Meu nome é Natacha Calestrémé.
Sou jornalista,
produtora de 31 documentários
que foram transmitidos pela televisão,
e também apresentei um programa chamado
"Sur les chemins de la santé".
Há sete anos, tenho escrito
romances psicológicos.
Meu trabalho é estudar,
analisar
e compreender
com o fim de compartilhar.
Há três anos, perdi
uma amiga muito próxima,
vítima de assédio
e de manipulação perversa.
Ela morreu disso e não entendi nada.
Eu não entendia que era tão grave,
não encontrei as palavras
para ajudá-la a se libertar.
Eu não pensava que alguém
pudesse morrer de exaustão,
em virtude do assédio.
Ela me contava o horror que vivia,
e eu dizia: "Se é tão horrível
assim, deixe-o".
Ela não o deixou e, mais uma vez,
não entendi o porquê.
Entender a história dela,
e a de milhões de pessoas
que viviam sob essa manipulação,
transformou-se em minha prioridade.
Todas as pessoas ao meu redor
tinham uma explicação
sobre a ausência de ação dela.
Alguns me diziam: "Ela é masoquista".
Outros diziam: "Ela está inventando,
o marido dela é formidável".
E outros ainda diziam:
"Ela não se esforça".
"Fraca" era a palavra que mais diziam.
Bastava dizer "pare",
não era difícil fazer isso.
Apesar disso, minha amiga
sabia o que ela não queria.
Ela sabia me dizer quando não
concordava comigo.
Então, por que ela era tão impotente
frente à agressão verbal do marido?
Depois do choque da morte dela,
conduzi um estudo sério.
Fiz o que sempre faço,
quando preparo um filme ou um livro:
um estudo sério que durou dois anos.
Conversei com psiquiatras
e com psicólogos,
e estive com vítimas.
Percebi que o processo
de influência da manipulação
é bem conhecido e perfeitamente descrito.
Lembro-me de tudo o que ela me dizia.
No começo, ele era o príncipe encantado.
Ela adorava o rock and roll
e, para sorte dela, ele também!
Ela adorava comida japonesa
e, que sorte, ele também!
Ele criava um disfarce
para que ela acreditasse
no conto de fadas.
Então, depois de seis meses,
a máscara dele caiu,
e ele mostrou quem realmente era.
O assédio, a crítica
e as humilhações começaram.
Ele a depreciava constantemente,
o que chamamos de "injunções paradoxais".
"Este vestido é bonito,
é uma pena que você não tem
corpo para usá-lo."
Na verdade,
minha amiga não via realmente
esse lado perseguidor, ao contrário,
ela pensava que era falta de jeito dele.
Ela me dizia:
"O que mais me incomoda
é justamente o silêncio".
Ela me disse:
"Uma noite, preparei o jantar para dois,
ele chegou após já ter comido
e me insultou dizendo
que eu estava jogando dinheiro fora".
Na noite seguinte,
ela não preparou o jantar para ele,
que, naturalmente, chegou sem ter comido
e disse que ela não
se importava mais com ele.
Ele continuou as críticas,
atacando a família dela:
"Seus pais são inúteis
e seus irmãos são um lixo.
E quanto a seus amigos,
nem vale a pena comentar".
Desse modo, entendi
que ele tentava isolá-la
e conseguiu.
O trabalho se tornou
a tábua de salvação dela.
Então, ele disse que a exploravam
e que seria melhor que ela se demitisse.
Minha amiga perdeu a alegria de viver,
não sorria mais.
Ela passou a ter tremores.
(Voz emocionada)
Ela me dizia que não sabia
mais o que fazer.
Ela se consultou com um psiquiatra
por causa dos problemas
de ansiedade, insônia,
de autoconfiança e autoestima.
A descoberta do processo de controle
me permitiu abrir os olhos
sobre a lavagem cerebral
que acontece na vida íntima.
Mas algumas questões
ficavam sem resposta.
Por que minha amiga não se libertou,
mesmo que tenha se dado conta
da perversidade do marido?
Por que milhares de mulheres e homens
que conhecem a manipulação
ou a perversidade
e conseguiram se livrar,
voltam para seus torturadores?
Por fim, por que
os que conhecem a manipulação
se envolvem sempre
com outros manipuladores?
Sou jornalista e cartesiana,
mas se o fato de me abrir
a outras hipóteses
me permitisse responder
a essas perguntas,
eu estaria pronta.
Conversei com especialistas
em energia e tudo fez sentido.
Percebi que a classe médica
e as medicinas alternativas
diziam a mesma coisa,
mas com palavras diferentes.
Descobri que sempre que
nos ferimos gravemente,
o nosso corpo nos protege,
produzindo as endorfinas
que evitam o nosso sofrimento,
para que nosso coração não exploda de dor.
