tenho lido sobre isso e parece
que cerca de 30 milhões de pequenas
empresas nos Estados Unidos
podem obter esses fundos,
mas apenas 6 milhões
receberam os empréstimos.
O que você acha que tem acontecido?
DS: Inicialmente, o governo,
e eu lhes dou muito crédito,
respondeu muito rapidamente
com um pacote de estímulo
de US$ 3 trilhões.
São números enormes que aconteceram
em prazos muito condensados.
Estávamos trabalhando com várias agências,
muito junto ao Departamento do Tesouro,
em termos de distribuição do estímulo.
E eles estavam trabalhando
literalmente noite e dia nisso.
A Small Business Administration
estava trabalhando dia e noite.
Mas esses são números
que nunca foram vistos
antes por esses sistemas,
e a primeira parcela desses empréstimos
foi muito difícil.
Houve muitas dificuldades técnicas
em levá-la às pequenas empresas.
Essa primeira parcela não foi suficiente,
foi rapidamente usada
e ainda havia muitas pequenas empresas
que precisavam de dinheiro.
A segunda parcela que foi disponibilizada
ainda está ativa.
Não foi totalmente consumida
e continuamos a emprestar com ela.
Conseguimos emprestar para cerca
de 50 mil pequenas empresas.
Emprestamos cerca de US$ 1,7 bilhões
e o porte do nosso empréstimo,
do qual realmente me orgulho,
é de cerca de US$ 31 mil.
A média que um banco empresta
é entre US$ 100 e 125 mil.
Estamos emprestando
para pequenas empresas
em áreas com grande atividade comercial,
tenho orgulho de conseguirmos fazer isso,
devemos dar crédito ao governo dos EUA
e outros governos ao redor do mundo
que estão levando isso muito a sério
e usando uma tremenda
porcentagem do próprio PIB
para o resgate de pequenas empresas
e no sentido de tentar
cuidar dos consumidores
que se encontram em dificuldades agora.
E estamos tentando algo:
em vez enviar cheques às pessoas,
o que é ridículo no mundo de hoje,
pois elas não estão morando
onde gostariam de estar,
estão com os pais, amigos
ou em um local diferente.
Enviar um cheque e fazer
com que a pessoa tenha que ir sacá-lo
que talvez nem possa ir,
pois precisa permanecer onde está...
Cuidar disso eletronicamente
faz muito mais sentido.
Temos trabalhado
com a Receita Federal, o Tesouro
e outras agências governamentais
para distribuir o auxílio eletronicamente.
CH: Sim, isso faz muito sentido.
É um projeto enorme para todos nós.
Whitney está aqui com perguntas
da nossa comunidade.
DS: Olá, Whitney.
Whitney Pennington Rodgers:
Olá Dan. Como você está?
A comunidade tem perguntas interessantes
seguindo o que você falava
anteriormente sobre segurança.
Temos uma pergunta do Marc,
peço desculpas antecipadamente
se pronunciar o nome errado,
Marc Vanlerberghe:
"O dinheiro digital pode ser mais um passo
para o estado perfeito de vigilância.
Como evitamos que isso aconteça?"
DS: É disso que eu falava antes, Marc.
Acho que essa ideia de confiança
é incrivelmente importante.
As únicas empresas que terão sucesso...
e temos muito em nossas mãos
como consumidores, a propósito.
Precisamos estar cientes dos dados
e informações que estamos disponibilizando
e para quais empresas.
As empresas com um alto grau
de confiança serão bem-sucedidas,
protegendo a privacidade,
mas também assegurando
que transações no mundo digital
sejam seguras e protegidas.
A ideia de segurança cibernética
tem sido sempre importante,
mas é cada vez mais à medida
que passamos do físico para o digital,
e é aí que grandes conjuntos
de dados são importantes,
porque a identidade de um consumidor
é roubada a cada dois segundos.
A cada dois segundos, um consumidor
tem a identidade roubada.
Por exemplo, temos que ter certeza
de que quando você faz o "login"
com suas credenciais,
que elas sejam reais.
