Como a maioria das pessoas, não sou um ativista nato.
Na verdade, não há muitas pessoas cujo maior desejo seja sair por aí e lutar contra o sistema.
Minha teoria de mudança era "Escreverei meu livro, as pessoas vão lê-lo e mudarão".
Mas não é assim que as mudanças acontecem.
Então, de certa forma, fui meio que forçado a ir contra a maneira de ser que eu mais me sinto confortável.
Parece que isso é necessário agora
e acho que será provavelmente necessário que boa parte de nós faça coisas que são um pouco difíceis para a gente,
fazer um pouco de barulho, sentir-se um pouco incomodado,
causar um pouco de desconforto a outras pessoas.
Esta é realmente a luta do nosso tempo.
É oficial: 2012 foi o ano mais quente nos Estados Unidos desde que os cientistas climáticos começaram a fazer registros.
2012 não foi apenas o ano mais quente da história, foi também o segundo mais extremo,
com tornados, incêndios florestais e grandes secas.
Aumento do nível dos mares devido às mudanças climáticas.
Gases que prendem o calor da queima de petróleo, carvão e gás.
10,9 bilhões de dólares em lucros, as pessoas que veem isso dizem que o mundo está de cabeça para baixo.
Ouvir o seu depoimento me convence ainda mais que precisamos agir para evitar mudanças climáticas catastróficas.
A BP cortou despesa atrás de despesa e agora toda a costa do golfo está pagando o preço.
Como você pode justificar o recorde de lucros que vem tendo?
Bem, nosso negócio lida com grandes números.
Bem, vamos chamar o Bill, que é ambientalista, presidente e cofundador da 350.org.
E meu convidado, Bill McKibben, o mais importante ambientalista do país.
Começamos essa coisa chamada 350.org.
Saímos às ruas e criamos o tipo de movimento político que mudará as coisas.
Acabamos de anunciar essa turnê em todo o país para enfrentar a indústria de combustíveis fósseis.
As pessoas estão se alistando e se envolvendo nessa luta.
Bem, obrigado a todos,
muito obrigado a todos por estarem aqui hoje.
É um imenso prazer estar aqui esta noite
e uma das recompensas destes últimos meses foi,
cansativa em certo sentido, viajar por todo o país.
E uma das melhores coisas foi simplesmente lembrar o quão extremamente bonito é este lugar.
Fomos a Denver e foi lindo, mas o ar estava cheio de fumaça dos incêndios que seguiam queimando em dezembro
depois da maior temporada de incêndios de todos os tempos
e depois atravessamos estes maravilhosos campos de cultivo, dos quais uns 60% ainda seguiam em estado de seca declarado pelo governo federal.
Mas também vale a pena dizer que é horrível pegar um mundo tão bonito como este
e, em nome de lucros desmedidos para poucos, por pouco tempo, jogá-lo no lixo.
Esta noite é o início da última campanha que provavelmente lutarei.
Não que eu esteja ficando cansado, mas porque o planeta está ficando cansado.
No mundo que construímos, onde nossas instituições não estão funcionando como deveriam,
nós temos que fazer mais do que deveríamos.
Isso não me deprime.
De certa forma, me sinto estimulado porque acho que sabemos o que precisamos fazer.
Acho que já analisamos o problema detalhadamente.
E chegamos ao cerne da questão.
A partir desta noite, atacaremos diretamente a indústria dos combustíveis fósseis.
É chegado o momento de assumirmos uma posição real, estamos atingindo limites.
O maior limite que estamos atingindo talvez seja o de espaço na atmosfera para despejar os resíduos de nossa sociedade,
particularmente o dióxido de carbono (CO2), subproduto universal da queima de combustíveis fósseis.
Quando queimamos carvão, petróleo ou gás, obtemos CO2 e a atmosfera está ficando cheia dele.
Sabemos quais são as soluções para resolver esse problema,
muitas das tecnologias de que necessitamos para trocar os combustíveis fósseis por algo diferente.
A única coisa que está nos impedindo de fazer isso é o enorme poder político
exercido por aqueles que vêm obtendo vastos lucros inesperados com os combustíveis fósseis.
Bem, vários cientistas têm feito muitos esforços para calcular se estamos vivendo de forma sustentável,
no sentido de saber se estamos consumindo os recursos do planeta a um ritmo que pode ser mantido.
A ameaça dessa combinação de mudanças climáticas, escassez de água, escassez de alimento, assim como o aumento nos preços da energia
é extremamente preocupante para quem está consciente das estatísticas e da forma como essas questões poderiam se desenrolar.
Não é possível que a economia cresça infinitamente em um planeta finito.
Uma das coisas que a humanidade está enfrentando é a necessidade
de reduzir drasticamente sua pegada de carbono nos próximos 40 anos.
