Olá, damas e cavalheiros.
"Dá-me o prazer desta dança?"
Esta é a pergunta que muita gente
tem feito, incluindo eu mesmo.
Quando tocamos nalguém
com respeito, qualquer coisa muda.
Mas agora já não tocamos uns nos outros
com todas as novas tecnologias
à nossa volta, atualmente.
Muitas pessoas já não comunicam
cara a cara.
Falamos uns com os outros
através de SMS e de redes sem rosto.
É muito mais fácil evitar
os nossos sentimentos naturais e emoções.
O filme de Spike Jonze, de 2013,
"Uma história de amor",
descreve aquilo que nos espera:
ter uma relação de amor
com o nosso computador.
(Risos)
Andamos em transportes públicos
ou mesmo num elevador,
sem entrar em contacto visual
ou contacto corporal.
Tornámo-nos especialistas
em nos isolarmos.
Isto é um problema mundial.
Einstein disse:
"Receio o dia em que a tecnologia
se sobreponha à interação humana.
"Teremos um mundo de idiotas
— uma geração de idiotas".
Eu venho aqui hoje mostrar-vos
que há outra forma, divertida e fácil,
que tornará a nossa vida muito diferente.
E se eu vos disser que, se são tímidos,
podem tornar-se confiantes
e muito mais seguros de vocês mesmos?
E se eu vos disser que podem
mudar a vossa postura física?
E se eu vos disser
que podem confiar
em alguém que não conhecem.
que até pode ser um inimigo?
Tudo isto é possível
através das danças de salão.
(Risos)
"Desculpe? O quê? Porquê?"
podem perguntar.
Porque força duas pessoas
a ficarem em frente uma da outra,
a olharem uma para a outra,
nos olhos, e a movimentarem-se juntas.
Entretanto, elas vão-se conhecendo,
e divertem-se naquele enlace.
Isso mudou a minha vida
e vou mostrar-vos
como pode mudar a vossa.
Quando vos chamei "damas e cavalheiros"
vocês sentiram-se diferentes.
Endireitaram-se nas cadeiras,
sentiram-se positivos e confiantes
e, com a vossa linguagem corporal
e a vossa postura,
enviaram um sinal de que
estão confiantes e tranquilos.
Quando as pessoas
vêm ter comigo para receber lições,
no início, andam assim.
Três meses depois, andam assim.
Seis meses depois,
têm uma posição mais ereta.
Um ano depois, vão-se embora
muito altos e muito direitos,
sentindo-se cheios de confiança
e com um aspeto elegante.
Esta é a magia do salão de baile.
Ensina muitas aptidões da vida,
como o respeito por nós mesmos,
a disciplina, o trabalho de equipa
e as boas maneiras.
O convite para dançar,
a posição do acompanhante,
o enlace.
tudo isso cria uma relação de respeito.
O cavalheiro que pergunta à dama:
"Dá-me o prazer desta dança?"
Ela responde: "Com todo o prazer".
Depois, ele acompanha-a à pista de dança,
e agarra-a num enlace.
Quando tratamos uma pessoa
com tanto respeito,
ela retribui o gesto e, assim,
os dois entram numa relação
de dar e receber.
Esta é uma fotografia
da minha parceira de dança de 38 anos,
Yvonne Marceau, e eu.
Tenho o orgulho de dizer que ganhámos
o Campeonato do Mundo quatro vezes.
(Aplausos)
Falemos do contacto.
Quando uma pessoa dança
com outra pessoa,
ficamos a conhecer essa pessoa
de um modo que não sabemos descrever.
Ficamos a sentir a reação dela
através do contacto,
e alteramos a impressão que sentíamos.
Podemos dançar com alguém
de outra nacionalidade,
de outro grupo étnico,
de outro estatuto socioeconómico.
Mas quando tocamos nessa pessoa
e a olhamos nos olhos,
ela torna-se um ser único
e não um rótulo.
Aprendemos a empatia.
Confiança.
Cavalheiros, isto agora é para vocês.
Quantas vezes já começaram a dançar
com a vossa mulher ou namorada
e repararam que é ela
que está a conduzir?
(Risos)
As damas sentem a música
e aprendem os passos muito mais depressa.
Quando dançamos com alguém,
é preciso uma relação especial.
Para mim, enquanto professor,
peço à dama que feche os olhos.
É incrível como funciona bem
pedir às damas que deixem de conduzir,
confiem no parceiro
e se deixem ir na onda.
Quantas vezes, na vida,
podemos descontrair-nos
e confiar na pessoa com quem estamos?
Movimentamo-nos lindamente como um só,
quatro pés pretendendo ser dois.
Não podemos estar irritados
ou tristes, enquanto dançamos.
O corpo muda, a alma eleva-se.
Sabiam que as danças de salão
ajudam a impedir a demência?
O Einstein Medical College
realizou um estudo e disse:
"As danças de salão,
duas ou três vezes por semana,
"reduzem o risco de Alzheimer em 76%".
O outro resultado mais próximo deste
é fazer palavras cruzadas
quatro vezes por semana
mas só atinge os 47%.
Jogar golfe? É melhor esquecer.
(Risos)
Zero por cento.
(Risos)
É verdade.
As danças de salão
são para todas as idades.
Com o devido respeito, peço-vos,
levantem-se da cadeira do computador
e vão aprender a salsa,
ou o merengue, ou o tango.
Vão passar um bom bocado.
Eu nasci em Jafa, em 1944.
O meu pai era de Belfast,
no norte da Irlanda, e era protestante.
A minha mãe era palestina
e era católica.
Ser palestino significou
sermos expulsos da nossa terra em 1948
para a criação do estado de Israel.