Analisamos de 30 a 100 elementos
diferentes dessa transação
para nos certificar de que é você mesmo,
antes de deixarmos
esse dinheiro sair da conta.
E há uma combinação de garantir
que você tenha dados suficientes
para proteger alguém,
mas também de manter
a privacidade sacrossanta,
um ato de equilíbrio
e que precisa acontecer
para que possamos fazer isso com sucesso.
WPR: Ótimo, indo do dinheiro
digital à moeda digital,
temos outra pergunta de Simone Ross
sobre a oportunidade
que existe para a moeda digital.
Ela mencionou que o PayPal
se retirou do projeto "Libra".
"O que seria preciso pra uma moeda digital
realmente inclusiva se estabelecer aqui?"
DS: Há realmente muitas promessas
quando pensamos em moedas digitais.
Nossa saída do projeto Libra
não teve nada a ver
com a nossa firme convicção
de que "blockchain" e outras formas
de moedas possivelmente estáveis,
são extremamente importantes
e podem ser muito úteis,
especialmente em diferentes
partes do mundo.
Ao pensarmos em estabilidade
em diferentes partes do mundo
onde as moedas podem flutuar
para cima e para baixo,
ter uma moeda mais estável,
garante às pessoas
que algo terá um certo custo
e que elas possam negociar,
seja com outras pessoas ao redor do mundo
ou, principalmente,
com comerciantes do mundo todo.
Estamos checando todas as formas
de moedas digitais agora,
trabalhando de mãos dadas
com vários governos diferentes,
e acho que todos devemos pensar
em como a tecnologia
e as moedas evoluirão
como resultado disso.
E acho que essa crise abriu os olhos
de muitos governos ao redor do mundo
quanto à necessidade de diferentes
conjuntos de ferramentas
para criar estímulo
e distribuir fundos de maneira
eficiente, rápida e eficaz
para os seus cidadãos.
WPR: Voltarei em breve
e gostaria de lembrar à comunidade
que vocês podem fazer perguntas
na opção "Fazer pergunta".
Certifiquem-se de usar a aba suspensa
para selecionar o Episódio 2,
para recebermos a pergunta.
Obrigada.
DS: Obrigado, Whitney.
CH: Obrigada, Whitney.
Dan, quero voltar para algo
que tocamos no começo
sobre bem-estar financeiro.
O PayPal fez algo único
no cálculo de quanto
pagar aos funcionários
e quanto gastar em benefícios.
Os salários costumam
ser fixados pelo mercado,
mas você descobriu que pagar igual
ou mais do que outras empresas
nem sempre era suficiente.
Você pode nos contar sobre esse momento?
DS: Sim.
Eu disse numa das minhas
declarações de abertura
que dois terços dos americanos
têm dificuldades para se manter
até o fim do mês.
Eles estão estressados financeiramente
e isso causa problemas na vida deles.
Fiz um estudo para analisar
os funcionários do PayPal.
Fizemos uma pesquisa,
porque achei que teria
uma ótima informação
da qual eu falaria
numa reunião de funcionários
sobre como eles ganham bem,
pois pagamos no valor de mercado
ou acima dele em todos os locais do mundo.
Descobri que, infelizmente,
como no resto do mundo,
mesmo pagando o valor
de mercado ou acima dele,
60% de nosso pessoal de operações,
nossos funcionários iniciantes,
os que trabalham por hora,
enfrentam a mesma situação:
eles passam dificuldades para se manter.
E isso foi simplesmente
inaceitável para mim.
Eu acho que o mundo está mudando
em termos de responsabilidade
das corporações
e dos CEOs.
Temos muitas partes interessadas
diferentes que tentamos satisfazer,
de reguladores a acionistas,
de clientes a funcionários.
Mas nossa responsabilidade número um
é a saúde financeira dos funcionários,
porque nada poderia ser
mais importante para uma empresa
do que ter funcionários dedicados
e financeiramente seguros,
e ninguém vai atender clientes
melhor do que funcionários
que se sentem parte de algo,
seguros financeiramente
e felizes por fazer parte dessa empresa.
A verdadeira questão se torna:
como você mede isso?
