As magníficas águas costeiras da Colúmbia Britânica albergam uma incrível abundância de vida marinha selvagem, que inclui baleias-jubarte, leões-marinhos-de-steller, orcas, toninhas e focas. A costa da CB também alberga um dos mamíferos aquáticos mais icónicos. mais conhecido e mais simpático: a lontra-marinha. Com os seus compridos bigodes e o pelo cinzento da cara, estes animais cativantes mereceram a alcunha de "o velho homem do mar". Mas, apesar do seu aspeto engraçado e das suas travessuras, as lontras-marinhas sofreram uma longa e negra história na América do Norte, que quase as levaram à extinção. Chamo-me John E. Marriot. Com este episódio, vamos apresentar-vos uma das histórias ambientais de grande êxito no Canadá: a recuperação milagrosa da lontra-marinha, outrora eliminada da costa da Colúmbia Britânica. (Música) As lontras-marinhas são únicas porque são os membros mais pequenos da família dos mamíferos marinhos mas são também o membro maior da família das doninhas. As lontras-marinhas encontram-se em volta de ilhas, recifes fiordes e baías, abrigadas, e alimentam-se duma série de mariscos, como amêijoas, mexilhões, caranguejos e ouriços-do-mar. Não é raro vermos lontras-marinhas a flutuar de costas na água com a comida em cima da barriga, como num piquenique espalhado em cima duma mesa, e é de notar, que são um dos poucos animais no mundo que usam instrumentos tal como nós. Usam pedras e outros objetos para abrir os seus alimentos contidos em conchas duras para obter as coisas deliciosas no interior. As lontras-marinhas exigem montes de comida para se manterem quentes nas águas costeiras frias do Pacífico e comem até 30% do seu peso corporal todos os dias. Ao contrário de outros mamíferos marinhos, não têm muita gordura corporal para se protegerem do frio, e é por isso que têm um dos pelos mais espessos do reino animal, feito de dois tipos de pelo: pelos de guarda compridos e esparsos e um pelo super denso, quente, macio como penugem. Infelizmente, são estes casacos belos e luxuosos que são a causa de as lontras-marinhas terem desaparecido da Colúmbia Britânica e do Canadá. Antes de começar o comércio das peles no início do século XIX, a população mundial das lontras-marinhas era calculada entre 150 000 e 300 000 animais. Mas, no início do século XX, apenas cem anos depois, a população tinha sido totalmente dizimada pelo nosso apetite insaciável pelas suas peles e restavam menos de 2000 animais. Por fim, a lontra-marinha desapareceu da costa da CB completamente. A última lontra foi alvejada e morta na Ilha de Vancouver em 1929. O longo caminho para a recuperação das lontras-marinhas começou com os esforços conjugados dos governos provinciais, estatais e federais do Canadá e dos Estados Unidos. Entre 1969 e 1972, foram libertadas na Baía de Checleset 89 lontras-marinhas do Alasca, ao largo da costa oeste da Ilha de Vancouver. Espantosamente, esta população reintroduzida prosperou quase imediatamente no soberbo habitat costeiro e, por volta de 1996, tinha aumentado mais de quatro vezes para 1500 lontras. O espantoso êxito inicial desta reintrodução levou o governo federal a reduzir o estatuto da lontra-marinha das espécies em risco, de "em perigo" para "ameaçadas". Em 2004, a população tinha crescido ainda mais espetacularmente e encontravam-se lontras-marinhas tão a sul como a Ilha Vargas em Clayoquot Sound, tão a norte como a ponta norte da Ilha de Vancouver, em Cape Scott. e tão a ocidente como a Ilha Hope no Estreito de Queen Charlotte. Hoje, as lontras-marinhas espalharam-se ainda mais na Colúmbia Britânica e o seu estatuto foi reduzido de espécie "ameaçada" para espécie "especialmente preocupante". A recuperação continuada e a expansão na costa canadiana é hoje considerada uma das reintroduções de mamíferos de maior êxito na História do Canadá. Mas a história deste êxito espantoso não termina aqui: as lontras-marinhas são conhecidas como uma "espécie fundamental" porque mesmo em pequeno número podem ter um enorme impacto na manutenção de ecossistemas saudáveis Se olharmos para quando as lontras foram erradicadas, as rochas e os recifes cobriram-se rapidamente com densas populações de ouriços-do-mar que, por sua vez, deram cabo das florestas de algas tão importantes para a saúde do nosso oceano, eliminando as "florestas tropicais do mar", assim chamadas por causa da capacidade das florestas de algas de fornecer alimento, abrigo, oxigénio e um ambiente de berçário para uma ampla variedade de vida marinha Com a reintrodução das lontras-marinhas que voltaram a ocupar o seu antigo habitat e retomaram o seu papel indispensável na ecologia dos ecossistemas costeiros da Colúmbia Britânica, o impacto ambiental foi notável. As populações descontroladas dos ouriços-do-mar ficaram novamente sob controlo. e as florestas de algas regressaram e floresceram, remodelando totalmente a nossa costa, de forma maravilhosa. Apesar do êxito desta reintrodução, as lontras marinhas continuam a enfrentar uma série de ameaças, A mais grave é dos contaminantes ambientais como os derrames de petróleo. Os derrames de petróleo são catastróficos para as lontras marinhas O pelo perde a capacidade de flutuar e de isolar e as lontras acabam por morrer devido à exposição. As lontras que sobrevivem inicialmente acabam por inalar e ingerir petróleo quando tentam limpar o pelo cheio de petróleo, o que provoca mais mortes. Não admira que as populações das lontras-marinhas tenham levado quase 30 anos a recuperar do derrame da Exxon-Valdez ao largo da costa do Alasca Por essa razão, é indispensável continuar a proteger o habitat da lontra-marinha e continuar a monitorar e a reduzir o risco de derrames de petróleo ao longo da costa da CB. Obrigado a todos por assistirem. Apreciamos o vosso apoio. Deem-nos a conhecer o que pensam e não se esqueçam de subscrever e cliquem naquela campainha para não perderem o próximo episódio. Obrigado a todos, até breve! Tradução de Margarida Ferreira (novembro-2023)