1 00:00:00,937 --> 00:00:03,214 Quero começar com uma pergunta. 2 00:00:03,318 --> 00:00:05,639 Onde começa um trabalho artístico? 3 00:00:06,299 --> 00:00:08,955 Às vezes esta pergunta é absurda. 4 00:00:09,199 --> 00:00:12,553 Pode parecer enganadoramente simples, 5 00:00:12,707 --> 00:00:16,397 como quando fiz essa pergunta para esta obra "Planetário Portátil," 6 00:00:16,421 --> 00:00:18,215 que eu fiz em 2010. 7 00:00:18,329 --> 00:00:20,104 Eu perguntei: 8 00:00:20,128 --> 00:00:23,750 "Como seria construir o nosso próprio planetário?" 9 00:00:24,118 --> 00:00:26,341 Sei que todos perguntam isso todas as manhãs, 10 00:00:26,365 --> 00:00:28,512 mas eu fiz a mim mesma essa pergunta. 11 00:00:28,562 --> 00:00:30,196 E enquanto artista, 12 00:00:30,220 --> 00:00:34,327 pensava no nosso esforço, no nosso desejo, 13 00:00:34,427 --> 00:00:38,544 na nossa contínua ânsia ao longo dos anos 14 00:00:38,738 --> 00:00:41,539 de dar sentido ao mundo que nos cerca 15 00:00:41,563 --> 00:00:43,407 através de materiais. 16 00:00:43,492 --> 00:00:46,967 E para mim, tentar encontrar esse tipo de fascínio, 17 00:00:46,991 --> 00:00:52,252 e também uma espécie de futilidade nesta pesquisa muito frágil, 18 00:00:52,306 --> 00:00:54,159 faz parte da minha arte. 19 00:00:54,159 --> 00:00:57,244 Então, junto os materiais que encontro ao meu redor, 20 00:00:57,268 --> 00:01:00,546 Reúno-os para testar e criar experiências, 21 00:01:00,570 --> 00:01:04,229 experiências imersivas que ocupam salas, 22 00:01:04,253 --> 00:01:07,229 que ocupam paredes, paisagens, edifícios. 23 00:01:07,253 --> 00:01:10,707 Mas, ao fim ao cabo, quero que elas ocupem a memória. 24 00:01:10,987 --> 00:01:13,419 E depois de terminar uma obra, 25 00:01:13,483 --> 00:01:18,053 percebo que, habitualmente, a memória dela mantém-se na minha mente. 26 00:01:18,077 --> 00:01:19,867 A memória que guardo 27 00:01:19,891 --> 00:01:22,511 é a da impressão súbita e singular 28 00:01:22,555 --> 00:01:25,940 de estar imersa nessa obra de arte. 29 00:01:25,990 --> 00:01:29,050 Essa impressão permaneceu comigo e reapareceu no meu trabalho 30 00:01:29,084 --> 00:01:30,622 cerca de dez anos depois. 31 00:01:30,636 --> 00:01:33,871 Mas eu quero voltar ao meu estúdio na faculdade. 32 00:01:34,405 --> 00:01:37,892 É interessante que, às vezes, quando começamos uma obra, 33 00:01:37,916 --> 00:01:40,635 precisamos de fazer tábua rasa de tudo, 34 00:01:40,635 --> 00:01:42,246 remover tudo. 35 00:01:42,300 --> 00:01:44,691 Talvez não pareça que fiz tábua rasa aqui, 36 00:01:44,705 --> 00:01:46,405 mas para mim, parecia. 37 00:01:46,448 --> 00:01:50,006 Porque estudei pintura durante cerca de 10 anos 38 00:01:50,030 --> 00:01:51,572 e, quando fui para a faculdade, 39 00:01:51,572 --> 00:01:54,617 percebi que tinha desenvolvido aptidões, mas não tinha um tema. 40 00:01:54,621 --> 00:01:56,185 Era como uma aptidão atlética, 41 00:01:56,205 --> 00:01:58,204 porque eu pintava uma figura rapidamente, 42 00:01:58,228 --> 00:01:59,820 mas não sabia porquê. 43 00:01:59,826 --> 00:02:02,173 Até podia pintar bem, mas não tinha conteúdo. 44 00:02:02,197 --> 00:02:06,047 Então, decidi pôr as pinturas de lado por algum tempo, 45 00:02:06,071 --> 00:02:08,802 e perguntar: 46 00:02:08,872 --> 00:02:12,669 "Como e porquê os objetos adquirem valor para nós?" 47 00:02:12,766 --> 00:02:17,331 "Como é que uma camisa que eu sei que milhares de pessoas usam, 48 00:02:17,659 --> 00:02:18,962 "uma camisa como esta, 49 00:02:19,016 --> 00:02:20,793 "como é que sinto que é minha? 