Candidatei-me à universidade
para estudar medicina
mas mudei de curso para a matemática
para ter mais tempo para escrever poesia.
(Risos)
Obrigado por se rirem
das escolhas da minha vida.
(Risos)
(Aplausos)
Embora um dos primeiros
poemas que escrevi
tenha sido um poema de amor
sobre os números primos,
pensava que as duas coisas
não estavam propriamente interligadas.
Eu gostava de matemática porque
havia sempre uma resposta correta
e gostava de poesia porque
nunca havia uma resposta errada.
Mas, quando mudei de curso,
para a matemática,
tive a oportunidade de fazer matemática
durante um ano, no estrangeiro
e pensei que seria uma forma divertida
de viver num outro país
e experimentar uma outra cultura.
Assim, vivi e estudei matemática,
durante um ano, na Alemanha
e achei que seria boa ideia
aprender alemão
porque tinha ouvido dizer
que era muito falada ali.
(Risos)
Quando cheguei à Alemanha,
o nível da minha linguagem
era aproximadamente:
(em alemão): "Olá, chamo-me Harry.
"Sou inglês.
"Fala inglês?"
(Risos)
- Não.
- Bolas!
(Risos)
Felizmente, à medida que o ano passou,
a minha língua melhorou um pouco.
Queria falar-vos de algumas coisas
que aprendi, ao longo do tempo.
Tenho consciência de que estou a falar
de aprender alemão
num país de língua alemã,
embora confiasse que todos
percebessem o meu inglês,
mas, não se preocupem:
""O meu inglês é incrivelmente bom."
(Risos)
O que me chocou
na aprendizagem de outro idioma,
é que, embora toda a gente tenha
a mesma intenção
de vir a ser fluente,
os percursos que seguimos
são muito diferentes.
Medir o nosso progresso
nesse percurso,
usar tabelas de verbos
e testes de gramática,
embora seja útil para alguns,
para mim, não captavam a excitação
do que era aprender outra língua.
Por isso, estabeleci pontos de referência
para saber quando é que estava
a fazer progresso.
O primeiro era que, logo que
possuísse os blocos básicos,
e pudesse confiar no instinto,
me lembrasse de explicar
uma história a um amigo
em que tudo tivesse funcionado
e, no fim, se juntasse em harmonia.
Encontrei-me a usar as palavras
"Alles hat geklappt."
Penso que nunca tinha ouvido
essa palavra
mas, quando a disse,
pareceu-me que fazia sentido
porque, se batemos palmas,
é uma forma bastante literal
de juntar as mãos.
Mas também, se fazemos um plano
e ele funciona,
por vezes, sentimo-nos
a aplaudir-nos.
Mas, quando eu disse aquelas palavras,
eu sabia que era a palavra certa
para usar naquele contexto,
porque saía natural.
Até certo ponto, se eu não sabia
uma palavra em alemão,
eu tentava dizer a palavra inglesa
com um sotaque alemão
e tentava safar-me assim.
Mas, mais frequentemente,
isso fazia-me parecer "ein Idiot".
(Risos)
A segunda fase, para mim,
foi quando começamos
a sonhar noutra língua.
Muita gente fala nisso,
porque, depois de todos
os nossos esforços,
é a altura em que sabemos
que estamos finalmente mergulhados.
O primeiro sonho que eu tive em alemão,
sonhei que estava numa aula de alemão
a aprender vocabulário novo,
o que significava que o meu subconsciente
já estava cheio de alemão,
que eu entendia, com que eu podia sonhar,
mas também que tinha algum alemão
que eu ainda não entendia
e estava a tentar ensinar-me
durante o meu sono.
(Risos)
Embora eu não ache
que este é o método mais seguro
para aprender uma língua,
foi muito entusiasmante na altura.
Mas, para mim, a terceira fase
e o momento em que, de facto,
percebi que estava tudo ok,
é quando podemos perceber
ou fazer piadas noutra língua.
Eu adoro trocadilhos
e, sempre que algum
dos meus amigos não ingleses
consegue fazer trocadilhos em inglês,
fico sempre muito impressionado.
