Esse é uma das notícias mais importantes das últimas decadas. Ela essencialmente confirma a maior parte do que foi já foi teorizado na física. O prêmio desse ano é sobre algo muito pequeno, mas que faz toda a diferença. Estou surpreso que isso tenha ocorrido enquanto ainda estou vivo. CERN E O ESTABELECIMENTO DO MODELO PADRÃO Quando o CERN foi fundado, em 1954, o mundo da física de partículas era muito diferente do que é hoje. Os cientistas estavam tentando entender a grande quantidade de partículas observadas na Natureza. Porém eles não tinham uma estrutura teórica que explicasse a constituição básica da matéria e das forças que agem sobre ela. Esta estrutura mais tarde tornou-se conhecida como o Modelo Padrão. No fim da década de 1950, os físicos do CERN já começavam a criar teorias para explicar a interação fraca, força sem a qual o Sol não brilharia. Na década de 1960 nós testemunhamos o nascimento da teoria eletro-fraca, que unifica as forças eletromagnética e fraca. Uma parte vital desta teoria é o mecanismo que permite uma grande amplitude de valores para as massas das partículas e para a intensidade das forças. Os conceitos eram lindos, mas precisavam de evidências experimentais para sustentá-los. Os físicos de partículas embarcaram em uma busca global pelos mediadores da força fraca: os bósons W e Z, cuja existência comprovariam a teoria. Um grande avanço ocorreu em 1973, com a descoberta ocorrida no PS. O experimento Gargamelle identificou correntes neutras fracas, indício da existência do bóson Z. Este resultado foi a primeira evidência a suportar a força eletro-fraca. Os físicos estavam no caminho certo, mas precisariam de mais uma década para conseguirem uma evidência direta dos bósons mediadores da força fraca. Em 1976, o CERN colocou o SPS para funcionar. Maior e mais potente que os aceleradores anteriores do CERN, o SPS passaria a colidir prótons com anti-prótons. Em 1983, os experimentos do SPS já haviam detectado os bósons W e Z. O longo caminho até a descoberta rendeu o prêmio Nobel para os cientistas do CERN Carlos Rubia e Simon Van der Meer. A descoberta dos bósosn W e Z não é o final, mas o início. O passo seguinte começou quando o LEP, um colisor elétron-próton de 27 km de raio, foi acionado, em 1989. Ele foi desenhado para estudar a interação fraca em detalhe. As colaborações do LEP rapidamente realizaram sua primeira grande descoberta. Medindo o decaimento dos bósons Z, eles descobriram que a Natureza tem três, e apenas três, famílias de partículas. Tudo o que nos vemos no Universo é composto por partículas da família mais leve. Durante os 11 anos de operação, o LEP fundamentou a teoria eletro-fraca com diversas observações experimentais. O Modelo Pradão estava quase completo, mas o que seria responsável pelo fato das partículas terem massa? Falta encontrar um pedaço do quebra cabeça: a manifestação física do mecanismo de Brout-Englert-Higgs. A partícula chamada bóson de Higgs. A sua descoberta estava a caminho. Com a construção do Grande Colisor de Hadrons, o CERN daria os primeiros passos para um novo século de descobertas. Hoje é um dia especial. No dia 4 de Julho de 2012, as colaborações Atlas e CMS anunciaram a descoberta do bóson de Higgs. Esta descoberta é o resultado de um trabalho minucioso de nossa comunidade, do acelerador, à instrumetação, computação e física para a detecção. Nós observamos o novo bóson com massa de 125,3 mais ou menos 0,6 GeV, em até 4,97 desvios. Essa foi a última evidência que o mundo esperava, sendo manchete no mundo todo, resultando no prêmio Nobel para Peter Higgs e François Englert e cimentando a importância do CERN no desenvolvimento do Modelo Padrão. O bóson de Higgs completa o Modelo Padrão, mas muitas outras questões sobre o Universo permanecem sem resposta. Mistérios que guiarão os futuros cientistas e os levarão a descobertas inimagináveis.