Tradutora: Andreia Frazão
[Mary Heilmann
Pintura Abstrata]
Há alguns verões atrás,
estava a trabalhar num quadro
chamado "Paraíso".
Era um quadro de pintura livre,
gestual, não objetiva.
Via-o como a minha versão pós-moderna
do expressionismo abstrato.
E andava a ler a biografia do de Kooning,
sobre como o pobre de Kooning
passou anos sentado numa cadeira,
a tentar fazer com que os quadros
lhe saíssem bem.
Eu andava a pintar no meu estilo
expressionista abstrato falsificado,
fazendo exatamente a mesma coisa.
Olhava para o quadro, ia lá,
remexia um bocadinho,
sentava-me.
Estava a ler o livro e a pensar,
"Arranja uma vida, de Kooning!"
E, depois, pensava,
"Ó meu Deus, é difícil fazer isto!"
E nesse ponto, parei.
(Risos)
Quando comecei a pintar,
a minha pintura emergia da escultura,
e eu usava tinta acrílica
quase como material escultórico.
Pintava a direito para cima e para baixo
e depois, lateralmente,
cobrindo as pinceladas.
Não era para as alisar,
era só para não ficarem
mesmo nada expressionistas.
Depois, a certa altura,
pus a minha fita crepe
e pintei por cima do quadro todo,
para ter o efeito de borda rígida
e o efeito gestual
a acontecer ao mesmo tempo.
E isto foi uma grande revelação.
Obtêm-se os dois efeitos.
Obtém-se tipo Albers e de Kooning
no mesmo quadro.