Chegou uma altura em que eu estava a falar
com um amigo alemão que era poeta,
e ele estava a contar
como, quando tinha ideias,
elas começavam a sobrepor-se umas às outras
numa espécie de avalanche de ideias.
Disse-me que a palavra alemã
para "avalanche" era "Lawine".
Sem perder um segundo, eu disse-lhe:
"Se houvesse muita neve
entre os meses de março e maio,
"chamar-lhe-iam uma 'Avril Lawine'?"
(Risos)
E ele: "Isso é hilariante".
(Risos)
"Não podes deixar
de dizer isso na TEDTalk.
"Vão-se fartar de rir".
(Risos)
Penso que ser capaz
de brincar com outra língua
é uma coisa sensacional,
e não é todos os dias
que temos oportunidade de fazê-lo,
especialmente nos testes de gramática
— aliás, não nos dão pontos bónus
pelos trocadilhos.
O que eu estava a experimentar
era algo que nunca tinha experimentado
— uma coisa a que, na escola,
eu e o meu pior rival de matemática,
o meu melhor amigo, Luke,
chamávamos "o entusiasmo 'nerd' ".
É esse o sentimento que temos
quando embrulhamos a cabeça
num conceito
ou quando conseguimos resolver um problema
de forma especialmente límpida.
É este sentimento que experimentei
quando comecei a escrever poesia,
quer fosse quando parecia
que as palavras caíam no seu lugar,
quer fosse quando nos surgia
um verso particularmente agradável,
quer talvez quando pensamos
num trocadilho ridículo.
Para mim, a diferença era
que estava a apanhar isso
nas conversas do dia-a-dia.
Quer fosse o "frisson" de ser compreendido
pela pessoa à minha frente,
quer fosse ter uma leve ideia
do que é que eles estavam a falar,
a formação de frases simples
pareciam mini-equações
a resolver de vez em quando.
Envolvia o reconhecimento de padrões
e a atenção aos pormenores
coisas que eu adorava na matemática.
Combinava-se com a criatividade
e a capacidade de pensar fora do baralho
que eu apreciava na poesia.
Combinavam-se as duas coisas
numa forma em que eu não tinha pensado.
De muitas formas, o alemão
é uma língua lógica e matemática.
Lembro-me de perguntar aos meus colegas
qual era a palavra alemã para "chaleira".
Disse-lhes: "Como é que se diz
aquela coisa onde se cozinha a água?"
E eles: "Das ist ein Wasserkocher."
(Risos)
Para mim, fazia todo o sentido,
e havia todos aqueles momentos,
em que...
(Risos)
... em que eu ficava muito entusiasmado.
Um dia, cheguei a casa e disse
que a palavra alemã
para luvas era "Handschuh",
porque são como um sapatinho
que pomos nas mãos.
(Risos)
E pensei que era incrível.
E eles disseram...
(Risos)
"Porque é que estás
tão entusiasmado com as luvas?"
(Risos)
Eu arranjei uma lista
das minhas palavras preferidas.
São estas as minhas palavras preferidas:
Aprendi que a palavra alemã
para "tartaruga" é "Schildkröte",
que é uma espécie de "sapo com escudo".
Quando descobri isso,
pensei logo num caracol,
porque esperava que devia ser
uma espécie de "lesma com escudo"
(Risos)
Acontece que a palavra alemã
para "caracol" é "Schnecke",
mas a palavra alemã para "lesma"
é "Nacktschnecke"...
(Risos)
... porque é como um caracol nu.
(Risos)
Pensei que era fantástico.
(Risos)
O meu colega disse:
"Porque é que trouxeste
caracóis cá para casa?"
(Risos)
De certa forma, esta colagem de palavras
pode ser muito poética.
Lembro-me de aprender que a palavra alemã
para "iris" é "Regenbogenhaut",
que se traduz por "pele do arco-íris".
Acho-a de grande beleza
e também tem um pouco
dessa estranha lógica.
Igualmente, descobri que a palavra alemã
para "mamilo" é "Brustwarze"...