50 00:02:20,843 --> 00:02:22,780 Então, comecei uma experiência, 51 00:02:22,824 --> 00:02:26,399 decidi recolher materiais que tivessem uma certa qualidade. 52 00:02:26,463 --> 00:02:29,073 Eram produzidos em série, facilmente acessíveis, 53 00:02:29,137 --> 00:02:32,236 totalmente concebidos para o fim a que se destinavam, 54 00:02:32,300 --> 00:02:33,893 e não pela sua estética. 55 00:02:33,906 --> 00:02:37,077 Coisas como palitos de dentes, pioneses, 56 00:02:37,101 --> 00:02:39,048 pedaços de papel higiénico. 57 00:02:39,078 --> 00:02:43,680 Eu queria ver se a energia, o tempo e o trabalho que punha nesses materiais, 58 00:02:43,704 --> 00:02:48,336 podia criar um certo valor nessa obra. 59 00:02:48,787 --> 00:02:51,987 Uma outra ideia era que eu queria que a obra ganhasse vida. 60 00:02:52,021 --> 00:02:54,079 Eu queria tirá-la do pedestal, 61 00:02:54,133 --> 00:02:55,740 não ter de a emoldurar. 62 00:02:55,754 --> 00:02:58,395 Queria sentir a experiência 63 00:02:58,419 --> 00:03:00,471 de não ter de explicar que era importante, 64 00:03:00,494 --> 00:03:03,539 mas de serem vocês a descobrir que fora feita no vosso tempo. 65 00:03:03,613 --> 00:03:07,881 Isto é uma ideia muito, muito antiga na escultura: 66 00:03:08,155 --> 00:03:12,266 Como é que insuflamos vida nos materiais inanimados? 67 00:03:12,405 --> 00:03:14,604 Portanto, eu ia a um espaço como este, 68 00:03:14,628 --> 00:03:15,994 onde houvesse uma parede, 69 00:03:16,028 --> 00:03:17,997 e usava a própria tinta, 70 00:03:18,021 --> 00:03:20,939 arrancava a tinta da parede, daquela parede pintada no espaço 71 00:03:20,959 --> 00:03:22,495 para criar uma escultura. 72 00:03:22,509 --> 00:03:24,505 Porque também me interessava a ideia 73 00:03:24,549 --> 00:03:27,780 de que esses termos —escultura, pintura, instalação — 74 00:03:27,804 --> 00:03:31,046 não tinham importância na forma como vemos o mundo. 75 00:03:31,080 --> 00:03:33,380 Eu queria esbater as fronteiras 76 00:03:33,404 --> 00:03:36,708 entre os meios artísticos de que os artistas falam, 77 00:03:36,762 --> 00:03:40,254 mas esbater também a experiência de estar viva e de estar na arte 78 00:03:40,278 --> 00:03:42,488 para que, quando estiverem no vosso dia a dia, 79 00:03:42,522 --> 00:03:44,453 ou numa das minhas obras, 80 00:03:44,477 --> 00:03:48,087 e virem e reconhecerem esse dia a dia, 81 00:03:48,111 --> 00:03:52,473 poderem transferir essa experiência para a vossa vida, 82 00:03:52,487 --> 00:03:56,054 e talvez ver a arte na vida quotidiana. 83 00:03:56,236 --> 00:03:58,338 Eu frequentei a faculdade nos anos 90, 84 00:03:58,372 --> 00:04:01,149 e o meu estúdio enchia-se cada vez mais com imagens, 85 00:04:01,173 --> 00:04:02,617 tal como a minha vida. 86 00:04:02,627 --> 00:04:05,720 Esta confusão de imagens e objetos 87 00:04:05,744 --> 00:04:09,664 foi uma forma de tentar fazer com que os materiais tivessem sentido. 88 00:04:09,688 --> 00:04:12,528 Também me interessava saber como é que isso podia mudar 89 00:04:12,528 --> 00:04:15,402 a maneira como realmente vivemos o tempo. 90 00:04:15,467 --> 00:04:17,951 Se vivemos o tempo através dos materiais, 91 00:04:18,021 --> 00:04:22,749 o que acontece quando imagens e objetos se confundem no espaço? 92 00:04:22,815 --> 00:04:27,082 Comecei então a fazer algumas dessas experiências com imagens. 