Porque muitas pessoas pensam
em salário digno ou mínimo.
Achávamos que isso era insuficiente
e criamos uma medida que chamamos
de "renda disponível",
que é basicamente:
depois de pagar impostos
e despesas básicas essenciais,
quanto dinheiro sobra
para gastos arbitrários
ou para guardar?
Eis o fato realmente infeliz,
e não tenho orgulho disso,
mas lembre-se, pagávamos
o valor de mercado ou acima,
então pensei que o mercado cuidaria disso.
Descobrimos que essa população
tinha de 4 a 6% de renda disponível,
depois de pagar impostos
e despesas essenciais.
Isso não basta; você vai
ter dificuldade para se manter.
A propósito, a renda disponível muda
de local para local no mundo todo.
Há uma renda disponível diferente
em Manila, Omaha, Nebraska,
do que na cidade de Nova York, etc.
Basicamente dissemos para nós mesmos
que precisávamos elevar
a renda disponível para 20%.
Porque em 20%,
e essa é uma grande mudança,
de 4 a 6% para 20%,
mas com 20%, dá para economizar dinheiro,
gastar e cuidar de despesas arbitrárias.
E então fizemos uma reorientação massiva
dos nossos sistemas de remuneração.
Reduzimos o custo dos benefícios em 58%,
porque são como um imposto regressivo:
você paga a mesma quantia,
independentemente do salário.
Tínhamos muitos funcionários que não
recebiam benefícios de assistência médica,
porque custa muito poder fazer isso.
Então reduzimos em 58%.
Tornamos todos os funcionários
do PayPal acionistas
e proprietários da empresa,
e demos a eles grandes subsídios
para que possam fazer parte
do sucesso do PayPal no futuro.
Aumentamos os salários o necessário.
E então juntamos tudo isso
num programa de educação financeira,
porque eles nunca tiveram
ações antes, estavam pensando:
"Como economizar agora
que tenho mais dinheiro?"
E isso nos custou bastante dinheiro,
mas eu realmente sinto,
assim como gastamos muito dinheiro
para cuidar dos clientes,
como você mencionou antes, com a COVID-19,
as empresas precisam se comprometer
com mais do que apenas ganhar dinheiro,
mais do que apenas maximizar
seus lucros no próximo trimestre.
Eu acredito firmemente
que os custos associados
ao cuidado dos funcionários
e de nossos clientes
nos beneficiará a longo prazo
com o dobro dos custos associados a isso.
E já estamos começando
a ver parte do impacto disso.
Acho que todo CEO, toda empresa,
precisa realmente agora começar a pensar,
especialmente como resultado dessa crise,
mas como mencionei,
tivemos uma crise antes dessa,
em como colocar nossos funcionários
em primeiro lugar e cuidar deles.
Porque se fizermos isso,
cuidaremos dos clientes
e, inevitavelmente,
cuidaremos dos acionistas.
E isso tem sido uma grande parte disso
no último ano ou mais.
CH: Isso é interessante
e traz muitas perguntas,
para mim e provavelmente
nossa comunidade também.
O PayPal é um negócio de tecnologia
extremamente lucrativo,
com enorme fluxo de caixa livre
e grandes margens.
Você acha que esse modelo é algo
que toda empresa pode seguir,
seja uma empresa de tecnologia,
uma fábrica, um frigorífico?
É nisso que todos devem se concentrar?
DS: Não quero moralizar
ou dizer a outras empresas o que fazer,
mas acho que todos deveriam entender
a saúde financeira dos funcionários.
Isso é uma coisa básica a ser feita.
O que fazer depois disso
depende da força financeira da empresa
ou da ordem de prioridades.
Mas eu descobri
que eu achava que o mercado podia me dizer
e é por isso que digo, de várias maneiras,
acredito muito no capitalismo.
Acho que é, de várias maneiras,
o melhor sistema econômico que eu conheço.
Mas, como tudo, precisa de atualização.
Precisa de ajustes,
e pelo menos para populações vulneráveis,
só porque você paga pelo valor de mercado,
não significa que tenham saúde
ou bem-estar financeiros.