(Risos)
... que significa "verruga do peito",
o que, embora menos bela...
(Risos)
(Aplausos)
... também tem um pouco
dessa estranha lógica.
Assim, pensei que seria divertido
tentar inventar as minhas palavras.
Onde eu vivia, em Hanôver,
há uma grande população turca.
Portanto, há muitos locais onde se vende
"kebab" e "döner" e "falafel".
Fiquei felicíssimo quando encontrei
a palavra para "falafel" é "Falafel".
(Risos)
Mas a palavra alemã
para "colher" é "Löffel".
Se houver uma colher especial
que só se usa para comer "falafel"
podíamos chamar-lhe uma "Falafellöffel".
(Risos)
Então, escrevi um poema
intitulado "Falafellöffel",
sobre um tipo chamado Phil.
Já estão a ver onde é que isto vai parar.
Não envolve qualquer tipo
de pergunta e resposta,
o que é especificamente alemão,
mas penso que vocês
devem ser um pouco melhores
do que em Inglaterra.
"Phil ist voll.
"Die Nacht ist gut verlaufen.
"Phil sieht ein Geschäft
und er fragt, was sie verkaufen.
"Falafellöffel.
Für Löffel voll Falafel."
— ou seja, "colheres Falafel,
para colheradas de Falafel".
"Was?"
"Falafellöffel.
Für Löffel voll Falafel."
"Wie?"
"Falafellöffel.
Für Löffel voll Falafel."
Phil não fala alemão,
por isso fica um bocado confuso.
Vejam, aquele é o Phil
e Phil adora "falafel".
Num sorteio de "falafel"
ele roubaria todas as rifas.
Responde sempre afirmativamente
quando lhe oferecem "falafel":
mesmo que esteja cheio,
acharia um horror se não aceitasse.
(Risos)
Para nós, não nos importaríamos
de passar a vida sem "falafel".
(Risos)
Mas Phil fica a ferver
enquanto não tem o seu "falafel".
Por isso, se oferecessem a Phil
uma colher para "Falafel"
ele diria "sim, apesar de não saber
o que é uma "colher"!
Para Phil, uma vida de amor e risos
terá que ser seguida de um "falafel".
(Risos)
É "sim", apesar de não saber
o que é uma "colher"!
Se um "falafel" caísse de uma "colher",
Phil sentir-se-ia terrível...
(Risos)
.... por isso, é "sim", apesar
de não saber o que é uma "colher"!
Um "falafel" fofo é uma incógnita,
para ser sincero,
mas ele não sabe o que é uma "colher"!
Uma colher de "falafel" imundo
pode ser letal,
quando deixamos Phil,
ele ainda tem uma mensagem para os filhos:
"Sim", apesar de não saber
o que é uma "colher",
sempre "sim", apesar de não saber
o que é uma "colher".
Por isso, quando eu digo:
"Wie viel Falafel ist zu viel Falafel?"
— que significa: "Quanto 'falafel'
é 'falafel' demais?" —
vocês podem responder em uníssono:
"Vier Löffel voll Falafel
ist zu viel Falafel."
(Risos)
— o que significa: "Quatro colheres cheias
de 'falafel' é 'falafel' demais!".
Se alguém aqui não fala alemão,
posso guiá-los, se repetirem comigo:
- Vier.
- Vier.
- Löffel voll
- Löffel voll
- Falafel
- Falafel
- Ist zu viel
- Ist zu viel
- Falafel
- Falafel
Wunderbar!
(Risos)
Wie viel Falafel ist zu viel Falafel?
Vier Löffel voll Falafel
ist zu viel Falafel.
Wie viel Falafel ist zu viel Falafel?
Público: Vier Löffel...
HB: Lauter! Wie viel Falafel
ist zu viel Falafel?
Público: Vier Löffel...
HB: Schneller! Wie viel Falafel
ist zu viel Falafel?
Público: Vier Löffel...
Vier Löffel voll Falafel
ist zu viel Falafel!
No seu leito de morte,
uma mensagem para os seus filhos,
a dizer "sim", apesar de não saber
o que é uma "colher,
sempre "sim", apesar de não saber
o que é uma "colher,
Phil war voll.
