Inteligência: o que é isso? Se observarmos a história de como a inteligência tem sido entendida, um exemplo inspirador seria a famosa frase de Edsger Dijkstra: "A pergunta de se uma máquina pode pensar é tão interessante quanto a pergunta de se um submarino pode nadar." Quando Edsger Dijkstra escreveu essa frase, ele pretendia que fosse uma crítica aos pioneiros da ciência da computação, como Alan Turing. Entretanto, se olharmos para o passado e imaginarmos quais foram as inovações mais importantes que nos permitiram construir máquinas artificiais que podem nadar e máquinas artificiais que [voam], doscobriremos que apenas entendendo os mecanismos físicos em que se baseiam o nadar e o voar é que se tornou possível construirmos essas máquinas. E então, muitos anos atrás, eu participei de um programa para tentar entender os mecanismos físicos fundamentais em que se baseia a inteligência. Vamos voltar um pouco. Vamos começar com um experimento mental Imaginem que vocês são de uma raça alienígena que não sabe nada sobre a biologia terrestre, sobre neurociência terrestre ou inteligência terrestre, mas vocês possuem telescópios incríveis e têm a capacidade de observar a Terra, e vocês vivem por um longo período de tempo, e por isso podem observar a terra durante milhões, até mesmo bilhões de anos. E vocês observam um efeito extremamente estranho. Vocês percebem que, com o passar dos milênios, a Terra é continuamente bombardeada por asteroides até determinado momento, e que, em determinado momento, corresondendo aproximadamente ao nosso ano, 2000 d.C., alguns asteroides que estão em rota de colisão com a Terra, que de outra forma teriam colidido, misteriosamente são defletidos ou explodem antes que possam atingir a Terra. É claro, que como terráqueos, nós sabemos que a razão disso é que estamos tentando nos salvar. Estamos tentando prevenir um impacto. Mas se vocês são uma raça alienígena, que não sabe nada disso, que não possui nenhum conceito de inteligência terrestre, seriam forçados a conceber uma teoria física que explicasse como, até certo momento na história, os asteroides que devastariam a superfície do planeta misteriosamente pararam de colidir. Então eu digo que isso é o mesmo que tentamos entender a natureza física da inteligência. Neste programa de que eu participei há vários anos, eu observei uma variedade de diferentes linhas na ciência, através de várias disciplinas, que apontavam, eu imagino, na direção de um único mecanismo básico para a inteligência. Na cosmologia, por exemplo, existem diferentes linhas para evidenciar que nosso universo parece estar sintonizado para o desenvolvimento da inteligência, e, em particular, para o desenvolvimento de estados universais que maximizam a diversidade de futuros possíveis. Num jogo, por exemplo, o Go -- todos se lembram de quando, em 1997, o Deep Blue da IBM derrotou Garry Kasparov no xadrez; poucas pessoas sabem que nos últimos 10 anos, mais ou menos, o jogo Go, um jogo muito mais desafiador porque possui um fator muito maior de ramificações, também começou a sucumbir a computadores que jogam pela mesma razão: as melhores técnicas atualmente para computadores que jogam Go são técnicas que tentam maximizar as opções futuras durante a partida. Afinal, no planejamento de movimentos robóticos, surgiram uma variedade de técnicas recentes que tentam tirar vantagem das habilidades dos robôs de maximizar a liberdade de ações no futuro, buscando realizar tarefas complexas. E então, juntando todas essas linhas, e colocando-as juntas, eu perguntei, há muitos anos, será que existe um mecanismo fundamental para a inteligência que podemos extrair de todas essas diferentes linhas? Será que há uma única equação para a inteligência? E acho que a resposta é sim. ["F = T ∇ Sτ"] O que vocês estão vendo é, provavelmente, o equivalente mais próximo a E = mc² para a inteligência que eu já vi. O que vocês veem aqui é uma declaração de correspondência de que a inteligência é uma força, F, que age de modo a maximizar a liberdade de ação no futuro. Ela age para maximizar a liberdade de ação no futuro, ou manter opções abertas, com uma energia T, com a diversidade de possíveis futuros acessíveis, S, até algum horizonte de tempo futuro, tau. Resumindo, a inteligência não gosta de ficar encurralada. A inteligência tenta maximizar a liberdade de ação no futuro e manter opções abertas. E assim, com essa equação, é natural a pergunta: o que podemos fazer com isso? Quão preditivo é isso? Será que prevê inteligência em nível humano? Será que prevê inteligência artificial? Vou mostrar agora um vídeo que vai demonstrar, acho, algumas das incríveis aplicações dessa única equação. (Vídeo) Narrador: Pesquisas recentes em cosmologia sugerem que universos que produzem mais desordem, ou "entropia", durante sua existência devem tender a ter condições mais favoráveis para a existência de seres inteligentes como nós. Mas e se essa conexão cosmológica experimental entre entropia e inteligência insinua um relacionamento mais profundo? E se o comportamento inteligente não só se correlaciona com a produção de