Eu sou gorda. Nossa, eu sou gorda. Ela só tem 19 anos? O que estou fazendo com a minha vida? Olha, duas curtidas. Legal! Será que eu curto essa foto? Ela realmente precisa de mais curtidas? Espero ser convidada para o casamento. Mais uma curtida, legal! Bem-vindos ao monólogo interno de um típico passeio por uma rede social. Um monólogo que muitos de nós têm todos os dias, mas não pensamos sobre isso, não falamos sobre isso. Na verdade, muitos nem percebem que isso está acontecendo. Eu sou Bailey Parnell, vou discutir as consequências indesejadas das mídias sociais em sua saúde mental. Mostrarei o que os estressa todos os dias, o que isso faz com vocês e como podem criar uma experiência on-line melhor. Há cerca de um ano, minha irmã e eu fizemos uma viagem de quatro dias para Jasper, em Alberta. Era a primeira viagem não relacionada a trabalho que eu fazia em quatro anos. Nessas férias, eu ia me isolar. Liguei o modo avião, sem e-mail e sem redes sociais. No primeiro dia, eu experienciei a síndrome da vibração fantasma. É quando você pensa que seu celular vibrou e vai checá-lo, mas ele não vibrou. Eu estava checando incessantemente. Eu me distraía nas conversas. Via as maravilhosas paisagens que Jasper tem a oferecer, e minha primeira reação era pegar meu celular e postar aquilo na Internet. Mas, claro, o telefone não estava lá. O segundo dia foi um pouco mais fácil. Você pode pensar que eu sou ridícula, mas há quatro anos eu não ficava completamente desconectada. Isso era praticamente uma nova experiência. Somente no meu quarto dia lá, finalmente fiquei confortável sem meu celular. Eu estava sentada com a minha irmã literalmente no pé desta montanha, quando comecei a pensar: "O que a mídia social está fazendo comigo? O que está fazendo com meus colegas?" Foram apenas quatro dias e foram cheios de ansiedade, foram estressantes e com sintomas de abstinência. Foi quando comecei a questionar e acabei por iniciar uma pesquisa de mestrado nesse assunto. Eu trabalhei em marketing social, sobretudo no ensino superior, pela maior parte da minha carreira. Isso quer dizer que eu trabalho muito com pessoas de 18 a 24 anos, que também são a faixa etária mais ativa nas mídias sociais. Outra coisa que precisam saber sobre mim é que sou jovem o suficiente para ter crescido com redes sociais, mas velha o suficiente para usá-las de forma crítica, de um jeito que aos 12 anos provavelmente não poderia. Minha vida é a mídia social: pessoalmente, profissionalmente e academicamente. Se ela estava fazendo isso comigo, o que fazia com o resto do mundo? Logo descobri que não estava sozinha. O Center for Collegiate Mental Health descobriu que os três diagnósticos mais comuns em campus universitários são ansiedade, depressão e estresse. Diversos estudos dos EUA, Canadá, Inglaterra, entre outros, conectaram esse elevado uso de redes sociais a esses altos índices de ansiedade e depressão. Mas o assustador é que quase todos que eu conheço fazem uso elevado de redes sociais: meus amigos, minha família, meus colegas. Noventa por cento das pessoas de 18 a 29 anos estão nas redes sociais. Nós gastamos em média duas horas por dia nelas. Nós nem mesmo comemos durante duas horas por dia. Cerca de 70% da população canadense está nas redes sociais. Não temos 70% dos eleitores comparecendo às urnas. Qualquer coisa que façamos tanto merece uma observação crítica. Qualquer coisa que tome tanto nosso tempo terá um efeito prolongado em nós. Então deixem-me apresentar os quatro fatores estressantes mais comuns em mídias sociais, que, se não controlarmos, têm o potencial de se tornarem grandes problemas de saúde mental, e essa não é uma lista exaustiva. Número um: a Coleção dos Destaques. Como nos esportes, os destaques são uma coleção de melhores momentos. As redes sociais são os nossos destaques pessoais. É onde exibimos nossas vitórias, nossas fotos bonitas ou em eventos com amigos e família. Mas "nós lutamos contra a insegurança porque comparamos nossos bastidores aos destaques da vida dos outros". Estamos constantemente nos comparando aos outros. Sim, isso acontecia antes das redes sociais, com a TV e as celebridades, mas agora acontece o tempo todo, e está diretamente ligado a você. Aqui está um exemplo perfeito que achei ao preparar essa palestra: uma amiga em férias: "Volto já, soneca". (Risos) "Espera, por que eu não posso ter férias? Por que estou aqui sentada, de pijama, vendo Netflix? Quero estar na praia." A questão é que eu conheço ela muito bem. Eu sei que