Sou astrofísica planetária.
(Aplausos)
Obrigada.
Mas serei a primeira a dizer-vos
que fui eu que inventei este título.
(Risos)
Estão a ver, tinha que arranjar um título
para descrever o que faço.
Obtive o doutoramento em Astrofísica,
porque observo as propriedades
das estrelas que estão próximas do Sol.
Mas também observo planetas
e a interação desses planetas e estrelas.
Até há cerca de 25 anos,
o termo "cientista planetário"
significava apenas pessoas que estudavam
os planetas dentro do nosso sistema solar.
Mas em 1992 foi descoberto
o primeiro planeta, ou exoplaneta,
fora do nosso sistema solar.
Portanto, não há nenhum nome
para uma pessoa que estude o que eu estudo
e hoje há 3593 exoplanetas conhecidos.
Plateia: Uau!
São muitos!
Esta área em que eu estou
é muito recente.
Se fosse uma pessoa, quase
não teria idade para beber.
(Risos)
Enquanto a astronomia em geral,
que é o estudo dos corpos celestes,
já existe há milhares de anos.
É a mais antiga das ciências naturais.
Atualmente, ainda estamos a descobrir
os possíveis loucos planetas
que existem por aí.
Há planetas que partilham uma estrela,
por isso têm duas estrelas
em vez duma só.
E há estrelas, como a que veem
nesta imagem,
que estão tão perto do seu planeta
que têm um período de dez horas.
O período da Terra é de 365 dias.
É mesmo de loucos!
Só agora começamos a perceber
todas as estranhas propriedades
físicas e geométricas
que existem
entre uma estrela e um planeta.
Mas eu não observo apenas
como se movem uma estrela e um planeta,
em relação um ao outro.
Estudo como interagem quimicamente.
Passo a explicar.
Do Big Bang, os únicos elementos
que obtivemos foram o hidrogénio e o hélio.
Portanto, não havia carbono,
nem oxigénio, nem ferro.
Não havia nada disso.
Então, aconteceu
que o Big Bang explodiu
o hidrogénio e o hélio
espalharam-se pelo Universo.
Mas isso aconteceu de forma irregular
e formaram-se
as gigantescas bolsas de gás
mais ou menos
como estão a ver neste vídeo.
Por fim, este gás colapsou
sobre si mesmo e formou estrelas.
Mas estas estrelas eram maciças,
absolutamente enormes.
Eram cerca de mil vezes
maiores do que o Sol.
(Risos)
É como dizer que o Sol é uma uva
e essas estrelas enormes eram um gato.
(Risos)
Só que não eram tão peludas.
Era no interior destas primeiras estrelas
que podíamos encontrar
temperaturas suficientemente altas
e densidades para ter uma fusão.
Pela primeira vez, os elementos
estavam a juntar-se e a unir-se.
E aí temos o oxigénio,
que tem um protão,
e o hélio, que tem dois protões.
Chocam um com o outro
e, de repente, temos o lítio,
depois o berilo e depois o carbono.
Mas estas primeiras estrelas
tiveram uma vida difícil
e morreram novas.
Explodiram por todo o lado.
Agarraram nesses elementos novos
que se criaram no seu interior
e também os projetaram pelo Universo.
Formou-se uma segunda geração de estrelas,
na sua maior parte de hidrogénio e hélio,
mas já com estas sementes de carbono
que podiam continuar o processo de fusão.
A nossa Tabela Periódica
foi compilada, olhando para estrelas
que viveram e morreram,
em alturas diferentes.
Esta aqui tem códigos coloridos
e foi feita pela minha colega
Jennifer Johnson.
Ela atribuiu-lhe códigos de cores
para mostrar as diferentes formas
em que estes elementos se podiam ter formado.
Vemos que alguns estão a azul
porque são oriundos do Big Bang,
mas a maior parte é oriunda
de duas estrelas que andavam
à roda uma da outra e depois explodiram,
ou de uma só que explodiu numa supernova.
O nosso Sol foi criado a partir
do hidrogénio e do hélio
originais do Big Bang,
mas também a partir de muitos
destes elementos.
Os planetas também foram criados
ao mesmo tempo que o Sol.
Todos eles, de Mercúrio a Neptuno,
até mesmo o anão Plutão.
Mas foi na Terra que a vida floresceu
e dessa vida surgiu a humanidade.
Mas a nossa humanidade está enraizada
nas propriedades do nosso planeta.
Por isso, se pensarmos nisso,
as pessoas são feitas de matérias-primas,
desses elementos básicos para a vida,
que foram criados nas estrelas.
Somos seres, com base no carbono,
os nossos ossos são feitos de cálcio.
Andamos sobre silicatos de ferro
no terreno
e respiramos oxigénio,
como aquele que estamos
agora a respirar, estou a vê-lo.
(Risos)
Isso tudo veio de uma estrela.
Por isso, somos todos poeira de estrelas.
Literalmente.
Mas também podemos fazer uma coisa
semelhante a outras estrelas,
podemos criar outros elementos.
(Aplausos)
Por exemplo, o tenessínio,
não sei se já ouviram falar.
