Gostaria de vos mostrar um vídeo de alguns modelos com que trabalho. Têm todos o tamanho perfeito e nenhuma gordura. Já vos disse que são lindos? E que são modelos científicos? (Risos) Como já calcularam, sou uma engenheira de tecidos e este é um vídeo de um coração a bater que criei em laboratório. Esperamos que um dia estes tecidos possam substituir partes do corpo humano. Mas do que vos vou falar hoje é de como estes tecidos podem ser modelos incríveis. Vamos pensar no processo de rastreio de medicamentos. Primeiro a formulação do medicamento, testes em animais, depois os chamados testes em humanos, antes de os medicamentos entrarem no mercado. Custa muito dinheiro, muito tempo e, por vezes, mesmo quando o medicamento chega ao mercado, atua de uma forma imprevisível e prejudica as pessoas. Quanto mais tarde falhar, pior serão as consequências. Tudo se resume a duas questões: Uma, os seres humanos não são ratos e a segunda, apesar das nossas incríveis semelhanças, as pequenas diferenças entre nós têm um grande impacto na forma como metabolizamos os medicamentos e em como estes nos afetam. E se tivéssemos melhores modelos no laboratório que pudessem não só representar-nos melhor do que os ratos mas também refletir a nossa diversidade? Vejamos como podemos fazê-lo através da engenharia de tecidos. Uma das tecnologias-chave que é realmente importante é o que se chama de células estaminais pluripotentes induzidas. Foram desenvolvidas no Japão muito recentemente. As células estaminais pluripotentes induzidas assemelham-se bastante às células estaminais embrionárias exceto sem controversas. Nós induzimos células, digamos, células da pele, ao adicionarmo-lhes alguns genes, mantendo-as em cultura e depois recolhendo-as. São células da pele que podem ser "enganadas" até um estado embrionário, como se fosse uma amnésia celular. Não haver controvérsia, é a primeira vantagem. A segunda é que se pode desenvolver qualquer tipo de tecido a partir delas — cérebro, coração, fígado — mas a partir das vossas próprias células. Ou seja, podemos desenvolver um modelo do vosso coração, do vosso cérebro, num chip. Gerar tecidos de densidade e comportamento previsíveis é a segunda parte, e será fundamental para que estes modelos sejam adotados para a descoberta de medicamentos. Este é o esquema de um reator biológico que estamos a desenvolver em laboratório para ajudar os engenheiros de tecidos de modo mais modular e progressiva. No futuro, imaginem uma versão paralela maciça disto com milhares de diferentes tecidos humanos. Seria como ter um ensaio clínico num chip. Outra coisa sobre estas células estaminais pluripotentes induzidas é que, se retirarmos algumas células da pele, digamos, de pessoas com uma doença genética e se desenvolvermos tecidos a partir delas, poderemos usar técnicas de engenharia de tecidos para gerar modelos dessas doenças em laboratório. Aqui está um exemplo do laboratório de Kevin Eggan, em Harvard. Ele desenvolveu neurónios a partir de células estaminais pluripotentes induzidas de pacientes com a doença de Lou Gehrig, diferenciou-as em neurónios, e o que é maravilhoso é que esses neurónios também mostram sintomas da doença. Portanto, com modelos de doenças como estes, poderemos dar uma resposta mais rápida do que nunca, compreender melhor a doença e, talvez, descobrir medicamentos ainda mais rapidamente. Este é outro exemplo de células estaminais de doentes específicos que foram desenvolvidas a partir de uma pessoa com retinite pigmentosa. É uma degeneração da retina. É uma doença presente na minha família e esperamos que células como estas possam ajudar-nos a encontrar a cura. Algumas pessoas pensam que estes modelos soam muito bem mas perguntam: "Será que são tão boas como o rato?" Afinal, o rato é um organismo completo, com redes de interações dos órgãos. Um medicamento para o coração pode ser metabolizado no fígado e alguns dos subprodutos poderão ser armazenados no tecido adiposo. Não está tudo isso em falta com estes modelos da engenharia de tecidos? Esta é outra tendência na área. Ao combinar técnicas de engenharia de tecidos com os microfluidos, a área está a evoluir para isso, para um modelo do ecossistema completo do corpo, completo com sistemas de múltiplos órgãos, para testar como um medicamento para a tensão pode afetar o fígado ou como um um antidepressivo pode afetar o coração. Estes sistemas são difíceis de desenvolver, mas estamos a começar a lá chegar. Portanto, fiquem atentos! Quando um medicamento é aprovado, as técnicas de engenharia de tecidos podem ajudar-nos a desenvolver tratamentos mais personalizados. Este é um exemplo com que poderão um dia vir a preocupar-se, embora espere que nunca o façam. Imaginem se um dia recebem aquele telefonema que traz a má notícia de que talvez tenham cancro. Não prefeririam testar se os medicamentos para o cancro que vão tomar, vão ser eficazes no vosso cancro? Este é um exemplo do laboratório de Karen Burg, onde estão a utilizar tecnologias de impressoras para imprimir células de cancro da mama e estudar a sua progressão e tratamentos. Os nossos colegas em Tufts estão a combinar modelos como este com ossos da engenharia de tecidos para ver como o cancro passa de uma parte do corpo para outra. Podemos imaginar que aqueles chips de multitecidos vão ser a próxima geração deste tipo de estudos. Pensando nos modelos de que acabámos de falar, percebemos que, no futuro, a engenharia de tecidos irá revolucionar o desenvolvimento de medicamentos em cada etapa do processo: modelos de doenças a contribuir para melhores formulações dos medicamentos, modelos de tecidos humanos em grande escala a revolucionar os testes laboratoriais, redução da experimentação animal e dos ensaios clínicos em humanos, e terapias individualizadas que podem mudar o que nós consideramos hoje ser um mercado. Estamos a acelerar drasticamente o feedback entre desenvolver uma molécula e perceber como é que ela atua no corpo humano. O nosso processo é transformar a biotecnologia e a farmacologia numa tecnologia de informação, ajudando-nos a descobrir e a avaliar medicamentos de uma forma mais rápida, mais barata e mais eficaz. Isto dá um novo significado aos modelo contra a experimentação animal, não é? Obrigada. (Aplausos)