93 00:04:27,256 --> 00:04:30,863 E se voltarmos à década de 1880, 94 00:04:30,927 --> 00:04:34,911 foi aí que as primeiras fotografias começaram a transformar-se em filmes. 95 00:04:34,965 --> 00:04:39,855 Eram feitos de acordo com estudos de animais, 96 00:04:39,899 --> 00:04:41,618 com o movimento dos animais. 97 00:04:41,648 --> 00:04:44,202 Os cavalos nos EUA, as aves em França. 98 00:04:44,242 --> 00:04:46,079 Eram objetos de estudo de movimentos 99 00:04:46,107 --> 00:04:48,877 que, lentamente, como zoótropos, se tornavam em filmes. 100 00:04:48,891 --> 00:04:51,417 Então decidi que ia escolher um animal 101 00:04:51,445 --> 00:04:53,091 e brincar com essa ideia 102 00:04:53,161 --> 00:04:57,779 de como a imagem já não é estática, mas tem movimento. 103 00:04:57,930 --> 00:04:59,353 Move-se no espaço. 104 00:04:59,387 --> 00:05:03,117 Assim, escolhi a chita como a minha personagem, 105 00:05:03,171 --> 00:05:07,101 porque é o animal terrestre mais rápido da Terra. 106 00:05:07,125 --> 00:05:08,678 Ela detém esse recorde, 107 00:05:08,698 --> 00:05:10,473 e eu quero usar esse recorde, 108 00:05:10,517 --> 00:05:14,151 para criar uma espécie de régua para medir o tempo. 109 00:05:14,291 --> 00:05:17,466 Era assim que ela se parecia na escultura 110 00:05:17,480 --> 00:05:19,349 enquanto que se deslocava no espaço. 111 00:05:19,383 --> 00:05:22,587 Uma espécie de moldura fragmentada da imagem no espaço, 112 00:05:22,631 --> 00:05:25,175 porque tive de usar papel de um bloco de notas 113 00:05:25,229 --> 00:05:27,714 e projetá-la nele. 114 00:05:27,868 --> 00:05:30,931 Depois fiz esta experiência: trata-se de uma espécie de corrida, 115 00:05:30,965 --> 00:05:33,623 com novas ferramentas e vídeos para eu experimentar. 116 00:05:33,687 --> 00:05:35,481 O falcão avança na frente, 117 00:05:35,495 --> 00:05:37,269 a chita avança em segundo 118 00:05:37,303 --> 00:05:39,857 e o rinoceronte tenta acompanhá-los. 119 00:05:40,001 --> 00:05:43,047 Numa outra experiência, pensei em como, 120 00:05:43,088 --> 00:05:47,231 se tentamos recordar uma coisa que nos aconteceu 121 00:05:47,255 --> 00:05:49,688 quando tínhamos, por exemplo, 10 anos. 122 00:05:49,732 --> 00:05:53,250 é muito difícil recordar o que aconteceu nesse ano. 123 00:05:53,340 --> 00:05:56,103 Pessoalmente, lembro-me de uma ou duas coisas, 124 00:05:56,137 --> 00:06:00,633 e esse momento preciso expande-se na minha mente 125 00:06:01,007 --> 00:06:02,608 e preenche o ano inteiro. 126 00:06:02,662 --> 00:06:05,907 Não vivemos o tempo em minutos ou segundos. 127 00:06:06,023 --> 00:06:09,517 Isto é um pedaço do vídeo que fiz, 128 00:06:09,601 --> 00:06:11,591 impresso num papel. 129 00:06:11,625 --> 00:06:15,150 O papel está rasgado e o vídeo é projetado sobre ele. 130 00:06:15,323 --> 00:06:17,268 Eu queria brincar com essa ideia 131 00:06:17,272 --> 00:06:22,160 e ver como, numa completa imersão de imagens que nos envolvem, 132 00:06:22,800 --> 00:06:28,141 como uma imagem pode aumentar e perseguir-nos. 133 00:06:29,030 --> 00:06:30,554 Eu tinha todas estas obras. 134 00:06:30,616 --> 00:06:34,432 Eram três de quase 100 experiências que fiz com imagens 135 00:06:34,432 --> 00:06:35,758 durante quase uma década. 136 00:06:35,762 --> 00:06:37,750 Nunca as tinha mostrado e pensei: 137 00:06:37,828 --> 00:06:41,196 “Como é que posso levá-las para fora do estúdio, 138 00:06:41,216 --> 00:06:42,804 "para um espaço público, 139 00:06:42,804 --> 00:06:45,709 "mantendo este tipo de energia próprio da experiência, 140 00:06:45,733 --> 00:06:49,569 que vemos nos laboratórios, que vemos nos estúdios?” 