Olá, não faço ideia do que o Nilton
acabou de dizer, por isso...
(Risos)
se foi mau vocês dizem-me, certo?
(Risos)
Nós, seres humanos, podemos ser
muito inteligentes quando tentamos
e, ao longo dos séculos,
conseguimos resolver
muitos dos maiores mistérios
do mundo e da vida.
Nós agora sabemos que o céu
não é sustentado por quatro estacas
e que as estrelas
não são coisas minúsculas.
Estão apenas muito longe.
Até sabemos que os adolescentes
não estão possuídos por demónios.
(Risos)
São apenas clinicamente loucos.
(Risos)
Mas ainda há alguns
mistérios por resolver.
A origem do universo.
Esse é um dos grandes.
E ainda é um grande mistério
como uma minúscula célula somática
cresce e se desenvolve
em algo tão completo e maravilhoso
e extraordinariamente atraente como vocês.
E há o mistério da consciência,
o grande segredo da consciência.
Como é que existe um eu
dentro da minha cabeça a olhar para fora?
Gostaria de falar convosco
destas três coisas,
mas só tenho 13 minutos,
por isso vou apenas resolver
o segredo da consciência.
Não quero criar suspense,
porque, honestamente,
quando ouvirem a resposta,
vocês vão sentir-se
amargamente desapontados.
Por isso vou dizer-vos
o segredo sem rodeios,
e depois tentarei fazer-vos
sentirem-se melhor.
OK, vamos lá. Preparados?
O grande segredo da consciência é...
Não, na verdade, antes
vou contar uma história.
(Risos)
Quando o meu filho Christopher
era pequeno, deste tamanho,
um professor perguntou-lhe
o que ele queria ser, o que ele queria
fazer quando fosse adulto.
E o Christopher respondeu,
cheio de confiança:
"Quero estudar como é
que uma coisa afeta outra coisa."
Como plano de carreira,
creio que o professor dele
achou que era algo vago
mas eu fiquei muito orgulhoso dele.
Para começar, uma competência assim
nunca estará no desemprego, certo?
(Risos)
Se quiserem resolver o problema do cancro,
se quiserem descobrir
como as guerras têm início,
se quiserem criar
melhores naves espaciais,
a quem melhor perguntar se não a alguém
que sabe como uma coisa resulta noutra?
Mas ele tinha razão.
Podemos estudar
como uma coisa afeta outra.
Na verdade, chama-se de cibernética.
Porque não há muitas formas
como uma coisa pode afetar outra coisa.
E se forem muito bons com padrões,
começarão a ver
que o mesmo tipo de dinâmica
ocorre em muitos níveis de escala.
O Chris estava a simplificar
— porque era um professor, percebem —
e o que ele queria mesmo dizer
não era como uma coisa afeta outra,
mas como uma coisa afeta outra
que volta a afetar a primeira.
Algo chamado de causalidade
circular, ou "feedback",
e a cibernética é o estudo do "feedback".
Isto é muito importante
porque, para todos os efeitos,
tudo o que veem à vossa volta
existe devido ao "feedback".
Os átomos na cadeira à vossa frente,
a mente e o corpo da pessoa lá sentada,
as palavras que uso
— Portugal, até o TED.
Todas estas coisas existem
devido ao "feedback",
porque se autorreforçam
e autorregulam de alguma forma.
Se não fosse assim, desapareceriam.
Portanto tudo é "feedback"
e "feedback" é tudo.
Mas onde é que eu ia?
Consciência. Certo. É desta.
(Risos)
O grande segredo da consciência é...
Por falar nisso...
(Risos)
já alguma vez passaram
muito tempo a pensar
que vocês são uma colónia
de criaturas unicelulares?
É meio bizarro, mas também é maravilhoso.
Vocês são...
uma sociedade de 100 biliões
de pequenas criaturas
e 90% delas são bactérias,
o que é um pouco embaraçoso,
mas não podem viver sem elas,
por isso, no seu todo, elas são vocês.
E mesmo aquelas que têm genes humanos,
são apenas pequenos animais unicelulares,
e reproduzem-se assexuadamente;
dividem-se em dois, depois em quatro,
depois em oito e dezasseis.
E praticamente a única coisa
que têm de especial
é que estão cobertas de cola
por isso acabam
por ficar coladas num nódulo
em vez de nadarem para longe
e viverem vidas felizes e independentes.
Por isso, basicamente, vocês são
um monte de pequenas criaturas pegajosas.
A minha razão para vos dizer isto,
em parte, é porque isto explica,
mais ou menos, a minha atividade.
Trabalho num campo
chamado de vida artificial,
que basicamente envolve o uso
da tecnologia para explorar a biologia.
Por isso, passo os dias
a construir criaturas artificiais.
Por vezes robôs.
De facto, tenho uma robô feminina
em tamanho natural,
de minissaia no meu quarto,
(Risos)
o que causa um grande choque
a quem vem fazer alguma coisa
no meu apartamento.
No fundo, faço criaturas virtuais
que vivem num computador.
A única coisa que vale a pena saber
sobre isto é que também são comunidades.
Por isso não tento programar computadores
para se comportarem como animais;
tento programar computadores
para se comportarem como células cerebrais
e células de rins e de fígado,
e depois tento encontrar formas
de os juntar em sistemas,
em comunidades
que, coletivamente, têm pensamentos,
sentimentos, esperanças e sonhos.
E há muitos, muitos anos,
há cerca de 20 000 anos,
peguei nalgumas
das minhas pequenas criaturas
e coloquei-as num jogo de computador
e deixei que as pessoas
brincassem com elas.
e os resultados foram maravilhosos.
Pelo menos um milhão de pessoas começaram
a tomar conta das pequenas criaturas
e fizeram coisas espantosas.
