Estamos no Louvre, olhando a pintura
de Rafael, A Bela Jardineira,
com uma linda Madona, seu filho
e São João Batista
numa composição em pirâmide
que geralmente associamos
à Alta Renacença.
O interessante é que a virgem Maria
não está em um ambiente religioso
não há uma arcada, e ela não tem um trono.
Se ela tivesse um trono seria
o trono da natureza.
Ela está sentada numa pedra,
num campo
com uma bela perspectiva
atmosférica atrás dela,
o que cria este ambiente verdejante.
Se olharmos para o primeiro plano,
temos plantas e talvez a beira
de uma lagoa, florezinhas.
Pra mim a melhor parte
é o modo que Cristo, à esquerda,
fica ao pé de sua mãe.
Mostrando o quanto ele depende dela
e ainda assim uma certa independência
enquanto tenta tirar o livro
da mão dela e olha para ela.
E claro, o conteúdo deste livro anuncia
o seu fim e sua crucificação.
E o olhar de Maria sugere
que ela sabe disso,
ela avalia se ele está pronto ou não
para saber disso.
Ela coloca o braço ao redor dele,
protegendo-o.
E parece hesitar, com a mão esquerda,
em deixar ele pegar o livro.
São João Batista, que está rezando
de joelho,
está numa pose bem graciosa,
ele se ajoelha no joelho direito,
inclina o pescoço, e olha para Cristo.
A graciosidade e beleza ideal da Alta
Renascença aparecem aqui.
Vamos analisar os olhares da pintura.
Você fez bem em começar
pelo João Batista,
com seus olhos em direção a Cristo,
cujo corpo e rosto estão virados
para Maria.
Maria retorna o olhar e nos faz olhar
de novo para Cristo.
Assim todos os olhares estão centrados
em Cristo.
Estamos no meio deste triângulo
enquanto vemos eles se olharem.
Maria tem uma beleza ideal
e há apenas o leve contorno
de uma auréola
que desaparece conforme entramos
na Alta Renascença,
pois as figuras exalam uma certa divindade
com sua beleza ideal.
O símbolo da auréola não é
mais necessário.
E para Rafael, é a natureza
que tem este papel,
os adereços de divindade não são
mais necessários.
E sim a paisagem em si, o mundo
que Deus criou
que é uma expressão de divindade,
e é a beleza em si
que expressa divindade aqui.
A beleza de Maria, de Cristo
e até de João.
[Legendado por Sophia Bento]
[Revisado por Pedro Byrro]