141 00:06:49,859 --> 00:06:52,174 Eu tinha uma apresentação à porta e pensei: 142 00:06:52,234 --> 00:06:55,121 "OK, vou pôr a minha secretária mesmo no meio da sala." 143 00:06:55,185 --> 00:06:58,800 Então eu levei a minha secretária e coloquei-a na sala. 144 00:06:58,342 --> 00:07:01,571 Surpreendentemente funcionou, de uma maneira espantosa. 145 00:07:01,615 --> 00:07:06,484 Havia uma certa cintilação, devido aos ecrãs dos vídeos, ao longe. 146 00:07:06,518 --> 00:07:08,806 Todos os projetores apontavam para ela 147 00:07:08,840 --> 00:07:11,312 e criavam o espaço que o rodeava, 148 00:07:11,356 --> 00:07:14,333 mas éramos atraídos na direção da cintilação, como uma chama. 149 00:07:14,443 --> 00:07:16,656 Ficávamos envolvidos na obra 150 00:07:16,710 --> 00:07:19,227 numa escala muito familiar, 151 00:07:19,261 --> 00:07:24,094 a dimensão de estarmos em frente duma secretária, duma pia ou duma mesa 152 00:07:24,198 --> 00:07:27,563 e mergulharmos nessa escala, 153 00:07:27,587 --> 00:07:31,523 nessa escala em tamanho natural do corpo em relação com a imagem. 154 00:07:31,547 --> 00:07:33,470 Mas nessa superfície, 155 00:07:33,504 --> 00:07:37,768 tínhamos estas projeções de papéis soprados pelo vento. 156 00:07:37,792 --> 00:07:40,126 Havia uma confusão 157 00:07:40,126 --> 00:07:42,550 entre o que eram as imagens e o que eram os objetos. 158 00:07:42,550 --> 00:07:45,541 Isto era como a obra era vista se fôssemos para uma sala maior. 159 00:07:45,554 --> 00:07:47,466 Só depois de ter criado esta peça 160 00:07:47,490 --> 00:07:52,009 é que percebi que tinha criado o interior de um planetário, 161 00:07:52,323 --> 00:07:54,411 sem sequer me aperceber disso. 162 00:07:54,515 --> 00:07:58,815 Lembrei-me que, quando era criança, adorava ir ao planetário. 163 00:07:58,839 --> 00:08:00,583 Nessa época, nos planetários, 164 00:08:00,627 --> 00:08:03,973 víamos sempre estas incríveis imagens no teto, 165 00:08:04,014 --> 00:08:07,958 e também víamos o projetor a zumbir e a assobiar, 166 00:08:07,982 --> 00:08:11,125 e uma câmara incrível no meio da sala. 167 00:08:11,229 --> 00:08:15,661 Era essa experiência de ver o público em volta, a olhar para cima 168 00:08:15,735 --> 00:08:18,302 — porque, naquela época, havia um público de roda — 169 00:08:18,346 --> 00:08:21,133 de vê-lo e fazer parte do público. 170 00:08:21,157 --> 00:08:24,926 Isto é uma imagem que fui buscar à Internet 171 00:08:24,960 --> 00:08:28,148 de pessoas que tiraram fotos de si mesmas, junto da obra. 172 00:08:28,162 --> 00:08:29,516 Eu gosto desta imagem 173 00:08:29,516 --> 00:08:32,481 porque vemos como as figuras se misturam com a obra. 174 00:08:32,505 --> 00:08:36,916 Vemos a sombra de um visitante contra a projeção. 175 00:08:36,950 --> 00:08:39,688 Também vemos as projeções sobre a camisa de uma pessoa. 176 00:08:39,772 --> 00:08:43,100 Havia autorretratos feitos na própria obra, 177 00:08:43,104 --> 00:08:44,633 e depois publicados “online”. 178 00:08:44,673 --> 00:08:48,181 Parecia uma espécie de processo cíclico de criação de imagens. 179 00:08:48,205 --> 00:08:50,354 Uma espécie de pescadinha de rabo na boca. 180 00:08:50,450 --> 00:08:53,529 Mas recordou-me e levou-me de novo ao planetário, 181 00:08:53,553 --> 00:08:55,035 àquele interior, 182 00:08:55,059 --> 00:08:57,085 e regressei à pintura. 