Criaram agências de adoção,
escreveram muitas histórias,
fizeram experiências científicas,
estudaram a sua genética.
Na verdade, muitos continuaram
quando cresceram,
tornaram-se cientistas e outras coisas,
devido às experiências que tinham feito
nas minhas pequenas
formas de vida artificial.
Mas o mais importante
foi que colocaram muitas questões,
questões profundas sobre o que é a vida,
o que é a mente, o que é a consciência.
Eu adorava aquilo;
dava sentido à minha vida.
Porque estas questões são,
de facto, importantes.
Como é que sabemos,
como podemos fazer bons juízos de valor
sobre questões éticas como
o aborto ou crueldade animal
se não soubermos o que é a consciência?
Não somos cruéis com algo a não ser
que isso saiba que estamos a ser cruéis.
Mas como sabemos se sabe?
Vivo nos EUA,
onde o aborto
é um assunto político importante.
Por vezes, parece-me que metade
da população acredita numa coisa
e a outra metade acredita noutra.
Não podem ter razão, as duas.
Mas claro que ambas podem estar erradas.
Será que estão sentadas em volta
duma mesa muito comprida,
a discutir e a tentar chegar
à resposta certa sobre o aborto?
Não, claro que não. É os EUA.
Simplesmente dão um tiro um no outro.
(Risos)
Por isso, é uma confusão.
Não sabemos do que estamos a falar,
e creio que parte da razão
é porque estamos bloqueados.
Bloqueados, não conseguimos
avançar nestes problemas,
porque não sabemos
qual é o segredo da consciência.
Acho que é a minha vez.
À terceira é de vez, vou dizer-vos.
Desta vez vou dizer-vos
e vocês não vão gostar.
O grande segredo
da consciência é...
que não há nenhum segredo da consciência.
(Risos)
Primeiro as más notícias,
e depois vou tentar convencer-vos
que, na verdade, são boas notícias.
A questão é...
em anos recentes, tenho construído
algumas criaturas novas,
e agora acredito mesmo
que estou a começar a ter um vislumbre
de consciência nestas criaturas.
Para mim isso é ótimo.
Gostaria de as trazer trazido.
Peço desculpa mas portaram-se mal
e não podia tê-las trazido.
(Risos)
Para mim isso é ótimo
porque é o trabalho da minha vida.
Passei 35 anos a fazer isto,
e é bom sentir que estou a chegar perto.
Mas muitas pessoas não sentem
o mesmo sobre estas coisas,
porque estas criaturas são artificiais.
Vivem num computador.
Por isso, não podem ter
uma alma sobrenatural,
e não podem sequer ter coisas estranhas
e esquisitas como mecânica quântica
para explicar a consciência
e todas as outras coisas que inventamos
que tentam fazer-nos sentir melhor
sobre o quão especiais somos.
São máquinas
e, como tal, se eu tiver razão,
nós também somos,
e ninguém quer ser chamado de máquina.
Não queremos dizer isso às pessoas.
Elas não querem sê-lo.
Não é algo especial
e as máquinas desgastam-se.
Então o que é que eu faço?
O que é que vocês fazem
se isso vos incomoda?
Bem, tudo o que vos disse
sobre o Christopher, o "feedback"
e as coleções de pequenas células,
é onde reside a resposta.
Não posso explicar-vos agora
mas, se quiserem saber
como lidar com o facto
de que somos máquinas
— e isso não é algo mau —
é para lá que devemos olhar.
Mas permitam-me que tente
terminar com uma cosmogonia,
uma pequena história
sobre uma origem melhor,
a história da criação.
Vocês conhecem
a história bíblica da criação.
Basicamente, Deus criou o universo
perfeito e totalmente formado,
e depois chegaram as pessoas
e estragaram tudo,
e tudo tem piorado desde então.
Por isso, a história da criação
é sobre declínio e decadência.
Mas, no meu campo
— estudos da complexidade,
teoria da complexidade —
podemos oferecer uma história
da criação diferente.
Nessa história, o universo não foi
criado perfeito e totalmente formado.
Era muito, muito, simples e muito, muito,
muito, muito, muito, muito aborrecido.
Mas é um universo criativo,
um universo auto organizado,
um universo que descobre e inventa
coisas que antes não existiam
— constantemente.
Basicamente, graças
ao poder do "feedback",
um universo vazio descobriu
como retirar matéria do espaço vazio.
E, depois de saber como fazer matéria,
e depois de a matéria ter arrefecido,
descobriu que conseguia
fazer química com ela.
E a química treinou e treinou e treinou
durante milhares de milhões de anos
e acabou por saber como fazer vida.
Logo que a vida apareceu,
nunca mais iria desaparecer,
por isso experimentou
com formas diferentes
de unir as células em comunidades
para fazer coisas diferentes,
o que lhe permitiu sobreviver,
tornar-se autossustentável.
Durante esse processo,
acabou por precisar de criar
modelos do mundo
para poder planear e prever coisas,
e creio que é daí que vem a consciência.
Isto é o que acontece quando um certo tipo
de máquina está em funcionamento.
Não há nada de anormal nisso.
Mas é um universo muito fixe
porque nós emergimos de tudo isto.
Por isso, o que estou a dizer é que,
sim, nós somos máquinas,
mas não somos apenas máquinas;
somos máquinas fantásticas.
Somos o resultado de experiências
durante 14 mil milhões anos
feitas por um universo
incrivelmente criativo.
Talvez isso nos faça sentir
um pouco melhor
por sermos uma máquina.
O meu conselho é tentarem aceitar
o facto de serem uma máquina
porque não é mau sê-lo.
Obrigado.
(Aplausos)