Imaginem o mundo de um jeito novo.
Gostaria de compartilhar
algumas ideias com vocês,
que compartilhei primeiro com meu amigo
Carl Lee, e com muitas outras pessoas,
sobre como podemos olhar o mundo
de maneiras muito diferentes.
Quero lhes mostrar alguns mapas
desenhados por Ben Hennig,
que retratam o planeta de um modo
que a maioria de vocês nunca viu antes.
Quero falar sobre como tudo está conectado
a tudo mais.
Normalmente essa frase é atribuída
a Lênin,
mas foi usada recentemente
pelo meu amigo George Monbiot,
para tentar explicar
a importância do cocô
das baleias para os oceanos.
Se matarmos as baleias,
não temos o cocô de baleia,
e, se os oceanos
não tiverem cocô de baleia,
não vai dar certo.
Aqui temos uma imagem bastante familiar.
Sou velho o bastante para ter nascido
antes de termos esta imagem.
Parece que minhas primeiras
palavras foram "lua, lua",
mas acho que isso
era minha mãe fantasiando
sobre o que seu filhinho estava vendo
na imagem trêmula da TV em preto e branco.
Faz apenas alguns séculos
que a maioria de nós
pôde ver a Terra como esférica.
Quando essas imagens foram vistas
pela primeira vez, nos anos 1960,
o mundo estava mudando
a uma velocidade incrível.
Na minha disciplina de geografia humana,
um cartógrafo chamado Waldo Tobler
estava desenhando novos mapas do planeta,
e esses mapas se espalharam,
e vou lhes mostrar um deles agora.
Este é um mapa-múndi,
mas, para vocês,
é um pouco estranho.
Nele, esticamos os lugares,
de modo que as áreas
com mais pessoas ficassem maiores,
e áreas como o Saara e os Himalaias,
onde vivem poucas pessoas,
ficassem mais encolhidas.
Todos no planeta receberam
a mesma quantidade de espaço.
Aqui, as cidades são bem brilhantes.
As linhas indicam cabos submarinos
e rotas comerciais.
E há uma linha específica,
que vai do porto chinês de Dalian
passando por Cingapura,
pelo canal de Suez,
pelo mediterrâneo, e chegando a Roterdã.
E ele mostra a rota
do que era o maior navio
do mundo há apenas um ano,
um navio que carregava
tantos contêineres de mercadorias
que, quando era descarregado,
se os caminhões estivessem em comboio,
formariam uma linha de 100 quilômetros.
É assim que nosso mundo
está conectado agora.
Essa é a quantidade de coisas
sendo transportada pelo mundo.
E isso somente num único navio,
numa única viagem,
em cinco semanas.
Vivemos em cidades há muito tempo,
mas a maioria de nós não vivia em cidades.
Esta é Çatalhöyük,
uma das primeiras cidades do mundo.
No seu auge, há 9 mil anos,
as pessoas tinham de andar nos telhados
das outras casas para chegar em casa.
Se olharem com atenção o mapa da cidade,
vão ver que não existem ruas,
pois as ruas são algo que inventamos.
O mundo muda.
Muda por tentativa e erro.
Descobrimos lenta e gradualmente
como viver de jeitos melhores.
E o mundo tem mudado
incrivelmente rápido recentemente.
Foi somente nas últimas seis,
sete ou oito gerações
que de fato percebemos
que somos uma espécie.
E somente nas últimas décadas
é que um mapa assim pôde ser desenhado.
Novamente, o mapa mostrado
é um mapa da população mundial,
mas, nele, veem-se setas que mostram
como, saindo da África, nos espalhamos,
com datas mostrando
aonde achamos ter chegado
em determinados momentos.
Tenho de redesenhar
este mapa frequentemente,
pois sempre se descobre
que uma determinada data está errada.
Estamos aprendendo sobre nós mesmos
numa velocidade incrível.
E estamos mudando.
Muitas mudanças são graduais.
São acréscimos.