183 00:08:57,085 --> 00:09:01,061 Pensei em como a pintura para mim, na verdade, 184 00:09:01,085 --> 00:09:03,969 está ligada a imagens interiores que todos possuímos. 185 00:09:03,984 --> 00:09:05,938 Temos muitas imagens interiores 186 00:09:05,982 --> 00:09:09,224 e tornámo-nos concentrados no que existe para além dos nossos olhos. 187 00:09:09,314 --> 00:09:12,701 Como é que guardamos as nossas memórias? 188 00:09:12,725 --> 00:09:15,546 Como é que certas imagens surgem do nada 189 00:09:15,570 --> 00:09:17,818 ou se desfazem com o passar do tempo? 190 00:09:17,922 --> 00:09:21,118 Comecei a designar esta série a série "pós-imagem", 191 00:09:21,142 --> 00:09:25,227 numa referência à ideia de que, se fecharmos todos os olhos, agora, 192 00:09:25,311 --> 00:09:28,054 vemos que existe uma luz trémula que se mantém, 193 00:09:28,104 --> 00:09:30,117 e quando reabrimos os olhos, ela mantém-se. 194 00:09:30,171 --> 00:09:31,746 Isto acontece sempre. 195 00:09:31,800 --> 00:09:37,185 Uma "pós-imagem" nunca pode ser substituída por uma fotografia. 196 00:09:37,295 --> 00:09:39,625 Nunca sentiremos isso numa fotografia. 197 00:09:39,755 --> 00:09:43,130 Isto recorda-nos os limites das lentes duma câmara. 198 00:09:43,178 --> 00:09:46,114 A ideia era obter imagens exteriores a mim 199 00:09:46,128 --> 00:09:47,759 — isto é o meu estúdio — 200 00:09:47,809 --> 00:09:51,690 e tentar perceber como é que eu as representava interiormente. 201 00:09:52,014 --> 00:09:54,480 Então, rapidamente, vou dar uma ideia 202 00:09:54,502 --> 00:09:58,704 de como poderá evoluir o processo da minha próxima obra. 203 00:09:58,850 --> 00:10:01,227 Poderá começar com um esboço 204 00:10:01,371 --> 00:10:03,716 ou uma imagem gravada na minha memória, 205 00:10:03,740 --> 00:10:07,301 o "Coliseu" de Piranesi, do século XVIII. 206 00:10:07,760 --> 00:10:10,263 Ou uma maquete do tamanho de uma bola de basquetebol. 207 00:10:10,283 --> 00:10:12,656 Construí esta em volta duma bola de basquetebol. 208 00:10:12,696 --> 00:10:14,971 A escala é evidenciada pela caneca vermelha. 209 00:10:15,027 --> 00:10:18,054 Essa maquete pode colocar-se numa peça maior, como uma semente, 210 00:10:18,136 --> 00:10:20,526 e essa semente poderá dar origem a uma peça maior. 211 00:10:20,566 --> 00:10:23,847 E essa peça poderá preencher um espaço enorme. 212 00:10:24,194 --> 00:10:29,067 Mas poderá culminar num vídeo filmado com o meu IPhone, 213 00:10:29,257 --> 00:10:33,493 de uma poça em frente do meu estúdio numa noite chuvosa. 214 00:10:34,370 --> 00:10:38,505 Esta é uma "após-imagem" da pintura feita na minha memória, 215 00:10:38,575 --> 00:10:42,292 e esta pintura também se poderá desvanecer tal como a memória. 216 00:10:42,392 --> 00:10:45,656 Esta é a escala duma imagem muito pequena do meu caderno de esboços. 217 00:10:45,676 --> 00:10:47,254 do meu caderno de esboços. 218 00:10:47,282 --> 00:10:49,410 Vejam como pode explodir 219 00:10:49,410 --> 00:10:52,047 numa estação do metro que abrange três quarteirões. 220 00:10:52,126 --> 00:10:55,086 Podem ver como, descer para a estação de metro, 221 00:10:55,166 --> 00:10:59,150 se parece com uma viagem pelas páginas de um bloco de esboços. 222 00:10:59,240 --> 00:11:03,923 Vemos uma espécie de diário duma obra, escrito num espaço público. 223 00:11:04,268 --> 00:11:07,033 Folheamos as páginas de 20 anos de obras de arte 224 00:11:07,063 --> 00:11:09,383 à medida que avançamos pela estação do metro. 