Outono passado, Eric Brynjolfsson
e eu publicamos nosso livro
"Race Against The Machine"
e nos juntamos a uma discussão vibrante.
Porque, pelo que parece,
quando dezenas de milhões de pessoas
estão desempregadas, ou subempregadas,
há bastante interesse no que a tecnologia
pode fazer com a força de trabalho.
Quando ouço essa conversa,
percebo que está focada no assunto certo,
mas, ao mesmo tempo,
não está falando do que importa.
O foco do assunto é:
essas tecnologias digitais estão
afetando o ganha-pão das pessoas?
Em outras palavras, os androides
estão pegando nosso emprego?
Há algumas evidências de que estão.
A Grande Recessão acabou
quando o PIB norte-americano voltou
à sua lenta, mas certa, marcha ascendente,
alguns indicadores econômicos
começaram a se restabelecer
e ficaram saudáveis rapidamente.
O lucro das grandes empresas está alto.
Se incluirmos os lucros dos bancos,
estão mais altos do que nunca.
E o investimento em instalações:
equipamentos, hardware e software,
está em seu ápice.
As empresas estão investindo.
Mas não estão contratando gente.
Essa linha vermelha
é a proporção de emprego-população,
isto é, a porcentagem de pessoas
economicamente ativas nos EUA
e que estão trabalhando.
Vemos que despencou
durante a Grande Recessão
e ainda não começou a reagir.
Mas essa história não é só sobre recessão.
A década que acabou de passar
teve aumento fraco de postos de trabalho,
especialmente se comparada
com décadas passadas.
Nos anos 2000, registrou-se a única vez
em que uma década terminou
com menos gente trabalhando
do que em seu início.
Isso não é o que queremos ver.
Quando se põe no gráfico
a quantidade de empregados potenciais
versus a quantidade de postos
de trabalho no país,
vemos a lacuna ficar cada vez maior,
e durante a Grande Recessão,
abriu-se de forma gigantesca.
Fis uns cálculos rápidos.
Peguei os últimos 20 anos
do crescimento do PIB
e os últimos 20 anos
do crescimento trabalho-produtividade
e usei de uma forma bem simples
para projetar quantos postos a economia
precisaria ter para continuar crescendo.
Foi isso que encontrei.
Isso é bom ou ruim?
Essa é a projeção do governo
para a população economicamente ativa.
Se as previsões forem precisas,
a lacuna não vai fechar.
A questão é: não acho que sejam precisas.
Particularmente, acho minha
projeção muito otimista,
porque, quando a fiz,
estava presumindo que o futuro
seria muito parecido com o passado,
com aumento do trabalho-produtividade.
Mas não acredito nisso.
Quando olho em volta,
acho que ainda não temos noção
do impacto da tecnologia
na força de trabalho.
Nos últimos anos,
vimos ferramentas digitais
demonstrar habilidades
que nunca tiveram antes
e que tomam grande parte do que nós,
humanos, fazemos como ganha-pão.
Vejamos alguns exemplos.
Antigamente, se precisássemos
de tradução de uma língua para outra,
era preciso recorrer a um ser humano.
Agora, temos serviços
instantâneos, poliglotas
e automáticos de tradução
disponíveis gratuitamente,
por meio de nossos dispositivos,
inclusive nossos smartphones.
E se já usaram esses serviços,
sabem que não são perfeitos,
mas dão para o gasto.
Antigamente, se precisássemos
de algo escrito, um relatório ou artigo,
era necessário contratar alguém.
Não é mais assim.
Um artigo que apareceu
na Forbes online, faz um tempo,
sobre os ganhos da Apple,
foi escrito por um algoritmo.
Não dá para o gasto: está perfeito.
Muitos olham e dizem:
"Mas são tarefas muito
específicas e limitadas.
A maioria dos que trabalham
com conhecimento são generalistas.
Eles têm muita experiência e conhecimento
e usam isso para reagir, em tempo real,
a demandas meio imprevisíveis
e isso é bem difícil de automatizar".
Uma das pessoas mais notáveis
que trabalham com conhecimento
dos últimos tempos, Ken Jennings,
ganhou o quiz "Jeopardy!"
74 vezes seguidas.
Ele levou para casa US$ 3 milhões.
O Ken é o da direita,
perdendo de três a um,
para Watson, um supercomputador
da IBM feito para jogar Jeopardy.
Diante do que a tecnologia pode fazer
com generalistas do conhecimento,
penso que talvez não haja
nada de tão especial
com essa ideia de ser generalista.
Especialmente se fizermos algo
como ligar a Siri ao Watson
e as tecnologias começarem
a entender o que falamos
e a falar de volta conosco.