Não notamos as mudanças,
pois nossa vida é curta,
70, 80 e, com sorte, 90 anos.
O gráfico nos mostra
a taxa anual de crescimento
da população no mundo.
Era muito baixa até 1850,
e então a taxa de crescimento
começou a subir,
até que, por volta da época em que nasci,
quando vimos, lá da Lua,
aquelas imagens do nosso planeta,
nossa população global estava
crescendo em torno de 2% ao ano.
Se continuasse a crescer nesse ritmo
por apenas mais alguns séculos,
o planeta inteiro estaria apinhado
de uma fervilhante
massa de corpos humanos,
uns encostados aos outros.
E as pessoas ficaram assustadas.
Assustadas com esse crescimento
e com o que se chamou em 1968
de "a bomba populacional".
Mas, se olharmos para o final do gráfico,
o crescimento começou a diminuir.
Nas décadas de 70, 80, 90, 2000,
e ainda mais rápido nesta década,
o crescimento desacelerou.
O planeta está estabilizando.
Estamos caminhando
para 9, 10 ou 11 bilhões de pessoas
até o fim do século.
Durante essa mudança, houve perturbações.
Houve a Segunda Guerra Mundial.
Vimos em 1918 a pandemia
da gripe espanhola.
Vimos a grande fome chinesa.
E costumamos nos concentrar
nesses eventos.
Tendemos a nos concentrar
nas notícias de eventos terríveis.
Não costumamos nos concentrar
nas mudanças graduais
e nas notícias boas.
Nós nos preocupamos com as pessoas.
Preocupamos com quantas pessoas existem.
Nos preocupamos em como
nos afastar das pessoas.
Mas este é o mapa-múndi, novamente
modificado para alargar a área
da maior distância em que as pessoas
estão de cada área.
Então, se querem saber
como viver longe de todo mundo,
esses aqui são os melhores lugares.
E, a cada ano, essas áreas crescem,
porque, a cada ano, estamos
fazendo isso globalmente.
Nos mudamos para as cidades.
Estamos nos juntando mais densamente.
Na Europa, há lobos novamente,
e eles estão rumando
para o oeste pelo continente.
Nosso mundo está mudando.
Vocês se preocupam.
Este é um mapa mostrando
onde a água cai em nosso planeta.
Agora sabemos disso.
E podem ver onde era Çatalhüyük,
onde os continentes se cruzam,
África, Ásia e Europa,
e pode-se ver que existem
muitas pessoas vivendo ali
em áreas com pouca água.
E podemos ver áreas onde existe
muita precipitação pluviométrica.
E podemos sofisticar um pouco mais.
Em vez de um mapa formado por pessoas,
podemos fazer o mapa da água,
e então podemos mudá-lo todo mês
para mostrar a quantidade de chuva
que cai em todos os cantos do globo.
E podemos ver as monções
se movendo pelo planeta,
e até parece que há um coração
pulsando no planeta.
E tudo isso só se tornou possível
no meu tempo de vida,
para vermos onde estamos vivendo.
Temos água suficiente.
Este é o mapa-múndi de onde
é plantado o alimento que comemos.
Essas são as áreas de que mais
dependemos para arroz e milho.
Nos preocupamos se vai haver
comida suficiente, mas sabe-se
que, se comermos menos carne e dermos
menos da colheita para os animais,
vai ter comida para todos
se pensarmos em nós mesmos
como um grupo de pessoas.
Também sabemos
o que fazemos
de muito errado hoje em dia.
Vocês já devem ter visto
este mapa-múndi antes.
É um mapa
produzido por imagens de satélites,
se lembrarem daqueles satélites
ao redor do planeta
no primeiro slide que mostrei,
que gera uma imagem
de como é a Terra à noite.
Normalmente, quando vemos aquele mapa,
o mapa "normal"
com que estamos acostumados,
pensamos estar vendo
o mapa de onde as pessoas vivem.