E estamos falando de uma redução de 80 ou 90% nos países ricos.
Já não estamos em condições de parar o aquecimento global.
É muito tarde para isso.
Estamos no momento de tentar evitar que ele se torne uma completa e absoluta calamidade.
Não deveríamos ter que estar aqui esta noite.
Se o mundo funcionasse de forma racional, não teríamos porque estar aqui.
Há 25 anos, nossos cientistas começaram a falar sobre as mudanças climáticas.
Eu desempenhei meu humilde papel ao escrever o primeiro livro para o público geral sobre o tema, em 1989,
chamado "The End of Nature" (O Fim da Natureza).
Se o mundo funcionasse como deveria, nossos líderes políticos teriam dado atenção a esses alertas, teriam trabalhado,
teriam feito o que naquele momento teria sido o suficiente para nos levar em direção aonde precisávamos ir.
Eles não o fizeram. E por isso estamos nesta situação difícil.
Esta é a maior emergência que a humanidade já enfrentou desde que saiu das cavernas.
Não existe nada maior.
Todas essas questões importam: imigração, saúde educação.
Mas essa se trata realmente das mudanças físicas do planeta.
Todos nós dizemos que precisamos salvar o planeta.
Mas enquanto penso nisso, o planeta vai estar aí por mais algum tempo.
O que está em jogo agora é a própria civilização.
Nosso climatologista mais importante, Jim Hansen,
colocou sua equipe na NASA para pesquisar e determinar quanto carbono na atmosfera seria demais.
É possível que o artigo que publicaram seja atualmente o artigo científico mais importante do milênio,
porque agora sabemos o suficiente para saber o quanto é demais.
Qualquer quantidade de carbono na atmosfera maior que 350 partes por milhão
é incompatível com o planeta no qual a civilização se desenvolveu e ao qual a vida está adaptada.
Esta são palavras fortes usadas pelos cientistas.
Ainda mais forte se considerarmos que hoje existem 395 partes por milhão de CO2 na atmosfera.
Quantidade que vai aumentando cerca de 2 partes por milhão por ano.
Tudo congelado na Terra está derretendo.
A grande camada de gelo do Ártico foi reduzida em mais da metade,
os oceanos estão cerca de 30% mais ácidos do que há 30 anos
porque a química da água do mar muda ao absorver carbono da atmosfera.
E porque o ar quente retém mais vapor de água que o frio,
a atmosfera está cerca de 5% mais úmida que há 40 anos.
Essa é uma mudança surpreendentemente grande.
Há mais energia entrando e sendo absorvida pela Terra do que calor sendo irradiado para o espaço,
o que é exatamente o que se esperava, porque ao se adicionar gases estufa à atmosfera, ela retém calor.
Agora podemos medi-lo e estas são as bases que podemos usar para provar que os impactos humanos
na composição atmosférica são a principal causa das mudanças climáticas que estamos observando.
Então, vamos começar a trabalhar.
Estamos chamando isso de "Faça as Contas" e por um momento, faremos alguns cálculos.
Apenas três números, ok?
Escrevi sobre eles em um artigo para a Rolling Stone no verão passado.
E, estranhamente, este artigo se tornou viral.
Era a edição com o Justin Bieber na capa,
mas o mais estranho de tudo foi que,
no dia seguinte, recebi uma ligação do editor dizendo o seguinte:
"Seu artigo recebeu 10 vezes mais 'curtir' no Facebook que o do Justin Bieber."
Parte disso é, sem dúvida, o resultado do meu olhar mais ou menos comovente, vocês sabem.
Mas, principalmente, é porque conseguimos de alguma forma expor essa matemática
de uma maneira muito clara que as pessoas precisavam entender
enquanto passávamos o que viria a ser o ano mais quente que os Estados Unidos já experimentaram.
Antes de chegarmos a esses três números, aqui é onde estamos agora:
Queimamos suficiente carvão, gás e petróleo para aumentar a temperatura da terra em um grau.
O que isso tem causado?
Houve um dia em setembro de 2012 em que a chamada do jornal dizia "Perdemos metade da camada de gelo polar".
Literalmente. Quero dizer, se Neil Armstrong estivesse na Lua hoje
e olhasse para baixo, veria somente a metade da área de gelo no Ártico.
Pegamos um dos maiores aspectos físicos da Terra e o destruímos.
Vamos trabalhar com os números?
Eles são três e são fáceis.
O primeiro é 2 graus.
Isso é quanto o mundo disse que seria seguro permitir que o planeta aquecesse.
Em termos políticos, é a única coisa que estão todos de acordo.
Alguns de vocês talvez se lembrem da cúpula climática de Copenhague.
Havia apenas um número no final das duas páginas do acordo voluntário que foi assinado.