O corpo faz a mesma coisa
perante a violência psicológica:
ele nos protege.
Por não imaginarmos que alguém
próximo que deveria nos amar
nos faz viver o horror,
uma parte de nós se abstrai
para que não enlouqueçamos de dor.
O psiquiatras chamam
isso de "dissociação".
É como se fôssemos estranhos à situação,
observando o que acontece,
como se estivéssemos fora do corpo.
É uma forma inexplicável de passividade.
Em termos médicos,
trata-se de uma "sideração",
uma fuga da mente,
como dizem os psiquiatras.
Os especialistas em energia
referem-se à "perda da alma".
A primeira vez que ouvi esse termo,
não entendi o que queria dizer.
Uma perda da alma.
Então, lembrei-me do que diziam
os veteranos de guerra,
bem como os que tinham passado
por um drama, um estupro ou um acidente.
Aqui, perdi uma parte da minha alma.
O que é a alma afinal?
Uma palavra que simboliza tudo
o que exatamente transmite:
a autoconfiança, a autoestima,
o modo de pensar e a energia.
E o que o manipulador faz?
Ele tira nossa autoconfiança,
nossa autoestima,
nosso modo de pensar e nossa energia.
Quanto à energia,
eu precisava ter certeza
do que se tratava.
Conversei com alguns cientistas e físicos.
Eles me explicaram que nosso corpo
é composto de bilhões de moléculas,
e que cada uma é formada de muitos átomos.
Um átomo
é formado de 0,0001% de matéria,
o núcleo,
e de 99,9999% de vácuo.
Entretanto, a física quântica descobriu
que esse vácuo está, na realidade,
cheio de energia e de informações.
Isso significa
que nosso corpo é composto
de 100 vezes mais energia
e de informações do que de matéria.
Então, podemos concluir
que uma parte de nossa energia
possa ser afetada
por nossos traumas.
Isso cria em nós uma ferida
pela qual nossa energia vital se esvai.
Os especialistas ressaltam
que essa energia vital
alimenta o manipulador.
Enfraquecer o outro lhe faz bem.
É uma forma inconsciente
de sugar a energia.
E isso explicava tudo.
Por que minha amiga
não conseguiu se libertar do marido?
Porque ele possuía
uma parte da energia dela.
Porque milhares de mulheres
que passaram por tanto sofrimento
vão embora, mas voltam?
Porque o manipulador possui
uma parte da energia delas.
Se cortarem meu braço
e o esconderem nos bastidores,
e alguém me disser: "Natacha, pode ir",
talvez eu vá embora,
mas vou voltar para procurar
o que me pertence.
Não foi do carrasco que minha amiga
não conseguiu escapar,
mas foi da luz dela.
(Voz emocionada)
A fuga mental
da qual os psiquiatras falam,
a perda da alma
da qual os especialistas falam,
pode desaparecer e acontecer
durante uma manipulação, como vimos,
mas também quando acontece um choque,
causado por um acidente grave
ou um drama.
Isso cria uma lacuna em nós,
através da qual o manipulador pode entrar
e conseguir nos controlar.
Por meio de minhas pesquisas,
descobri que essa energia que perdemos
pode ser recuperada.
Podemos recuperá-la seguindo
um protocolo energético bem simples.
Não vou compartilhá-lo aqui,
pois vocês precisam estar prontos.
O momento ideal para o senhor
talvez não seja bom para a senhora.
Foi por isso que escrevi um livro
intitulado "Les Blessures du Silence".
Quando estiverem prontos,
encontrarão tudo no livro.
Portanto, eu gostaria
de compartilhar isto:
se vocês tiverem a sensação
de perda constante de energia,
que não conseguem conduzir
a vida como desejam,
que não dominam o futuro,
que é o tema deste evento TEDx,
então talvez signifique
que tenham passado por algo muito difícil,
um trauma ou uma manipulação,
durante a infância.
É importante saber
que uma parte nossa se esgota
na busca dessa energia,
mas é possível recuperá-la.
Depois, nós nos acalmamos.
Recebo vários testemunhos
de pessoas que me contactam pelo Facebook
e que dizem que não sentem
mais esse vazio,
que o protocolo as fez parar
de sentir medo.
Muitas me dizem:
"Parei de sentir fome constantemente,
conquistei a serenidade".
Não nos sentimos bem
quando não estamos inteiros.
Eu queria entender,
encontrar as respostas,
já que não pude ajudar minha amiga.
(Voz emocionada)
Compartilhar com vocês hoje
é muito importante para mim.
É o meu modo de me redimir.
Obrigada.
(Aplausos)