Os raios de sol são a essência da poesia.
Sonhos, fantasia,
contos de fadas, raios de sol.
Com todas as suas qualidades
esotéricas e místicas,
os raios de sol são a energia
motora do planeta
num sentido muito visceral,
físico, científico e empírico.
E se eu vos pedisse para irem lá fora
apanhar uns raios do sol
— sabemos que eles são valiosos, não são?
Então, vão apanhar alguns,
Podem trazê-los para aqui?
Falemos dos raios de sol.
As crianças vão levar isso a sério,
vão correr um pouco e vão tentar
apanhá-los, nas não vão conseguir.
A verdade é que
uma coisa tão esotérica
e tão mística como os raios de sol
é captada pelos painéis
fotovoltaicos da Natureza,
ou seja, a fotossíntese nas plantas,
através da clorofila das plantas,
em especial, das ervas.
O problema é que muitos de nós,
na nossa cultura moderna,
estamos desligados das ervas.
Quando digo "ervas", as pessoas
pensam logo em relvados,
campos de golfe,
talvez um campo de futebol.
Mas não pensam no tipo de ervas
que os Cavaleiros da Ferradura
de Ouro encontraram
no início do século XVIII,
quando Spotswood,
o governador colonial da Virgínia
enviou os seus amigos,
os Cavaleiros da Ferradura de Ouro,
— todos eles britânicos —
os enviou pelas Montanhas Blue Ridge.
Os britânicos depararam
com as Montanhas Blue Ridge.
O que é que havia
para lá da Montanha Afton?
O que é que lá havia?
Assim, enviou-os para descobrirem
o que é que havia.
Eles informaram o que tinham encontrado.
Passaram-se umas semanas e disseram:
"Onde quer que fôssemos
no Vale Shenandoah,
"pudemos cortar as ervas
e atá-las com um nó
"em cima da sela do cavalo".
Era uma silvopastagem magnífica
para os alces, os veados, os faisões,
para os pombos de arribação,
as galinhas da pradaria.
para os perus e os bisontes,
em manadas de três a quatro milhões.
O capitão Jim Bridger encontrou
uma manada nas Black Hills dos Dacotas,
quando foi enviado para as explorar
— uma manada de sete milhões de bisontes.
Isso sempre me intrigou.
"Tenente, pode chegar aqui
num instante, por favor?
"Afie a sua pena.
"Comece a contar: um, dois
— está a perceber?"
(Risos)
Não faço a mínima ideia
mas o legado dessas manadas migratórias
que se moviam perante as queimadas
naturais ou provocadas pelos índios
numa coreografia da paisagem,
esses padrões migratórios
em que se movimentavam
milhares de quilómetros
criavam os solos
que atualmente estamos
a degradar aqui no Midwest
e que já foram degradados na Virgínia
— mais de um metro de solo fértil
eliminado na Virgínia —
durante a colonização europeia do estado
e que, até hoje,
continuam a ser degradados,
porque transformámos este sistema
magnífico, com base em plantas perenes,
num sistema agrícola anual,
extremamente erosivo.
No Vale Shenandoah, onde eu vivo,
perdeu-se 1 a 1,5 metro de solo fértil
criando-se a turvação
da atual Baía Chesapeake.
Então, como é que a Natureza funciona?
A Natureza funciona
através dos raios de sol
que são captados pela fotossíntese
e transformados em biomassa,
em material vegetal.
Se olharmos para os diversos
tipos de plantas,
árvores, arbustos e ervas,
pensamos intuitivamente:
"Qual é a planta mais eficaz
"a captar estes raios de sol
e a sequestrar o carbono?"
Temos a tendência
de pensar nas árvores, porque:
"Uau, olhem para toda aquela biomassa!"
Mas, na realidade,
as árvores são as menos eficazes.
Os arbustos, o mato, e coisas semelhantes
são mais eficazes.
Mas, no topo, está o pasto.
Quando olhamos para uma floresta,
estamos a ver 50 a 80 anos,
ou mesmo 100 anos,
de carbono sequestrado
todo ele de forma visível.
Não vemos 80 anos de pasto
visíveis, todos ao mesmo tempo.
As ervas passam por um ciclo
de crescimento, tal como nós,
tal como todos os seres vivos
passam por um ciclo de crescimento.
Começa devagar, depois acelera,
e depois começa a envelhecer.
Considero três estádios do pasto
O primeiro é o estádio das fraldas.
Neste caixote, tenho plantas
recém-comidas, no estádio das fraldas.
Este é o pasto infantil.
acabou de ser comido
e está a voltar a crescer.
Aqui, tenho o pasto adolescente.
Pasto juvenil, de crescimento rápido.
Recordam quando conseguiam
comer dois litros de gelado
sem engordarem?
Este é o pasto juvenil.
