Sou professor de matemática e diretor de uma escola. Moro numa propriedade rural. Uns sete anos atrás, saindo para o recreio, um garoto de uns nove anos trombou na minha barriga, olhou bem pra mim e, muito articulado, apontou pra cima e disse: "Você é pai de alguém!". Levantei as sobrancelhas, e aí ele emendou: "Avô?" Levei um susto, um susto tão grande que comecei a pensar: "Será que estou ficando velho?" Me perguntei se estava perdendo a jovialidade. Estava louco pra me aposentar, desanimado com a produção de leite na fazenda, minha cabeça estava ficando velha. Então resolvi começar a desenvolver inteligências. Iniciei no pilates, para trabalhar a inteligência física. Melhorei minha alimentação, parei de perder tempo no celular, passei a ler para melhor aproveitar o meu tempo. Daí, me deparei com a Ana Primavesi, uma referência mundial em agroecologia, e com uma frase dela: “Imite a natureza”. Fiquei sem entender... Como é que eu ia imitar a natureza? Continuei pesquisando, lendo e encontrei os microrganismos eficazes. Eles são os responsáveis pelo equilíbrio da vida em todos os ambientes. Vamos pensar no solo. No solo, nós temos três tipos de microrganismos: 10% deles são microrganismos do bem, os chamados regenerativos; 10% são microrganismos do mal, os chamados degenerativos; e 80% são neutros, ou seja, microorganismos que vão para o lado que está ganhando. Se temos um lugar que está com mau cheiro, é um sinal de que existem ali microrganismos do mal. Assim, os microrganismos neutros acompanham os do mal, e o mau cheiro aumenta, pois eles juntos vão produzir substâncias tóxicas que causam impacto ambiental e produzem gases que agravam o efeito estufa, como o metano, e as mudanças climáticas. Quando o ambiente está equilibrado, os 80% neutros se juntam aos microrganismos do bem, ficando 90% do bem e apenas 10% do mal, o que torna o ambiente muito rico e equilibrado. Esses microorganismos regenerativos produzem antioxidantes, enzimas, vitaminas, antibióticos, hormônios, substâncias bioativas, liberam minerais, tornam o solo poroso, macio, minimizando o impacto ambiental. Os microrganismos eficazes são assim chamados pela rapidez com que conseguem processar e metabolizar matéria orgânica do ambiente, seja animal ou vegetal. Eles são divididos em grupos e incluem os actinomicetos, leveduras, bactérias fotossintetizantes e lactobacilos. Esses microrganismos são encontrados em grande quantidade em matas virgens, onde não houve a interferência do homem, em matas naturais. Quando observamos uma mata virgem, podemos ver que ali penetra pouca luz do sol, e o chão é forrado de folhas, galhos e troncos que caem das árvores. Com esse ambiente equilibrado, os microrganismos neutros se juntam aos microrganismos regenerativos, processam toda essa matéria orgânica e se reproduzem, deixando todos aqueles nutrientes no ambiente. Um ambiente perfeito, riquíssimo em microrganismos do bem, que fica por cima da camada da terra. O processo de coleta é muito simples: deixamos numa mata arroz cozido em água, como isca, sobre uma tela, cobrimos com uma serrapilheira, ou seja, uma mistura de folhas secas e terra preta, e deixamos de 10 a 15 dias ali na mata. Depois diluímos e alimentamos essa colônia com rapadura, ou caldo de cana ou açúcar, para que esses microrganismos possam se reproduzir. Quando essa mistura se estabiliza e para de formar gases, guardamos em um ambiente escuro e fresco, para que possam ser conservados por até um ano. Depois levamos esses microrganismos para ambientes que podemos controlar. Faço o que a Ana Primavesi disse: em vez de matar, eu copio a natureza usando os microrganismos e promovendo o equilíbrio entre os microrganismos do bem, do mal e os neutros. O primeiro ambiente onde eu uso os microrganismos é na minha horta. Cobrimos todos os canteiros com palha e capim triturado, para proteger a terra e os microrganismos do sol direto, pois o sol mata uma porcentagem deles. Podemos notar que a terra fica dura quando está pobre de microrganismos do bem. Depois pulverizo os canteiros usando uma porcentagem de um litro do produto com mil litros de água sem cloro. Podemos usar uma bomba costal ou o sistema de irrigação. A pulverização é feita sempre antes do Sol nascer ou logo depois que o Sol se põe. As bactérias do bem vão se alimentar dos compostos orgânicos, se multiplicarem e produzir enzimas, antioxidantes, vitaminas, hormônios, aminoácidos, substâncias bioativas, vão disponibilizar minerais, tornar o solo poroso. A água penetra nele mais facilmente, e a planta absorve esses componentes, se tornando mais resistente a pragas, pulgões e a microrganismos do mal. Os alimentos produzidos são mais saborosos, de maior durabilidade e, com essa prática, temos um aumento na diversidade ambiental. No curral, pulverizamos todo o ambiente com esse produto. Curamos até o umbigo dos bezerros. Os microrganismos vão digerir a matéria orgânica que poderia ser degenerativa. Não temos carrapato, nenhuma mosca, nenhum cheiro desagradável no curral, ou no chiqueiro, no canil ou no galinheiro. Na minha casa, pulverizo no banheiro, nos quartos, ralos, fossas sépticas e na caixa de gordura. As bactérias regenerativas vão se alimentar dos dejetos, dos restos de alimentos, carboidrato e das gorduras. Elas agem muito rápido, então não sobram alimentos para formigas, baratas, ácaros. Não precisamos usar produtos industrializados. E é assim que eu imito a natureza: enchendo a nossa horta, o nosso curral, a nossa casa, de microrganismos eficazes, para convivermos em um ambiente saudável, sustentável e equilibrado. A ideia é: nada de matar, apenas conviver! E foi nesse ambiente equilibrado que comecei a pensar naquele garotinho e nos microrganismos eficazes que me acordaram para a vida. Avô? Que palavra transformadora, dita por uma criança eficaz! Obrigado.