225 00:11:09,387 --> 00:11:12,977 Mas até o esboço tem uma origem diferente. 226 00:11:12,997 --> 00:11:16,267 Tem origem numa escultura 227 00:11:16,284 --> 00:11:19,074 que sobe à altura de um edifício de seis andares 228 00:11:19,154 --> 00:11:22,292 que foi escalado por um gato, em 2002. 229 00:11:22,426 --> 00:11:25,505 Lembro-me disso porque, na altura, tinha dois gatos pretos. 230 00:11:25,649 --> 00:11:28,130 Esta é uma imagem duma obra do Japão 231 00:11:28,455 --> 00:11:30,647 que podemos ver em "pós-imagem" no metro. 232 00:11:30,712 --> 00:11:32,610 Ou uma obra em Veneza, 233 00:11:32,653 --> 00:11:35,562 onde vemos a imagem gravada na parede. 234 00:11:35,612 --> 00:11:39,691 Ou a escultura que fiz em 2001 no SFMOMA, 235 00:11:40,035 --> 00:11:42,364 que criava este tipo de linha dinâmica, 236 00:11:42,404 --> 00:11:45,182 e que eu roubei para criar uma linha dinâmica 237 00:11:45,252 --> 00:11:48,081 na descida para o metro. 238 00:11:48,129 --> 00:11:50,891 Esta fusão de meios interessa-me muito. 239 00:11:50,921 --> 00:11:54,518 Então, como é que se pode usar uma linha de tensão como uma escultura 240 00:11:54,518 --> 00:11:56,181 e imprimi-la em papel? 241 00:11:56,231 --> 00:11:58,846 Ou então usar uma linha como um desenho numa escultura 242 00:11:58,846 --> 00:12:00,922 para criar uma perspetiva dramática? 243 00:12:00,967 --> 00:12:04,541 Ou como é que uma pintura pode imitar o processo de impressão? 244 00:12:04,870 --> 00:12:08,170 Como é que uma instalação usa as lentes de uma câmara 245 00:12:08,170 --> 00:12:10,270 para enquadrar uma paisagem? 246 00:12:10,323 --> 00:12:15,428 Como é que uma pintura numa corda pode tornar-se num momento na Dinamarca, 247 00:12:15,488 --> 00:12:17,858 no meio de um trilho? 248 00:12:18,072 --> 00:12:20,957 Ou como é que no "The High Line", se pode criar uma peça 249 00:12:20,977 --> 00:12:23,694 que se camufla na Natureza 250 00:12:23,754 --> 00:12:27,773 e se torna num "habitat" para a natureza à sua volta? 251 00:12:28,664 --> 00:12:31,769 Vou terminar com duas obras que estou a fazer neste momento. 252 00:12:31,819 --> 00:12:33,906 Esta é uma peça chamada "Fallen Sky" 253 00:12:33,936 --> 00:12:37,304 que vai ser uma instalação permanente no Hudson Valley. 254 00:12:37,304 --> 00:12:42,232 É como se o planetário descesse finalmente e ancorasse em terra. 255 00:12:42,728 --> 00:12:46,428 Esta é uma obra de 2013, que vai ser reinstalada 256 00:12:46,428 --> 00:12:50,066 e começar uma vida nova na reabertura do MOMA. 257 00:12:50,310 --> 00:12:53,874 E esta é uma obra em que a ferramenta é a escultura. 258 00:12:54,040 --> 00:12:56,584 O pêndulo, enquanto balança, 259 00:12:56,634 --> 00:12:59,262 é usado como ferramenta para criar a peça. 260 00:12:59,538 --> 00:13:02,224 Cada pilha de objetos 261 00:13:02,274 --> 00:13:07,859 está instalada a um centímetro da ponta do pêndulo. 262 00:13:08,103 --> 00:13:11,866 Há assim esta combinação da serenidade de um balancear bonito, 263 00:13:11,906 --> 00:13:16,110 mas também a tensão constante que pode destruir a própria obra. 264 00:13:16,415 --> 00:13:19,708 Não interessa realmente onde irão acabar estas peças, 265 00:13:19,738 --> 00:13:22,360 porque, para mim, o importante 266 00:13:22,494 --> 00:13:25,591 é que elas acabem na vossa memória ao longo do tempo 267 00:13:25,621 --> 00:13:29,380 e criem ideias para além de si mesmas. 268 00:13:29,539 --> 00:13:30,777 Obrigada. 269 00:13:30,993 --> 00:13:35,384 (Aplausos)