Numa tarde de verão em 338 AEC,
Alexandre, o Grande,
descansava às margens do Rio Danúbio
após um dia de luta contra os citas
quando um grupo de estranhos
se aproximou de seu acampamento.
Alexandre nunca havia visto
algo como aqueles guerreiros:
altos, de olhar feroz, com grandes
colares de ouro e capas coloridas,
então ele os convidou a um banquete.
Orgulhosamente, os guerreiros
disseram ser "keltoi" ou celtas
que vinham dos alpes distantes.
Alexandre perguntou a eles
o que mais temiam no mundo,
esperando que dissessem que era ele.
Eles riram e disseram que não temiam nada.
Essa é uma das primeiras
histórias sobre os antigos celtas.
Não sabemos de onde eles se originaram,
mas sim que, na época de Alexandre,
haviam se espalhado na Europa,
da Anatólia ao leste da Espanha,
e ao oeste, nas ilhas britânicas
do Atlântico e na Irlanda.
Eles nunca foram um império unificado,
e não construíam cidades ou monumentos.
Eram, em vez disso, centenas de tribos
independentes que falavam a mesma língua.
Cada uma com seu rei
guerreiro e centro religioso.
As tribos lutavam entre si
tão entusiasmadamente
quanto lutavam contra seus inimigos.
Poucos exércitos eram páreos para eles.
Acreditavam em reencarnação,
algo incomum na época;
criam que renasceriam na Terra
para viver, banquetear e lutar novamente,
o que pode ter contribuído
para sua coragem em batalha.
Alguns lutavam nus, zombando
da armadura de seus inimigos.
O maior troféu para um guerreiro celta
era a cabeça de um adversário.
Eles preservavam essas cabeças
em jarras de óleo de cedro
e as exibiam em casa para suas visitas.
Guerreiros celtas eram
tão valorizados na Antiguidade
que reis estrangeiros os contratavam
como soldados mercenários
para servir seus exércitos.
Mas os celtas eram
muito mais que apenas guerreiros.
Eram também artesãos habilidosos,
artistas e grandes poetas chamados bardos.
Os bardos cantavam sobre os feitos
corajosos de seus antepassados
e louvavam as conquistas
dos reis guerreiros,
além de compor sátiras provocantes
sobre líderes covardes ou egoístas.
Os celtas adoravam muitos deuses,
e sacerdotes conhecidos como druidas
administravam essa adoração.
Qualquer pessoa poderia se tornar druida,
mas o treinamento exigia
muitos anos de estudo e memorização;
não era permitido aos druidas registrar
seus ensinamentos por escrito.
Druidas supervisionavam práticas
religiosas e sacrifícios aos deuses,
além de serem instrutores,
curandeiros, juízes e cientistas.
Eles eram tão respeitados que podiam
caminhar entre tribos em guerra,
no meio da batalha, e encerrar a luta.
Nenhum celta ousaria ferir um druida,
ou questionar suas decisões.
No século 2 AEC, os romanos
começaram a invadir o território celta,
conquistando as tribos do norte da Itália.
Em vez de se unirem
contra as legiões romanas,
os celtas mantiveram sua divisão tribal.
As tribos da Espanha caíram pouco depois.
No século 1 AEC, Júlio César marchou
seus exércitos cruzando a França,
usando subornos, ameaças e mentiras
para criar rivalidades entre tribos.
Somente nos dias finais
dessa grande guerra,
os celtas decidiram se unir
contra o inimigo comum
sob a liderança do rei Vercingetorix,
mas era tarde demais.
Inúmeros guerreiros e suas famílias
morreram ou foram escravizados
enquanto os romanos conquistavam a França.
Protegidos pelas águas ao redor,
as tribos celtas da Grã-Bretanha
e da Irlanda eram as últimas resistentes.
Quando os romanos finalmente
invadiram a Grã-Bretanha,
a rainha Boudicca iniciou uma revolta
após seu marido ser assassinado.
Ela quase sucedeu em expulsar
os romanos da Grã-Bretanha
antes de morrer enquanto liderava
a batalha final contra o inimigo.
Ao fim do século 1 EC,
somente a Irlanda, distante ao mar,
permaneceu não conquistada por Roma.
Ali, as tradições dos antigos celtas
sobreviveram intocadas pelo mundo externo,
muito depois da própria
Roma cair em ruínas.