Apenas um número: 2 graus.
Cada signatário comprometeu-se a garantir que a temperatura não passaria disso.
Estados Unidos, Japão, Rússia, China, países que fazem dinheiro vendendo petróleo como os Emirados Árabes Unidos,
os mais conservadores, obstinados, relutantes países na Terra.
Até mesmo os Estados Unidos.
Se o mundo oficialmente acredita em alguma coisa sobre as mudanças climáticas é que 2 graus é demais.
O segundo número que os cientistas calcularam é
quanto carbono podemos despejar na atmosfera e ter uma chance razoável de ficar abaixo de dois graus.
Eles dizem que aproximadamente mais 565 gigatoneladas.
Uma gigatonelada é um bilhão de toneladas.
Mas não podemos ter certeza, as probabilidades são piores do que as da roleta russa.
Parece muito - é muito, 565 bilhões de toneladas de CO2.
O problema é que estamos despejando 30 bilhões de toneladas por ano e esse número sobe 3% ao ano.
Faça as contas, são cerca de 15 anos até ultrapassarmos esse patamar.
Então essas são notícias preocupantes.
Mas o número assustador é o terceiro.
O terceiro número é o importante, o novo
e vem de uma equipe de analistas financeiros do Reino Unido.
E o que eles fizeram foi sentar-se com todos os relatórios anuais, fichas financeiras e outras coisas
para descobrir quanto carbono a indústria de combustíveis fósseis, quanto ela já tem em suas reservas
e esse número acabou sendo de 2.795 gigatoneladas de carbono.
Cinco vezes mais do que os governos mais conservadores da Terra consideram ser seguro despejar na atmosfera.
Não está nem perto.
Quero dizer, é cinco vezes maior.
Depois de saber desse número, então você entende a essência do problema.
O que a indústria dos combustíveis fósseis está fazendo é nos condenar a um futuro no qual não poderemos sobreviver, no qual a humanidade não pode sobreviver.
E sabemos disso porque justamente no final de 2012
o ouvimos simultaneamente de três fontes conservadoras diferentes:
Do Banco Mundial, da Agência Internacional de Energia e da Price Waterhouse Coopers.
Todas nos disseram que se continuarmos fazendo o que estamos fazendo, se desenterrarmos essas reservas,
vamos nos dirigir para um aquecimento de 4 a 6ºC.
Estes números mostram que, e quero ser absolutamente claro aqui, essas empresas são uma força nociva, elas são foras da lei.
Elas não são foras da lei contra as leis do estado. São elas quem escrevem a maior parte dessas leis.
Mas elas desobedecem as leis da física.
Se elas levarem adiante seu plano de negócios, o planeta sucumbirá.
Temos todos os engenheiros e empresários de que precisamos.
O que nos detêm, acima de tudo, é o simples fato de que a indústria de combustíveis fósseis trapaceia.
Única entre as indústrias, está autorizada a despejar seus dejetos gratuitamente.
Ninguém deveria poder poluir de graça.
Você não pode, eu não posso. Nós não podemos sair daqui e jogar lixo na rua de graça. Se você fizer isso, recebe uma multa.
Se você tem uma pequena empresa, você não pode simplesmente jogar o lixo na rua,
você precisa pagar pra que ele seja transportado ou você é multado.
As únicas pessoas que podem poluir gratuitamente são esses megapoluidores quando se trata de carbono: os grandes do petróleo e do carvão.
Você recebe uma multa de 25 dólares por jogar lixo, você vai pagar 25 dólares a mais
do que todos os poluidores industriais já pagaram em 150 anos pelo carbono que vêm despejando.
Isso é coisa de louco.
É quase como definimos civilização.
Precisamos juntar o que jogamos a menos que sejamos a indústria de combustíveis fósseis.
Nesse caso, despejaríamos carbono na atmosfera de graça
e essa é a vantagem que nos impede de ter energia renovável no ritmo que precisamos.
Devemos internalizar essa externalidade.
A única razão pela qual não conseguimos é porque iríamos prejudicar um pouco a rentabilidade recorde da indústria de combustíveis fósseis
e assim eles têm lutado constantemente para impedir que isso aconteça.
Agora essas empresas são nocivas.
Em algum momento, elas realizaram uma função social útil.
Por muito tempo, o motor dos E.U.A. foi os combustíveis fósseis como carvão e petróleo para alimentar trens, carros e a indústria.
Em meados dos anos 1900, percebemos que havia consequências.
Se olharmos para indústrias como a de carvão hoje, nós produzimos um relatório conjunto com a Escola de Medicina de Harvard
mostrando que, se eles realmente pagassem pelo que estão fazendo conosco,
o que estamos pagando indiretamente pela eletricidade, o carvão custaria 3 vezes ou mais do que seu custo atual.