para ela isso era algo fora do comum. Sei que normalmente ela se afoga em trabalho. Mas pensamos: "Quem quer ver isso?" Os destaques são o que as pessoas querem ver. Na verdade, quando seus destaques vão bem, vocês encontram o segundo fator de estresse na mídia social. Número dois: Moeda Social. Assim como o dólar, uma moeda é literalmente algo que usamos para atribuir valor a um bem ou serviço. Curtidas, comentários e compartilhamentos nas mídias sociais tornaram-se uma forma de moeda social com a qual atribuímos valor a algo. No marketing, chamamos isso de "Economia da Atenção". Tudo está competindo pela sua atenção, e quando você curte algo ou lhe dá um pedaço finito de atenção, isso se torna uma transação registrada de atribuição de valor. O que é ótimo, se você vende discos ou roupas. O problema é que em nossas redes sociais, nós somos o produto. Estamos deixando os outros definirem nosso valor. Vocês conhecem alguém, ou são alguém, que já apagou uma foto porque ela não recebeu tantas curtidas quanto era esperado. Eu admito, já passei por isso. Tiramos nosso produto da prateleira porque não estava vendendo rápido. Isso está mudando nosso senso de identidade. Estamos vinculando nossa autoestima ao que os outros pensam e, depois, quantificando-a publicamente. E estamos obcecados. Temos que conseguir a "selfie" perfeita, e vamos tirar 300 fotos para garanti-la. Depois esperamos pelo momento perfeito para publicá-la. Estamos tão obcecados que temos reações biológicas quando não podemos participar. O que me leva ao terceiro fator de estresse nas redes sociais. Número três: Medo de Ficar de Fora. É uma frase banal que todos já usamos. O medo de ficar de fora é uma ansiedade social real, derivada do medo de estar perdendo um potencial contato, evento ou oportunidade. Um grupo de universidades canadenses descobriu que sete a cada dez estudantes deletariam suas contas de redes sociais se não fosse pelo medo de serem deixados de fora. Por curiosidade, quantas pessoas aqui desativaram ou já consideraram desativar suas mídias sociais? Quase todo mundo. Esse medo que vocês sentem, a coleção de destaques e a moeda social são todos resultados de uma experiência relativamente "normal" nas redes sociais. Mas e se acessar essas redes todos os dias fosse uma experiência terrível? Na qual não só questionassem seu valor, mas sua segurança? Talvez o pior fator de estresse seja o número quatro: Assédio On-line. Dos adultos na internet, 40% já experienciaram assédio on-line. E 73% testemunharam assédios on-line. A triste realidade é que isso é bem pior e muito mais provável de acontecer se você for uma mulher, um LGBTQ, uma pessoa não branca, um muçulmano... Acho que vocês entendem a questão. O problema é que na mídia vemos essas grandes notícias: Tyler Clementi, de 18 anos, matou-se depois que seu colega de quarto filmou escondido seu beijo com outro homem e o expôs no Twitter. Vemos mulheres como Anita Sarkeesian serem quase humilhadas na Internet e receberem ameaças de morte e estupro por serem feministas. Vemos essas histórias depois que já é tarde demais. E quanto aos assédios on-line cotidianos? E aquela foto feia de Snapchat que você enviou a um amigo esperando que continuasse privada, e agora está no Facebook? "E daí? É só uma foto, é engraçada." "Só um comentário maldoso, nada demais." Mas quando esses micromomentos acontecem o tempo tempo, temos um macroproblema. Temos que reconhecer esses casos cotidianos também. Pois se eles e seus efeitos passarem despercebidos, teremos muitos outros Tyler Clementis. Nem sempre é fácil reconhecer os efeitos. Quantos de vocês notaram as notificações no topo da minha tela? Quantos de vocês, como eu, estão incomodados por estarem marcadas como não visualizadas? Tá, deixem-me resolver isso para vocês. (Suspiro) Tudo certo! Esse é um pequeno exemplo do que isso pode fazer com vocês. Talvez vocês simplesmente não consigam se concentrar, porque têm muitas notificações e precisam checá-las. Essa necessidade, por fim, se torna um vício. Com as mídias sociais, já temos prejuízos similares àquelas de dependência de drogas. A cada curtida, recebe-se uma injeção do composto químico do prazer, a dopamina. Vocês ganham mais da moeda social. Então, o que fazemos para nos sentir bem? Nós checamos nossas curtidas, só mais uma vez. Postamos, só mais uma vez. Ficamos ansiosos, se não temos acesso. Isso não se parece com qualquer droga da qual já ouviram falar? Sim! Então, quando isso aumenta, quando não confrontamos o uso