0:00:01.420,0:00:03.336 [Os dentes são feitos de material rijo. 0:00:03.366,0:00:05.946 [Resistem a cheias, incêndios[br]e a séculos na sepultura] 0:00:06.846,0:00:11.173 Podemos achá-los uma coisa comum,[br]mas os nossos dentes são uma maravilha. 0:00:11.323,0:00:14.333 Partem toda a comida[br]durante toda a nossa vida, 0:00:14.433,0:00:18.123 e são suficientemente fortes[br]para não se partirem. 0:00:18.263,0:00:21.183 Formam-se usando apenas[br]as matérias primas 0:00:21.223,0:00:23.923 a partir dos alimentos que esmagam. 0:00:24.243,0:00:26.653 O que há por detrás[br]da sua força impressionante? 0:00:26.753,0:00:29.213 Os dentes são formados[br]por uma estrutura inteligente 0:00:29.253,0:00:31.303 que os torna duros e resistentes. 0:00:31.703,0:00:35.781 A dureza é a capacidade de resistir[br]à formação de uma racha, 0:00:36.041,0:00:39.404 enquanto a resistência é o que impede[br]que essa racha alastre. 0:00:39.604,0:00:42.518 Muito poucos materiais[br]têm estas duas propriedades. 0:00:42.688,0:00:46.124 Por exemplo, o vidro é duro[br]mas não é resistente, 0:00:46.164,0:00:48.743 enquanto o couro é resistente[br]mas não é duro. 0:00:48.963,0:00:52.089 Os dentes conseguem isso[br]porque têm duas camadas: 0:00:52.129,0:00:57.284 uma dura capa externa de esmalte,[br]quase totalmente de fosfato de cálcio 0:00:57.444,0:01:00.772 e, por baixo dela, uma camada[br]mais resistente de dentina, 0:01:00.812,0:01:04.473 em parte formada de fibras orgânicas[br]que a tornam flexível. 0:01:04.503,0:01:08.331 Esta estrutura espantosa [br]é formada por dois tipos de células: 0:01:08.371,0:01:11.095 os ameloblastos que segregam esmalte 0:01:11.115,0:01:13.825 e os odontoblastos que segregam a dentina. 0:01:13.855,0:01:17.103 À medida que formam os dentes,[br]os odontoblastos movem-se para dentro 0:01:17.103,0:01:19.694 enquanto que os ameloblastos[br]se movem para o exterior 0:01:19.734,0:01:21.884 e se desprendem ao chegar à superfície. 0:01:21.964,0:01:25.777 Para o esmalte, este processo[br]produz compridas fibras delgadas, 0:01:25.807,0:01:28.934 cada uma delas [br]com uns 60 nanómetros de diâmetro. 0:01:29.004,0:01:32.425 É uma milionésima do diâmetro[br]de um cabelo humano. 0:01:32.455,0:01:35.815 Essas fibras agrupam-se em varetas,[br]bem ligadas umas às outras, 0:01:35.845,0:01:38.573 dezenas e milhares por milímetro quadrado, 0:01:38.603,0:01:41.325 para formarem a camada de esmalte,[br]como um escudo. 0:01:41.465,0:01:45.634 Quando este processo termina,[br]o esmalte não volta a reparar-se 0:01:45.814,0:01:48.895 porque se esgotaram[br]todas as células que o formam. 0:01:48.945,0:01:52.224 Felizmente, este esmalte [br]não é destruído facilmente. 0:01:52.264,0:01:55.064 Os odontoblastos usam[br]um processo mais complexo, 0:01:55.264,0:01:58.625 mas ao contrário dos ameloblastos[br]mantêm-se presentes, 0:01:58.645,0:02:01.836 continuando a segregar dentina[br]durante toda a vida. 0:02:01.876,0:02:05.344 Apesar das diferenças nos dentes[br]em toda a ordem dos mamíferos, 0:02:05.374,0:02:08.815 o processo subjacente ao crescimento[br]dos dentes é o mesmo, 0:02:08.905,0:02:10.365 quer se trate de leões, 0:02:10.405,0:02:11.964 cangurus, elefantes, 0:02:11.996,0:02:13.614 ou seres humanos. 