Por que sabotamos o amor? O ditado diz: "O amor é lindo", então parece estranho que muitos de nós estejamos determinados a sabotá-lo. Tal como está, existe uma clara falta de conhecimento para explicar por que algumas pessoas que começaram com sucesso um relacionamento empreenderam o que parece ser um caminho para a destruição. Elas conhecem aquela pessoa incrível. Então encontram falhas, tornam-se desconfiadas e presumem que a relação vai terminar, sem muitas evidências. As pessoas aparentemente acabam com as relações precipitadamente quando as coisas ficam sérias ou difíceis, independentemente do quão perfeito o parceiro em potencial possa ser. Vocês são assim? Ou talvez alguém que vocês conhecem? Quem sabe a pessoa sentada bem ao lado. Bem, eu suspeito que existam muitas pessoas por aí que são, ou já foram, autossabotadoras no amor. Foi por isso que decidi fazer um doutorado exatamente sobre esse assunto. Portanto, sim, é uma bela de uma jornada. Para entender a autossabotagem nas relações românticas, eu conduzi dois estudos. No primeiro, entrevistei psicólogos por toda a Austrália que se especializaram em relações românticas. Queria entender como era a autossabotagem na prática. Após meses de entrevistas, cheguei a uma conclusão: as pessoas tendem a se comportar de formas ou padrões similares à medida em que saem de uma relação para a próxima. No segundo estudo, eu queria entender como as pessoas se comportavam nos relacionamentos e por quê. Então, nesse sentido, pesquisei mais de 600 pessoas por todo o mundo. Os participantes variavam em idade, contexto cultural e orientação sexual, mas mesmo assim as respostas foram muito parecidas. Com base nessas entrevistas e pesquisas, eu compilei uma lista de comportamentos que são muito destrutivos em um relacionamento. Quatro comportamentos se destacaram, tendo sido previamente identificados pelo conhecido psicólogo e pesquisador John Gottman. Eles são: crítica, defesa, indiferença e isolamento. Ele os chama de "Os quatro cavaleiros do apocalipse". Bem apropriado. Isso pode nos contar como alguém pode sabotar um relacionamento. Em relação ao porquê, parece que as pessoas sabotam as relações por uma razão principal: proteger a si mesmas. Isso faz sentido; é um caminho válido a seguir. Aí está, agora vocês sabem como a sabotagem acontece nas relações, como ela pode ser feita e por quê. Mas esperem, as coisas nunca são tão simples. Suspeito que existam mais razões para as pessoas sabotarem o amor. Então, o que quero fazer hoje é guiá-los através de algumas das respostas das pessoas do meu estudo. Quando pedimos que explicassem por que não podiam manter relações bem-sucedidas e de longo prazo, foi isso o que os participantes disseram. Vejam o caso dessa mulher de 25 anos. "Estou sempre com medo de que não funcione ou que eu vá me magoar." Outro exemplo: esse homem de 41 anos. "Tenho medo de sofrer caso terminem comigo." Sabemos que as pessoas movidas pela autoproteção tendem a apresentar dificuldades com a autoestima. Autoestima é como percebemos a nós mesmos e nosso valor próprio, mas esse conceito é altamente validado pelas interações sociais. Vamos ver outro exemplo. Essa mulher de 34 anos. "Eu evito as pessoas que gostam de mim. Acho que há algo errado com elas." (Risos) Pessoas com dificuldades de autoestima usam a autossabotagem pois se sentem ameaçadas. De novo, elas fazem isso para se protegerem. Portanto, em geral, autossabotadores possuem visões inseguras de si mesmos, dos outros e das relações. E isso geralmente ocorre devido a relações difíceis no passado, na infância, seja com os pais, colegas ou parceiros românticos. É realmente difícil de escapar disso. E para os autossabotadores é ainda mais. Tenho outro exemplo: esse homem de 35 anos. "Minhas altas expectativas em relação às pessoas me impedem de manter um relacionamento bem-sucedido." A forma como as pessoas escolhem se autossabotar será ajustada de forma única pelas suas experiências passadas. Mas, mesmo sendo tão únicas, suas jornadas muitas vezes encontram uma reviravolta do destino. Quem se autossabota regularmente, acaba se tornando uma profecia autocumprida. Elas dizem a si mesmas que não podem realizar uma tarefa. Essa alegação irá traduzir seus desempenhos em resultados reais. É como olhar em uma bola de cristal sabendo exatamente o que vai acontecer. Tenho mais exemplos. Mulher de 25 anos. "Eu me coloco em relacionamentos fadados ao fracasso desde o início, uma vez que tenho medo de ser abandonada." Outra mulher de 25 anos. "Sei que tentar me manter distante é uma das razões para o fracasso dos meus relacionamentos." Tenho incontáveis exemplos assim. Mas um deles está