Eles quebrariam e isso seria justo, financeira e moralmente falidos.
Quando uma usina queima carvão, é a forma mais barata de combustível, mas não está pagando o preço total.
As externalidades, o custo adicional para a sociedade, para a saúde, para o meio ambiente,
não são levados em conta na hora de fazer negócios.
Nós subsidiamos a indústria de combustíveis fósseis.
Nós os pagamos para que sigam poluindo e isso significa muitas coisas:
redução de impostos, empréstimos, que os exércitos protejam seus oleodutos e suas rotas de comércio.
Você os está ajudando a manter sua posição e impedindo que seus concorrentes, como os combustíveis renováveis, concorram com eles.
Precisamos de igualdade de condições.
Poderíamos estar usando o dinheiro público, dinheiro dos contribuintes para fazer a mudança para energia verde.
Ocasionalmente, eles vão fingir estar vendo a luz..
Dez anos atrás, a BP anunciou que suas iniciais agora significariam "Beyond Petroleum (Além do Petróleo)", criaram uma nova logomarca,
colocaram alguns painéis solares em alguns postos de gasolina e investiram o mínimo, uma ninharia em pesquisa solar e eólica.
Mas até isso pareceu demais, três anos depois eles venderam essas seções
e disseram que desse momento em diante se concentrariam em seu principal negócio.
Que acabou sendo, basicamente, destruir o Golfo do México.
Por que eles estão tão concentrados nos hidrocarbonetos?
Porque estas são as empresas mais rentáveis da história da humanidade.
As 5 maiores companhias petrolíferas fizeram 137 bilhões de dólares no ano passado.
São 375 milhões de dólares por dia.
É muito dinheiro.
Eles recebem 6,6 milhões de dólares em incentivos fiscais, diariamente.
E gastam 440 mil por dia influenciando o Congresso.
Rex Tillerson, o chefe da Exxon, ganha 100 mil dólares por dia.
Um dos meus pontos de discussão favoritos
é que os cientistas climáticos inventam suas conclusões porque recebem muito bem para isso, ok.
O único problema que essas empresas tem agora
é que os cientistas estão acompanhando em tempo real enquanto elas dão esse golpe, e está ficando cada vez mais difícil de negar.
Na verdade, estão começando a admitir o que está acontecendo.
No verão do ano passado, pela primeira vez, o presidente da Exxon, Mr. Tillerson, deu uma palestra na qual disse: sim, é verdade.
O aquecimento global existe.
É claro que haverá um impacto, então eu não estou discutindo que o aumento das emissões de CO2 terá um impacto.
Terá um impacto no aquecimento.
Mas, já que a única maneira de impedir isso, seria dar um golpe na rentabilidade da empresa,
ele imediatamente tentou mudar de assunto.
Isto é um problema de engenharia e tem soluções de engenharia.
Sério? Em que tipo de soluções de engenharia você estava pensando?
Mudanças nos padrões climáticos que mudam as áreas de produção agrícola, vamos nos adaptar a isso.
Olha, com todo respeito, isso é loucura.
Não podemos mover as áreas de produção agrícola, ok.
As áreas de produção agrícola são o que as pessoas em Vermont chamam de fazendas, ok.
Já temos fazendas em todos os lugares onde há solo decente na Terra.
É verdade que a Exxon fez todo o possível para derreter a tundra,
mas isso não significa que você pode simplesmente mover o Iowa pra lá e começar tudo de novo.
Aquilo não é solo.
Se as empresas de combustíveis fósseis querem mudar, aqui está como saberemos que é para valer:
Primeiro, precisam parar de fazer lobby em Washington.
Depois, precisam deixar de explorar em busca de novos hidrocarbonetos.
A primeira regra para quem está dentro de um buraco é parar de cavar.
A terceira coisa que precisam fazer é trabalhar conosco
pra descobrir como podem se tornar empresas de energia, não empresas de combustíveis fósseis,
e descobrir conosco como manter 80% dessas reservas embaixo da terra.
O que torna isso tudo pior
é já termos quase cinco vezes mais carbono do que podemos queimar,
quer dizer, a Exxon sozinha: 100 milhões de dólares por dia em exploração por novos hidrocarbonetos.
Neste ponto só nos restam as piores escolhas. Estamos explorando areias betuminosas, óleo de xisto,
estamos fazendo fracking, raspagem em picos de montanhas, perfurações em alto mar,
estamos destruindo a Terra procurando pelo último pedacinho de gás, petróleo e carvão.
Acho que quando fico deprimido, o melhor antídoto é agir e acho que isso serve pra muita gente.
O problema com as mudanças climáticas é que parecem grandes demais para que nós mesmos as enfrentemos.
E de fato, elas são.