0:02:13.674,0:02:17.149 O que muda é a maneira como a Natureza[br]esculpe a forma dos dentes, 0:02:17.329,0:02:19.724 alterando a forma[br]e os padrões de crescimento 0:02:19.754,0:02:22.943 para se adequarem às diversas dietas[br]das diferentes espécies. 0:02:23.113,0:02:26.532 As vacas têm molares chatos[br]com sulcos paralelos 0:02:26.558,0:02:28.678 para triturarem ervas rijas. 0:02:28.732,0:02:32.033 Os gatos têm molares[br]com cristas afiados como lâminas, 0:02:32.067,0:02:34.307 para dilacerarem carne e tendões. 0:02:34.343,0:02:36.412 Os porcos têm dentes[br]embotados, espessos, 0:02:36.437,0:02:39.317 úteis para esmagar[br]raízes e sementes rijas. 0:02:39.352,0:02:41.761 Os milhentos molares [br]dos mamíferos modernos 0:02:41.771,0:02:45.212 têm origem numa forma comum[br]chamada "tribosfénico" 0:02:45.252,0:02:48.262 que apareceu pela primeira vez[br]durante a idade dos dinossauros. 0:02:48.301,0:02:52.182 No século XIX, o paleontologista[br]Edward Drinker Cope 0:02:52.212,0:02:55.502 concebeu o modelo básico[br]de como evoluiu esta forma. 0:02:55.612,0:02:59.322 Formulou a hipótese de que[br]começou com um dente tipo cone, 0:02:59.352,0:03:02.522 como vemos em muitos peixes,[br]anfíbios e répteis. 0:03:02.582,0:03:05.374 Depois apareceram pequenas cúspides, 0:03:05.394,0:03:08.584 três em fila num dente,[br]alinhadas da frente para trás 0:03:08.703,0:03:10.493 e ligadas por cristas. 0:03:10.564,0:03:13.753 Com o tempo, as cúspides foram[br]empurradas para fora do alinhamento, 0:03:13.789,0:03:15.809 e formaram coroas triangularas. 0:03:15.883,0:03:19.434 Os dentes adjacentes formaram[br]um ziguezague contínuo de cristas 0:03:19.502,0:03:21.432 para cortar e despedaçar. 0:03:21.504,0:03:25.311 Depois formou-se uma plataforma baixa[br]por detrás de cada conjunto de dentes 0:03:25.351,0:03:27.605 que se tornou[br]numa plataforma para esmagar. 0:03:27.685,0:03:32.334 Segundo Cope, o molar tribosfénico[br]serviu de ponto de partida 0:03:32.364,0:03:35.852 para a radiação das formas[br]especializadas que se seguiram. 0:03:35.892,0:03:38.619 e cada forma adaptou-se[br]às necessidades da evolução. 0:03:38.669,0:03:41.133 Endireitando as cristas[br]e retirando a plataforma, 0:03:41.153,0:03:44.645 obtemos os dentes convenientemente[br]afiados de gatos e cães. 0:03:44.905,0:03:47.935 Se retirarmos as cúspides frontais,[br]elevarmos a prateleira, 0:03:47.969,0:03:50.239 temos os molares humanos. 0:03:50.495,0:03:54.224 Com uns ajustes adicionais,[br]obtemos os dentes do cavalo e da vaca. 0:03:54.284,0:03:57.837 A hipótese intuitiva de Cope[br]apresentava alguns erros, 0:03:57.967,0:03:59.720 mas, no registo fóssil, 0:03:59.760,0:04:03.154 há exemplos de dentes[br]que têm o aspeto que ele previa 0:04:03.214,0:04:06.335 e podemos relacionar os molares[br]de todos os mamíferos vivos 0:04:06.355,0:04:08.395 com essa forma primitiva. 0:04:08.515,0:04:11.903 Hoje, a capacidade de consumir[br]diversas formas de alimentos, 0:04:11.923,0:04:14.309 permite que os mamíferos[br]sobrevivam em "habitats" 0:04:14.329,0:04:17.335 que vão desde os cumes das montanhas[br]às profundezas dos oceanos, 0:04:17.355,0:04:19.489 às florestas tropicais e aos desertos. 0:04:19.529,0:04:22.125 Portanto, o êxito[br]da nossa classe biológica 0:04:22.165,0:04:26.365 deve-se, em grande medida,[br]à excecional força e adaptabilidade 0:04:26.405,0:04:29.355 dos modestos molares dos mamíferos.