Depois, este também é jovem,
mas, como veem, está a ficar acastanhado
e acaba por ser aquilo a que chamo
"pasto de lar de idosos".
(Risos)
Envelhecimento, o fim.
Concentro-me no papel
do herbívoro, na Natureza,
porque os herbívoros,
ultimamente, têm má reputação:
as vacas, a alteração climática
e todas essas coisas.
Como veem, os dados
para o estudo do efeito
das vacas no ambiente
mostram que provêm duma posição
que não respeita nem reconhece
o herbívoro no seu papel clássico.
O papel do herbívoro
e a razão por que o planeta
está tão cheio de herbívoros
— pensem em África,
pensem na América do Sul, nas alpacas,
pensem na Indochina, os iaques.
estão por toda a parte.
As renas, os caribus,
há imensos herbívoros,
as marmotas, os cães da pradaria, tudo.
(Risos)
Porque, sem eles,
esta biomassa transformar-se-ia
em material envelhecido, volátil,
que morre e deixa de crescer.
O papel dos herbívoros na Natureza
é consumir isto, quando
se aproxima do envelhecimento,
podá-lo,
tal como um viticultor poda uma vinha
ou num pomar se podam as macieiras.
Alguém acha mal e pergunta:
"Porque é que está a podar as macieiras?"
Não. Pensamos que é bem feito,
pensamos que é uma boa gestão.
É exatamente o que os herbívoros fazem.
Eles mondam isto para recomeçar
a produção rápida desta biomassa.
Sem eles, isso para,
todo o programa para.
O problema é:
como reproduzimos isto
se não temos padrões de migração?
Se não temos quatro milhões
numa manada de búfalos,
se não temos 10 milhões
de lobos a persegui-los,
se não temos incêndios,
se não temos a coreografia
magnífica, espantosa da Natureza,
como é que reproduzimos este princípio
espantoso que hidratava, criava solo,
alimentava as micorrizas
e os actinomicetos
e criava os solos
que continuamos a explorar?
Como é que reproduzimos isso,
quando temos um sistema
de propriedade privada das terras?
Fazemos isso com vedações
elétricas, de alta tecnologia.
Vedações elétricas com "microchips",
da era espacial.
São quase invisíveis aos olhos
e, assim, podemos cercar
uma manada de mil vacas
com um arame quase invisível
que nunca veremos.
Dizemos aos visitantes:
"Cuidado com o arame".
Eles encostam-se a ele e "Ai!"
(Risos)
É praticamente invisível
mas, como é uma barreira fisiológica
muito forte, as vacas aprendem.
Veem-na melhor do que nós.
Conseguem ver tudo em volta da cabeça,
com exceção de 30 graus
da parte posterior.
Conseguem vê-la, sabem que está ali.
Permite-nos reproduzir
este movimento de manada
que elas tiveram séculos antes
de termos privatizado as terras.
Chamamos a isto "captura de carbono,
por lignificação,
"mediante conversão solar
e cerco dos herbívoros em massa".
(Risos)
Quando a biomassa chega a este ponto,
podamo-la com os herbívoros,
e depois ela recomeça a crescer.
Quando a folha começa
a receber cada vez mais clorofila,
o crescimento acelera cada vez mais
de modo que, daqui até aqui,
digamos, para efeitos da análise,
que daqui até aqui demora uns 20 dias.
E daqui até aqui, demora apenas 10 dias.
Portanto, vai acelerando
e depois abranda.
O que nós fazemos é usar os herbívoros
— neste caso, uma vaca, mas pode ser
uma ovelha, uma cabra, o que seja —
usamos o animal no seu papel histórico,
usando a vedação elétrica,
de alta tecnologia
para gerir e estimular
a produção de biomassa.
O objetivo é que
no condado de Augusta, onde eu vivo,
que é para lá da montanha,
no Condado de Augusta,
a pastagem média,
a produção de biomassa,
se a secarmos e a pesarmos,
a produção média de biomassa
de erva, por hectare
no Condado de Augusta
é de quase três toneladas por ano.
Na nossa herdade,
já aqui estamos há quase 60 anos,
e nunca plantámos uma semente.
nunca comprámos um saco
de fertilizante químico.
Na nossa herdade, em média,
produzimos 11 toneladas por hectare.
Conhecemos bem a tensão
entre a ecologia e a economia.
E que se insiste que só
podemos ser sensíveis ambientalmente
se sacrificarmos a economia
e que não podemos ser economicamente
viáveis se não sacrificarmos o ambiente.
Venho aqui defender a ideia
de que é um facto
que podemos ter as duas coisas.
Mas o que temos de fazer
é gerir as coisas de modo diferente,
Os dados que apontam para a pobre vaca
como destruidora do planeta
assinalam este aspeto enganador
como sendo a causa do problema.