Se sabermos para onde ir,
aterrámos em Amã, na Jordânia,
onde eu cresci com um incisivo partido,
muito tímido, sem me atrever a sorrir.
Depois, já adolescente, em Inglaterra,
era gozado e assediado na escola
por causa da forma como falava inglês,
por causa do meu sotaque.
Um dia, uma amiga da escola, Margaret,
pediu-me para ir com ela
à escola de dança local.
Eu era terrível a dançar,
no início.
Apesar de o meu primeiro
professor de dança
gritar comigo, falar comigo aos berros
porque eu não ouvia
o ritmo 1-2-3 da valsa,
teimei e depois
fiz disso a minha carreira.
Dançar com a minha parceira de dança,
Yvonne Marceau,
no Grande Hotel na Broadway,
permitiu-me ter horas livres
durante o dia.
Sabendo como a minha vida
tinha mudado
por causa das danças de salão,
ofereci-me como voluntário
na escola pública de Nova Iorque
onde ensinei a dançar 30 miúdos
de 11 anos, relutantes e rebeldes.
(Risos)
Eles acabaram por gostar
e eu adorei.
Isso transformou-se
nas Aulas de Dança,
um programa de desenvolvimento
social e emocional de ensino pelas artes,
destinado a cultivar aptidões sociais
essenciais nas crianças
através da prática da dança social.
Até agora, as Aulas de Dança
— orgulho-me de dizer —
já ensinaram mais de 400 000 crianças
em 31 cidades por todo o mundo.
(Aplausos)
Estudos têm demonstrado
que as notas dos alunos têm subido,
a violência diminuiu,
e toda a cultura da escola
mudou para melhor.
O meu percurso até
às escolas públicas de Nova Iorque
foi descrito no filme de longa metragem
"Take the Lead",
com Antonio Banderas
a desempenhar este vosso criado.
(Risos)
Também tive o privilégio
de trabalhar numa escola
exclusivamente para crianças autistas,
onde se destacou um rapaz, em especial.
Não gostava de falar
ou que ouvissem a sua voz.
Na festa de encerramento
em que eram convidados pais e amigos,
de repente, sem ninguém esperar,
ele salta para o meio da pista
e anuncia a toda a gente
o ótimo tempo que tinha passado
e como adorava dançar.
Tinha nove anos.
As lágrimas correram dos olhos dos pais.
Há muitas horas semelhantes,
mas as danças de salão
não são só para crianças.
Funcionaram em clínicas
psiquiátricas em Genebra
onde médicos e cuidadores
dançavam com os doentes.
A mesma coisa nos albergues
para sem-abrigo no Arizona.
Em ambas as situações,
uma alta percentagem de participantes
começou a sentir-se normal de novo.
e reconquistaram
o amor próprio e a dignidade,
tudo isso porque eram tratados
como damas e cavalheiros
através das boas maneiras sociais
que são inseparáveis
das danças de salão.
As danças de salão até rompem barreiras
entre duas pessoas
que são inimigas de longa data
e ultrapassam o ódio,
o preconceito e a desconfiança.
Em 2011, pude realizar o meu sonho
de toda a vida.
Voltei a Jafa
e trabalhei com crianças israelitas
judias e palestinas
e levei-as a dançarem todas juntas.
Foi o projeto mais difícil que jamais fiz,
mas o mais gratificante.
Foi um momento
extremamente importante.
Era o poder do contacto:
pedir àquelas damas e cavalheiros,
àqueles rapazes e raparigas,
para dançarem juntos
no estilo de danças de salão.
O meu percurso foi documentado
no filme "Dancing in Jaffa"
e também devo dizer que,
se mudarmos as crianças,
mudamos os pais e também
ajudamos a mudar o mundo.
O "trailer" do filme vai dar-vos ideia.
(Vídeo)
(Música)
Rapazes, venham cá.
Lois e Alaa fiquem juntos
um do outro, por favor.
Eu nasci em Jafa mas saí de lá
quando tinha quatro anos.
O que eu posso devolver
às crianças são as danças de salão.
O programa é de 10 semanas.
Crianças palestinas e judias todas juntas.
Do ponto de vista do Islão,
rapazes e raparigas
não podem dançar juntos.
Dá-me o prazer desta dança?
Agora tenho de dançar com eles.
Se o meu pai me vê a dançar
com um árabe, mata-me.
Uma judia e um árabe.
Vocês estão juntos.
- Não.
- Não porquê?
Penso que temos de cancelar estas aulas.
[Numa cidade dividida
entre duas culturas]
Jafa é judaica!
Deus é grande e glória a Alá!
- Mãe, estou a tremer.
- Anda cá, não tenhas medo.
Eu estou a pedir-lhes
para dançarem com o inimigo.
Onde está o teu pai?
- Sabes o que é um banco de esperma?
- Não.
(Música)
No início, ela parecia uma flor fechada.
Agora é assim.
- Música!
- Mãe, para!
Se começamos com uma criança,
que primeiro aprende a respeitar-se
a si mesma,
depois pode respeitar os outros,
à medida que cresce, é o que eu espero.
(Aplausos)
Sim, qualquer coisa muda,
quando dançamos com alguém.
Basta perguntar ao parceiro:
"Dá-me o prazer desta dança?"
Para terminar, damas e cavalheiros,
gostava de vos pedir uma coisa.
Quando saírem deste auditório,
por favor, saiam na posição
de acompanhante.
(Risos)
e sintam como será a vossa postura,
a vossa atitude
e até que ponto se sentem bem.
Depois, vão para casa,
ponham música,
enlacem o vosso parceiro
e reparem como a vossa relação muda.
Mudará a vossa vida,
um passo de cada vez.
Boa sorte, obrigado e boa noite.
(Aplausos)