É só quando estamos trabalhando com outras pessoas, como tantas outras pessoas quanto possível, que temos alguma esperança.
É por isso que gasto meu tempo tentando construir movimentos. Eu acho que essa é a única chance que temos.
Qualquer um pode se envolver. Sempre existem coisas a serem feitas, cada vez mais. Os movimentos são assim.
Começamos a 350.org em 2008 e, quando digo nós, estou falando de mim e de 7 estudantes da Middlebury College.
Tínhamos o profundo desejo de tentar nos organizar globalmente
sobre o primeiro problema realmente global que este planeta já enfrentou.
Nos espalhamos pelo planeta,
e durante o ano seguinte encontramos pessoas de todo o mundo que tinham vontade de trabalhar com a gente.
Pedimos a todos eles que dedicassem um dia, e esse foi nosso primeiro grande dia de ação, no outono de 2009.
Nós perguntamos: vocês se juntariam a nós por um dia?
Você fará algo nesse dia para pegar o número mais importante, 350,
e levá-lo à corrente de informações do planeta?
Durante as 48 horas seguintes, choviam imagens, muitas por minuto.
Antes que terminasse, ocorreram 5.200 demonstrações em 181 países.
A CNN o chamou de o dia de atividade política mais abrangente da história do planeta.
Cidades de todo o mundo se reuniram hoje para pedir soluções para as mudanças climáticas.
Locais ao redor do globo.
Centenas de ativistas ambientais se reuniram em Edimburgo hoje.
E seguimos, desde então, para fazer mais desses grandes dias de ação.
Estamos em todos os países, com exceção da Coreia do Norte.
Já organizamos cerca de 20 mil manifestações.
E nós passamos a fazer coisas mais diretas:
lideramos a luta contra o oleoduto Keystone,
organizamos o maior ato de desobediência civil dos últimos 30 anos.
E agora, a maior batalha da administração Obama sobre
a aprovação de um enorme oleoduto que divida os E.U.A. em dois.
Ele levaria as areias betuminosas de Alberta, no Canadá, para o Golfo do México.
O tipo de petróleo que esse oleoduto levaria é muito mais tóxico.
Entre os mais sujos dentre todos os combustíveis fósseis.
Este oleoduto tem provado ser muito controverso.
Para o governo federal decidir se dá ou não luz verde ao Keystone XL.
As areias betuminosas são destrutivas por si só, mas também são simbólicas de um modelo de desenvolvimento,
de uma forma de fazer nossa economia crescer, que mal pode ser sustentada.
Agora, uma empresa chamada TransCanada se candidatou para construir um novo oleoduto
para levar mais petróleo de Cushing para refinarias de última geração na Costa do Golfo
e hoje me dirijo à minha administração, para cortar a fita vermelha,
romper as barreiras burocráticas e tornar este projeto uma prioridade.
Agosto foi o começo do veto popular a toda essa proposta.
Não vamos desistir até que a própria ideia do Keystone XL esteja morta e enterrada.
As areias betuminosas são o ponto decisivo na nossa dependência dos combustíveis fósseis.
O fato fundamental é que, enquanto os combustíveis fósseis forem a energia mais barata, eles continuarão sendo usados.
A solução é começar a colocar um preço nas emissões de carbono.
Nós, o povo americano, não deveríamos ter que sacrificar nossa terra e água para satisfazer o orçamento da TransCanada.
Estamos aqui hoje porque estamos num momento do século XXI, no qual temos que decidir nos tornarmos politicamente ativos.
Presidente Obama, faça a coisa certa.
Estamos em um momento crítico da história norte-americana para este movimento ambiental.
Se você vai se arriscar a ser preso, você vai fazer fila nesta calçada.
Quando vi os atos de desobediência civil em frente à Casa Branca,
as pessoas dizendo "Eu não vou deixar o oleoduto Keystone ser construído",
"Eu não vou deixar que nos comprometamos com um plano de energia baseado nos combustíveis fósseis".
Vocês sabem que as pessoas que foram presas em frente à Casa Branca,
aquelas pessoas não eram todas que se auto-identificavam como ambientalistas.
Aqueles eram agricultores e fazendeiros, eram pessoas de comunidades indígenas, aqueles eram líderes empresariais,
aqueles eram avós, mães e pais.
Estamos realmente começando a ver uma expansão do grupo de pessoas que estão lutando esta batalha,
mas precisamos ir mais longe.
Fui forçado a fazer coisas que nunca me imaginei fazendo:
subir num palco em frente a milhares de pessoas, ir preso.
Provavelmente não seremos capazes de deter todos, um oleoduto, uma mina por vez.
Também teremos que jogar de maneira ofensiva.
Acreditamos que a única coisa que interessa à indústria de combustíveis fósseis é dinheiro, então é dele que vamos atrás.