Essas luzes brilhando
mostram onde as pessoas vivem.
Mas aqui, nesta imagem do mundo,
lembrem-se de que esticamos
o mapa novamente,
todos os lugares possuem
a mesma densidade demográfica neste mapa.
Se uma área não possui pessoas,
nós a encolhemos,
para fazê-la desaparecer.
Assim, estamos mostrando todo mundo
com a mesma importância.
Agora, as luzes não nos mostram
mais onde estão as pessoas,
pois elas estão por toda parte.
Agora, as luzes no mapa,
as luzes em Londres,
as luzes no Cairo, em Tóquio,
na Costa Leste dos Estados Unidos,
as luzes nos mostram
locais onde vivem pessoas
tão perdulárias com a energia
que podem se dar ao luxo
de gastar dinheiro
acendendo luzes que irradiam até o céu,
permitindo aos satélites
formar uma imagem como esta.
E as áreas que estão escuras no mapa
ou são áreas onde as pessoas
não têm acesso a tanta energia,
ou áreas onde as pessoas têm,
mas elas aprenderam
a parar de irradiar a luz até o céu.
E se eu pudesse lhes mostrar
este mapa animado ao longo do tempo,
vocês veriam que Tóquio
na verdade ficou mais escura,
porque, desde o tsunami no Japão,
eles contam com 25% menos de eletricidade,
com a desativação das usinas nucleares.
E o mundo não acabou.
Apenas irradiou menos brilho para o céu.
Há um número enorme
de boas notícias no mundo.
A mortalidade infantil está caindo,
e tem caído a uma velocidade incrível.
Alguns anos atrás,
o número de bebês que morriam
no primeiro ano de vida no mundo
caiu cerca de 5% em apenas um ano.
Mais crianças estão frequentando a escola
e aprendendo a ler e a escrever,
conectando-se à internet
e indo para a universidade
mais do que nunca, a índices incríveis.
E o maior número de jovens
que chegam à universidade no mundo
são mulheres, não homens.
Posso lhes dar uma boa
notícia atrás da outra
sobre o que está melhorando no planeta,
mas tendemos a nos concentrar
nas notícias ruins imediatas.
Acho que Rebecca Solnit
colocou isso de forma brilhante,
quando ela explicou: "A soma
das melhorias, mudanças imperceptíveis,
que podem constituir progresso
e que fazem da nossa era
extremamente diferente do passado",
o passado era muito mais estável,
"um contraste obscurecido pela natureza
pouco dramática da transformação gradual,
pontuado por distúrbios ocasionais".
Ocasionalmente coisas terríveis acontecem.
Vemos essas coisas terríveis
nas notícias todas as noites.
Não nos contam sobre
o decréscimo da população.
Não falam sobre o mundo
se tornando mais conectado.
Não nos falam sobre as incríveis
melhoras na compreensão.
Não nos falam sobre como estamos
aprendendo a começar
a gastar e a consumir menos.
Este é meu último mapa.
Neste mapa, tiramos os mares
e os oceanos.
Agora, vocês estão olhando
para cerca de 7,4 bilhões de pessoas
com o mapa desenhado
em proporção a essas pessoas.
Estão olhando para
mais de 1 bilhão na China,
e podem ver a maior cidade
do mundo da China,
mas vocês não sabem seu nome.
Vocês podem ver que a Índia
está no centro desse mundo.
Podem ver que a Europa está na borda.
E nós em Exeter hoje
estamos no extremo do planeta.
Estamos num minúsculo pedaço de rocha
na Europa,
que contém menos
de 1% dos adultos do mundo,
e menos de 0,5% das crianças do mundo.
Estamos vivendo num mundo
estabilizado, urbanizado,
num mundo que envelhece,
num mundo conectado.
Há muitas, muitas coisas para se temer,
mas não precisamos temer
uns aos outros tanto quanto tememos,
e precisamos ver que agora
vivemos num novo mundo.
Muito obrigado.
(Aplausos)