[Os dentes são feitos de material rijo. [Resistem a cheias, incêndios e a séculos na sepultura] Podemos achá-los uma coisa comum, mas os nossos dentes são uma maravilha. Partem toda a comida durante toda a nossa vida, e são suficientemente fortes para não se partirem. Formam-se usando apenas as matérias primas a partir dos alimentos que esmagam. O que há por detrás da sua força impressionante? Os dentes são formados por uma estrutura inteligente que os torna duros e resistentes. A dureza é a capacidade de resistir à formação de uma racha, enquanto a resistência é o que impede que essa racha alastre. Muito poucos materiais têm estas duas propriedades. Por exemplo, o vidro é duro mas não é resistente, enquanto o couro é resistente mas não é duro. Os dentes conseguem isso porque têm duas camadas: uma dura capa externa de esmalte, quase totalmente de fosfato de cálcio e, por baixo dela, uma camada mais resistente de dentina, em parte formada de fibras orgânicas que a tornam flexível. Esta estrutura espantosa é formada por dois tipos de células: os ameloblastos que segregam esmalte e os odontoblastos que segregam a dentina. À medida que formam os dentes, os odontoblastos movem-se para dentro enquanto que os ameloblastos se movem para o exterior e se desprendem ao chegar à superfície. Para o esmalte, este processo produz compridas fibras delgadas, cada uma delas com uns 60 nanómetros de diâmetro. É uma milionésima do diâmetro de um cabelo humano. Essas fibras agrupam-se em varetas, bem ligadas umas às outras, dezenas e milhares por milímetro quadrado, para formarem a camada de esmalte, como um escudo. Quando este processo termina, o esmalte não volta a reparar-se porque se esgotaram todas as células que o formam. Felizmente, este esmalte não é destruído facilmente. Os odontoblastos usam um processo mais complexo, mas ao contrário dos ameloblastos mantêm-se presentes, continuando a segregar dentina durante toda a vida. Apesar das diferenças nos dentes em toda a ordem dos mamíferos, o processo subjacente ao crescimento dos dentes é o mesmo, quer se trate de leões, cangurus, elefantes, ou seres humanos. O que muda é a maneira como a Natureza esculpe a forma dos dentes, alterando a forma e os padrões de crescimento para se adequarem às diversas dietas das diferentes espécies. As vacas têm molares chatos com sulcos paralelos para triturarem ervas rijas. Os gatos têm molares com cristas afiados como lâminas, para dilacerarem carne e tendões. Os porcos têm dentes embotados, espessos, úteis para esmagar raízes e sementes rijas. Os milhentos molares dos mamíferos modernos têm origem numa forma comum chamada "tribosfénico" que apareceu pela primeira vez durante a idade dos dinossauros. No século XIX, o paleontologista Edward Drinker Cope concebeu o modelo básico de como evoluiu esta forma. Formulou a hipótese de que começou com um dente tipo cone, como vemos em muitos peixes, anfíbios e répteis. Depois apareceram pequenas cúspides, três em fila num dente, alinhadas da frente para trás e ligadas por cristas. Com o tempo, as cúspides foram empurradas para fora do alinhamento, e formaram coroas triangularas. Os dentes adjacentes formaram um ziguezague contínuo de cristas para cortar e despedaçar. Depois formou-se uma plataforma baixa por detrás de cada conjunto de dentes que se tornou numa plataforma para esmagar. Segundo Cope, o molar tribosfénico serviu de ponto de partida para a radiação das formas especializadas que se seguiram. e cada forma adaptou-se às necessidades da evolução. Endireitando as cristas e retirando a plataforma, obtemos os dentes convenientemente afiados de gatos e cães. Se retirarmos as cúspides frontais, elevarmos a prateleira, temos os molares humanos. Com uns ajustes adicionais, obtemos os dentes do cavalo e da vaca. A hipótese intuitiva de Cope apresentava alguns erros, mas, no registo fóssil, há exemplos de dentes que têm o aspeto que ele previa e podemos relacionar os molares de todos os mamíferos vivos com essa forma primitiva. Hoje, a capacidade de consumir diversas formas de alimentos, permite que os mamíferos sobrevivam em "habitats" que vão desde os cumes das montanhas às profundezas dos oceanos, às florestas tropicais e aos desertos. Portanto, o êxito da nossa classe biológica deve-se, em grande medida, à excecional força e adaptabilidade dos modestos molares dos mamíferos.