bem na frente de vocês. Olá, meu nome é Raquel. Sou uma autossabotadora no amor em recuperação. Esta sou eu em minha cidade natal, Rio de Janeiro, no Brasil. Antes de conhecer meu marido, eu estava em um padrão de autossabotagem. Após anos de estudos de psicologia e pesquisas, agora eu sei que talvez seja porque fui abandonada no nascimento, e deixada para morrer em um hospital público. Passei meses no hospital, pois era prematura e estava muito doente. Mais tarde, fui adotada pela enfermeira que cuidou de mim e por seu marido, um cirurgião da força aérea. Portanto, tenho muita sorte, e pais maravilhosos. Mas essa experiência no início da vida me moldou. Eu concluo que as pessoas que se relacionam comigo vão me deixar em algum momento. Também presumo que as minhas relações vão dar errado, sem muitas evidências. Por isso, sempre estou pensando como me proteger melhor, e conto com "os quatro cavaleiros do apocalipse" para fazerem o trabalho. Com crítica, defesa, indiferença e isolamento. Perguntem ao meu marido. (Risos) Mas vou dizer a vocês, isso não funciona. Se ainda não fui capaz de convencer vocês da ironia da autossabotagem, deixem-me tentar mais uma vez. Fazemos tudo para nos proteger, mas nos magoamos mesmo assim. Talvez de uma forma menos pública e óbvia, mas nos magoamos de qualquer forma. Essa dinâmica é como viver dentro da música do Sam Smith, "Too Good at Goodbyes", ótimo em despedidas. "Nunca vou deixar você perto de mim mesmo você significando tanto, pois cada vez que eu me abro, dói." Isso soa familiar? Sim, soa. Essa era eu nos relacionamentos. Mas a saída desse ciclo é encontrar segurança de verdade na pessoa que você ama. Precisamos de um porto seguro, para que não tenhamos que nos proteger. Eu tenho isso com o meu marido. Vejam algumas fotos, não pude resistir. Ele não é lindo? Sim. Muitas pessoas me perguntam: "Como as coisas mudaram para você? O que aconteceu?" Conduzo pesquisas sobre o que funciona para manter relacionamentos duradouros. Combinei o que aprendi em três dicas para vocês. Mas, antes de contá-las, preciso dizer que não devemos perseguir cada relação que cruzar o nosso caminho. Gostaria de dizer a vocês que persigam as relações com potencial para funcionar. Elas são boas. E o que está no caminho é apenas a tendência de autossabotagem. Para isso vai a dica número um: percepção. Analisem com cuidado a si mesmos e seus comportamentos nas relações. Perguntem a si mesmos: Vocês precisam de muita confirmação por parte de seus parceiros? Vocês ficam nervosos quando as coisas ficam muito íntimas? Contam com "os quatro cavaleiros do apocalipse" para se protegerem? Se sim, vocês podem ser autossabotadores no amor. Mas por favor não me culpem por dizer isso. Sei que são questões muito desconfortáveis. Eu só precisava pensar sobre elas. Contei a vocês minhas razões para querer me proteger. Quais são as suas? Dica número dois: expectativa. Pensem sobre suas expectativas a respeito de seus parceiros românticos. Vocês exigem que eles saibam o que vocês pensam ou querem o tempo todo? Ficam frustrados se eles não correspondem às suas expectativas ou padrões? As suas expectativas são ao menos realistas? E a dica número três: colaboração. Precisamos descobrir como colaborar com nossos parceiros e como podemos até ser vulneráveis juntos. Vocês e seus parceiros estão no mesmo time? Vocês conversam com seus parceiros sobre suas metas no relacionamento? Conseguem visualizar seus relacionamentos como sendo de longo prazo? Essas dicas não são uma solução da noite para o dia, ou uma solução única para todos. Vocês vão precisar de muito trabalho e de muita paciência, acreditem. Pode ter mais coisas que vocês queiram fazer além de apenas seguir essas três dicas. Mas é um bom começo, certo? Porque, afinal de contas, muito do que falamos aqui não é novo. A novidade é virar o olhar para vocês e começar a descobrir o que podem fazer para manter relacionamentos duradouros e saudáveis. A mudança é muito difícil, mas não é impossível. Estou nessa jornada há oito anos, oito meses, duas semanas e três dias. Portanto, se vocês precisam quebrar o padrão da autossabotagem, por favor sejam gentis consigo mesmos. É natural que queiram se proteger, mas a saída para isso é perceber quem vocês são em uma relação, suas expectativas sobre os parceiros românticos e como colaborar o máximo com eles. Porque, afinal, se vocês sabem quem são em um relacionamento, seus parceiros também terão uma chance de conhecê-los, e juntos vocês podem quebrar o padrão da sabotagem. Vou terminar dizendo isso: O amor nunca será fácil, mas sem autossabotagem é muito mais acessível, acreditem. Obrigada. (Aplausos) (Vivas)