E acho que todos deveriam saber
se seus funcionários têm ou não
os recursos necessários para economizar,
para suportar choques financeiros,
e então realmente entender
o que pode ser feito a respeito.
Acho essa medida da renda disponível
realmente interessante.
Demora algum tempo para se concretizar,
porque é preciso ser bem cuidadoso
e entender realmente
as despesas de moradia por local
e as jurisdições fiscais.
Mas é preciso criar uma renda disponível
de um certo nível
no qual as pessoas não tenham
dificuldade para se manter.
Porque nesta condição, as pessoas
não são tão produtivas no trabalho.
Ficam preocupadas com os filhos:
"Meu filho ficou doente.
Não tenho seguro de saúde".
Eu acho que ocorre uma espiral.
Você acha que está economizando dinheiro
pagando menos,
mas a realidade é,
pelo menos no meu sistema de crenças,
você cuida dos funcionários
e outras coisas fluem naturalmente disso.
Eles são mais produtivos.
Adoram fazer parte dessa empresa.
Eles cuidam melhor dos clientes.
E tudo isso inevitavelmente resulta
no benefício da empresa
no atendimento ao mercado final.
Mas começa com os funcionários.
CH: Obviamente, você acredita
que o capitalismo precisa de atualização,
e acho que a renda disponível é algo
que muitas empresas devem adotar.
Mas você acha que isso acontece por meio
de atividade corporativa benevolente?
Estou apelando para o meu lado
"Bernie Sanders interior",
mas acho que muitos ficariam céticos
de que devamos confiar nas empresas
para fazer o melhor neste momento.
Será que o governo deve intervir
para aumentar os salários mínimos,
fazer outras coisas pra proteger
trabalhadores de forma mais estruturada?
DS: O governo claramente
tem um papel a desempenhar
e acho que os setores público e privado
precisam trabalhar juntos
para resolver muitos dos problemas
que enfrentamos nas sociedades do mundo,
seja a desigualdade de renda,
problemas ambientais,
saúde,
proteções, privacidade.
Mas minha opinião
é de que é muito difícil
para os governos regularem isso,
porque há muitas maneiras
diferentes de pensar a respeito.
Se eu fosse um outro CEO,
é realmente do seu interesse
fazer isso,
porque é uma vantagem competitiva.
Nós atraímos, eu acho,
alguns dos melhores talentos do mundo
para o PayPal,
porque temos uma missão
na qual as pessoas acreditam,
estamos tentando fazer
algum tipo de diferença positiva.
Não estou dizendo que somos
o que há de melhor,
mas não acho que as pessoas devam
se esquivar das responsabilidades
de pelo menos fazer uma pequena
diferença daqui para frente.
Se um número suficiente de empresas
e de governos fizesse isso,
faria uma diferença real no mundo.
E então a segunda coisa é
ter valores que apoiem isso.
Eles são incrivelmente importantes,
devem tratar de inclusão
e ter uma força de trabalho diversificada.
Eles devem tratar de bem-estar financeiro.
Quando você faz isso
e atrai os melhores talentos,
então, por definição,
a única maior vantagem competitiva
para qualquer empresa
é a força de trabalho.
Estratégias são ótimas.
Muitas coisas são importantes.
Se você tem uma ótima força de trabalho
apaixonada pelo que está fazendo
e financeiramente segura,
eles farão coisas incríveis.
É esse tipo de vantagem competitiva
que estimulará as empresas.
Então, precisa haver
um conjunto de CEOs e empresas
que comecem a se mover nessa direção,
e acredito que veremos mais disso.
E uma vez que isso acontece,
começa a inclinar tudo,
e acho que cada vez mais precisam fazê-lo
para manter o posicionamento competitivo.
Os motivos pelos quais as pessoas
fazem isso podem parecer egoístas,
mas honestamente,
não me importo se fazem por bondade
ou porque é uma desvantagem
competitiva se não o fizerem.
O objetivo é criar saúde financeira
para nossos funcionários
e temos que fazer isso.
CH: Sim.
Parece que você pensa nisso
como vantajoso para ambas as partes,
mas também parece estar disposto
a pensar nos seus funcionários primeiro
e em vender para seus acionistas depois.
