Eu acredito que a vida está conectada.
Acredito que as pessoas estão conectadas
ao seu ambiente social e físico
e que a humanidade está
conectada ao planeta.
Mas nossa sociedade perdeu
o contato com essa conexão.
Construímos uma sociedade
que pensa em linhas retas:
compramos coisas, usamos coisas,
jogamos elas fora e ponto final.
Temos empresas que buscam alcançar
máximo crescimento,
máximo lucro, máxima eficiência.
A natureza funciona um pouco diferente.
Na natureza, quando você usa algo
e joga fora, isso apodrece
e se torna uma fonte para novas vidas.
É um processo cíclico.
Na natureza, existe um equilíbrio
dinâmico de espécies
que estão intimamente ligadas.
Acredito que o nosso futuro
se baseia na integração
desses dois mundos,
integrando a sociedade industrial
às suas raízes naturais.
Assim que me formei na universidade
eu comecei a fazer sapatos, como vocês.
Mas não era qualquer tipo de sapato,
eram os primeiros sapatos biodegradáveis
que florescem do mundo.
São sapatos que você pode usar
como qualquer outro
e, quando estiverem gastos,
você os planta na terra,
as sementes que colocamos
na língua dos sapatos brotam
e se tornam um belo buquê
de flores silvestres.
E os sapatos, claro,
se decompõem na terra.
Eles se baseiam em um noção
que tive na universidade,
de que produtos podem ir além
de apenas cumprir uma função
e ter determinada aparência.
Eles podem nos oferecer uma nova
perspectiva para vermos o mundo.
Eles podem nos conectar
a uma realidade maior.
Isso se aplica à nossa
experiência com os produtos
e para explicar um pouco
como isso funciona,
vou fazer algumas perguntas a vocês.
Vocês não precisam levantar as mãos
ou responder em voz alta.
Apenas respondam mentalmente
e vamos ver aonde vamos chegar.
Vou mostrar a vocês três machados.
A pergunta é: qual desses três machados
é melhor para cortar lenha?
Provavelmente vocês escolheram o primeiro.
É assim que experienciamos
a primeira dimensão do design de produto.
Função utilitária: o que o produto faz,
como ele funciona, quão bom ele é,
se é confortável, se é resistente.
Segunda pergunta:
se você tivesse que relacionar
cada uma dessas palavras a um machado,
qual você diria que é o mais agressivo
comparado aos outros?
Qual é o mais simples?
Vou dar um tempo para vocês escolherem.
Se vocês pensam como os meus amigos,
vocês responderam algo assim:
o primeiro é simples, o segundo é elegante
e o terceiro é mais agressivo.
É assim que experienciamos
o aspecto emocional de um produto,
é assim que um produto
nos impacta quando o vemos.
Ele pode ser solidário,
pode ser arrogante,
pode ser durão, pode ser fofinho.
Essa é a segunda dimensão
do design de produto.
Terceira questão: imagine a pessoa
que usa esse machado.
Já vejo as imagens passando
pela mente de vocês,
mas vou dar uma mãozinha.
(Risos)
Qual combina com cada machado?
Eu relacionei assim.
É mais menos assim pra vocês?
Vejo pessoas concordando, isso é bom.
O primeiro é um lenhador normal,
cortando a sua lenha.
O segundo é, digamos, um tipo criativo.
(Risos)
E o terceiro talvez não esteja
pensando em cortar lenha
neste momento.
(Risos)
Essa é a terceira dimensão
da experiência do produto,
é o estilo cultural de um produto.
É basicamente o estilo
com o qual nos identificamos.
Um aristocrata britânico
vai ter um estilo diferente
de um dançarino de "break" de Nova Iorque.
Quando um produto se conecta
conosco nos três níveis,
é aí que ele nos atinge em um ponto-chave
e nos identificamos com ele,
e, quando o compramos,
ele se torna uma extensão
da nossa identidade para o mundo.
Mas para dizer que os produtos
são realmente significativos,
que eles têm um propósito...
Não, você precisa de algo a mais.
Eu acredito que existe mais uma dimensão
da experiência de produto
que precisamos considerar
e que é fundamental para criar
produtos significativos e com propósito.
É baseada no trabalho de um psicólogo
dos anos 1960 chamado Clare Graves,
pesquisem sobre ele.
Em relação ao design de produto,
chamo de sistema de crenças do produto.
Para explicar como ele funciona,
vamos voltar aos machados.
Qual frase se encaixa melhor
com cada machado?
Qual machado expressa a ideia de que
a vida tem a ver com poder e conquista?
Qual machado tem mais a ver
com trabalho duro e dedicação?
E por último, qual dos fabricantes
ou compradores do machado
acha que a vida tem a ver
com autoexpressão?
Estou facilitando para vocês.
Vocês pensaram mais ou menos assim?
Essa é a forma como vemos o mundo.
O sistema de crenças é basicamente
como você vê o mundo,
e essa é a base do propósito
das suas ações.
Se você vê a vida como uma competição
e quer ganhá-la,
você vai passar muitas horas
do seu dia fazendo coisas
para tentar vencer a competição.
Voltando aos machados, vamos
imaginar os criadores deles,
podemos imaginar qual o propósito
deles ao criar os machados.
