O ano de 2015 marca 25 anos do funcionamento do telescópio Hubble, que é considerado um dos equipamentos mais importantes no avanço da ciência. Aqui nós vemos umas fotos [tiradas pelo] Hubble. E é interessante notar que, assim que ele foi lançado, houve um erro, um erro no espelho, um problema bastante conhecido. E esse problema fez com que o Hubble virasse, até certo sentido, chacota na imprensa americana, e houve vários altos e baixos em todo o projeto. Mas um problema que é relativamente pouco conhecido, que também aconteceu com esse telescópio, foi antes da primeira foto. E esse problema foi na abertura do painel. Vocês estão vendo aí, o desafio um: entender os sensores. Você imagina que um painel solar é, para as espaçonaves, para as que estão em órbitas, tanto órbitas baixas quanto órbitas mais distantes, a fonte de energia. E no lançamento da espaçonave, um sensor indicou que um painel não poderia ser aberto. Com isso, toda a missão, toda a espaçonave, ia ser colocada em risco. Nesse momento, os cientistas tiveram uma decisão: manter aquele sinal ou sobrepujar o sinal, passar o sinal, ampliar os limites desse sinal do sensor. Felizmente, eles tomaram a segunda decisão e ampliaram os limites dos sinais dos sensores. Nosso primeiro desafio aqui é entender a complexidade e, ao mesmo tempo, a fragilidade dos sistemas que são os sensores para as missões espaciais. Como mostra aí, o problema de sensores é um problema que permeia espaçonaves como o Mars Polar Lander, uma espaçonave projetada pra pousar nos pólos de Marte, como o nome diz, ou mesmo as sondas da Pioneer, que foram projetadas para ir a Vênus. Você pode estar se perguntando: "O que tem a ver um problema de sensores conosco? Só pra colocar um pouco mais de contexto, quando você tem uma missão espacial, e a missão está operando com uma certa anomalia e se, por acaso, o sensor não indica essa anomalia, o que pode acontecer com a missão? Pode falhar, colocando em risco, inclusive, vidas humanas. Foi um problema nesses sensores que fez com que um avião, alguns anos atrás, que ia do Rio de Janeiro pra Paris, caísse no Oceano Atlântico. Então, é um problema muito crítico. Por outro lado, quando se tem uma contagem regressiva na missão espacial, onde milhares de parâmetros são analisados, são avaliados, e, de repente, indica-se que existe uma certa anomalia, para-se a contagem regressiva, desmonta a unidade, checa-se o componente que possivelmente seja a fonte do problema e descobre que tudo funcionava adequadamente. Mas o sensor falhou. O que acontece nessa situação? Só se perde duas coisas: tempo e dinheiro. Pra vencer esse desafio, os cientistas, cada vez mais, trabalham com o conceito de redundância funcional. O que é isso? Colocar sistemas reservas. Pra uma função que precisaria de uma bomba e motor, se coloca duas ou três. Isso é muito conhecido. Mas aí tem um problema: cada quilo que é mandado pro espaço custa na ordem de US$ 20 mil. Cada quilo. Cada watt custa muito. E daí, os cientistas também têm uma outra abordagem que é desenvolver modelos pra que se indique o comportamento do sistema através de equações, de modelos matemáticos. Isso é o conceito de sensor virtual. Então, esses desafios colocam uma meta: trabalhar com sistemas cada vez mais confiáveis, onde o sensor é, claramente, o elo fraco da cadeia sistêmica. Mas vamos falar de três desafios. Eles não são nem de longe os únicos, obviamente. Apenas três, nós estamos abordando aqui. O próximo tem um conceito interessante, que é o conceito, está escrito lá em cima, de "terraforming". "Terraforming" é uma área de pesquisa que estuda como tornar os outros planetas parecidos com a Terra. Só que nós temos um desafio. Porque independente das missões, se forem missões tripuladas, nós vamos ter que viver lá. E o maior desafio agora é viver de forma sustentável aqui na Terra. Baseado nesse desafio, em 2007, estou trazendo pra vocês a informação que não sei se todos conhecem, em 2007, a NASA estabeleceu um concurso entre todos os seus centros. E o objetivo desse concurso era projetar e construir o prédio mais sustentável do governo americano. Essa informação pode ser útil pra você. Esse concurso foi estabelecido em 2007, e um dos centros da NASA, que é o Ames Research Center, na cidade de Mountain View na Califórnia. só pra ter uma ideia, Mountain