Todos os animais comunicam. Os caranguejos agitam as pinças para mostrarem que estão saudáveis e preparados para acasalar. Os chocos usam células do corpo pigmentadas, os cromatóforos para criar padrões na pele deles que funcionam como camuflagem ou avisos para os rivais. As abelhas realizam danças complexas para dizerem às outras abelhas a localização e qualidade da comida. Todos estes animais têm sistemas de comunicação impressionantes, mas será que têm linguagem? Para responder à pergunta, podemos olhar para quatro características geralmente associadas à linguagem: distinção, gramática, produtividade, e deslocação. Distinção significa que há um conjunto de unidades individuais, tais como sons ou palavras, que podem ser combinados para comunicar novas ideias, como um conjunto de palavras íman no frigorífico que podemos mudar para criar diferentes frases. A gramática fornece um sistema de regras que indicam como combinar essas unidades individuais. A produtividade é a capacidade de usar a linguagem para criar um número infinito de mensagens. E a deslocação é a capacidade de falar sobre coisas que não estão à nossa frente, tal como acontecimentos passados, futuros ou ficcionais. A comunicação animal exibe alguma destas características? No caso dos caranguejos e nos chocos, a resposta é não. Não combinam os seus sinais de formas criativas. Os seus sinais também não têm de estar numa ordem gramatical, e eles só comunicam condições atuais, tais como "Sou saudável", ou "Sou venenoso". Mas alguns animais exibem algumas dessas características. As abelhas usam os movimentos, ângulo, duração e intensidade da dança para descobrir a localização e riqueza de uma fonte de comida. A fonte está fora da colmeia, por isso exibem a propriedade de deslocação. Partilham esse traço da linguagem com os cães-da-pradaria, que vivem em matilhas de milhares, e são caçados por coiotes, falcões, texugos, cobras e humanos. Os seus gritos de alerta indicam o tamanho, forma e velocidade do predador e até, no caso dos humanos, o que é que a pessoa está a vestir e se tem uma arma com ela. Os grandes primatas, como os chimpanzés e os gorilas, também são grandes comunicadores. Alguns até aprenderam linguagem gestual modificada. Um chimpanzé chamado Washoe demonstrou distinção ao combinar vários sinais em frases originais, como: "Abre, por favor. Rápido." Coco, uma gorila que entende mais de mil sinais, e cerca de duas mil palavras de inglês referiu-se a um gato querido que tinha morrido. Ao fazê-lo, mostrou deslocação, embora seja de referir que os primatas dos exemplos estavam a usar um sistema de comunicação humana, e não um que apareceu espontaneamente na natureza. Há muitos outros exemplos de comunicação animal complexa, tal como os golfinhos, que assobiam para identificar a idade, localização, nomes e sexo. Também entendem alguma gramática em linguagem gestual que os investigadores usam para comunicar com eles. Contudo, a gramática não está na comunicação natural dos golfinhos. Estes sistemas de comunicação podem ter algumas das qualidades de linguagem identificadas, mas nenhum exibe as quatro. Até as capacidades surpreendentes do Washoe e da Coco não competem com as capacidades linguísticas da maioria dos humanos de três anos. E os assuntos de conversa dos animais são, geralmente, limitados. As abelhas falam de comida, os cães-da-pradaria sobre predadores, e os caranguejos deles mesmos. A linguagem humana é única devido à combinação poderosa de gramática e produtividade, para além da distinção e da deslocação. O nosso cérebro pode usar um número finito de elementos e criar um número infinito de mensagens. Podemos construir e entender frases complexas, assim como palavras que nunca antes foram ditas. Podemos usar a linguagem para um número infinito de assuntos, para falar de coisas imaginárias, e até para mentir. As pesquisas continuam a revelar cada vez mais sobre a comunicação animal. Talvez se descubra que a linguagem humana e a comunicação animal não são completamente diferentes mas sim que existem em contínuo. Afinal, somos todos animais.