Eu me arrisquei em um palpite: "Se a vida
tem a ver com poder e conquista,
você fez esse machado para ajudar
sua tribo a conquistar uma outra tribo".
Se a vida for sobre trabalho e dedicação,
talvez você esteja fazendo esse machado
para vender, e sustentar sua família,
bancar a educação dos seus filhos.
Se a vida for sobre autoexpressão,
talvez você esteja ajudando
jovens artistas a se expressarem
por meio da criação desses machados.
Provavelmente
você se identifica com um ou dois
desses sistemas de crenças.
Duvido você se identificar com os três.
E provavelmente
um ou dois desses propósitos deve ser algo
com o qual você tem empatia
e que você queira apoiar.
Esse é o segredo para criar
produtos significativos.
Eles se baseiam em um sistema de crenças
com o qual nos identificamos
e servem a um propósito
pelo qual temos empatia.
Olhando novamente os círculos
das dimensões da experiência de produto,
eu adiciono este quarto círculo.
Ainda há um ponto-chave no meio, claro,
no qual, se um produto se alinha
com nossas ideias sobre função,
atitude, estilo e sistema de crenças,
nós vamos querer tê-lo.
Ele se torna significativo e queremos
apoiar quem cria estes produtos.
Então, o sistema de crenças é a essência
por trás de todas as atividades
e todas as decisões de design
que você faz como designer de produto.
Se observarmos o sistema dominante
na sociedade ocidental,
como eu disse no início,
só pensamos em maximizar
crescimento, lucro, eficiência
e podemos ver isso nos produtos
que encontramos nas lojas
quando vamos às compras.
A maioria dos produtos são feitos
para serem baratos, sem qualidade,
não os usamos por muito tempo,
eles não são fáceis de consertar,
então os jogamos fora,
compramos novos produtos
que geralmente contêm materiais tóxicos,
materiais e ingredientes pouco saudáveis
feitos por pessoas que não
recebem o que deveriam,
considerando que elas
também precisam viver bem.
Esse é um sistema
com o qual nos identificamos?
É um propósito no qual acreditamos?
Não.
Já estamos percebendo
que há mais atenção
para produtos sustentáveis
porque, subconscientemente,
já estamos fazendo escolhas baseados
também nos nossos sistemas de crença.
Acredito que, estando conscientes
de como um sistema de crenças afeta
as decisões tomadas pelas empresas,
podemos fazer escolhas
mais conscientemente
e mostrar a essas empresas
que vale a pena elas mudarem
o jeito de fazer as coisas.
Sustentabilidade representa
um sistema de crenças
que valoriza um equilíbrio dinâmico
e uma relação simbiótica
entre as pessoas e o seu ambiente.
Essa era a ideia por trás
dos sapatos que eu criei.
Adicionando uma função
baseada no sistema de crenças,
integramos a biodegradabilidade
com as sementes que viram flores.
E dessa maneira pudemos conectar
pessoas ao seu ambiente natural,
fazê-las serem parte
do ciclo natural da vida.
Além disso, os materiais naturais
se mostraram muito bons para os pés,
é uma ótima sensação.
Eles afetaram o estilo e a atitude
porque trabalhamos
com esses materiais naturais,
usando-os em um design
bastante linear e geométrico,
criando uma atitude única
para um estilo de vida urbano e criativo.
Mas também afetou nossas decisões sobre
a cadeia de fornecedores, entre outras.
Escolhemos fazê-los na Europa
para encurtar a linha de produção,
garantindo o pagamento de salários justos,
condições adequadas,
buscamos todos nossos materiais na Europa.
Até mesmo as pessoas que fazem os sapatos
disseram: "Nós gostamos de vocês
porque normalmente faríamos
os sapatos usando cola,
inalamos esses vapores o dia todo
e vamos para casa chapados".
Nossos sapatos são feitos sem cola,
é uma experiência muito melhor para eles.
Nós escolhemos os produtos que compramos
e, ao fazermos essas escolhas,
forçamos as empresas a mudar.
Quando as empresas estão conscientes
de como o sistema de crenças
está na essência das suas atividades,
elas podem avaliar essas atividades,
podem ver quem são os donos,
sejam públicas ou privadas.
Quais são seus propósitos?
Quais seus objetivos de vida?
Como tratam os empregados?
É um sistema competitivo ou cooperativo?
Como são recompensados?
Qual a nossa abordagem com os clientes?
Como nos relacionamos com eles?
Como tratamos nossos parceiros
na cadeia de fornecedores?
Finalmente, como tratamos o planeta?
Para uma empresa, é algo
intimidador de se fazer.
Se você precisa dar essa guinada
é uma enorme mudança para se fazer,
mas você pode dar um passo de cada vez.
Quando você se compromete
e comunica isso para as pessoas,
você cria propósito para a empresa,
um propósito com o qual os clientes
como nós podem sentir empatia,
um propósito que nos conecta
ao ambiente compartilhado
que temos com as empresas
e um propósito que queremos apoiar
para que, quando formos
comprar esses produtos,
digamos mais ativamente aos nossos amigos
o que nós pensamos desses produtos.
Eu acredito que é assim
que mudamos esse sistema.
Então, quando falamos em sustentabilidade,
devemos começar pela raiz,
que é o sistema de crenças,
e a primeira pergunta a ser feita é:
"Qual é o sentido da vida para você?"
Muito obrigado.
(Aplausos)