View é o coração do Vale do Silício, ganhou esse concurso. E se criou esse prédio aí. Esse prédio está construído em Mountain View e foi liberado em 2012. Esse prédio tem o conceito de um laboratório vivo, onde tecnologias como gerenciamento de cargas elétricas, liga e desliga automaticamente, por programação de computador, as luzes, os equipamentos, controle de temperatura e outros são apresentados. Aqui mostra-se que na concepção do prédio se estudou os tipos de vento que existiam na baía de São Francisco e também se estudou o conceito de painéis solares. Tem vários painéis solares nesse prédio. Inclusive, em alguns momentos, esse prédio produz mais energia do que consome. E aqui mostra-se a recuperação de água. Recuperação de água que é uma tecnologia trazida da Estação Internacional Espacial adaptada pra aqui. Com esse prédio, a NASA tem o objetivo de aprender ao máximo sobre sustentabilidade. Daí vem o nome: "Sustainability Base". pra que aqui nós possamos ter uma vida o mais sustentável possível em todas as atividades. Esse é um prédio de atividades de pesquisa. O terceiro grande desafio sobre o qual nós vamos conversar aqui, me colocou uma dúvida: como apresentar isso de maneira não tão seca? Duas semanas atrás, fiz uma viagem para os Estados Unidos e, justamente, tive uma reunião nesse prédio. Fui numa conferência em São Francisco e tive uma reunião nesse prédio. E na volta, eu parei no aeroporto de Houston. Uma conexão. E eu falei: "Legal!" Eu me lembrei de uma frase que vocês devem conhecer: (Inglês) "Houston, nós temos um problema!" Se você assistiu "Apollo 13", conhece essa frase, é uma frase célebre. Qual é o terceiro desafio da nossa conversa? É transformar problemas em lições. Porque se há uma coisa que você vai ter na tecnologia espacial, como em qualquer tecnologia de ponta, é o aparecimento de problemas. Então, uma outra coisa que eu gostaria de compartilhar com vocês é uma iniciativa de um outro centro da NASA chamado Goddard. E essa iniciativa pressupõe que você tenha os chamados "PaL": (Inglês) "Pause and Learn sessions", em outras palavras, "Pare e aprenda". Sessões onde a organização faz com que os seus colaboradores parem suas atividades rotineiras pra aprender as lições. Essas sessões têm alguns princípios. Aqui eu coloquei somente alguns princípios pra compartilhar com os senhores. Como o conhecimento é compartilhado? Nesse sentido, o compartilhamento de conhecimento, pra eles, é mais importante do que a memória, a manutenção do conhecimento. Mas também, estudar como as pessoas aprendem, entender como as organizações são avaliadas. Cada organização tem métricas diferentes de avaliação. E, sobretudo, criar espaços de workshop que possam ser livres pra se trocar. Pela experiência pessoal que tive trabalhando um ano na NASA, posso dizer que é um dos ambientes mais diversos que existem em termos de pessoas de diferentes formações, mas também de diferentes etnias. E esse ambiente pressupõe um laboratório muito importante: como nós aprendemos dos demais pesquisadores. E essas orientações, essas lições podem ser úteis para sua organização. Daí foi a escolha de compartilhar isso com vocês aqui. Em síntese, nós temos esses três problemas: criar sensores ou sistemas cada vez mais confiáveis, onde o sensor é o elo fraco da cadeia; viver de maneira sustentável aqui na Terra; e, acima de tudo, aprender as lições. Se você for analisar bem, esses três problemas não são somente ligados à conquista espacial. São muito em função do que você vive aqui na Terra. Então fica aqui a seguinte reflexão: eu trabalho com software, mas eu pude perceber, na experiência de trabalhar um ano, que, na grande maioria das vezes, "peopleware" é muito mais importante do que hardware e software. Se você gosta de hardware e software, estou te dando uma dica: trabalhe também com peopleware. Saiba trabalhar com pessoas. E a última dica que eu gostaria de passar: através da tecnologia espacial, nós podemos realmente conceber fisicamente que esse planeta Terra é, de fato, uma certa nave espacial muito complexa, com uma grande biodiversidade. Mas, acima de tudo, talvez o êxito da conquista espacial seja: como nós podemos viver neste planeta, entendendo que a Terra pode ser, sim, considerada um só país, e todos nós, seres humanos, os seus cidadãos. Muito obrigado. (Aplausos)