Desculpe, pode falar.
DS: Eu só ia dizer,
na verdade, acredito nisso
e acho que a ideia
de um capitalismo multissetorial
é a resposta hoje
e não podemos simplesmente pensar
que temos uma parte interessada
que precisamos satisfazer.
Vivemos em nossas comunidades,
vivemos neste mundo.
Ter pessoas passando dificuldades
dia após dia não é bom
para nenhuma empresa.
Podemos alcançar uma quantidade,
mas podemos criar saúde financeira
para nossos funcionários,
e deveríamos.
WPR: Ótimo. Temos muitas perguntas
vindas da comunidade.
Uma aqui é de Lara Pearson,
basicamente sobre se o PayPal
consideraria se tornar uma Empresa B.
"Você está familiarizado
com o movimento de Empresa B,
ambiental e socialmente responsável,
com múltiplos resultados financeiros?
Presumindo que sim,
o PayPal considera ou consideraria
se tornar uma Empresa B certificada?"
DS: Estou familiarizado com a Empresa B.
Não temos intenção de mudar
para nos tornarmos uma Empresa B.
Os valores e o que estamos tentando fazer
estão bem alinhados com a garantia
de um ponto de vista multissetorial,
mas o que eu realmente quero
é que isso seja um movimento
nas principais corporações no mundo todo.
Não haverá grandes corporações
ao redor do mundo
mudando para Empresa B.
Há muitas outras questões
secundárias envolvidas
quanto a ser uma Empresa B em vez
de uma empresa de capital aberto,
e assim será um longo caminho
antes que isso aconteça.
Eu, na verdade, estou tentando
incentivar e demonstrar
que ser multissetorial,
colocar os funcionários em primeiro lugar,
cria uma vantagem competitiva.
E acho que não sou o único CEO
sentindo isso, a propósito.
Pessoas como Satya Nadella, da Microsoft,
estão fazendo um ótimo trabalho,
Marc Benioff, da Salesforce.
Poderia passar uma longa lista de nomes,
mas ela ainda não é longa o suficiente.
Acho que há nomes bastante importantes
e indivíduos ao redor do mundo
que agora estão falando
sobre capitalismo multissetorial,
e acho que esse é um elemento importante
quando pensamos em nossas economias
e o modo de vida daqui para frente.
WPR: Houve muito interesse também
no programa de renda disponível líquida
e muitas perguntas sobre isso,
como a de Juan Enriquez
sobre uma maneira racional de lidar
com disparidades extremas de renda.
E talvez você possa expandir
para além deste programa,
apenas uma maneira de pensarmos sobre isso
de um jeito mais inteligente de avançar.
DS: Sim.
Não há solução fácil,
ou já teria sido feito.
Acho que há algumas coisas em que penso
que podem não resolver completamente
as disparidades extremas de renda.
Mais uma vez, tento considerar
isso com enfoque pragmático
e pensar no que podemos fazer
para começar a resolver isso.
E, novamente, eu penso
que se pudéssemos dar
um passo após o outro,
então estaremos começando a jornada,
sem nos sobrecarregarmos
com a distância até o final.
Então, acho que as empresas
precisam cuidar dos funcionários,
o que ajudará imediatamente a resolver
algumas dessas disparidades de renda.
Número dois,
ironicamente, se você tem menos dinheiro,
custa mais para gerenciar e movê-lo.
Mas pensem nisso:
quanto menos dinheiro tiver,
se estiver fora do sistema financeiro,
mais você gasta pra gerenciá-lo e movê-lo.
E eu acho que a tecnologia
é pelo menos uma maneira
fundamental de pensarmos
em como cortamos os custos básicos de
gerenciamento e movimentação de dinheiro
em 50 a 70%,
como descontar cheques,
envio de remessas,
que são uma parte tão grande
e importante da economia mundial.
Você faz da maneira tradicional,
entra em uma loja,
envia a remessa de dinheiro pra outra loja
e alguém vai buscá-la.
Primeiro de tudo, isso é muito demorado,
e pode custar entre 8 e 12%
do valor que você está enviando.