O problema não são os herbívoros.
Os herbívoros estão a fazer
o que sempre fizeram.
São um tonel portátil de tração dupla,
para fermentar chucrute.
(Risos)
que transformam os carboidratos
fermentando-os em carne e leite,
alimentos muito nutritivos.
Fazem exatamente o que é suposto fazerem.
Mas não estão a ser geridos
da forma que as manadas selvagens
e que os padrões migratórios
eram geridos, em que se movimentavam.
Abandonavam áreas por tempo suficiente
para o pasto se desenvolver,
estes magníficos 50, 60, 70 dias
do ciclo de expressão fisiológica
e depois voltavam a podar
e a pastar na altura apropriada.
Com efeito, o que acontece
na maioria das pastagens
é que as ervas nunca chegam
a crescer a este ponto.
São mantidas muito curtas.
Assim, são consumidas
20 vezes numa estação.
Se somarmos todos esses quilos,
chegamos a mais de uma tonelada por ano.
Em vez disso, nós deixamos
que o pasto chegue até aqui
até à sua total expressão fisiológica,
impedindo-lhe o acesso antes disso.
Mudamos as vacas, todos os dias,
para outro local,
deixando o resto a descansar
e a passar por este rápido
ciclo de acumulação.
Significa que triplicamos, quadruplicamos
ou quintuplicamos mesmo
a quantidade de pasto que
uma certa área pode produzir.
Aquela vaca está a produzir
uns 23 kg de coisas boas, por dia.
(Risos)
Pensem no que acontece
quando mudamos
de cerca de 5 toneladas
de estrume e urina por hectare
para 23 toneladas
de estrume e urina por hectare.
Subitamente, temos uma capacidade
de constituir solo fértil.
Assim, cá estamos,
não só a recolher mais,
mas a sequestrar mais carbono,
estamos a usar o animal
no seu papel histórico,
estamos a reconhecer e a respeitar
as qualidades inerentes da vaca.
Quando alimentamos os herbívoros
com coisas estranhas como cereais
e os metemos num local fechado
e fazemos todo o tipo de profanações,
ou seja a burrice dos EUA
— é como lhe chamo —
(Risos)
andaram a rir-se de nós
durante 30 anos, por fazermos isto.
Disseram: "Moam as vacas mortas,
deem-nas a comer às vacas".
Chamaram-nos luditas
e antiprogressistas,
e anti-ciência.
"Adere ao programa, Salatin,
que ideia é essa da erva?"
Quarenta anos depois,
ouvimos por toda a parte:
"Bolas! Talvez não devêssemos
ter feito isto!"
(Risos)
Não percebo porque é
que continuamos a dar
a estes sofisticados agentes
da nossa cultura
a liberdade de nos dizerem
o que comer e como comer.
Assim, qual é o "e se?" disto tudo?
Imaginem só.
Se todos os nossos vizinhos fizessem isto,
em vez de pastorear continuamente
50 vacas em 40 hectares
e as deixarem ali o ano inteiro,
sem que o pasto possa crescer
para além do estádio
a que chamo pasto de fraldas
e ficam ali, como se só metessem
a primeira velocidade.
Podemos fazer muitas analogias
mas a questão é que a erva nunca acelera.
Não pode, é como dizer:
"Eles nunca mais largam as fraldas?"
É a mesma coisa quanto ao pasto.
Mas se o controlarmos,
de modo que os animais só tenham acesso
a uma pequena área cada dia
e criarmos um padrão de mosaico,
sabem o que acontece?
Temos toupeiras e ratos-do-campo,
temos locais de nidificação de aves,
temos um mosaico contínuo
de polinização,
de flores, de trevos vermelhos, brancos,
e de dentes-de-leão
bons para os polinizadores.
Temos todo o tipo de crescimento
no subsolo
porque temos esta biologia.
O solo arrefece porque tem
todo esta bela cobertura vegetal
que transpira e oxigena.
Estou a inalar o oxigénio desta planta.
E expiro o meu dióxido de carbono.
Não é fantástico?
Amanhã, ele passa por uma rã,
depois vai para um solidago
e depois regressa e há
esta espantosa interligação.
Então, e se...?
E se a Universidade da Virgínia
servisse este tipo de carne
em vez da carne
dos campos de concentração?
(Aplausos)
E se o McDonald's servisse isto?
E se o Burger King servisse isto?
E se vocês comessem isto?
E se eu comesse isto?
Uma forma abençoada de participar
na coreografia mais curativa,
mais espantosa da Natureza,
respeitando a essência
do que é ser uma vaca,
usando-a como um herbívoro
no seu papel histórico
e participando nos cuidados
com o planeta.
Obrigado por me terem permitido
partilhar convosco uma coisa tão simples.
Obrigado.
(Aplausos)