Vocês querem destruir nosso planeta e nosso futuro? Nós vamos tentar e tirar seu dinheiro.
Vamos manchar sua reputação.
Esta indústria tem se comportado de maneira tão temerária que deve perder sua licença social, seu verniz de respeitabilidade.
Precisamos que esses caras sejam vistos como bandidos contra as leis da física.
Precisamos tirar parte de seu poder e vamos fazer isso de várias maneiras.
Uma ferramenta, a primeira ferramenta, é o desinvestimento.
Pediremos que instituições de ensino e religiosas vendam suas ações dessas empresas.
A lógica não poderia ser mais simples:
Se é errado destruir o clima, é errado lucrar com a destruição.
Esse argumento funcionou, e muito bem, uma única vez na história dos Estados Unidos.
Os incidentes de violência têm se espalhado no bairro mestiço de Athlone.
Autoridades abriram fogo sem aviso prévio.
Estudantes organizados e comprometidos a exigir que a universidade se desfaça de todos os investimentos na África do Sul.
Isso ocorreu durante a luta contra o Apartheid na África do Sul.
Em 155 escolas e universidades, as pessoas convenceram seus conselhos administrativos a venderem suas ações.
E quando Nelson Mandela saiu da prisão, uma de suas primeiras viagens foi para os E.U.A.
e seu primeiro destino não foi a Casa Branca, ele foi para Berkeley, para agradecer os estudantes da Universidade da Califórnia
que forçaram a venda de 3 bilhões de dólares em ações manchadas pelo Apartheid.
Isto é o que exigimos:
1. nenhum novo investimento nas companhias de combustíveis fósseis.
2. um forte compromisso de que ao longo dos próximos cinco anos elas vão abandonar suas posições atuais.
Não é impossível. É difícil, mas não é impossível.
Vou dar uma notícia:
A primeira faculdade do país a vender todas as suas ações em companhias de combustíveis fósseis
foi uma faculdade no Maine, chamada Unity College, com uma verba de 13 milhões de dólares.
E nenhum desses 13 milhões está em combustíveis fósseis.
Realmente o desinvestimento, em certo sentido, foi a escolha natural para nós.
Quando você olha para outras instituições e sua luta sobre se devem ou não desinvestir,
tudo realmente se resume a algo bastante simples: vontade.
O prefeito de Seattle disse: "Passei a tarde com o meu tesoureiro
e estamos tentando descobrir como vamos tirar os fundos da cidade das empresas de combustíveis fósseis."
Sejam bem-vindos ao nosso evento de hoje à noite: Desinvestimento em Combustíveis Fósseis,
uma conversa com estudantes de Barnard, Columbia, New School, NYU e Hunter College.
Os estudantes estão pedindo por desinvestimento.
O fato de termos mais de 250 movimentos em diferentes campus em todo o país
significa que desafiamos aquela camada de respeitabilidade social.
Eles entendem, assim como as congregações religiosas e cidades que estão fazendo o mesmo,
eles entendem o que aqueles números representam.
É inconsistente com a razão de ser dessas instituições
seguir investindo em algo que se dedica a destruir a civilização.
Estamos pedindo à administração da NYU que pare de investir a verba universitária da indústria de combustíveis fósseis.
Podemos reinvestir em nossa antiquada infraestrutura e tornar nossos edifícios mais energeticamente eficientes.
As pessoas estão sempre procurando uma solução mágica em vez de trabalhar para isso.
Como esta campanha se encaixa no grande esquema das coisas
esta é apenas uma das maneiras nas quais podemos agir.
Estes são os tipos de soluções que as universidades deveriam estar liderando
e deveriam estar dizendo, vamos retirar toda nossa verba
que está parada ou prejudicando
e vamos levar esse dinheiro para longe dos criadores de problemas e entregá-lo aos criadores de soluções.
A partir do momento que você sabe o que é errado, se você não sabe você tem um desconto,
mas quando você conhece o mal, você tem a responsabilidade moral de retirar sua energia dele.
Estamos participando da destruição do nosso próprio mundo, mesmo sem querer,
porque a indústria de combustíveis fósseis está intimamente ligada a muitos aspectos da vida norte-americana.
Elas contam com a nossa cooperação para continuar o que estão fazendo. Mas, e se dissermos não?
O desinvestimento funciona como parte disso, e o que faz é ter a ambição
de transformar centenas, milhares de instituições nos E.U.A. em aliados ao invés de adversários.
Nós, como pessoas comuns, temos muito poder.
Se você é membro de uma igreja, você tem a habilidade de trabalhar com seus companheiros fiéis
para garantir que sua igreja não invista em companhias de combustíveis fósseis.