Então, se estiver enviando US$ 100,
o destinatário que tanto precisa deles
estará recebendo de US$ 88 a 90.
Se você fizer isso eletronicamente,
de carteira digital para carteira digital,
pode custar 3%,
então pode obter US$ 97.
Existem maneiras de lidar com os custos.
Como mencionei,
há muito dinheiro gasto
em custos desnecessários
e altas taxas de juros,
e se pudermos reduzir isso em 20%, 30%,
a quantidade de dinheiro que retornaremos
às populações vulneráveis é bem grande
e começará a fazer a diferença.
WPR: Isso é ótimo, temos
muitas perguntas da plateia,
só mais uma antes de voltarmos
para Corey com as perguntas finais.
Esta é de Anna Tunkel,
chegando ao final da entrevista:
"Sobre o que você está mais otimista
e quais são as maiores oportunidades
para 'Building Back Better' após a COVID?"
DS: Algo que me deixa realmente otimista
é que sempre acreditei no espírito humano
e o poder de um indivíduo
para fazer a diferença.
Sei que isso soa muito clichê,
mas realmente acredito nisso,
e acho que cada um de nós
pode fazer a diferença.
Mas eis o que estou vendo.
Estou começando a ver isso
em uma escala muito maior
do que eu já vi antes.
Temos plataformas diferentes,
PayPal ou Venmo,
Venmo aqui nos EUA, PayPal no mundo todo.
A quantidade de doações acontecendo
através dessas plataformas,
seja para empresas locais,
artistas, músicos,
para garçons, locais de culto, escolas,
para ONGs, para instituições de caridade,
explodiu na plataforma.
Ajudamos a arrecadar
na plataforma PayPal,
desde que a COVID-19 surgiu,
US$ 2,8 bilhões para ONGs
e instituições de caridade;
US$ 2,8 bilhões.
É incrível a demonstração
de generosidade vindo
da comunidade global em torno disso.
E estamos vendo pessoas
retribuindo aleatoriamente.
Alguém dá US$ 20 a um garçom,
ele pega US$ 10 e dá para outra pessoa.
Estamos vendo isso em nossa plataforma
e me dá uma sensação de otimismo.
Eu também sinto que este período de tempo
expôs várias coisas que aconteciam,
mas eram invisíveis,
e quando elas se tornam visíveis,
podemos começar a abordá-las,
e acho que há muita atenção para assuntos
que deviam ter tido atenção antes,
mas populações vulneráveis não têm
a voz tão alta quanto as outras,
e agora essa voz está sendo ouvida,
porque não dá para ignorá-la.
E espero que isso crie um progresso
contra algumas desigualdades estruturais
que temos visto há muito tempo.
WPR: Isso é maravilhoso
e há muito interesse on-line.
Você tem outras perguntas a fazer também.
CH: Temos mais uma da nossa comunidade
de Jacqueline Ashby.
Anna roubou minha última pergunta,
que era sobre restaurar
a fé na humanidade.
Mas há muito interesse
em relação à renda disponível:
"Existe uma maneira
das pessoas aprenderem mais,
você pode compartilhar
seu estudo e metodologia?"
DS: Fico feliz em fazê-lo.
Não há nada de exclusivo nisso.
Essa pode não ser a melhor medida.
É a melhor que "nós" pudemos criar,
mas trabalhando na comunidade,
podemos evoluí-la e pensar
em talvez coisas que faltaram
ou que poderiam ser feitas de modo melhor,
isso seria fantástico.
Eu não sei a melhor maneira de fazer.
Vou deixar para Corey e Whitney
me ajudarem a pensar sobre isso,
mas claro que estaríamos
dispostos a compartilhar.
Não há nada sobre isso
que eu não queira dividir.
CH: Parece uma boa palestra TED.
Muito obrigada, Dan.
Foi uma conversa superinteressante.
Poderíamos conversar por mais uma hora,
mas muito obrigada por estar aqui.
DS: Obrigado, Corey.
Obrigado Whitney. Obrigado a todos.
WPR: Obrigada, Dan.