Sou obcecado pela pergunta:
"O que faz um bom professor
se tornar ótimo?"
Coletei 26 mil respostas
para esta pergunta,
em oito escolas diferentes,
desde as escolas mais pobres
de Los Angeles,
a escolas em subúrbios no Texas
e escolas particulares de elite.
E após 24 anos atuando como professor,
essa pergunta ainda me causa perplexidade.
Hoje, vou ensinar a vocês as lições
que aprendi com esses milhares de alunos,
e mostrar o que aprendi com eles,
apenas por escutá-los.
O que acontece é que,
durante o período em que fazia
essa pergunta às crianças,
percebi que não fazemos essa pergunta
por uma razão específica:
as escolas têm medo.
Por causa disso, elas não querem de fato
saber o que as crianças pensam.
Em parte porque não acham
que as crianças levariam isso a sério.
Vou compartilhar com vocês
uma das respostas mais profundas
que já recebi para essa questão.
[Um ótimo professor come maçãs]
(Risos)
Agora, eu sei o que vocês estão pensando.
Isso não prova o meu argumento?
"Ótimos professores comem maçãs."
Quando me deparei com isso pela primeira
vez, achei que fosse uma bobagem,
mas isso continuava aparecendo,
de novo e de novo.
Então eu pensei:
"Isso deve significar alguma coisa,
mas o que eles estão tentando me dizer?"
Então um dia, eu decidi que iria
começar a comer maçãs.
Eu as comia pela manhã, no almoço,
durante as aulas, no pátio.
As crianças começaram a me dar maçãs.
Elas me viam comendo e diziam:
"Ei, você está comendo uma maçã!"
"Eu sei!"
Elas abriam um sorriso e eu correspondia.
E então comecei a entender
que as crianças queriam me ver
como alguém que está disposto
a receber presentes delas,
que as maçãs eram um símbolo
do nosso relacionamento.
Havia virtude e confiança naquele gesto.
Mas, por muito tempo, eu não estava
atento e não tinha entendido isso.
[Um ótimo professor fica frio]
Eles têm a sua própria linguagem.
Ao dizerem: "Um ótimo professor
fica frio", querem dizer:
"Não leve tudo tão a sério.
Mantenha a calma. Não se estresse demais".
(Risos)
Eles têm um modo de comunicar,
de nos dizer o que eles realmente querem,
mas temos que escutar.
Certo?
Eu sou pai de duas crianças crescidas.
Elas já saíram da escola
e agora estão na faculdade.
Mas, quando moravam comigo,
quando eram adolescentes,
eu tive de aprender uma linguagem nova.
Quando chegavam da escola,
eu perguntava: "Como foi seu dia?"
E elas respondiam: "Bom".
O que, normalmente, significava:
"Não foi ruim. Foi bom.
Nada de mais aconteceu.
Eu provavelmente aprendi algo.
Ou talvez não".
Mas se chegassem em casa e dissessem:
"Bom", o que de fato queriam dizer era:
"Não foi assim tão bom, mas nem pergunte,
porque você não entenderia mesmo".
Se eu perguntasse sobre o seu dia
e me dissessem: "OK",
o que estavam tentando
me dizer era: "Não foi nada bom,
e você provavelmente
deveria fazer mais perguntas,
mas não espere que eu as responda".
(Risos)
As crianças têm sua própria linguagem;
elas têm seu próprio jeito de pensar.
Elas querem que pensemos como elas
e entendamos o que há em suas mentes.
Elas têm muitas maneiras diferentes
de pensar no que é ótimo.
Elas querem que nós percebamos
o seu mundo interior.
Mas não querem que ajamos como elas;
querem que sejamos calmos,
que as protejamos
e as mantenhamos seguras.
As crianças têm um modo de comunicação
que os adultos não têm se esforçado
para compreender.
Mas e se nós tivéssemos?
E se de fato ouvíssemos
profundamente os estudantes?
Uma das coisas que eu notei
após todos esses anos
reunindo essas respostas
é que alguns padrões surgiram.
Quando eu perguntava sobre o que faz
o bom professor se tornar ótimo,
frequentemente eu ouvia:
"Um ótimo professor ama ensinar".
A frase seguinte, 70% das vezes, era:
"Um ótimo professor ama aprender".
A razão pela qual isso é importante
é que elas não veem isso acontecendo.
Elas não veem os professores
aprendendo na frente delas.
Elas os veem ensinando,
mas gostariam que eles também
aprendessem junto com elas.
Pense a respeito.
As escolas contratam professores
para serem especialistas em conteúdo,
para terem todo o conhecimento,
não para que sejam aprendizes.