Se você é um estudante, em uma faculdade, você não tem apenas a oportunidade, eu acho que você tem a responsabilidade
de trabalhar com seus colegas estudantes para garantir que sua instituição de ensino superior
não esteja investindo sua verba em companhias que estão destruindo o futuro e o planeta.
Precisamos enviar uma mensagem, uma mensagem bastante clara para os grandes do petróleo e para os grandes da energia
que os responsabilizaremos e desinvestiremos, se eles não mudarem.
Não existe nada, e eu digo nada, radical no que estamos falando aqui.
Tudo que pedimos, quando falamos sobre mudanças climáticas,
é um planeta que funcione da maneira que ele fez nos últimos 10 mil anos,
um planeta que trabalhe como aquele no qual nascemos.
Essa não é uma exigência radical. É, se pensarmos bem, uma exigência conservadora.
Os radicais trabalham nas companhias petrolíferas.
Se você acorda de manhã para ganhar 100 mil dólares por dia
e você está disposto a alterar a composição química da atmosfera,
então você está envolvido em um ato mais radical do que qualquer um que veio antes de você.
E o nosso trabalho é descobrir como conter esse radicalismo, como dobrá-lo,
como evitar que esmague tudo de bom nesse planeta.
E a boa notícia é que, já que estou dando tantas más notícias, a boa notícia é:
Existe muita coisa que podemos fazer.
A solução a longo prazo para as mudanças climáticas é bastante clara.
Precisamos dar um salto para a energia renovável e precisamos fazer isso rápido, o que vai ser difícil.
Vai ser a coisa mais difícil que fizemos desde que nos preparamos para lutar a Segunda Guerra Mundial, ou algo assim
mas não é de forma alguma impossível.
Quando me sinto um pouco sobrecarregado com todas as coisas que precisamos fazer,
eu pego e leio a história econômica da Segunda Guerra Mundial
Foi em questão de meses
que a indústria automotiva dos E.U.A passou de construir carros a construir tanques, aviões e barcos.
Não levou décadas para se reestruturar a economia industrial dos E.U.A., não levou anos.
Isso foi feito em questão de meses.
E, se pudermos fazer isso agora,
certamente poderemos reestruturar a economia energética mundial durante a próxima década.
Isso vai requerer algumas escolhas difíceis.
Isso vai exigir uma mudança real, na forma como obtemos nossa energia e como nos movimentamos.
Mas a boa notícia é que temos as soluções.
Vocês sabem, nós temos os meios.
Sabemos o que precisamos fazer para termos um mundo no qual não queimemos tantos combustíveis fósseis.
Por que iríamos construir um oleoduto de 1.600 quilômetros, levando quase um milhão de barris de petróleo
da fonte de combustível mais cheia de carbono do planeta
quando energia eólica é muito mais barata e muito mais limpa?
Por que perfuraríamos o Ártico, quando sabemos que a energia solar pode atender nossas necessidades energéticas em todo o país?
Por que praticar fracking em nossos campos e bacias hidrográficas,
quando sabemos que eficiência energética economizaria muito mais energia do que o gás natural pode oferecer?
Acho que estamos chegando ao ponto no qual fontes extremas de energia são tão ruins
que as questões e os desafios vão se tornar cada vez mais fáceis.
Toda nossa economia dependerá de como responderemos a esta crise.
A concorrência entre países será entre aqueles que tomarem a dianteira em desenvolver tecnologia
e vendê-la para os outros e aqueles que vão ficar para trás sem aproveitar a oportunidade.
Nunca devemos subestimar nossas habilidades e determinação.
Essas pessoas que dizem que não podemos fazer nada, não sabem quem somos, não sabem o que podemos fazer.
Acho que este é o momento de respirar fundo e dizer, ok, estamos prontos.
As soluções estão na nossa frente e nenhum de nós em sã consciência,
cidadãos comuns, políticos eleitos, líderes religiosos, podemos ficar de braços cruzados.
Todos os nossos grandes problemas, todos eles têm soluções locais
e descobrir quais são essas soluções, resulta em um monte de benefícios diferentes
dos pontos de vista ambiental, econômico e social.
Estamos em uma situação em que teremos uma economia ecologicamente sustentável para todos
ou, em último caso, não teremos nenhuma.
O mais sábio a fazer é apostar no futuro e começar a investir no futuro.
O passado tem um lobby, um lobby bem pago, e ele vem dos grandes do petróleo e dos grandes do carvão.
O futuro não tem um lobby até agora.
Precisamos ser tão sofisticados quanto o sistema que estamos tentando mudar.
A legislação que o Senador Boxer e eu estamos introduzindo com o apoio de importantes organizações ambientais
realmente resolve a crise.
O foco principal está no preço das emissões de carbono e metano.