(Risos)
Die Nacht war gut verlaufen.
(Risos)
Phil sah ein Geschäft
und er fragte, was sie verkaufen
"Falafellöffel. Für Löffel voll Falafel."
"Falafellöffel! Für Löffel voll Falafel!?"
"Ja - Falafellöffel!
Für Löffel voll Falafel!"
Temos que fazer um esforço
quando viajamos!
(Aplausos)
Disraeli, um dos meus poetas preferidos,
aqui no Reino Unido, disse-me um dia
que aprender uma língua
é como aprender a pensar
numa outra cor.
Falei com outras pessoas
que dizem que sentem
que têm personalidades diferentes
em idiomas diferentes.
Cedo aprendi,
quando estudava alemão,
que, quando exprimo uma opinião em inglês,
muitas vezes digo coisas como:
"Acho... talvez... se calhar...
talvez possamos fazer isso".
Ou: "Tenho a sensação... está a ver...
se não for muito incómodo,
"talvez possamos fazer isso".
Embora, em inglês, isso só possa parecer
que eu não estou muito seguro,
em alemão, afeta rapidamente
a estrutura da frase
e eu não sabia onde colocar os verbos.
(Risos)
Por consequência,
o Harry alemão
passou a ser muito mais decisivo e direto
sobre o que queria dizer
do que o Harry inglês,
apenas porque não dispunha
do domínio da língua
para poder duvidar de mim,
fosse como fosse...
(Risos)
... o que era uma coisa incrível.
Outro efeito colateral
foi que, embora ache que, em inglês,
me sinto um pouco mais confortável
a falar com mil estranhos
do que numa conversa a dois,
em alemão, como estava entusiasmado
por aprender a língua,
a conversa a dois
tornou-se em trabalho de casa.
Sentia-me entusiasmado
a fazer perguntas
e a aprender simples factos
sobre a vida de outras pessoas
porque era o tipo de vocabulário
que eu percebia.
Do mesmo modo, sentia-me entusiasmado
por falar de mim mesmo,
porque precisava de praticar.
Enquanto o alemão me ensinou
um elo entre a matemática e a poesia
que eu não tinha imaginado
anteriormente,
também me ensinou coisas
sobre a minha personalidade
de que eu não estava à espera.
Percebi que os pontos de referência
que eu tinha estabelecido em alemão,
e em aprender uma língua,
eram coisas que eu já conhecia.
Na matemática, embora,
a princípio, possa ser difícil
dominar os blocos básicos de construção,
quando eles estão no seu lugar,
podemos começar a divertir-nos
e a saltitar entre eles
e a confiar no nosso instinto.
No que se refere à escrita,
se conseguirmos mergulhar o suficiente
no mundo de um poema ou de uma história,
torna-se possível que essas ideias
apareçam do nada, segundo parece.
Muitas vezes, fui para a cama,
ou adormeci em pleno dia,
enquanto escrevia um poema
e, quando acordava,
ali está uma ideia nova
que é quase como se eu tivesse tentado
ensinar-me a mim mesmo nos meus sonhos.
A última coisa foi que,
com estas duas coisas,
tanto na aprendizagem de alemão,
como em muitos aspetos
da minha vida,
percebi que,
se nos dedicarmos ao trabalho,
podemos sentir-nos confortáveis
e estar dispostos a correr riscos,
mas também a divertir-nos.
É aí que podemos começar a mostrar-nos.
Depois de terminar aquele ano
no estrangeiro,
voltei para o último ano
na universidade em Bristol,
e passei da classe
de principiantes de alemão
para a classe de avançados de alemão.
Mas, embora no final do ano,
me tenha portado bem
nos exames orais,
consegui falhar
no exame final de gramática.
No entanto, acabei o curso de matemática
e, desde então, tenho podido
fazer poesia a tempo inteiro,
e viajar pelo mundo,
a fazer aquilo que gosto de fazer.
De certa forma, tem sido um percurso
especial e estranho
mas tudo tem "geklappt".
Obrigado.
(Aplausos)