Mas e se fossem?
E se você entrasse na sala de aula,
o professor tivesse algo preparado
e dissesse: "Não sei exatamente
o que faremos hoje,
mas mal posso esperar
para aprender com vocês".
Ou se vissem seu professor se esforçando
em algo que não conhecesse bem
e acabasse descobrindo a resposta.
As crianças desejam ser inspiradas
pela ideia de que aprender é importante.
Mas elas não veem isso nas escolas.
[Um ótimo professor não é um professor]
Quando eu vi essa frase,
na verdade me senti um tanto ofendido.
"Como assim?! Eu sou um professor!"
E elas diziam: "Nós sabemos".
O que elas estavam tentando me dizer era:
um ótimo professor
não está na sala de aula.
Reflita sobre isso.
Lembre-se de uma vez
em que você aprendeu algo de fato,
alguma ocasião em que aprendeu algo
de que ainda se recorda e faz uso.
Como arremessar uma bola
ou andar de bicicleta.
Aprendi a andar de bicicleta
com minha mãe,
quando eu tinha cinco anos de idade.
Ela retirou as rodinhas
da minha bicicleta,
ficou atrás de mim e começou a empurrar.
E aí, começamos a correr, correr,
até ela finalmente me soltar,
e eu começar a andar de bicicleta.
Foi isso que eu fiz; foi assim
que aprendi a andar de bicicleta.
Ainda sou capaz de fazer isso
até hoje, desde aquela época.
Podem imaginar como seria aprender isso
com a minha mãe em uma sala de aula,
como se pareceria?
[Copie isso: Como andar de bicicleta]
(Risos)
"Filho, primeiro, você tem de conhecer
todas as partes de uma bicicleta.
Temos os pedais, a coroa e também há
uma corrente utilizada para mover a roda.
É preciso aplicar uma força significativa;
tal força gera impulso que, quando
suficiente, permite equilibrar.
Assim funciona uma bicicleta.
Quero que memorize todas as partes,
saiba identificá-las e desenhá-las.
Depois escreverá um artigo científico
sobre a história da bicicleta.
(Risos)
Os elementos importantes, a aventura,
o desenvolvimento das bicicletas.
E no final de tudo,
você terá de fazer uma prova.
Se você passar e tirar um dez,
então você sabe andar de bicicleta."
(Risos)
Aos cinco anos de idade,
acho que eu teria dito:
"Deixa quieto, prefiro andar a pé".
(Risos)
Isso é exatamente
o que fazemos com as crianças.
Colocamos elas em uma sala e dizemos:
"Isso é o que eu quero que aprendam,
é importante. Façam".
E elas sabem que não é verdade,
que não valorizamos verdadeiramente
esse jeito de aprender.
Não é de surpreender que elas sejam
desordeiras, desinteressadas ou dispersas.
As crianças querem que sejamos
professores que não são professores.
Eu gostaria de contar a vocês
sobre a Yvette.
"Um ótimo professor entende
que elas têm uma vida fora da escola".
E, de fato, têm.
Elas querem que saibamos
que sua vida na escola
é bastante diferente
de sua vida fora da escola.
Eu pensava comigo: "Bem,
o quão dura é a sua vida?
Sua função é vir à escola;
minha função é ensinar".
A Yvette era uma aluna difícil.
Ela era combativa
e tinha uma reputação vil.
Ela sempre usava uma jaqueta
para reforçar isso.
Para onde quer que ela fosse,
as crianças a seguiam.
Ela se sentava na primeira fila
e se inclinava
para ter contato visual
e tentar me intimidar.
Ela me chamava de "senhor"
e não dizia meu nome completo.
Quando ela se levantava para ir
ao banheiro, as garotas a seguiam.
Por fim, aprendi com a Yvette
o que ela mesma precisava aprender.
E pensei ter me tornado muito bom
no que estava fazendo.
Um dia notei que ela havia parado
de entregar o dever de casa.
Ela havia se tornado
uma grande liderança na sala de aula:
ela entregava os deveres de casa em dia,
participava nas aulas;
ela era muito boa.
Então quando isso aconteceu,
eu fiquei surpreso.
E aí eu me dirigi até ela e disse:
"Yvette, estou decepcionado com você".
Ela disse: "Eu sei, senhor. Sinto muito".
"Eu espero conseguir entregar amanhã."
E no dia seguinte ela me entregou
o dever de casa incompleto.
E novamente eu me dirigi a ela e disse:
"Yvette, estou decepcionado".
E ela disse: "Eu costumo fazer
o dever de casa no banheiro
porque é ambiente
mais silencioso da minha casa,
mas esta semana a eletricidade
foi cortada, não há luz lá.