A Siri está longe da perfeição,
e podemos sacanear suas falhas,
mas devemos ter em mente:
se tecnologias como Siri e Watson
se aprimorarem segundo a lei de Moore,
e elas vão,
em seis anos, não estarão só
duas ou quatro vezes melhor,
mas 16 vezes melhor do que são agora.
Então acho que muito dos trabalhos
com conhecimento serão afetados.
Mas as tecnologias digitais
não influenciam só isso.
Elas começam a mostrar sua força
no mundo físico também.
Algum tempo atrás, pude andar
no carro autônomo do Google,
que é tão irado quanto parece,
(Risos)
E juro que conseguiu lidar
com o trânsito da estrada US 101
sem problemas.
Há cerca de 3,5 milhões
de pessoas dirigindo caminhões
como trabalho, nos EUA.
Alguns serão afetados por essa tecnologia.
Androides ainda são muito primitivos.
Não conseguem fazer muita coisa.
Mas estão se aprimorando rapidamente
e o "DARPA", braço de investimento
do Ministério de Defesa,
está tentando acelerar esse progresso.
Em suma: os androides estão
sim atrás de nossos empregos.
No curto prazo, podemos
estimular o crescimento do trabalho
ao encorajar o empreendedorismo
e investindo em infraestrutura,
porque os robôs ainda
não conseguem consertar pontes.
Mas no futuro não tão distante,
acho que no tempo de vida
da maioria das pessoas nessa sala,
haverá a transição
para uma economia muito produtiva,
mas que não precisa
de muitos trabalhadores humanos.
Gerir essa transição será o maior desafio
enfrentado por nossa sociedade.
Voltaire resumiu o porquê. Ele disse:
"O trabalho salva de três grandes males:
tédio, vício e necessidade".
Apesar desse desafio,
ainda sou um otimista digital,
e estou muito confiante
que as tecnologias digitais
desenvolvidas hoje
vão nos levar para um futuro utópico,
não um futuro distópico.
Para explicar, farei uma pergunta
ridiculamente aberta.
Vou perguntar:
"Quais foram os desenvolvimentos
mais importantes na história humana?"
Quero compartilhar algumas
das respostas que recebi a essa pergunta.
É uma pergunta maravilhosa para
começar um debate sem fim,
porque algumas pessoas vão mencionar
sistemas filosóficos,
do ocidente e do oriente,
que mudaram muito a forma
como pensamos sobre o mundo.
Outros vão dizer:
"As grandes histórias,
os grandes desenvolvimentos,
foram as fundações das maiores religiões,
que transformaram civilizações,
e cuja influência mudou
como um número incontável
de pessoas vivem suas vidas".
Algumas outras pessoas vão dizer:
"Na verdade, o que transforma civilizações
e muda as vidas das pessoas
são os grandes impérios;
os grandes desenvolvimentos
da história da humanidade
são histórias de conquista e de guerra".
Aí vem um que pensa positivo e diz:
"Ei, não esqueça das epidemias!"
(Risos)
Há algumas respostas
otimistas para a pergunta.
Alguns mencionam a Era dos Descobrimentos
e a expansão do mundo conhecido.
Outros falam das conquistas intelectuais
em ramos como a matemática,
que nos ajudou a lidar melhor com o mundo.
Outros falam de períodos
de grande prosperidade
das artes e das ciências.
O debate segue.
É um debate sem fim
e não há uma resposta definitiva.
Mas se você é "geek" como eu,
vai dizer: "O que dizem os dados?"
E começo a fazer coisas
como gráficos de coisas
pelas quais nos interessemos,
pelas quais toda a população
mundial se interessa, por exemplo;
ou avaliar o índice
de desenvolvimento social,
ou do nível de avanço de uma sociedade.
Começo a fazer o gráfico com os dados,
pois com essa abordagem
as grandes histórias,
os grandes desenvolvimentos
é que vão influenciar bastante a curva.
Então, ao fazer isso, ao fazer o gráfico,
rapidamente se chega
a conclusões estranhas.
Na verdade, conclui-se
que nada disso importou muito.
(Risos)
Não influenciaram quase nada nas curvas.
Há uma história, um desenvolvimento,
na história da humanidade
que alterou a curva em quase 90 graus.
É uma história sobre tecnologia.
O motor a vapor, e outras tecnologias
associadas da Revolução Industrial,
mudaram o mundo
e influenciaram tanto a história,
que, como diz o historiador Ian Morris:
"(...) elas ridicularizaram
tudo o que veio antes".