excessivo das redes sociais, vemos os índices crescentes de ansiedade e depressão: medo de ficar de fora, distrações, destaques, comparações; é muita coisa e é o tempo todo! A Associação Canadense de Saúde Mental apurou que alunos do sexto ao último ano que ficam duas horas por dia nessas redes relataram níveis mais altos de ansiedade, depressão e pensamentos suicidas. Para vocês que estão fazendo as contas, são crianças de 12 anos ou mais. É o seguinte: eu gosto de redes sociais. Gosto mesmo, amo. Depois do que eu disse hoje, vocês podem pensar que eu quero me livrar delas. Mas não quero. Eu não acho que elas vão desaparecer, então não vou perder meu tempo dizendo a vocês para gastarem menos tempo nessas redes. Francamente, não acho que se ausentar delas seja uma opção. Mas isso não significa que não seja possível uma "prática segura". Tudo que falei hoje tem tudo e nada a ver com as redes sociais. As redes sociais não são boas ou más. Elas são só a nossa nova ferramenta para fazer o que sempre fizemos: contar histórias e nos comunicar. Vocês não culpariam a televisão Samsung por um programa de TV ruim. O Twitter não faz com que pessoas escrevam textos de ódio. Quando falamos desse lado mau das redes sociais, estamos falando, na verdade, do lado mau das pessoas. O lado mau que faz assediadores assediarem. A insegurança que faz vocês apagarem uma foto que estavam felizes em postar. Aquele lado mau que vê uma foto de uma família feliz e se pergunta por que a sua não se parece com ela. Então, como pais, educadores, amigos, chefes é nesse lado mau que precisamos focar. Precisamos de estratégias para prevenir e remediar para que, quando vocês tiverem seus dias ruins, e vocês os terão, quando estiverem questionando seu valor, não fiquem tão mal quanto Tyler Clementi, nem outros como ele. "Certo, Bailey, como encontrar bem-estar com redes sociais?" Aqui está a boa notícia: reconhecer um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Então ouvir esta palestra é exatamente o passo um: reconhecer o problema. Vocês sabem do poder da sugestão, quando alguém menciona algo e começamos a ver isso em todo lugar. Por isso a conscientização é essencial. Porque agora vocês serão mais capaz de reconhecer esses efeitos se e quando acontecerem com vocês. A segunda coisa que é preciso fazer é controlar a dieta de mídias sociais. Assim como monitoramos o que colocamos na boca, monitorem o que colocam em sua cabeça e em seu coração. Perguntem-se: "Aquela visita ao Facebook fez com que me sentisse melhor ou pior?" "Quantas vezes eu checo minhas curtidas?" "Por que estou reagindo desta forma àquela foto?" Depois se perguntem se estão felizes com os resultados. Pode ser que sim, e tudo bem! Mas se a resposta for não, avancem para o terceiro passo. Criar uma experiência on-line melhor. Meu companheiro se examinou e viu que sua autoestima estava muito ligada às redes sociais, mas eram especialmente as celebridades que o lembravam do que ele não tinha. Então ele parou de seguir marcas e celebridades. Isso funcionou para ele. Mas as celebridades podem não ser o seu problema. Eu tive que remover outras pessoas da minha linha do tempo. Deixem-me contar um segredo. Vocês não têm que seguir seus "amigos". A verdade é que, às vezes, nossos amigos, ou as pessoas que adicionamos no Facebook por educação, não são legais on-line! Ficamos no meio de uma guerra passivo-agressiva de postagens que nem sabíamos que estava acontecendo. Ou ficamos olhando para 50 fotos do mesmo show, tiradas do mesmo ângulo. (Risos) Se vocês quiserem seguir artistas, comediantes ou gatos, podem fazer isso. A última coisa é ser um exemplo de bom comportamento. Off-line, aprendemos a não maltratar outras crianças no recreio. Ensinam-nos a respeitar os outros e a tratá-los como merecem. A não diminuí-los quando estão pra baixo, nem sentir prazer com suas desgraças. A rede social é uma ferramenta. Uma ferramenta que pode ser usada para o bem, para grupos positivos, para revoluções, para colocar o Grumpy Cat nos filmes da Disney. (Risos) A Internet é um lugar esquisito. As redes sociais prejudicam sua saúde mental? A resposta é: elas não precisam prejudicar. Sim, elas podem derrubar vocês, ou podem erguê-los, deixá-los se sentindo melhor, fazê-los rir. Por fim, eu tenho 24 horas em um dia, se for gastar duas dessas horas nas redes sociais, então quero que minhas experiências sejam cheias de inspiração, risadas, motivação, e o Grumpy Cat em um monte de filmes da Disney. Obrigada. (Aplausos)