1
00:00:06,771 --> 00:00:11,283
Talvez você nem se dê conta disso,
mas seus dentes são um prodígio.

2
00:00:11,283 --> 00:00:14,433
Eles trituram toda a sua comida
ao longo de sua vida,

3
00:00:14,433 --> 00:00:18,263
e são fortes o bastante
para não se quebrarem eles próprios.

4
00:00:18,263 --> 00:00:21,183
E eles são formados
usando apenas a matéria-prima

5
00:00:21,183 --> 00:00:24,203
dos alimentos que eles mesmos moem.

6
00:00:24,203 --> 00:00:26,634
Mas o que está por trás
dessa força impressionante?

7
00:00:26,694 --> 00:00:31,313
Sua estrutura genial faz deles
duros e resistentes ao mesmo tempo.

8
00:00:31,313 --> 00:00:35,631
A dureza pode ser pensada como
a capacidade de resistir a rachaduras,

9
00:00:35,631 --> 00:00:39,444
enquanto a resistência evita
que a rachadura aumente.

10
00:00:39,444 --> 00:00:42,338
Poucos materiais possuem
ambas as propriedades.

11
00:00:42,488 --> 00:00:46,124
Por exemplo, o vidro é duro,
mas não é resistente,

12
00:00:46,124 --> 00:00:48,963
enquanto o couro é resistente,
mas não é duro.

13
00:00:48,963 --> 00:00:51,979
Os dentes conseguem ambas
as coisas através de duas camadas:

14
00:00:51,979 --> 00:00:57,444
uma camada externa dura de esmalte,
quase inteiramente de fosfato de cálcio,

15
00:00:57,444 --> 00:01:00,632
e abaixo dela uma camada
mais resistente, de dentina,

16
00:01:00,632 --> 00:01:04,293
formada em parte por fibras orgânicas,
que a deixa flexível.

17
00:01:04,293 --> 00:01:08,201
Essa estrutura impressionante
tem origem em dois tipos de células:

18
00:01:08,201 --> 00:01:10,995
os ameloblastos, que secretam o esmalte,

19
00:01:10,995 --> 00:01:13,985
e os odontoblastos,
que secretam a dentina.

20
00:01:13,985 --> 00:01:17,163
Na formação dos dentes,
os odontoblastos se movem para dentro,

21
00:01:17,163 --> 00:01:21,554
e os ameloblastos, para fora,
e se desprendem ao atingir a superfície.

22
00:01:21,664 --> 00:01:25,567
Para o esmalte, esse processo
produz ligamentos longos e finos,

23
00:01:25,607 --> 00:01:28,934
cada um com cerca
de 60 nanômetros de diâmetro.

24
00:01:28,934 --> 00:01:32,295
Isso corresponde a um milésimo
da largura do fio de cabelo humano.

25
00:01:32,295 --> 00:01:35,695
Eles são agrupados em feixes de bastões,

26
00:01:35,695 --> 00:01:38,393
milhares por milímetro quadrado,

27
00:01:38,393 --> 00:01:41,525
para formar a camada protetora do esmalte.

28
00:01:41,525 --> 00:01:45,264
Terminado esse processo, seu esmalte
não consegue se autorregenerar novamente,

29
00:01:45,264 --> 00:01:48,745
pois todas as células
que o produzem se perdem,

30
00:01:48,745 --> 00:01:52,224
assim, temos sorte de que o esmalte
seja difícil de ser destruído.

31
00:01:52,224 --> 00:01:55,294
Os odontoblastos usam
um processo mais complexo,

32
00:01:55,294 --> 00:01:57,094
mas, diferentemente dos ameloblastos,

33
00:01:57,094 --> 00:01:58,434
eles permanecem,

34
00:01:58,434 --> 00:02:01,845
e continuam a secretar
dentina ao longo da vida.

35
00:02:01,845 --> 00:02:05,176
Apesar das diferenças dentárias
na ordem dos mamíferos,

36
00:02:05,176 --> 00:02:10,004
o processo subjacente ao crescimento
dos dentes é o mesmo, seja em leões,

37
00:02:10,004 --> 00:02:11,035
cangurus,

38
00:02:11,035 --> 00:02:11,964
elefantes

39
00:02:11,964 --> 00:02:13,196
ou seres humanos.