Acho que muita gente se perguntou, talvez ainda se pergunte, se o nosso sistema político está apto a esta tarefa.
Num sentido mais amplo, não sei se podemos vencer essa luta.
Alguns cientistas pensam que esperamos demais para começar.
É evidente que o poder do outro lado é enorme.
Todo mundo de vez em quando fica desanimado.
Uma vez um repórter, que estava praticamente me interrogando, disse,
"Bem, isso parece simplesmente impossível. Você está lutando contra a indústria mais rica do planeta.
Isso parece uma daquelas histórias tipo Davi e Golias. Que chances você tem?"
E eu estava pensando "você está certo, isso é terrível".
Mas, então, eu pensei, e como estávamos em uma igreja, talvez seja pertinente,
Pensei, eu sei como a história entre Davi e Golias termina. Davi, contra todas as probabilidades, ganha. Ok.
Eu não sei se ganharemos, mas temos uma chance real.
Sabemos que a desobediência civil ajudou a conquistar coisas importantes.
Ajudou a garantir às mulheres o direito ao voto.
Ajudou a acabar com a segregação.
E sabemos que não podemos ganhar contra as mudanças climáticas se continuarmos a hesitar,
se continuarmos a falar sobre elas, mas não fizermos nada.
Temos uma catástrofe moral em nossas mãos.
Precisamos fazer isso porque nossa democracia foi subvertida, nossas leis foram subvertidas.
Eu digo que isso é criminoso, e não digo isso levianamente.
Quando não temos recursos em nossa democracia, legalmente ou democraticamente,
não apenas temos o direito, temos o dever de ir contra a lei para mostrar nosso descontentamento.
Como nação, podemos nos unir. Isso não é sobre ser Republicano ou Democrata, é sobre ser humano.
Estamos conectados uns aos outros e essa organização deve ser a base para esse tipo de batalhas maiores.
Estamos muito contentes por estar aqui, alguns de nós especialmente satisfeitos por estarmos fora da cadeia
onde passamos a maior parte do dia de ontem, nessa manifestação sobre o oleoduto Keystone
e essa, claro, é uma das razões pelas quais os olhos da nação estão sobre esta cidade nesta semana.
Milhares de pessoas marcharam em frente à Casa Branca
e pediram ao presidente Obama que tomasse fortes medidas para combater as mudanças climáticas.
No segundo evento de destaque organizado esta semana, por grupos incluindo o Sierra Club e a 350.org.
Eu estou aqui porque eu tenho uma obrigação com os meus filhos, meus antepassados, nossas futuras gerações.
Se esse oleoduto for aprovado, será às custas da vida humana.
Quando desastres acontecerem, não escolherão raça, cor ou credo.
Os barões dos combustíveis fósseis, seus advogados, seus manipuladores de opinião estão perdendo o controle sobre a mentalidade de nossos países.
Não vamos criar economia de energia limpa quando um lado vencer o outro,
venceremos quando todos nos unirmos por soluções que funcionem para todos.
E a boa notícia é que neste país, quando finalmente decidimos que vamos agir
sobre uma ação moral, sobre quem somos, tendemos a responder, quando respondemos, explosivamente.
Está é a luta épica deste século e nós faremos jus a ela.
Se não for assim, talvez não tenhamos um século XXII.
Sempre que uma grande geração se levanta, o faz baseado em idealismo.
O faz com base em coragem moral, e é isso que está acontecendo agora.
Este é o último minuto do segundo tempo do maior e mais importante jogo que a humanidade já jogou.
A realidade do nosso movimento é essa: se falharmos, as consequências serão terríveis.
Nenhum de vocês poderia estar em um lugar mais importante do que onde você está agora.
Parte dessa batalha contra os problemas mais profundos que jamais enfrentamos,
poucas pessoas na Terra poderão dizer,
"Eu estou fazendo a coisa mais importante que poderia estar fazendo neste momento"
mas vocês podem dizer isso porque vocês estão na linha de frente dessa batalha importantíssima.
Acho que podemos vencê-la.
Acho que podemos vencer se agirmos como uma comunidade, se não fizermos nada que possa ferir essa comunidade
mas construir essa comunidade juntos de forma a permitir que tome ações poderosas.
Conhecemos o final dessa história.
A menos que nós reescrevamos o roteiro, está bastante claro que vai terminar com um planeta que esquenta sem controle.
Então, esse é nosso trabalho: reescrever a história.
Tudo que sempre quis ver foi um movimento de pessoas para deter as mudanças climáticas e agora eu o vejo.
Hoje, no maior comício climático, de longe, de longe, de longe, na história dos E.U.A.
hoje, eu sei que vamos lutar essa batalha,
a mais fiel batalha na história da humanidade está finalmente ocorrendo e vamos lutá-la juntos.