O psicorama, como já se sabe, foi um grande fenômeno no século 19, Um pouco antes do cinema. É circular. Então, você entra nesse círculo iluminado. É como o auge da criatividade do pintor, fazer a pintura cercar o público e criar a ilusão de espaço e profundidade. E induzir o público a se sentir parte daquela cena. E será que é só uma história que tem aqui? Parece que cada figura conta uma história. Ao mesmo tempo em que a gente está numa sala redonda? Ela tem começo e fim essa história? Não né! A maior parte do meu trabalho é a ilusão de que isso é sobre o passado. A ilusão de que é apenas sobre um ponto em particular da história e nada mais. E, na verdade, faz parte da estratégia que eu gosto de usar para abordar as complexidades da minha vida, mas me distanciando, e achar um paralelo em algo mais bonito e mais gentil, como a imagem do antigo Sul, que é um estereótipo. Eu comecei a ler "E o vento levou" e fiquei emocionada em como aquela história era cativante e grotesca ao mesmo tempo. O romance, a forma como a história era contada, era tão rico e impressionante. E não era o que eu esperava. Eu não esperava ficar excitada de um jeito que, sabe como é, histórias como aquela pretendem excitar. Foi muito além do trabalho que eu queria fazer. As partes angustiantes eram sempre trazidas na voz da protagonista, Scarlet O'Hara. Scarlet, no seu desespero está desenterrando raízes secas e tubérculos, perto do alojamento dos escravos e ela é tomada por um "cheiro de negro"? E vomita? E são cenas assim que podem ser deixadas de lado pelo tipo de estrutura épica da história. Mas é um momento épico. Muito do meu trabalho tem sido sobre o inesperado. O desejo de ser a protagonista e, ainda assim, desejando matar a protagonista ao mesmo tempo. E esse tipo de dilema, que puxa e empurra, é a turbulência escondida que eu trago em cada uma das peças que eu faço. A silhueta se presta a evitar o assunto, não sendo capaz de olhar diretamente para ele. Minhas primeiras memórias de querer ser uma artista eu tinha três, eu estava sentada no colo do meu pai e ele estava desenhando no seu estúdio, que era na garagem da nossa casa em Stockton, na Califórnia. E eu lembro de pensar que eu, eu queria fazer o mesmo que ele. E ele costumava me dar giz para desenhar na calçada, e ele documentava minhas criações. Quando nos mudamos da Califórnia para a Georgia, eu sei que tinha pesadelos sobre me mudar para o sul. O sul já era um lugar cheio de, como eu disse, mitologia, mas também da realidade maldosa. Era uma perspectiva muito assustadora estar entre a infância e a adolescência e ir para um ambiente onde crianças negras são um alvo. Stone Mountain, na Georgia, é onde eu cresci, basicamente. É como se fosse o Mount Rushmore dos heróis confederados. Isso é muito significante. Stone Mountain era um paraíso para a Ku Klux Klan. Então, aquele lugar tinha um pouco mais de repercussão. Era muito explícito. Não escondiam os fatos. Você sabe o que significa ser negro em uma América branca, o que significa ser branco em uma América negra, está tudo cheio com nossas perversões psicológicas mais profundas e medos, e anseios. A maioria das peças, eu acho, tem a ver com mudanças de poder, tentativas de tirar o poder dos outros. Eu estava desenhando contornos de... de perfis, pensando sobre fisionomia e ciências racistas, e menestréis e na sombra, e no lado obscuro da alma. E eu pensei: bom, você tem papel preto aqui. E eu estava fazendo pinturas de silhuetas, mas não eram a mesma coisa. E me pareceu a resposta mais óbvia, levou uma eternidade para que eu, simplesmente, fizesse um corte na superfície preta. Sabe, eu tinha esse papel preto e se apenas fizesse um corte nele, eu criaria um buraco e, para mim, era como se o mundo todo estivesse ali. Eu sempre me interessei pelo melodramático, em gestos chocantes. Eu amo pinturas históricas. Esse conceito artístico pitoresco, que é fazer da pintura um palco, e pensar nos personagens, retratos ou qualquer outra coisa, como personagens daquele palco. E emoldurar um período que é carregado de dor e sangue, e coragem, e drama e glória. Esse trabalho envolve muita pesquisa e um pouco de histeria paranóica. O nome é "INSURREIÇÃO. Nossos meios eram rudimentares, mas nós superamos". É a imagem da revolta de escravos antes da Guerra Civil no sul, quando os escravos domésticos foram atrás de seus "senhores" com utensílios do dia a dia e iniciaram um esboço de uma série de escravos estripando seus "senhores" com conchas de sopa. Minha referência foram as pinturas de teatros cirúrgicos do Thomas Eakins. Os retroprojetores criaram um espaço em que a sombra do público também era projetada na cena. Para que talvez eles fizessem parte daquilo. Retroprojetores são ferramentas didáticas, são ferramentas de sala de aula. Então, eles são ... Quero dizes, na minha opinião, eles trazem luz aos fatos. O trabalho que eu faço é sobre projetar ficção nesses fatos. Eu passei a amar o tipo de auto promoção acerca do trabalho de artista de silhueta Eles precisavam estar em diferentes cidades e fazer propaganda das suas habilidades e, às vezes, descrever suas habilidades incríveis de forma exagerada. Como ser capaz de fazer o corte em em menos de um minuto, 10 segundos por sua sessão, pela semelhança precisa. Eu também passei a questionar essa ideia de semelhança precisa. O trabalho tem uma estrutura narrativa, cria todos os elementos da história e só precisa do público. Como o autor que precisa do leitor para complementar a tensão da história. Este é um livro que fiz em 1997, chamado "Liberdade: uma fábula. A Curiosa Interpretação da Inteligência de uma Preta em Tempos Difíceis." A preta, como um termo que uso comigo mesma, é uma construção real e artificial. Tudo o que tenho feito é tentar traçar a linha entre ficção e realidade. Não é apenas uma observação das relações raciais na América hoje. Quero dizer, é uma parte disso. É uma parte de ser uma mulher artista afro-americana, mas também é sobre como fazer representações do nosso mundo, oferece