É o elemento Ts 117, chama-se assim
por causa do grande estado de Tennessee,
porque vários cientistas de Vanderbilt
fizeram parte da equipa de descoberta.
Perguntam-me com frequência:
"Como é que pode observar
o espaço exterior,
"quando há tantos problemas
aqui na Terra?
"Não se sente diminuída?"
A minha resposta é sempre: "Não!"
Não me sinto diminuída,
sinto-me fortalecida.
Porque conheço todas as coisas,
todos os acontecimentos
que podem ter ocorrido,
e todos os acontecimentos
que ocorreram para a criação da vida.
É importante nós sabermos
de onde viemos,
quer sejam os nossos pais,
os nossos antepassados,
o nosso planeta, a nossa estrela mãe,
ou o berçário estelar.
Conhecer as nossas raízes
é um impulso fundamental importante
para a humanidade.
É usando o método científico
que podemos arquitetar uma hipótese
que possa explicar como o sistema solar
é aquilo que é hoje.
Por exemplo, é senso comum
que deve ter explodido uma supernova
há 4600 milhões de anos,
quando se estava a formar o sistema solar.
Depois pudemos reunir dados
sobre estrelas e planetas vizinhos
de modo a percebermos
as suas propriedades básicas.
Agora descobrimos que há
elementos específicos em meteoritos
e também no fundo do oceano,
que só podem ser provenientes
duma supernova.
Daí, e com a ajuda dos nossos pares
que reveem os nossos dados,
conseguimos deduzir o facto
de que essa supernova deve ter
agido como uma enorme misturadora.
Agarrou no gás e na poeira
e em todos esses novos elementos
e misturou-os bem misturados
até fazer qualquer coisa
agradável ou habitável para a vida.
Foi observando milhares de planetas
e milhões de estrelas
que conseguimos ver que mistura especial
de elementos básicos foram necessários
para criar um planeta passível
de sustentar vida.
Depois ainda houve outras circunstâncias
especiais necessárias
para criar essa vida.
Por outras palavras,
somos uma anomalia matemática,
uma raridade no Universo.
Embora, provavelmente,
haja vida no Universo,
talvez mesmo na nossa galáxia
da Via Láctea,
essa vida será inerentemente
diferente da nossa,
porque foi afetada por acontecimentos
que nunca aconteceram connosco.
Vai ser muito difícil
detetar essa vida
porque precisamos de descobrir,
de criar e desenvolver novas tecnologias.
Pensar na probabilidade
estatística da nossa existência
não me faz sentir diminuída,
faz-me lembrar todas as possibilidades
que existem no espaço exterior.
Quando somos estudantes universitários
e saímos da biblioteca para o dormitório,
olhamos para as estrelas.
Eu olhava para Orionte, em especial.
Nas aulas, aprendemos que duas estrelas
que se passeiam pelo espaço,
provavelmente nunca vão colidir,
seja em que circunstâncias for.
Que o interior de uma estrela
tem uma estrutura como uma cebola,
às camadas.
Com o passar do tempo, apercebi-me
de que essas constelações
deixaram de ser pontinhos no céu
para serem caracteres distintos.
Podia ver que elas estavam
a diferentes distâncias de nós
e brilhavam com cores diferentes.
Estavam a girar a diferentes velocidades.
Algumas tinham planetas
que estavam tão perto delas
que até eram difíceis de distinguir.
Outras partilhavam o seu planeta
com outra estrela.
Quando olhamos para o céu,
é como aumentar a imagem
do espaço exterior, visto da Terra.
Exceto que, em vez de ver
dados ou imagens,
vemos perguntas e possibilidades.
Observar regularmente
para além do nosso mundo
dá-nos uma perspetiva
fácil de esquecer.
Tiveram que ocorrer
muitos acontecimentos
exatamente na sequência certa
para eu estar hoje aqui convosco.
Bastava que uma dessas coisas
fosse diferente,
digamos, que a Terra estivesse
mais próxima do Sol,
ou que a Lua não existisse,
para que a vida não tivesse acontecido.
Perceber a probabilidade estatística
da nossa existência,
ajuda a esquecermo-nos
de todo o drama quotidiano,
de todas as ansiedades
e inseguranças.
Faz-nos lembrar quem somos.
Uma anomalia matemática
num mar de gás, estrelas e planetas.
Eu estudo essas estrelas e planetas
para tentar compreender
como é que se formaram
e como evoluíram.
E talvez, mas só talvez,
para descobrir a vida.
Mas não é preciso ser
uma astrofísica planetária
para nos sentirmos inspirados
pelo espaço exterior.
Basta olhar lá para cima e lembrarmo-nos
que estão muitas coisas a passar-se
lá fora, no local certo
e no tempo certo.
Há estrelas a nascer,
planetas a colidir,
galáxias a girar,
tudo isso é belo,
como podem ver.
Não têm nada a ver connosco.
(Risos)
Pelo menos, é o que pensamos.
Mas foram estes os acontecimentos
que tiveram que ocorrer
para que se formasse
a galáxia da Via Láctea,
para uma supernova explodir,
para a Terra girar à volta do Sol,
e para nós existirmos.
Obrigada.
(Aplausos)