entropia a longo prazo, mas, na verdade, emerge diretamente dela? Para saber, desenvolvemos um mecanismo de software chamado Entropica, projetado para maximizar a produção de entropia a longo prazo de qualquer sistema em que ele se encontre. Incrivelmente, o Entropia conseguiu passar em vários testes de inteligência animal, jogar jogos humanos, e até mesmo ganhar dinheiro na bolsa de valores, tudo sem ser instruído para isso. Aqui estão alguns exemplos do Entropica em ação. Assim como um ser humano fica em pé sem cair, aqui nós vemos o Entropica equilibrando uma vara automaticamente com um carrinho. Esse comportamento é notável em parte porque nunca demos ao Entropica um objetivo. Ele simplesmente decide sozinho equilibrar a vara. Essa habilidade de equilíbrio terá aplicações para a robótica humanoide e tecnologias de assistência humana. Assim como alguns animais usam objetos em seu ambiente como ferramentas para alcançar espaços estreitos, aqui nós vemos que o Entropica, novamente, por iniciativa própria, pôde mover um disco grande representando um animal pelo lugar, de maneira a fazer com que o disco pequeno, representando uma ferramenta, alcançasse um espaço confinado segurando um terceiro disco e soltar o terceiro disco de sua posição fixa inicial. Essa habilidade de usar ferramentas terá aplicações na produção inteligente e agricultura. Além disso, assim como outros animais cooperam puxando as pontas opostas de uma corda ao mesmo tempo para liberar comida, Aqui vemos que o Entropica consegue completar uma versão modelo dessa tarefa. Essa habilidade de cooperação tem implicações interessantes no planejamento econômico e uma variedade de outros campos. O Entropica é amplamente aplicável em uma variedade de domínios. Por exemplo, aqui podemos vê-lo jogando pingue-pongue contra si mesmo, demonstrando seu potencial para jogos. Aqui vemos o Entropica orquestrando novas conexões numa rede social em que amigos constantemente perdem o contato e mantendo a rede conectada com sucesso. A mesma habilidade de osquestrar uma rede também tem aplicações na saúde, energia e inteligência. Aqui o Entropica direciona os caminhos de uma frota de navios, descobrindo e utilizando com sucesso o Canal do Panamá para extender seu alcance globalmente do Atlântico ao Pacífico. Com o mesmo argumento, o Entropica é amplamente aplicável a problemas em defesa autônoma, logística e transporte. Finalmente, aqui vemos o Entropica descobrindo e executando espontaneamente a estratégia de comprar em baixa e vender em alta numa simulação de mercado de ações a descoberto, conseguindo aumentar os bens administrados exponencialmente. A habilidade de gerenciar riscos terá ampla aplicação em finanças e em seguros. Alex Wissner-Gross: O que acabamos de ver foi que várias demonstrações de comportamento cognitivo humano inteligente, tais como uso de ferramentas, andar ereto e cooperação social todos derivam da mesma equação, que guia um sistema a maximizar sua liberdade de ação no futuro. Bem, há uma ironia profunda aqui. Voltando ao início do uso do termo "robô", a peça "RUR", sempre houve um conceito de que se desenvolvêssemos inteligência de máquina, haveria uma revolta cibernética. As máquinas se levantariam contra nós. Uma das maiores consequências desse trabalho é que talvez, por todas estas décadas, nós entendemos o conceito de revolta cibernética ao contrário. Não é que as máquinas ficam inteligentes primeiro e depois megalomaníacas e tentam conquistar o mundo. É bem o contrário, que a vontade de assumir o controle de todos os possíveis futuros é um princípio mais fundamental que o da inteligência, que inteligência em geral pode mesmo provir diretamente desse desejo de controle ao invés de o contrário. Outra consequência importante é a busca de metas. Perguntam-me bastante como a habilidade de buscar metas deriva desse tipo de estrutura? E a resposta é que a habilidade de buscar metas deriva diretamente disso no seguinte sentido: assim como passamos por um túnel, um gargalo em nosso futuro caminho, para conseguir atingir vários outros objetivos diferentes mais tarde, ou assim como investiríamos numa segurança financeira, diminuindo a liquidez a curto prazo para aumentar nossa riqueza a longo prazo, a busca por metas emerge diretamente de uma motivação de longo prazo para aumentar a liberdade de ação no futuro. Para finalizar, Richard Feynman, físico famoso, escreveu uma vez que se a civilização humana fosse destruída e pudéssemos deixar só um único conceito para nossos descendentes para ajudá-los a reconstruir a civilização, esse conceito deveria ser que toda a matéria a nossa volta é feita de pequenos elementos que se atraem quando estão longe uns dos outros, mas se repelem quando estão próximos uns dos outros. Meu equivalente a essa afirmação para os descendentes para ajudá-los a construir inteligências artificiais ou ajudá-los a entender a inteligência humana, é o seguinte: a inteligência deveria ser encarada como um processo físico que tenta maximizar a liberdade de ação no futuro e evitar limitações em seu próprio futuro. Muito obrigado. (Aplausos)