WEBVTT 00:00:04.283 --> 00:00:09.913 Estamos no Louvre, olhando a pintura de Rafael, A Bela Jardineira, 00:00:09.913 --> 00:00:16.058 com uma linda Madona, seu filho e São João Batista 00:00:16.058 --> 00:00:18.014 numa composição em pirâmide 00:00:18.014 --> 00:00:20.713 que geralmente associamos à Alta Renacença. 00:00:20.713 --> 00:00:24.980 O interessante é que a virgem Maria não está em um ambiente religioso 00:00:24.980 --> 00:00:28.088 não há uma arcada, e ela não tem um trono. 00:00:28.108 --> 00:00:32.093 Se ela tivesse um trono seria o trono da natureza. 00:00:32.093 --> 00:00:34.199 Ela está sentada numa pedra, num campo 00:00:34.199 --> 00:00:36.437 com uma bela perspectiva atmosférica atrás dela, 00:00:36.437 --> 00:00:39.213 o que cria este ambiente verdejante. 00:00:39.213 --> 00:00:40.914 Se olharmos para o primeiro plano, 00:00:40.914 --> 00:00:44.704 temos plantas e talvez a beira de uma lagoa, florezinhas. 00:00:44.704 --> 00:00:47.414 Pra mim a melhor parte 00:00:47.414 --> 00:00:51.510 é o modo que Cristo, à esquerda, fica ao pé de sua mãe. 00:00:51.510 --> 00:00:54.797 Mostrando o quanto ele depende dela 00:00:54.797 --> 00:01:00.281 e ainda assim uma certa independência enquanto tenta tirar o livro 00:01:00.281 --> 00:01:03.003 da mão dela e olha para ela. 00:01:03.003 --> 00:01:09.848 E claro, o conteúdo deste livro anuncia o seu fim e sua crucificação. 00:01:09.848 --> 00:01:16.388 E o olhar de Maria sugere que ela sabe disso, 00:01:16.388 --> 00:01:21.702 ela avalia se ele está pronto ou não para saber disso. 00:01:21.702 --> 00:01:25.113 Ela coloca o braço ao redor dele, protegendo-o. 00:01:25.113 --> 00:01:30.017 E parece hesitar, com a mão esquerda, 00:01:30.017 --> 00:01:32.800 em deixar ele pegar o livro. 00:01:32.800 --> 00:01:36.185 São João Batista, que está rezando de joelho, 00:01:36.185 --> 00:01:41.470 está numa pose bem graciosa, ele se ajoelha no joelho direito, 00:01:41.470 --> 00:01:44.194 inclina o pescoço, e olha para Cristo. 00:01:44.194 --> 00:01:48.644 A graciosidade e beleza ideal da Alta Renascença aparecem aqui. 00:01:48.644 --> 00:01:51.757 Vamos analisar os olhares da pintura. 00:01:51.757 --> 00:01:53.797 Você fez bem em começar pelo João Batista, 00:01:53.797 --> 00:01:55.714 com seus olhos em direção a Cristo, 00:01:55.714 --> 00:01:59.014 cujo corpo e rosto estão virados para Maria. 00:01:59.014 --> 00:02:03.973 Maria retorna o olhar e nos faz olhar de novo para Cristo. 00:02:03.973 --> 00:02:07.530 Assim todos os olhares estão centrados em Cristo. 00:02:07.530 --> 00:02:12.604 Estamos no meio deste triângulo enquanto vemos eles se olharem. 00:02:12.604 --> 00:02:14.435 Maria tem uma beleza ideal 00:02:14.435 --> 00:02:17.279 e há apenas o leve contorno de uma auréola 00:02:17.279 --> 00:02:21.119 que desaparece conforme entramos na Alta Renascença, 00:02:21.119 --> 00:02:25.359 pois as figuras exalam uma certa divindade com sua beleza ideal. 00:02:25.359 --> 00:02:27.928 O símbolo da auréola não é mais necessário. 00:02:27.928 --> 00:02:30.508 E para Rafael, é a natureza que tem este papel, 00:02:30.508 --> 00:02:33.864 os adereços de divindade não são mais necessários. 00:02:33.864 --> 00:02:37.697 E sim a paisagem em si, o mundo que Deus criou 00:02:37.697 --> 00:02:40.889 que é uma expressão de divindade, e é a beleza em si 00:02:40.889 --> 00:02:43.049 que expressa divindade aqui. 00:02:43.049 --> 00:02:46.213 A beleza de Maria, de Cristo e até de João. 00:02:46.921 --> 00:02:49.631 [Legendado por Sophia Bento] [Revisado por Pedro Byrro]