Acendi uma vela, mas não durou o bastante.
Eu sinto muito".
Estava cabisbaixa,
sentindo-se envergonhada.
Eu falhei em perceber.
Eu não escutei quando ela disse:
"Estou tentando, senhor".
Eu ouvi as palavras, mas não a escutei.
Ótimos professores percebem
quando existem dificuldades.
Eles não pressupõem o que os seus alunos
podem, ou não, fazer.
Eles aguardam e observam, e resgatam
os alunos quando estes estão travados.
Bons professores ouvem os alunos,
mas não os escutam.
Nunca esquecerei a Yvette,
e sou grato a ela,
pois, sempre que vejo um aluno
dizer algo semelhante,
eu me lembro dela, e então presto atenção.
[Ótimos professores cantam]
Acho que essa foi a resposta
que me causou maior perplexidade.
Por dez anos consecutivos, ao menos
um aluno colocava essa resposta.
"Um ótimo professor canta."
Mas do que eles estão falando?
Não sei cantar.
Aí comecei a pensar: "Espere um pouco.
O que eles querem dizer com isso?"
Até que um dia Danny deu essa
como uma de suas respostas.
Ele era o palhaço da sala.
Sabe aquele cara que,
quando você vai tirar uma foto,
faz chifres na cabeça das pessoas?
Ele fazia caretas para mim
durante as aulas, para que eu risse.
Tudo era motivo de piada para o Danny.
Então, quando ele me deu suas respostas,
e todas elas eram sérias
e realmente muito boas,
fiquei surpreso quando essa
apareceu entre elas.
Mas eu sabia que tinha alguma coisa ali;
só não sabia ainda o quê.
Então, no dia seguinte, coloquei
o plano de aula no quadro,
listando todas as atividades daquele dia,
os objetivos e o dever de casa.
E, em vez de ler,
muito seriamente, cantei.
(Risos)
em estilo ópera, o mais alto possível.
Os alunos arregalaram os olhos,
ficaram boquiabertos.
(Risos)
Mas sabe o que aconteceu
depois disso tudo?
Eu esperava por ridicularizações
e gargalhadas.
Mas a classe explodiu
em saudações e aplausos.
Eu fui ovacionado de pé.
Eu não conseguia acreditar.
Ao final da aula, ao saírem,
eles me davam apertos de mão,
e aí veio o Danny.
Ele aproximou-se de mim, inclinou-se
e deu tapinhas no meu ombro, dizendo:
"Eu avisei que um ótimo professor canta".
(Risos)
(Aplausos)
Ótimos professores são humildes
diante de seus alunos.
Eles correm riscos.
Eles põem de lado o medo de tentar.
Eles acreditam que serão
apoiados caso falhem.
Mas os alunos não veem isso;
veem especialistas, lembra?
Especialistas no conteúdo.
Como seria se tivéssemos professores
não apenas para serem profundos
conhecedores, detentores do saber,
mas para serem
conhecedores dos estudantes?
O quão nossas escolas mudariam,
se transformariam?
Mas não é surpresa
que os alunos não se importem
ou que os professores não escutem.
Porque nunca foram ensinados a isso.
Mas e se escutássemos?
Percebam, usamos três anos
da vida do aluno,
ensinando-os a ler.
Cerca de 12 anos da vida desses alunos,
ensinando-os a escrever.
Talvez, se tiverem sorte, eles tenham
um semestre, metade de um ano
aprendendo a falar em público.
Mas eles não têm praticamente nenhuma
instrução formal para escutar.
Zero.
Pense um pouco, quando foi a última vez
em que esteve numa festa,
alguém perguntou:
"Então, o que você faz da vida?",
e a resposta foi:
"Sou professor de escuta.
Leciono Escuta Avançada
em eventos universitários,
Comunicação da Escuta
ou Escuta Básica no ensino fundamental".
Não ouvimos isso.
Porque simplesmente não acreditamos
que seja importante nas escolas,
apesar de, fora dela,
a escuta ser uma das habilidades
mais requisitadas no trabalho e na vida.
E nós simplesmente não ensinamos isso.
Nós precisamos escutar nossos alunos.
Nas nossas salas de aula está o futuro.
Lá estão as Maya Angelous,
as Madres Teresas, os Elon Musks do mundo.
Você consegue imaginar,
se tomássemos um tempo
para perguntar aos alunos:
"O que faz um bom professor
se tornar ótimo?",
e de fato escutássemos,
como isso poderia transformar
as escolas e a educação?
Obrigado.
(Aplausos)