40
00:02:13,376 --> 00:02:17,074
O que muda é como a natureza 
esculpe a forma do dente,

41
00:02:17,074 --> 00:02:19,389
alterando os padrões
de dobra e crescimento

42
00:02:19,389 --> 00:02:22,964
para se adaptar às distintas dietas
das diferentes espécies.

43
00:02:23,014 --> 00:02:28,513
As vacas possuem molares planos com
cristas paralelas para moer capim duro.

44
00:02:28,513 --> 00:02:34,192
O molar dos gatos possui coroas afiadas
como lâminas, para cortar carne e tendões.

45
00:02:34,192 --> 00:02:39,083
Os dos porcos são grossos, cegos, úteis 
para mastigar raízes e sementes duras.

46
00:02:39,083 --> 00:02:41,502
A infinidade de molares
nos mamíferos modernos

47
00:02:41,502 --> 00:02:45,271
pode ser rastreada até uma forma
comum chamada molar tribosfênico,

48
00:02:45,271 --> 00:02:47,972
que surgiu durante a era dos dinossauros.

49
00:02:47,972 --> 00:02:51,961
No século 19, o paleontólogo
Edward Drinker Cope

50
00:02:51,961 --> 00:02:55,442
desenvolveu o modelo básico
para a evolução dessa forma.

51
00:02:55,442 --> 00:02:59,002
Sua hipótese era de que ela começou
como um dente em forma cônica,

52
00:02:59,002 --> 00:03:02,382
como se vê em muitos peixes,
anfíbios e répteis.

53
00:03:02,682 --> 00:03:06,892
Pequenas pontas foram então adicionadas,
deixando o dente com três em fila,

54
00:03:06,892 --> 00:03:10,634
alinhadas da frente para trás,
e ligadas pelas coroas.

55
00:03:10,634 --> 00:03:13,594
Com o tempo, as pontas foram
pressionadas pra cima,

56
00:03:13,594 --> 00:03:15,524
para fazer coroas triangulares.

57
00:03:15,524 --> 00:03:21,193
Dentes adjacentes formaram um zigue-zague
contínuo de coroas para fatiar e picar.

58
00:03:21,193 --> 00:03:25,114
Uma borda inferior então se formou
atrás de cada grupo de dentes,

59
00:03:25,114 --> 00:03:27,721
e se transformou
numa plataforma para triturar.

60
00:03:27,721 --> 00:03:29,285
Como Cope percebeu,

61
00:03:29,285 --> 00:03:32,545
o molar tribosfênico
serviu de ponto de partida

62
00:03:32,545 --> 00:03:35,804
para a multiplicação
de formas especializadas,

63
00:03:35,804 --> 00:03:38,392
cada uma moldada
por necessidades evolucionárias.

64
00:03:38,392 --> 00:03:40,899
Ao endireitar as coroas
e remover a borda inferior,

65
00:03:40,899 --> 00:03:44,503
temos os dentes convenientemente
afiados de cães e gatos.

66
00:03:44,883 --> 00:03:50,335
Ao remover a ponta frontal e aumentar
a camada, temos nossos molares humanos.

67
00:03:50,335 --> 00:03:54,025
Mais alguns ajustes e temos
os dentes de cavalos ou vacas.

68
00:03:54,025 --> 00:03:58,234
Alguns detalhes na hipótese
intuitiva de Cope não se sustentaram.

69
00:03:58,234 --> 00:03:59,435
Mas, no registro fóssil,

70
00:03:59,435 --> 00:04:03,164
há exemplos de dentes
que são exatamente como ele previu

71
00:04:03,164 --> 00:04:06,225
e podemos rastrear os molares
de todos os mamíferos vivos

72
00:04:06,225 --> 00:04:08,275
até aquela forma primitiva.

73
00:04:08,275 --> 00:04:11,743
Hoje, a capacidade de consumir
diversas formas de alimentos

74
00:04:11,743 --> 00:04:14,119
permite aos mamíferos
sobreviver em habitats

75
00:04:14,119 --> 00:04:17,045
que vão do pico das montanhas
e as profundezas do oceano

76
00:04:17,045 --> 00:04:19,269
até as florestas tropicais e os desertos.

77
00:04:19,269 --> 00:04:23,705
Assim, o sucesso da nossa classe biológica
é devido, em larga escala,

78
00:04:23,705 --> 00:04:26,295
à incrível força e adaptabilidade

79
00:04:26,295 --> 00:04:29,275
do humilde molar dos mamíferos.