Conseguiram fazer isso ao multiplicar
infinitamente o poder de nossos músculos,
e superando as limitações destes.
Agora, estamos superando
as limitações dos nossos cérebros
e multiplicando infinitamente
nosso poder mental.
Como isso não seria tão importante
como superar as limitações
de nossos músculos?
Então, sob pena de ser repetitivo,
quando vejo o que está acontecendo
no mundo da tecnologia digital hoje,
vejo que estamos longe
de terminar essa jornada.
Quando vejo o que acontece
com nossas economias e sociedades,
minha única conclusão
é que ainda não vimos nada.
O melhor ainda está por vir.
Dou alguns exemplos.
Economias não são movidas por energia,
nem por capital, nem por trabalho.
Economias são movidas por ideias.
O trabalho na inovação,
de pensar em novas ideias,
é o trabalho mais poderoso,
mais fundamental,
que podemos fazer dentro de uma economia.
É assim que costumávamos
fazer a inovação acontecer.
Achávamos um monte
de gente meio parecida...
(Risos)
Tirávamos essas pessoas
de instituições de elite
colocávamos em outras instituições
de elite e esperávamos pela inovação.
Agora,
(Risos)
falando como um cara branco
que passou sua carreira no MIT e Harvard,
eu não tenho problemas com isso.
(Risos)
Mas outro têm, e meio
que se enfiaram na festa
e relaxaram as regras
de vestimenta da inovação.
(Risos)
Esses são os vencedores do desafio
de programação "Topcoder",
e garanto que ninguém se importa
onde eles cresceram, onde estudaram,
ou com sua aparência.
Só se importam com a qualidade
do trabalho, a qualidade das ideias.
Várias vezes, vemos isso acontecer,
num mundo facilitado pela tecnologia.
O trabalho de inovação está mais aberto,
mais inclusivo, mais transparente
e mais baseado no mérito,
e esse processo vai continuar,
independente do que pensam MIT ou Harvard,
e eu não poderia estar mais feliz
com esse desenvolvimento.
Às vezes escuto:
"Tudo bem, mas a tecnologia
é uma ferramenta para o mundo rico.
O que não está acontecendo
é que essas ferramentas digitais
não estão melhorando as vidas
das pessoas na base da pirâmide".
Respondo com todas as letras:
"Lorota. A base da pirâmide se beneficia
enormemente com a tecnologia".
O economista Robert Jensen fez
um estudo maravilhoso há um tempo
em que ele observou, com detalhamento,
o que aconteceu com uma vila
de pescadores em Kerala, Índia,
quando celulares chegaram
pela primera vez.
Quando se escreve para o
"Quaterly Journal of Economics"
é necessário usar
linguagem seca e cautelosa,
mas quando li esse artigo
senti que Jensen estava gritando:
"Olha, isso foi algo importante.
Os preços se estabilizaram,
então pessoas puderam planejar suas vidas.
Desperdício não foi reduzido:
foi eliminado.
E as vidas de vendedores e compradores
nessas vilas foram melhoradas
de forma considerável".
Não acho que Jensen deu tanta sorte
de chegar no grupo específico de vilas
em que a tecnologia melhorou as coisas.
Ao invés, ele documentou atentamente
o que acontece repetidas vezes
quando a tecnologia chega
a um ambiente e a uma comunidade:
a vida das pessoas, o bem-estar delas,
melhora dramaticamente.
Vejo todas essas evidências
penso no espaço que temos diante de nós,
e viro um grande otimista digital
e acredito que essa declaração
do físico Freeman Dyson
não é uma hipérbole.
É uma avaliação precisa
do que está acontecendo.
Nossas tecnologias são verdadeiras dádivas
e nós, agora, temos a grande boa sorte
de viver numa época
de grande progresso tecnológico,
quando está se ampliando
e aprofundando ao redor do mundo.
E, sim, os androides estão
pegando nossos trabalhos,
mas se concentrar nisso
é não olhar para o que importa.
O que importa é que estamos
livres para fazer outras coisas.
E o que vamos fazer,
estou bastante confiante,
é reduzir a pobreza,
o trabalho desgastante
e a miséria ao redor do mundo.
Estou confiante que iremos aprender
a viver de forma mais leve no planeta
e estou muito confiante que o que faremos
com as novas ferramentas digitais
será tão profundo e tão benéfico
que ridicularizará tudo que veio antes.
Deixo a última palavra com um cara
que viu de perto o progresso digital:
nosso velho amigo Ken Jennings.
Concordo com ele
e faço eco de suas palavras:
"Dou boas-vindas a nossos
novos soberanos, os computadores".
(Risos)
Muito obrigado.
(Aplausos)